Cidades

LEVANTAMENTO

Flagrantes de trabalho escravo em MS cresceram mais de 88% na pandemia

Ao longo dos anos, situação é identificada principalmente em áreas do Pantanal, Porto Murtinho e no Cone Sul do Estado

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Trabalhar isolado, ter cobrança de alimentos abusiva, chegar a ponto de ter uma dívida maior do que o valor que se tem para receber, viver sob lonas enquanto estiver executando um serviço, não ter água tratada para beber. 

Essas condições têm sido comuns para centenas de trabalhadores em Mato Grosso do Sul nos últimos quatro anos. Esse sistema exploratório cresceu, no período de 2019 a 2021, mais de 88%.

Levantamento solicitado pelo Correio do Estado ao Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul (MPT-MS) identificou que, após o início da pandemia e as condições econômicas mais frágeis no país e na América do Sul, o trabalho análogo à escravidão tem crescido no Estado.

As condições desfavoráveis acontecem em diferentes setores e, até agora, foram identificadas em 13 municípios: Aquidauana, Bela Vista, Caracol, Itaquiraí, Campo Grande, Anastácio, Antônio João, Corumbá, Ponta Porã, Porto Murtinho, Rochedo, Nioaque e Sidrolândia.  

O Ministério Público do Trabalho conseguiu resgatar funcionários que estavam na produção de carvão, na criação de gado, no cultivo de mandioca e soja e na extração de madeira.

Conforme os dados exclusivos obtidos, em 2019, foram 43 resgates feitos, sendo a grande maioria em Aquidauana e em Porto Murtinho, tanto de pessoas fazendo roçada de pastagem, como na construção de cercas e casas. Foram nove casos em ambos os municípios.

No ano seguinte, em Itaquiraí, houve situação mais grave, com 24 trabalhadores atuando em péssimas condições na colheita da mandioca. Em 2021, cinco menores estavam com 17 adultos no combate a plantas invasoras em plantações de soja em Sidrolândia.

Nesse mesmo ano de 2021, houve uma quantidade mais significativa de menores sendo encontrados em trabalho ilegal no Estado. Além do flagrante em Sidrolândia, um adolescente atuava na extração de madeira em floresta nativa de Anastácio com 15 paraguaios trabalhando ilegais.

No município de Antônio João, quatro menores de idade foram encontrados trabalhando catando pedras e raízes em plantações de soja.

Conforme a estatística de resgates, o ano passado foi o que teve mais registros, na comparação de números até 2019. E neste ano a situação persistiu até maio, data dos últimos dados obtidos.  

Tanto em Porto Murtinho como em Bela Vista houve o maior número de casos de trabalhadores resgatados, sete em cada um dos municípios.

Na região onde está em implementação o Corredor Bioceânico, e há promessa de desenvolvimento a ser alcançado, indígenas foram colocados para aplicar herbicida em plantações, além de reformar cercas, mas sem o devido pagamento e uso de equipamentos adequados.

Dentro da série de dados de 2019 a 2021, Porto Murtinho foi o município que teve registros feitos pelo MPT em todos os anos. Algumas vezes, figurando com o maior registro de trabalho análogo à escravidão.  

O procurador do Trabalho Jeferson Pereira, vice-coordenador da coordenadoria do MPT-MS de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, situou três regiões como mais graves no Estado: áreas do Pantanal (Corumbá e Aquidauana, principalmente), Porto Murtinho e Cone Sul.  

“Trabalhadores migrantes e indígenas são os que atualmente têm se mostrado mais fragilizados e vulneravelmente expostos a essas formas de exploração, pois necessitam ganhar algum tipo de dinheiro para sua própria subsistência e acabam se sujeitando a essa forma de trabalho”, identificou o vice-coordenador do MPT-MS de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

SUBNOTIFICAÇÕES

Ainda que os registros desse tipo de trabalho têm aumentado, o MPT-MS reconheceu que há casos que não chegam a ser denunciados. Com isso, a realidade dessa exploração no mercado de trabalho é mais grave do que os números traduzem até aqui.

