Cidades

Caso Sophia

Mensagens entre Christian e Stephanie mostram que violência era rotineira na residência do casal

Chicotadas, murros, mordidas, chineladas e asfixia eram algumas das violências praticadas pelos acusados de matar a menina Sophia

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O Ministério Público de Mato Grosso do Sul, por meio do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (GAECO), elaborou um relatório com as informações colhidas durante perícia nos aparelhos celulares de Stephanie de Jesus da Silva e de Christian Campoçano Leitheim, mãe e padrasto acusados pela morte da pequena Sophia, de 2 anos.

Mensagens trocadas pelos dois mostram que a violência era recorrente na residência do casal, que além de Sophia, também era responsável pelo filho de Christian, I.L, de 5 anos, e pela filha dele com Stephanie, E.L, que atualmente possui apenas 1 ano de vida.

Conforme o relatório, o número de telefone que Christian utilizava havia se vinculado ao aplicativo de mensagens apenas no dia 17 de janeiro deste ano, nove dias antes da morte de Sophia.

Em mensagens enviadas no dia 19 daquele mês, Christian fala para Stephanie que está castigando as crianças por não estarem comendo.

"Apanharam. O I.L derrubou duas vezes o prato dele, só que ele comeu pra caralho, e a Sophia se deu três colheradas até agora é muito", disse em áudio.

Ao que Stephanie respondeu.

"Deixa ela passar fome. Deixa ela sem comer".

No mesmo instante, Christian revela que já havia agredido Sophia e I.L. utilizando um cinto naquele mesmo dia.

"Eles apanharam de cinto hoje, eu não vou nem fazer questão de encostar a mão, vai apanhar só de cinto agora", afirmou.

O caso fica ainda pior quando, rindo, ele diz:

"Só que foi umas chicotadas cabulosas, estralou (...) se fosse o cinto de couro essa hora estava até sangrando com as chicotadas que dei neles".

Em momento algum a mãe de Sophia repreende as agressões.

"Misericórdia. Eles tão muito palhaços. Na hora de comer lanche é rapidão", diz.

No dia da morte de Sophia, 26 de janeiro, quando Stephanie procurou atendimento e foi informada de que a menina já estava morta, mandou uma mensagem para Christian dizendo que a polícia estava no local.

"Os policiais estão aqui (...) que que eu faço?"

"Eu não sei, inventa algo (...) ou me manda preso", responde Christian.

Depois, o padrasto de Sophia ainda sugere que a mãe da menina invente que ela se machucou no parquinho, desculpa que, pelo teor das mensagens, já teria sido utilizada anteriormente.

"Fala que se machucou no escorregador do parquinho, que nem da outra vez. Não sei. Me manda preso", repetiu.

Agressões anteriores

A perícia no aparelho celular de Stephanie de Jesus da Silva revelou que mensagens relacionadas à violência contra as crianças eram enviadas pelo casal desde dezembro de 2021, época em que Sophia tinha apenas 1 ano e cinco meses de vida.

Em áudio enviado à Stephanie no dia 2 de dezembro daquele ano, Christian conta que a menina e I.L. haviam brigado, e por isso o padrasto teria batido na mão da criança.

"Bati bem no dedo dela, aí ela já entortou a boca, e eu falei que se ela chorasse ela apanharia de novo", relatou Christian.

Minutos depois, o homem envia a Stephanie novas mensagens, dessa vez, dizendo que iria matar seu filho, I.F., que ná época tinha apenas 3 anos e 1 mês.

"Vou matar o I.F", disse.

Em outra ocasião, Christian envia a foto de um ventilador quebrado.

"Eu acho que você deve ter espancado ele, né?", pergunta Stephanie.

Ao que Christian responde:

"Espancado foi pouco. Eu acabei de arrebentar ele. Foi só murro só. Murro e chinelada no pé para ele deixar de ser besta".

Stephanie não se mostra surpresa com a violência, pelo contrário.

"Amor eu imagino o que você fez com o guri", comenta.

As agressões contra o menino assustaram até mesmo a pequena Sophia.

"A Sophia está sentada e quieta depois de ver eu batendo no I.L."

Neste instante, Stephanie também fala sobre as agressões contra a filha.

