Tradicional mascote das campanhas nacionais de vacinação contra a poliomielite, o Zé Gotinha pode estar com os dias contados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) está recomendando a todos os países que, gradativamente, substituam a vacina oral contra a pólio por vacina injetável.
A informação é de Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim).
Ele explicou ao Correio do Estado que, por conter vírus vivos, ainda que enfraquecidos, a vacina oral pode acabar causando alguns eventos indesejáveis, ainda que isso represente episódios bastante remotos.
Entre os efeitos indesejáveis está a própria poliomielite associada à vacina, quando o vírus nela contido consegue causar a doença na pessoa imunizada.
A vacina oral, diferentemente da injetável, contém o vírus atenuado. A injetável contém o vírus inativado.
Para a SBim, no início da proliferação da doença, quando se precisava fazer vacinações em massa, cobrindo um número cada vez maior de crianças, o uso também maciço do imunizante oral se fazia necessário.
Agora, porém, quando o surgimento de casos da doença tornou-se mais raro, chegou o momento de fazer a substituição de vacinas, utilizando-se somente a forma injetável. Daí a recomendação da OMS.
VANTAGEM
Em Campo Grande, o médico pediatra Alberto Jorge Felix Costa, que também é diretor técnico de uma clínica de imunizações, confirma a tendência de substituição.
Ele destaca, inclusive, a vantagem que há nessa medida, pois a vacina oral oferece cobertura a duas variações de vírus, enquanto a injetável, três.
O pediatra acredita que não haverá muita dificuldade ou resistência nesse processo de substituição. Conforme destacou, a população já convive com os dois tipos de vacina.
No caso, a injetável é aplicada em crianças com 2, 4 e 6 meses de vida, com reforços entre 15 e 18 meses e aos quatro anos.
Na rede pública, as doses, a partir de um ano, são da vacina oral, permanecendo depois nas campanhas nacionais de vacinação.
Alberto Jorge observa, porém, a necessidade de uma boa estrutura logística e disponibilidade suficiente de doses injetáveis nesse processo de substituição.
ALERTA
O pediatra alertou que, independentemente do tipo de vacina usado, é de extrema importância que a população não deixe de vacinar as crianças.
Vacinar não só contra a poliomielite, fazendo uso de todos os tipos disponibilizados nos postos de saúde e nas campanhas.
Ele ressaltou que há mais de 20 anos não são registrados casos de pólio, porém, a taxa de cobertura vacinal vem caindo ano a ano.
“Se não mantivermos a vacinação em uma taxa alta de cobertura, a pólio pode voltar”, lembrando que a doença é endêmica em alguns países, e isso não pode acontecer no Brasil.
Renato Kfouri e Alberto Jorge são concordes em afirmar que a cobertura baixa traz riscos.
SEQUELAS
As sequelas da poliomielite estão relacionadas com a infecção da medula e do cérebro pelo poliovírus e, normalmente, são motoras e não têm cura.
As principais são: problemas e dores nas articulações; pé torto, conhecido como pé equino, em que a pessoa não consegue andar porque o calcanhar não encosta no chão; crescimento diferente das pernas, o que faz com que a pessoa manque e incline-se para um lado, causando escoliose.
Osteoporose; paralisia de uma das pernas; paralisia dos músculos da fala e da deglutição, o que provoca acúmulo de secreções na boca e na garganta; dificuldade de falar; atrofia muscular; e hipersensibilidade ao toque.




