Investigado pela criação de suposto esquema milionário de pirâmide financeira por meio da mineração de bitcoins, Cícero Saad Cruz, presidente da Minerworld, surgiu recentemente em um vídeo publicado nas redes sociais convidando "miners" e comerciantes a aderirem a uma nova plataforma de moeda virtual conhecida como MCash. Além disso, reafirmou que os fundos da Minerworld ainda estão retidos por conta da invasão de hacker.
Cícero e sócios são alvo de ação movida coletiva movida pelo juiz David de Oliveira Gomes Filhos, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande. Aproximadamente 200 pessoas processaram a empresa na tentativa de reaver investimentos na criptmoeda (bitcoins) após a Operação Lucro Fácil, deflagrada no dia 17 de abril do ano passado pelo Grupo Especializado de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
No vídeo (que pode ser visto no final do texto), o investigado faz breve esclarecimento sobre a ação do MP e alega que "todos foram pegos de surpresa". No entanto, garante que a empresa tem cooperado com a justiça. "Um dos pedidos deles foi a paralisação total da empresa, e nós estamos acatando isso e colaborando deste então. Como todos sabem, o grande problema foi um hack das contas na Poloniex (servidor de criptomoedas localizado nos Estados Unidos), mas todos nossos advogados estão trabalhando em conjunto para recuperação destes valores", disse.
Cícero diz ainda que em breve vai conseguir viabilizar o pagamento das contas pendentes de investidores e já os convida a migrar para uma nova plataforma desenvolvida na Suíça: a MCash. "Estamos trabalhando há meses, gerando um sistema para que você possa tirar sua MCash da Miner 360 e colocar na Miner 360 Exchange. Com isso, poderá utilizar a moeda. Você que fez se cadastro, fique tranquilo. Sua conta continua lá, só que foi transferida e, com isso, você poderá usar para compras com comércios parceiros. Estou procurando comércios que possam utilizar e você que queira utilizar em seu comércio, entre em contato".
MCASH
O discurso sobre MCash foi endossado pelo empresário Jonhnes Carvalho, outro réu no processo que envolve o suposto esquema de pirâmide financeira. "Na menor das expectativas, ele [Cícero] ao menos deu sinal de vida a todos e mostrou que tem uma equipe trabalhando com ele para dar um encaminhamento positivo. A última ideia que foi apresentada sobre a MCash é a de que Saad está buscando parceiros comerciais para criar uma plataforma de descontos para quem pagar pelas ofertas em MCash", disse Carvalho em sua página no Facebook.
Ele ainda explicou: "Ao que tudo indica, funcionará da seguinte maneira: o comerciante decide fazer uma promoção sobre um produto ou serviço. Vamos supor que seja para um sapato. O sapato custa R$100, o comerciante anuncia com 10% de desconto. A pessoa que possui MCash fará o pagamento de R$90 em dinheiro/cartão/cheque e os R$10 restantes pagará em MCash. Quem estabelece o percentual a ser recebido em MCash é o comerciante. Ao final deste processo, o comerciante efetiva a venda, o afiliado compra um produto com desconto pagando parte da oferta em MCash que começa a ter circulação no mercado".
SEM SALDO
Em dezembro passado, a Minerworld ainda não tinha saldo para ressarcimento total dos credores. Segundo o advogado Rafael Echeverria, a empresa teve sua conta invadida na corretora norte-americana Poloniex, sofrendo o prejuízo milionário. O desfalque levou à instabilidade econômica, culminando em dificuldades para pagamento de investidores. No dia 29 de outubro de 2017, ao consultar a conta na página da Poloniex, a direção tomou conhecimento de fraudes. Ou seja, hackers teriam desviado bitcoins para contas de terceiros. “A gente conta muito com a liberação desses valores, mas dependemos da justiça americana”, pontuou conforme matéria divulgad apelo Correio do Estado na ocasião.
OPERAÇÃO
Além da Minerworld, a Bitpago Soluções de Pagamento, também com sede em Campo Grande, e BitOfertas Informática, localizada na Capital e também na cidade de São Paulo, foram Alvos da Operação Lucro Fácil, deflagrada no dia 17 de abril pelo Gaeco pela suposta prática de pirâmide financeira por meio da mineração de bitcoins. De acordo com as investigações do Ministério Público, a apresentação dos negócios deixa as criptomoedas como pano de fundo, fazendo com que o assunto passe despercebido.
As peças publicitárias têm como maior preocupação detalhar as variadas formas de ganhos daqueles que aderirem aos planos, o que se dá pela captação de novos “afiliados”, “empreendedores” e afins. Toda a publicidade da empresa é feita no sentido de sempre atrair mais pessoas. “O interesse da empresa é apenas e tão somente que seus afiliados busquem outros afiliados, o que, por evidente, implica em manter a atividade de mineração apenas como mera alegação. A famigerada ‘mineração de bitcoin’, assim, trata-se apenas de engodo, de artifício, que nada mais visa do que mascarar a característica piramidal do esquema”.
Na ação coletiva de consumo que tramita na 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos da Capital, o juiz David determinou o bloqueio de até R$ 300 milhões da Minerworld e todos os investigados, a fim de garantir o pagamento. Ao todo, são pelo menos 50 mil pessoas lesadas em todo o Brasil, com prejuízo milionário, e 21 réus no processo, dentre os quais, Cícero Saad Cruz, chefe da Minerworld, além de sócios e intermediadores ligados aos investidores.