"É tipo o I.L. quando me vê batendo na Sophia, também fica quieto".

"Tá criando resistência"

Em conversas do dia 9 de dezembro de 2021, Stephanie conta que deu chineladas no filho de Christian. Segundo a mulher, a agressão aconteceu porque I.L. teria derrubado a Sophia.

"Acabei de dar umas chineladas no I.L., ele derrubou a Sophia no chão com tudo. Mas nem fez efeito. Chorou uns dois minutos e parou rapidão", escreveu Stephanie.

"Tá criando resistência", respondeu Christian.

Na sequência, a mulher conta como I.L. acidentalmente teria derrubado Sophia, e diz que a menina havia batido a cabeça no chão na queda.

"Tem que bater nele até ele aprender que não é pra fazer isso mais", afirma Christian.

"Ele está acostumado com você. Minha chinelada nem faz efeito", aponta Stephanie.

Christian insiste que Stephanie deveria bater mais forte, e diz que ela "tem dó" das crianças.

"Amor, eu bati até mais forte do que na Sophia. Mas eu não tenho força não", rebate a mulher.

Cinco dias depois, Stephanie novamente relata a Christian agressões a I.L., dessa vez, dizendo que a chinelada doeu e que o menino não parava de chorar. O motivo da briga seria o celular que Sophia estava utilizando, que I.L. também estava querendo usar. Na resposta, Christian apoia a agressão, ofende o próprio filho e ainda chama Sophia de 'transtornada'.

"Bem feito, ele tem que apanhar mesmo, está muito palhaço. É só aquela transtornada lembrar dele que ele começa a ficar assim", disse em áudio.

Em 5 de janeiro de 2022, Christian manda mensagem para Stephanie contando que Sophia está querendo "ir para a rua", e que beliscou a menina e colocou ela juntamente com I.L. "escorados na parede" e mandou que ficassem quietos como castigo. 

Na sequência, Christian diz para Stephanie que vai dar "uma porrada" em Sophia se a menina não se comportar, ao que Stephanie responde "pode dar".

"Vira a cara dela para o colchão e fica segurando"

Em 26 de março de 2022, Stephanie manda mensagem para o parceiro dizendo:

"Vou tacar a Sophia na parede (...) desde a hora que você saiu ela não para de chorar. Já bati e não adiantou nada", reclama a mãe da menina.

Christian sugere que a mulher finja que vai ligar para ele, afim de colocar medo em Sophia, sugerindo que ela teria medo do padrasto. Stephanie diz que estava tentando, mas que não adiantava.

Então, Christian sugere que a mãe da pequena empurre o rosto da menina sobre um colchão, para axfixiá-la.

"Dá uns tapão nela, aí você vira a cara dela para o colchão e fica segurando. Porque aí ela para de chorar, é sério. Parece até tortura, mas não é, porque ela fica sem ar e para de chorar, entendeu?", disse.

Mais tarde, no mesmo dia, Stephanie entra em contato de novo com Christian para dizer que deu tantas chineladas na menina que ela ficou com marcas. Na sequência, ela diz que Sophia acordou a bebê, E.L., filha do casal, e que por conta disso, Stephanie não estava conseguindo se arrumar.

"Dá um tapão na orelha dela [Sophia] e põe ela sentada. Fala que se ela levantar você vai quebrar o pescoço dela. Pronto, resolvido o negócio", diz Christian.

"Quanto mais eu bato mais abre o 'berreiro'", finaliza Stephanie.

Mordidas

Além das chicotadas, murros, tapas e chineladas, as crianças ainda eram mordidas por Christian.

"Você chegou a morder mais ela? Ela está com uma mordida enorme no braço", enviou Stephanie a Christian.

"Mordi ela, mas esse foi quando a gente estava brincando. Sabe que não controlo a mordida, ela é macia demais", responde o padrasto.

O caso

No dia 26 de janeiro de 2023, Stephanie de Jesus da Silva, de 25 anos, levou a pequena Sophia de Jesus Ocampo, de 2 anos, para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Coronel Antonino, em Campo Grande. Segundo as enfermeiras que realizaram o primeiro atendimento, a menina já apresentava rigidez cadavérica quando chegou à unidade. 

