Com a medida que altera o processo de retirada da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), programada para ser lançada nesta terça-feira (9), instrutores de autoescola veem a nova regra como uma valorização do profissional.
O Ministério dos Transportes anunciou que a cerimônia que retira a obrigatoriedade de o aluno tirar a Carteira Nacional de Habilitação por meio de um Centro de Formação de Condutores (CFC) deve ser oficializada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A expectativa com a aplicação das novas regras é de reduzir o custo em até 80%, devido aos valores que, em alguns estados, podem chegar a R$ 5 mil. Levantamento realizado pela pasta aponta que 20 milhões de brasileiros não possuem habilitação.
A reportagem do Correio do Estado conversou com um instrutor que preferiu não se identificar e que atua há cinco anos como instrutor e professor de aulas teóricas. Conforme explicou sobre as atividades laborais, embora a empresa possua o cargo de diretor de ensino, quem cuida da metodologia e do desenvolvimento é o profissional.
"Cada instrutor trabalha a partir do que ele acredita, né? Faz o plano de aula e atua a partir do que ele desenvolve. Não temos um acompanhamento da autoescola, do diretor de ensino, do diretor-geral. Então, assim, trazer essa autonomia para o instrutor é valorizar a nossa categoria", pontuou.
Escolha
Com a alteração, o aluno pode escolher se prefere ter aulas por um CFC ou optar por um instrutor devidamente habilitado pelo Departamento de Trânsito (Detran). Nesse modelo, o instrutor acredita que o aluno poderá escolher o profissional com quem se sente mais confortável para ter as aulas práticas.
"O aluno que realmente tiver uma conexão com um instrutor já vai diretamente para ele, isso é muito positivo. [No modelo atual] muitas vezes o aluno recebe a indicação de um instrutor, mas não consegue fazer aula com ele porque as aulas têm que ser distribuídas entre todos os profissionais da autoescola."
Categoria
Enquanto parte dos instrutores, segundo explicou o profissional, ainda demonstram insegurança quanto à implementação do novo sistema devido ao baixo salário, o que impede o investimento em um veículo próprio outra parte está pronta para o novo modelo.
"Hoje, por exemplo, você fica limitado a ganhar R$ 12 a hora-aula de pacote e R$ 20 a hora excedente, sem contar que somos obrigados a aceitar um registro de R$ 1.500 na carteira, sendo que esse não é o valor real que recebemos."
Em média, segundo o instrutor, que atua em aulas teóricas e práticas, o salário fica em torno de R$ 4.200.
"Isso impacta o 13º salário, as férias e tudo mais. Isso acontece porque não temos a quem recorrer e o mercado oferece isso. A grande maioria das autoescolas faz dessa maneira, é assim que funciona o mercado", disse.
Para receber esse valor, ele relatou que precisa trabalhar 13 horas por dia, sendo três de teoria e dez de aulas práticas.
Atuando por conta
Com a mudança, contrariando a previsão dos proprietários de autoescolas, que afirmam que a qualidade no ensino de trânsito pode cair, para ele a tendência é de melhora.
"Porque, uma vez que teremos liberdade no trabalho, você também vai poder fazer uma seleção prévia dos alunos. Vai entender quais realmente se enquadram no seu perfil. Não vai atender alunos que não têm conexão com a gente, porque isso também impacta no ensino."
Vai diminuir o valor da CNH?
O instrutor não acredita que um aluno que nunca teve contato com a direção consiga aprender com a nova carga horária de duas horas-aula, e afirma que nenhum profissional deixará de auxiliar no processo de envio para a prova prática sem a preparação necessária.
"Hoje, para habilitar um aluno do zero, sem ter noção nenhuma, você precisa de no mínimo 30 horas-aula, considerando os bairros em que você tem que levá-lo, o balizamento até o Detran. Então, hoje, em média, o aluno precisa de 20 a 30 horas. O que vai diminuir é a questão da aula teórica, que ele vai ter de graça pela plataforma do governo."
Com a incerteza do cenário, o trabalhador relatou que houve um esvaziamento na procura por Centros de Formação de Condutores para a retirada da primeira habilitação.
"A demanda caiu muito, está tudo muito parado. Então, só estou lecionando a parte teórica até finalizar essa turma. Agora estamos aguardando o trâmite, como vai ser para a gente, mas a ideia é que, depois que eles derem o veredito, eu retorne ao mercado dando aula na nova prática."



