Quase 26 anos depois da prisão de um dos maiores traficantes de cocaína de Mato Grosso do Sul, o ex-major da Polícia Militar Sérgio Roberto de Carvalho, conhecido como “Pablo Escobar brasileiro”, a mesma rota na qual o criminoso foi pego ainda é utilizada.
A chamada rota pantaneira, que leva a droga da Bolívia por Corumbá, passando também por Rio Negro e Rio Verde de Mato Grosso, já era utilizada em novembro de 1997, quando a Polícia Federal conseguiu apreender quase 250 kg de cocaína no interior da Fazenda Santa Therezinha, de propriedade de major Carvalho, no município de Rio Verde.
Ontem, a Polícia Civil, em atuação conjunta com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), deflagrou a Operação Rota Pantaneira, que teve o objetivo de cumprir dez mandados de busca e apreensão contra traficantes de drogas que se utilizam do mesmo caminho usado por Carvalho para o escoamento de entorpecentes.
“Diversas foram as apreensões de drogas e de veículos adulterados na região do Pantanal pelas forças de segurança, notadamente envolvendo os municípios de Rio Negro, Rio Verde e Corumbá”, diz nota da Polícia Civil.
Essa investigação foi iniciada após o monitoramento de determinados veículos modificados usados pelo grupo criminoso para ocultação de drogas, sendo também identificado o uso de fundos falsos em caminhonetes.
Ainda de acordo com a polícia, esses veículos que transportavam a cocaína, depois de passar por essas localidades, eram trazidos para pontos de apoio em Campo Grande, inclusive em algumas oficinas, para a realização de reparos e adulteração.
Na véspera de desencadear a operação, a Polícia Militar de Rio Negro apreendeu 650 kg de cocaína e pasta base na MS-080, próximo da área urbana do município.
O carregamento interceptado estava em uma caminhonete L200 que vinha da região de fronteira com a Bolívia e estava a caminho de Rio Negro, trafegando por estradas pantaneiras para tentar escapar da fiscalização.
Um homem foi preso, mas os outros dois ocupantes da caminhonete conseguiram fugir pelo mato, à beira da estrada.
Para a polícia, essa apreensão demonstra “a importância da região para as organizações criminosas. Ao longo do ano, também foram apreendidas caminhonetes adulteradas e produtos de furto e roubo de outros estados”.
Para a operação de ontem, foram necessárias dez equipes da Polícia Civil e dez equipes da PRF, sendo mais de 60 policiais lotados no Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), na Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras), na Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Denar), na Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos (Defurv), além das delegacias de Rio Negro, Corumbá e Ladário.
Durante a ação, uma pessoa foi presa em uma chácara monitorada por câmeras de segurança, a qual a polícia classificou como “um verdadeiro bunker”, na saída de Campo Grande, sentido BR-262.
O indivíduo, que tem passagens por tráfico e estava em liberdade condicional, foi encontrado com diversas armas de fogo, entre elas um revólver S&W calibre .32, um revólver Taurus calibre .38, uma pistola Taurus calibre .380; uma pistola Glock calibre 9mm, uma carabina calibre .22, uma espingarda de pressão, diversos carregadores e inúmeras munições de diversos calibres.
No local, também foram apreendidos R$ 36 mil em espécie e meio tablete de cocaína, que pesou 554 gramas.
“Todas as forças de segurança que atuam em Mato Grosso do Sul permanecem atentas ao desenvolvimento de toda a região do Pantanal e empreende esforços para que suas vias sejam utilizadas apenas para o empenho de atividades lícitas, de modo a garantir segurança e crescimento sustentável”, finalizou a polícia sobre a rota.
OUTRAS ROTAS
A Polícia Federal investiga o uso do Pantanal como base para várias quadrilhas que trazem a cocaína da Bolívia. Em alguns casos, os traficantes levam a droga de Corumbá para Coxim por meio de embarcações nos rios Paraguai e Taquari.
A partir da cidade do norte do Estado, a droga era levada para outras regiões do País, como Rio Grande do Norte e Ceará.
Em 2020, a PF prendeu os responsáveis pelo transporte da droga nesta rota e os gerentes da quadrilha. Os chefões moravam em Natal (RN).
Já neste ano, a polícia descobriu que a rota fluvial para transporte de cocaína estava sendo usada para chegar até a BR-163, de onde a cocaína era levada para Mato Grosso e, depois, para o Norte do País.
MAJOR CARVALHO
O ex-major da PM de MS desenvolveu extensa lista de crimes. A organização criminosa que ele lidera teria conseguido traficar, a partir de 2017, cerca de 45 toneladas de cocaína para a Europa, carga avaliada em R$ 2,2 bilhões. Em junho de 2022, após anos foragido, ele foi preso na Hungria.
SAIBA
Para levar a cocaína de Mato Grosso do Sul para a Europa, a quadrilha liderada por major Carvalho utilizava portos como o de Paranaguá (PR) e o de Santos (SP), no Brasil, e o de Antuérpia, na Bélgica.
(Colaborou Neri Kaspary)








