Em Mato Grosso do Sul, 160 pessoas aguardam pela doação de rim. Enquanto estão na fila de transplante fazem o tratamento de hemodiálise que filtra e limpa o sangue, fazendo o trabalho que o rim doente não pode fazer. Cabe destacar que o transplante de órgãos no Brasil é realizado exclusivamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde), com critérios específicos para cada tipo de órgão.
Ao Correio do Estado, a coordenadora da Central Estadual de Transplantes de Mato Grosso do Sul (CET/MS), Claire Miozzo, esclarece que os órgãos de rim e córnea, são os responsáveis pelo gargalo de transplantes no estado.
“414 esperam pelo transplante de córnea, 160 pacientes esperam por rim e apenas 3 pacientes aguardam por um transplante de coração. Para a realização de transplante, cada órgão possui determinadas exigências a serem cumpridas, conforme portarias vigentes do Sistema Nacional de Transplantes. Para o transplante de rim são cumpridas as determinações vigentes na Portaria GM 2600/2009 – Módulo de Rim”, explica a coordenadora regional de transplante.
A lista de espera por um órgão funciona baseada em critérios técnicos, levando em consideração a tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, compatibilidade genética e critérios de gravidade distintos para cada órgão. Esses critérios determinam a ordem de pacientes a serem transplantados.
“Quando os critérios técnicos são semelhantes, a ordem cronológica de cadastro, ou seja, a ordem de chegada, funciona como critério de desempate. Pacientes em estado crítico são atendidos com prioridade, em razão de sua condição clínica e esse paciente fica na urgência até ocorrer uma doação de órgão que seja compatível com ele”, afirma Claire Miozzo.
Umas das vantagens da doação de rim é que a mesma pode ser feita ainda vida e, na maioria das vezes, por parentes compatíveis com o paciente. “A doação de órgãos em vida pode ser feita, desde que não cause riscos à saúde do doador e haja compatibilidade. Os órgãos que podem ser doados em vida são: parte do fígado; os órgãos duplos, ou seja, rins e pulmões; e os tecidos como o sangue e a medula óssea. A compatibilidade para transplante de órgãos é feita mediante a compatibilidade ABO doador e receptor, peso do doador e receptor, priorização e características do doador”, esclarece a coordenadora.
Tratamento de Hemodiálise
Sobre o tratamento de diálise , a Dra. Rafaella Campanholo, Coordenadora do Serviço de Nefrologia e Transplante Renal da Santa Casa de Campo Grande, explica que ele substitui em partes a função dos rins, fazendo a filtração do sangue, retirando o excesso e de liquidos e toxinas que o rim, por não funcionar, não consegue fazer.
Além disso, existem 2 métodos de diálise: O diálise peritoneal: a diálise é feita através de cateter colocado na barriga, onde há infusão de um liquido o qual através do peritoneo, que é uma membrana do abdome, há a troca das toxinas e liquido. E a hemodiálise: a diálise é feita através de um acesso vascular (cateter ou fístula arteriovenosa) onde o sangue sai do paciente, passa por um circuito extracorpóreo, em uma maquina, um filtro, onde são feitas as trocas citadas acima, e assim o sangue é devolvido para o paciente.
Conforme a especialista, a diálise, assim como o transplante, são tratamentos para a doença renal crônico em seu estágio avançado, portanto é importante frizar que o transplante não é a cura para a doença renal, e sim um tratamento.
"Sendo um tratamento, o transplante possui critérios clínicos para que o paciente possa realizar este tratamento. E também o paciente que faz diálise pode simplesmente não querer realizar um transplante por escolha pessoal. Tendo em vista que o paciente pode manter-se em diálise por muitos anos e viver uma vida relativamente normal, ponderando-se os cuidados. Não são todos os pacientes que realizam diálise que querem transplantar, e não são todos os pacientes em diálise que podem transplantar", esclareceu.
Por fim, a médica acrescenta que na literatura médica cerca de 40-50% dos pacientes em diálise possuem boas condições clínicas para realizar o procedimento. "O restante possuem alguma contraindicação relativa ou absoluta para que possam realizar um transplante", disse.
Doação de órgãos
Para ocorrer a doação de órgãos, o doador precisa apresentar morte encefálica – diagnóstico de morte – e estar em uma UTI hospitalar. Para a confirmação da morte encefálica, o paciente é examinado por dois médicos e é feito um exame de imagem para que a morte encefálica seja confirmada. “Somente após o diagnóstico completo e confirmada a morte que a família do paciente passa por entrevista para a doação de órgãos”, pondera Claire.
Por fim, se a família aceita doar os órgãos, assina o Termo de Retirada de Órgãos e Tecidos do seu ente querido. “Após a assinatura do Termo de Retirada que a equipe dará início aos exames, captação e logística de distribuição para que os órgãos e tecidos doados cheguem até o receptor que aguarda, na fila única, receber o órgão doado”, finaliza a coordenadora.
Caso Faustão
O apresentador de TV, Fausto Silva, 73, recebeu um novo coração, no último domingo (27), em cirurgia realizada no hospital Albert Einstein, em São Paulo. O apresentador ocupava o segundo lugar na fila de prioridade, que é totalmente controlada pelo SUS. Diante da rapidez em que surgiu um doador compatível, houve uma repercussão negativa, de que o SUS teria dado prioridade à celebridade.
Diante disso, conforme já noticiado pelo Correio do Estado, o Ministério da Saúde emitiu uma nota explicando detalhes do transplante realizado pelo comunicador. De acordo com a pasta, ele teve prioridade devido à gravidade do caso.
Com três sul-mato-grossenses na fila do SUS à espera de um coração, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) também veio a público reiterar, em nota, que todo o processo de doação de órgãos, desde a captação ao transplante, é realizado de forma transparente e é acompanhado pelo Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde.
Transplantados
A SES confirmou também que Mato Grosso do Sul não tem mais equipe e hospital autorizados para a realização do transplante de coração. No entanto, outros tipos de transplantes são realizados.
"Neste ano, até o momento, Mato Grosso do Sul já realizou um transplante de coração que, na ocasião, havia equipe e estabelecimento autorizados para a realização do transplante, 139 transplantes de córnea e 22 transplantes renais", informou a SES.