Posteriormente, a perícia constatou que a criança havia morrido 7 horas antes de chegar à UPA. O laudo necroscópico do Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol) indicou que Sophia morreu por um traumatismo na coluna causado por agressão física. Além das diversas lesões no corpo, a criança apresentava, ainda, sinais de estupro.

Conforme noticiado anteriormente pelo Correio do Estadomensagens trocadas entre a mãe de Sophia e o padrasto indicam que a dupla já sabia que a menina estava morta.

No diálogo que aconteceu no dia da morte de Sophia, por meio de um aplicativo de mensagens, Christian e Stephanie discutiam o que diriam para justificar o falecimento da criança. 

Christian afirma para Stephanie que ele não tinha condições de cuidar das crianças e tiraria a própria vida, pois havia avisado que um dia eles dariam azar e que a companheira perderia todas as coisas dela. 

“Eu não tenho condições de cuidar de filhos. [...] Eu te avisei que sua vida ia ficar pior comigo, mas você não acreditou”, disse Leitheim à mãe de Sophia. 

Na mesma conversa, o homem ainda diz que vai tirar a própria vida quando Stephanie o informa que Sophia está morta. As mensagens foram trocadas quando a mãe da menina estava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Coronel Antonino, onde a criança já chegou sem vida. 

“Tô saindo. Não vou levar o celular e nem identidade para, quando me acharem, demorar para reconhecer ainda. Desculpa, Stephanie, vou sair da sua vida”, afirmou em uma das mensagens trocadas com a namorada. 

Ainda de acordo com o documento a que o Correio do Estado teve acesso, logo após dar a notícia da morte da criança, Stephanie conta que exames constataram que Sophia tinha sido estuprada. Esse fato foi relatado pela mãe à polícia quando prestou os primeiros esclarecimentos e confirmado por meio de laudo necroscópico.

“Disseram que ela foi estuprada”, disse Stephanie, ao que Christian respondeu: “Nunca. Isso é porque não sabem o que aconteceu com ela e querem culpar alguém. Sei que você não vai acreditar em mim”. 

O padrasto completou: “Se você achar que é verdade, pode me mandar preso, pode fazer o que quiser”. 

Durante o diálogo, ele ainda deixa a entender que não teria sido a primeira vez que Sophia havia sofrido algum tipo de agressão, já que ele disse para a mãe “inventar qualquer coisa” que justificasse os hematomas.

“Fala que se machucou no escorregador do parquinho, igual da outra vez”, sugeriu. 

Em dois anos e sete meses de vida, Sophia já havia passado por pelo menos 30 atendimentos nas unidades de saúde. O laudo necroscópico indicou que a pequena Sophia morreu por um traumatismo na coluna causado por agressão física. 

Stephanie de Jesus da Silva responde por homicídio doloso e omissão por motivo fútil, meio cruel, contra menor de 14 anos e está sendo assistida pela Defensoria Pública. Christian Campoçano Leitheim foi denunciado pela promotoria de justiça por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, meio cruel e contra menor de 14 anos, e estupro de vulnerável.

A primeira audiência

primeira audiência de instrução - um ato processual que serve, principalmente, para colher todas as provas das partes e depoimentos das testemunhas - do "Caso Sophia" foi realizada no dia 17 de abril.

Foram ouvidas seis testemunhas: o pai biológico da vítima, um investigador de Polícia Judiciária, pai e mãe de Stephanie, e uma ex-namorada de Christian.

Apesar de não prestar depoimento, o padrasto da vítima se recusou a comparecer à primeira audiência.

Avô e avó maternos de Sophia, pais de Stephanie de Jesus da Silva, foram os primeiros a serem ouvidos.

Silva explicou que não era muito próximo de sua filha, já que se divorciou da mãe de Stephanie há 21 anos. Segundo ele, a filha sempre reclamou da ausência dos pais. Apesar de não haver tanta proximidade, o homem afirmou já ter visto hematomas na criança, mas nunca imaginou que Sophia era espancada. 

O avô da vítima ainda acrescentou que ele e a avó da menina já tinham medo da Sophia ser estuprada, porque desde que Stephanie havia passado a morar com Christian a casa "vivia cheia de homens".

A mãe de Stephanie, Delziene da Silva de Jesus, relatou que a filha se afastou depois de ter conhecido Christian, e que chegou a proibi-la de entrar na residência do casal.