“A identificação de tais situações de exploração chega ao nosso conhecimento somente por meio de denúncias, seja dos próprios trabalhadores, seja de terceiros, e a denúncia nem sempre é feita. O apoio dos órgãos de segurança pública do nosso estado neste caso é fundamental, pois também comunicam estas irregularidades ao MPT. Por isso, ressaltamos que as denúncias são muito importantes para que possamos atuar”, explicou o procurador do MPT, Jeferson Pereira.  

Para tentar combater os casos, o Ministério Público do Trabalho do Estado mantém canal aberto em seu site para denúncias. Há também um aplicativo de celular chamado MPT Pardal, que pode ser baixado no Google Play ou na Apple Store.  

Qualquer pessoa pode fazer a denúncia e todas as apurações são conduzidas em sigilo, mesmo quando a situação acaba sendo levada à Justiça do Trabalho.  

“O Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul [MPT-MS] desenvolve diversas ações práticas com o intuito de combater a exploração do trabalho humano em condições análogas à de escravo. Uma das frentes envolve o resgate de trabalhadores nestas condições, em operações conjuntas com instituições parceiras como a Fiscalização do Trabalho [órgão vinculado do Ministério do Trabalho e da Previdência, do governo federal], Polícia Militar Ambiental [PMA], Polícia Civil, Polícia Federal, entre outras. Também são realizadas ações de sensibilização e conscientização de empregadores e da sociedade”, pontuou o procurador sobre formas de combater essa realidade.  

A Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo de MS (Coetrae-MS) e o Coletivo de Trabalhadores Indígenas de MS também atuam no Estado contra essas condições de exploração.

SAIBA

Se enquadram em trabalho análogo à escravidão os seguintes pontos: condições degradantes de trabalho (incompatíveis com a dignidade humana, caracterizadas pela violação de direitos fundamentais coloquem em risco a saúde e a vida do trabalhador); jornada exaustiva (em que o trabalhador é submetido a esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho que acarreta a danos à sua saúde ou risco de vida); trabalho forçado (manter a pessoa no serviço por meio de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e violências físicas e psicológicas); ou servidão por dívida (induzir o trabalhador a contrair ilegalmente um débito e condicionar a finalização da relação de trabalho à quitação dele).

TENSÃO

Lula e Riedel discutem suposto elo entre narcotráfico e retomadas indígenas

Os dois falaram por vídeo nesta quarta-feira (18), após a morte de um indíngena em Antônio João. Nesta quinta, Riedel promete levar a Brasília um relatório comprovando a ação do narcotráfico entre os indígenas

18/09/2024 19h15

Pela manhã, depois que o confronto com a PM resultou em uma morte de indígena, Eduardo Riedel reuniu parte do secretariado

Pela manhã, depois que o confronto com a PM resultou em uma morte de indígena, Eduardo Riedel reuniu parte do secretariado

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Horas depois da morte de um indíngena em meio a uma operação da Polícia Militar em Antônio João, no extremo sul do Estado, o O governador Eduardo Riedel discutiu com o presidente Lula, no final da tarde desta quarta-feira (18), um relatório sobre o conflito fundiário na região de fronteira com o Paraguai. 

"Estamos empenhados em que não haja mais conflitos", frisou o governador Riedel ao presidente Lula, indicando também que já solicitou abertura de inquérito para apuração das circunstâncias que levaram ao óbito, informou nota divulgada pela assessoria.

Na manhã desta quarta-feira, ogovernador e o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, atribuíram a tensão e o próprio confronto entre policiais e indígenas, a uma suposta atuação do narcotráfico, que estaria "exportando" indígenas paraguaios para o lado brasileiro a fim de empliar seu poder de domínio e facilitar o escoamento da maconha que é produzida do lado paraguaio. 

De acordo com a assessoria do Governo, Riedel e Lula falaram abertamente sobre as suspeitas que envolvem o narcotráfico na região, com roças de maconha localizadas do outro lado da fronteira, próximas à propriedade ocupada no Brasil, e a presença de facções criminosas que estariam aliciando pessoas dentro das comunidades indígenas.

Ainda conforme a assessoria, um relatório da inteligência produzido pelas forças de segurança de Mato Grosso do Sul será apresentado pelo governador a representantes do Governo Federal e no STF (Supremo Tribunal Federal), nesta quinta-feira (19).

