Moradores da Vila Nhá-Nhá, em Campo Grande, bairro ocupado pela Polícia Militar desde a manhã de quarta-feira, temem que a presença constante dos militares não intimide a atuação dos bandidos, por isso preferem guardar silêncio sobre a ação de traficantes e usuários de drogas na região, apontada como uma verdadeira cracolândia. Algumas poucas pessoas que aceitam comentar a ação policial insistem em esconder a identificação, temendo represálias. Esses moradores afirmam terem visto bandidos andando armados pelas ruas da região, na manhã de ontem.
Mesmo sob proteção policial, pessoas residentes na localidade se escondem para não falar com a imprensa e proíbem a publicação de seu nome e imagem. A medida, eles explicam, é para evitar que futuramente sejam ameaçados por traficantes. "Aqui é na base não mexam comigo que eu não mexo com vocês", alertam.
"Não saio de casa sozinha porque um monte deles fica parado na esquina da Rua Bom Sucesso com a Rua dos Pirineus. Eles usam droga, comem e bebem nessa esquina. Conversam alto e incomodam a gente, mas posso ouvir o que for que não saio de casa para ver. Eles também pulam muro das residências para roubar os caninhos das antenas para fumar", contou uma dona de casa, de 69 anos, que há 39 anos mudou-se para o bairro.
Ela lembrou que nem sempre a vila foi perigosa. A criminalidade tomou conta do local há cerca de 15 anos e a situação tem piorado nos últimos dois anos, desde o fechamento da antiga rodoviária da Capital, localizada na região central. "A gente vê criança fumando de dia, mas espero que melhore com a presença da polícia e a gente possa ter sossego", ressaltou.
Herança
"O problema é que cai um, mas o restante da família dá continuidade na venda de droga e isso nunca acaba", revelou uma moradora de 25 anos. Para a jovem muitos bandidos não se intimidarão com a presença da PM no bairro. "É só falar que são usuários que não são presos", explicou a mulher que há sete anos reside na região.
Já a aposentada de 67 anos disse que usuários e vendedores de droga não "mexem" com os moradores desde que as famílias não "mexam" com eles. Apesar da convivência pacífica, algumas situações incomodam a idosa. "As mulheres vendem droga com as crianças no colo e grávidas. Elas são depravadas, terríveis e deveriam estar na cadeia. Passam a noite todinha acordadas, fazendo barulho e ninguém dorme, mas essa situação vai melhorar, com fé em Deus", adiantou.
Uma comerciante de 32 anos também ressaltou que após o fechamento do antigo terminal rodoviário os moradores de rua passaram a se aglomerar na Vila Nhá-Nha. Ela contou que nunca foi assaltada e que não teme a ação de traficantes, mas admitiu estar esperançosa com relação a pacificação militar, que trará maior segurança para seus filhos.

Ontem Campo Grande teve períodos de nebulosidade e de sol forte durante toda a manhã e à tarde - Foto: Marcelo Victor/Correio do Estado