"Depois que ela conheceu o Christian mudou por completo. Ela se afastou de mim porque não gostava que eu interferia, ela me proibiu de entrar na casa dela".

Por conta do contato reduzido, Delzirene afirmou não ter conseguido notar os sinais de violência, e só constatou as agressões quando viu o laudo médico. 

Stephanie procurou pela mãe no dia em que Sophia morreu. "Eu fui recebendo mensagens de que a Sophia estava passando mal, e recebi uma foto da menina dormindo. Sthephanie informou que iria esperar para levar a menina para o UPA", afirmou a testemunha.

Chegando à Unidade, Stephanie ligou para sua mãe para informar que Sophia estava morta. Delzirene acredita que Stephanie foi conivente com a violência sofrida pela criança.

"Por conta das mensagens que ela foi me mandando durante o dia, por conta da enfermeira relatar que Sophia estava há mais de quatro horas morta, não tinha como ela não saber que ela estava morta", disse. "Nas mensagens ela estava com a voz apavorada, de uma forma diferenciada. Ela estava chorando quando me mandou um áudio falando que a Sophia tinha morrido", concluiu Delziene.

Além dos avós, foram ouvidos o pai biológico de Sophia, um investigador e a ex-namorada de Cristian, que já tem medida protetiva contra ele por violência doméstica.

Andressa Fernandes, a ex-namorada, foi ouvida como informante. Ela teve um casamento de dois anos com Christian, com quem tem um filho. No depoimento, afirmou que Christian sempre bateu nela e no filho do casal

Em uma ocasião, Andressa foi chamada para limpar a casa em que Sophia morava com Stephanie e Christian, e relatou que o ambiente era extremamente sujo. A testemunha ainda confirmou que os tutores eram agressivos com a criança.

"Eu sei dizer que as poucas coisas que eu presenciei foi que eles eram agressivos com a Sophia".

Nesse dia, a mulher afirmou não ter dito nada a ninguém por medo de que Christian agredisse o filho.

Em entrevista concedida ao Correio do Estado após a primeira audiência, a advogada Janice Andrade, que representa o pai de Sophia, Jean Carlos Ocampo, e seu marido, Igor de Andrade, afirmou que um dos depoimentos mais esclarecedores foi o de Andressa, porque ele trouxe à tona o caráter agressivo de Christian.

Christian Campoçano Leitheim foi denunciado pela promotoria de justiça por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, meio cruel, contra menor de 14 anos, e estupro de vulnerável. Stephanie de Jesus da Silva deve responder por homicídio doloso e omissão por motivo fútil, meio cruel, contra menor de 14 anos e está sendo assistida pela Defensoria Pública. 

Segunda Audiência

A segunda audiência para ouvir testemunhas no processo que trata da morte da menina Sophia foi suspensa após uma confusão generalizada entre os advogados de defesa de Christian Leitheim, padrasto de Sophia e o juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri, Carlos Alberto Garcete. 

Antes da suspensão, cinco testemunhas tiveram tempo de ser ouvidas. A primeira foi a vizinha do casal, que relatou que os dois agrediam os cachorros, e que as crianças choravam muito.

Ela confirmou ainda que a casa era suja e mantida em péssimas condições. Além disso, afirmou que não reparava se a casa costumava receber muitas pessoas de fora, mas que seu pai, que frequenta um bar nos arredores, já havia comentado sobre a movimentação na residência.

"Meu pai disse que às vezes eles amanheciam, e entravam muitos homens na casa", afirmou.

No dia da morte de Sophia, Elisângela viu o momento em que Stephanie saiu com a menina para a Unidade de Pronto Atendimento, e disse durante a audiência que havia pensado que Sophia estava "desfalecida" no colo da mãe.

A segunda testemunha ouvida nesta tarde, Lauricéia Amaral de Carvalho, atua como agente de saúde na região em que Sophia morava com a mãe. Durante o depoimento, afirmou que quando esteve na casa não conseguiu notar se as crianças eram agredidas, já que apenas a filha de Christian com Stephanie estava no local.

"Eu passei dia 11 de janeiro, era uma área nova. O Christian estava em casa, fiz o cadastro, mas ele não encontrou as carteirinhas de vacinação. Apenas a filha dos dois estava em casa", afirmou.