No confroto ocorrido no começo da manhã desta quarta-feira foi morto o indígena Nery da Silva, da etnia Guarani Kaiowa. Os indígenas reivindicam uma propriedade que desde 2005 está homolgada, mas até agora está na posse de fazendeiros. 

Para atender decisão da Justiça Federal, cerca de 100 policiais foram à região para, segundo o secretário de segurança, garantir a ordem na região e acabaram entrando em confronto com o grupo que está na fazenda Barra faz semanas. Esses povos originários residem na Terra Indígena batizada de Nanderu Marangatu, onde ainda existe uma propriedade que seria a última na posse de outros que não os povos originários. 

"Nós percebemos que nos últimos dias foi acirrando com a presença de 'índios paraguaios'. Nós estamos ali numa região onde a fronteira é um rio pequeno, facilmente transponível; e do lado de lá nós temos diversas plantações de maconha... então há um interesse de facções criminosas que exploram o tráfico de drogas", afirmou o secretário na manhã desta quarta-feria. 

Segundo Videira, a Fazenda Barra fica menos de 5 km da linha internacional de fronteira, com informações da inteligência apontando a região como "estrategicamente posicionada" para escoar a produção do tráfico de drogas. 

"A grande produção de toda essa região tem como destino grandes centros, por meio de aldeias. De aldeia em aldeia até chegar próximo de Campo Grande; Dourados; e aí ter acesso aos maiores centros consumidores", afirmou o Videira.

Tensão

O governador, por sua vez, reforçou que o Estado "tem buscado avançar" nas políticas públicas voltadas para as comunidades indígenas e seu desenvolvimento. 

"Sou representante dos governadores na mesa de conciliação do STF, é um tema complexo, difícil, mas o que nós estamos vendo aqui foge completamente a essa discussão", afirmo Riedel. 

Com base no que lhe foi repassado pelo setor de inteligência, Riedel apontou para a versão de "disputa de facções criminosas paraguaias", destacando que a ordem recebida judicialmente é para que se mantenha a ordem.

"Em uma propriedade que está em litígio, do ponto de vista fundiário, mas que tem uma família morando na casa e que não sai de lá, dizendo que vão morrer lá. A decisão é que o Estado garanta a segurança dessa família e o acesso das pessoas nessa propriedade", reforçou o governador. 

 

Cidades

Após morte de indígena, deputados devem enviar pedido de solução à Lula

Crime ocorreu na madrugada desta quarta-feira (18) quando atiradores atacaram propriedade localizada em Antônio João

18/09/2024 18h15

Após morte de indígena, deputados devem enviar pedido de solução à Lula

Após morte de indígena, deputados devem enviar pedido de solução à Lula Reprodução

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Após registro de morte de um indígena, em confronto com a polícia durante a madrugada de hoje (18), em território Nanderu Marangatu, deputados da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) se reuniram na sessão plenária para planejar um pedido urgente de solução que deve ser entregue ao presidente Lula (PT) pelos ministros Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional).

“Não estou acusando a polícia, mas o tiro não caiu do céu, partiu da arma de alguém e uma coisa tem que ser registrada: nesses conflitos somente indígenas morrem. Eles são vulneráveis, passam fome, tem crianças, idosos, mulheres. Há mais de 20 anos eu faço a defesa pacífica dos conflitos, dando logo a indenização aos fazendeiros, porque é irracional deixar as partes brigando, em um bang bang sem fim”, criticou Kemp.

O parlamentar fez um apelo para a Polícia Federal intervir, investigar e elucidar o caso. O deputado Zeca do PT (PT) relembrou que já falou ao presidente Lula sobre o assunto em seu primeiro mandato. 

“Levei para o presidente Lula, que se interessou, conversei com ministro na sequência, mas aí depois vieram [os presidentes] Dilma, Temer, Bolsonaro e agora de novo Lula e nada se resolveu. Absolutamente não dá mais para ter conflitos”.