Outro vizinho do casal, Ronaldo Correa, afirmou que morou ao lado da família por cinco meses, mas que não se recorda de brigas entre o casal. Além disso, pontuou que "de vez em quando" havia festa na residência.

Testemunhas de defesa

A quarta testemunha a depôr nesta tarde foi uma colega de trabalho da mãe de Sophia. Micauani Amorim, gerente da loja onde Stephanie trabalhava, disse que a mulher costumava faltar, alegando que levaria a menina no posto. Inclusive, essa foi a justificativa apresentada quando faltou no dia da morte da Sophia.

"Antes da morte da Sophia, a Stephanie era tranquila e parecia uma pessoa sem problemas. Antes dela começar a faltar era a melhor vendedora da loja", afirmou.

Micauani explicou que mantinha apenas relações profissionais com Stephanie, mas que já havia presenciado agressões à Sophia em uma ocasião.

A última testemunha que conseguiu finalizar seu depoimento foi a melhor amiga de Stephanie, e madrinha de Sophia. Ela afirmou que antes da mulher conhecer Chritian ela era outras pessoa.

A amiga afirmou ainda que depois que Stephanie mudou de casa se afastou da amiga, e aparentava estar infeliz.

Respondendo aos questionamentos do juiz, ela afirmou que Stephanie não mataria a Sophia, mas alegou que a mãe teria sido omissa ao ignorar as marcas e hematomas no corpo da criança.

Essa testemunha acha que o Christian poderia ter matado e abusado da Sophia, mas também acredita que outra pessoa poderia ter feito, já que a casa vivia cheia de homens.

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Mato Grosso do Sul

"Tinha que amarrar e pendurar esses bugres", áudio revolta povo Terena

Troca de áudios em um grupo de WhatsApp causou indignação na comunidade indígena, que protestou na manhã desta terça-feira (08) em Miranda

08/10/2024 16h30

Reprodução Redes Sociais

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Após áudios de WhatsApp com conteúdo de teor racista terem ido a público, a comunidade Terena protestou pedindo respeito na manhã desta terça-feira (08) em Miranda. O conteúdo diz que os indígenas trocam votos, são a pior classe na política e outras ofensas.

Como resposta, o Conselho do Povo Terena emitiu uma nota de repúdio.

 
 
 

Durante uma conversa que envolve a campanha de uma candidata que disputou uma cadeira na Câmara Municipal de Miranda, uma mulher chegou a afirmar que os indígenas que trabalharam na campanha não passavam de “traíras” e só queriam dinheiro.

O áudio fica ainda mais alarmante quando ela diz que Miranda está rodeada por comunidades indígenas que, em suas palavras, trocariam votos por arroz.

“E você sabe que aqui nós somos rodeados de aldeias. Índio falso, bugrada, sem vergonha, inútil. Eu tenho nojo, eu sou índio, mas eu tenho nojo de bugre. Esses bugres tinham que amarrar um por um pelo pescoço e pendurar. E ainda a gente perde a força, ainda que essa bugada, sem vergonha”, disse a munícipe.

Logo depois, um homem responde concordando e chega a mencionar que o candidato a vereador e o prefeito que apoiou foram eleitos. Muito embora tenha iniciado com “não tenho nada contra” e, dizendo que não devem generalizar, porém seguiu com o discurso de ódio.

“Eu vou falar um negócio para a senhora: em todo canto tem os apalavrados e os porcarias. Mas são as porcarias, como a senhora fala, que decidem a eleição. São os índios, né? Não discordo do que a senhora fala, concordo com tudo e mais um pouco. Hoje eu senti que a classe indígena é a pior espécie, politicamente falando, que existe; porcaria é pouco.”

Providências

O secretário do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Eloy Terena, em conversa com a reportagem do Correio do Estado, informou que amanhã (09) está retornando para Brasília e irá encaminhar medidas diante do exposto.

“Esse tipo de ataque é muito inaceitável em pleno século 21. Isso é um crime de incitação ao ódio contra a população originária da cidade de Miranda, então tem que ser repudiado, condenado e também acionados os órgãos para responsabilização desse tipo de crime”, pontuou Eloy, e completou:

“As pessoas têm que se acostumar. Nós estamos vivendo um novo momento em que os indígenas cada vez mais estão se despertando para os seus direitos. É importante ter a participação ativa na política local, nos espaços de decisão. Isso faz parte de um trabalho que a gente tem feito há mais de uma década e é um grande projeto chamado Aldear o Estado. Aldear a Política. O que é Aldear o Estado? Aldear a Política? É ter cada vez mais indígenas nesses espaços de decisão para justamente participarem da elaboração das políticas públicas para os povos indígenas, com a participação dos povos indígenas.”

Leia na íntegra a nota de repúdio:

"O Conselho do Povo Terena manifesta seu repúdio contra os ataques racistas e desrespeitosos que circularam em áudios em grupos de WhatsApp no município de Miranda.

Esses atos atingem a honra e a dignidade das populações indígenas, perpetuando o racismo, um crime previsto em lei.

Em pleno século XXI, é inadmissível que sejamos alvos de discriminação e violência moral e psicológica, enquanto seguimos carregando o peso histórico de lutas pela defesa dos nossos territórios e direitos.

Exigimos que as autoridades investiguem e responsabilizem os autores desses atos. O racismo não é apenas uma ofensa pessoal; é uma ferida na sociedade que deve ser combatida com rigor a justiça.

Apelamos aos cidadãos e cidadãs de Miranda e de todo o Brasil que se unam contra o preconceito e promovam o respeito mútuo ea convivência pacífica. O povo Terena sempre resistiu e continuará lutando por dignidade, cultura e por uma sociedade justa e inclusiva.

Respeitar os povos indígenas é respeitar o Brasil e sua história!"

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Exploração

Cantor Leonardo entra em "lista suja" do trabalho escravo

Emival Eterno da Costa (verdadeiro nome do cantor) mantinha 176 trabalhadores em condições análogas a escravidão, diz Ministério do Trabalho e Emprego

08/10/2024 15h38

Cantor Leonardo em uma de suas fazendas

Cantor Leonardo em uma de suas fazendas Redes sociais

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O cantor Emival Eterno da Costa, conhecido como Leonardo, foi incluído na chamada “lista suja do trabalho escravo” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A atualização da lista foi feita nesta segunda-feira (7) e publicada no site do órgão, contendo os nomes de 176 empregadores acusados de submeter trabalhadores a condições análogas à escravidão.

Segundo o MTE, a inclusão do nome de Leonardo ocorreu após uma fiscalização em uma fazenda localizada em Jussara, Goiás.

Em resposta, o cantor afirmou em suas redes sociais que arrendou a fazenda, alvo da fiscalização, em 2022. “Eu não me misturo nessa lista de trabalho escravo. Sou totalmente contra esse tipo de coisa”, declarou.

De acordo com a Procuradoria de Goiás, o caso foi arquivado em abril de 2023. No entanto, devido ao sigilo do processo, detalhes sobre a sentença judicial não foram divulgados.

A fiscalização ocorreu em novembro de 2023, quando foram encontradas seis pessoas, incluindo um adolescente de 17 anos, em “condições degradantes”.

No entanto, informações específicas sobre as condições encontradas não foram reveladas.

Cinthia Possas, advogada trabalhista, explicou que a inclusão de um proprietário na lista, mesmo que a propriedade esteja arrendada, pode ocorrer se houver indícios de que o arrendador estava ciente ou não tomou as medidas necessárias para evitar práticas abusivas.

“É importante investigar o nível de envolvimento ou diligência do cantor Leonardo no contrato de arrendamento”, afirmou.

Ela destacou que, em algumas situações, pode haver responsabilização solidária ou subsidiária do proprietário, especialmente se for comprovado que ele sabia ou foi negligente em relação às condições de trabalho no local.

Em geral, a inclusão na “lista suja” ocorre quando há evidências de que o empregador tem responsabilidade direta ou indireta pela prática de trabalho escravo.

Leonardo ficou famoso no final dos anos 1980, formando a dupla Leandro & Leonardo com seu irmão Leandro, que faleceu em 1998. Entre seus maiores sucessos estão as músicas “Pense em Mim” (1990) e “Talismã” (1989), esta última dando nome a uma de suas fazendas na região.

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