Já a deputada Gleice Jane (PT) disse que na vinda de Lula a Corumbá (MS), o presidente discursou a membros de diversas comunidades e ao governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), dizendo que tem a intenção de resolver.

Gleice ainda ressaltou que policiais também são vítimas de um sistema que não protege o trabalhador, mas que por outro lado chamou a atenção a quantidade de policiais da tropa de choque em defesa de uma propriedade privada. “Não podemos ver privilégio a alguns em detrimento de outros”, considerou.

O caso ocorrido nesta madrugada fez com que o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul convocasse a sala de situação onde o secretário de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira, culpou "índios paraguaios a serviço do tráfico de drogas" pelo acirramento dos confrontos no interior de MS. 

"Nós percebemos que nos últimos dias foi acirrando com a presença de 'índios paraguaios'. Nós estamos ali numa região onde a fronteira é um rio pequeno, facilmente transponível; e do lado de lá nós temos diversas plantações de maconha... então há um interesse de facções criminosas que exploram o tráfico de drogas", afirma o titular da Sejusp. 

Segundo Videira, que há um ano soltou a afirmação: "Policial meu não vai morrer na faca com fuzil na mão", a Fazenda Barra fica menos de 5 km da linha internacional de fronteira, com informações da inteligência apontando a região como "estrategicamente posicionada" para escoar a produção do tráfico de drogas. 

"A grande produção de toda essa região tem como destino grandes centros, por meio de aldeias. De aldeia em aldeia até chegar próximo de Campo Grande; Dourados; e aí ter acesso aos maiores centros consumidores", afirma o titular da pasta de Segurança Pública de MS.

Vale lembrar que esses povos originários residem na Terra Indígena batizada de Nanderu Marangatu, onde ainda existe uma propriedade que seria a última na posse de outros que não os povos originários, e que com homologação datando de 2005, essa propriedade estaria sobreposta em uma área voltada para ocupação tradicional dos indígenas de Nanderu Marangatu. 

Força Nacional

Apesar de acompanharem os membros da Coordenação Regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), agentes da Força Nacional não estavam presentes na Terra Indígena Nanderu Marangatu, da qual os povos originários foram alvos de ataques durante o fim da madrugada.

Segundo texto do Conselho Indigenista, a violência iniciada se estendeu ainda durante o período da manhã, quando a Polícia Militar teria arrastado o corpo de Neri para um pedaço de mata, o que causou comoção e revolta dos demais indígenas. 

Medidas

O governador Eduardo Riedel disse que "lamenta profundamente" o episódio, já Videira reforça que a ideia era tentar evitar confrontos, porém, que a situação fugiu ao controle. 

"Tudo o que a gente não queria era que isso acontecesse. Nós queremos de agora para frente é que se gerencie a crise para que nós não tenhamos mais nenhuma morte", cita o secretário. 

Apoiado na ordem judicial, Videira complementa que a decisão sob a qual a polícia age foi inclusive estendida, para que as forças policiais garantam o "ir e vir" dos funcionários e "proprietários" da fazenda, desde a rodovia até a sede, num percurso de mais de 10 quilômetros. 

"Temos aproximadamente 100 militares lá, de PMs; do Tático; batalhões da região; quatro equipes do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) e batalhão de Choque também... vamos manter porque estamos cumprindo a ordem judicial", completa o titular da Sejusp. 

Indígena morto

Em 2005 houve homologação da Terra Indígena em Antônio João como de ocupação tradicional dos indígenas de Nanderu Marangatu, na qual está sobreposta a chamada Fazenda Barra. 

Ao que tudo indica, essa seria a última propriedade sob ocupação de não indígenas, sendo que no último dia 12 houve ação de retomada, na qual foi registrada esse primeiro confronto. 

"Na madrugada [de hoje, (18)] começaram a atacar a comunidade; derrubar os barracos; queimar, e teve uma pessoa assassinada, parece que executada, que dizem que tinha atirador no meio e executou o indígena e a Tropa de Choque está lá cercando o corpo, a gente tentando que a PF vá lá retirar e fazer a perícia", afirma Anderson Santos, advogado pelo Conselho Indigenista Missionário. 

***Colaborou Léo Ribeiro e Naiara Camargo***

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