O sonho da estudante Bellity Arruda, de 18 anos, de cursar administração ficou mais longe. Ela, que passou em 1º lugar no vestibular da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), teve a avaliação do sistema de cotas indeferida por duas vezes por não ser considerada parda pela comissão avaliadora.
Bellity concorre a vaga de cota L6, destinada a candidatos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas, independente da renda, autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. Após a aprovação no vestibular, ela precisou passar pela banca de avaliação e, de acordo com ela, um curso de comissária de bordo a fez ir maquiada e uniformizada no dia , que foi em 31 de janeiro.
“Tem uma cláusula que nos obriga a ir bem arrumada fazer o curso, tanto que cheguei no auditório para a avaliação e mandaram tirar o batom porque não podia usar”, contou ela ao Correio do Estado.
Bellity saiu do processo e disse que reparou que havia algo errado. “Assim que saí da sala eu liguei para a minha e mãe e disse que não tinha conseguido porque eles estavam me olhando de um jeito muito estranho”, disse. Posteriormente, ela teve a autodeclaração inferida.
Em post nas redes sociais, o pai da jovem, Nemezio Alencar, afirma que a filha está de acordo com os requisitos citados no edital. “‘Serão avaliadas as características do fenótipo: cor da pele, nariz largo, cabelo crespo, largura dos lábios’ aí sua filha é aprovada em 1° lugar na L6, com média acima de 610 pontos e tem todas as características impostas no edital, mas tem o resultado indeferido”, diz a postagem.
Nos comentários, outros estudantes diziam que passaram pelo mesmo problema. “Estamos na mesma situação, avaliação injusta e duvidosa!! Meu filho passou o ano estudando para esse vestibular e passou com cota L6 e foi indeferido… Mesmo sendo pardo e de escola pública”, afirmou a mãe de um estudante.
“Oi, também estou na mesma situação. Vou amanhã na pró-reitoria tentar entender o que aconteceu. Acredito que se forem várias pessoas, a chance de resolverem o problema é maior. Podemos combinar todos”, contou outra jovem.
Por conta da primeira recusa da vaga, Bellity entrou com recurso para que o caso seja revisto. “Eu coloquei foto minha de rosto limpo, anexei a cláusula do contrato do curso que dizia que eu tinha que estar maquiada”, explicou, acrescentando que, mesmo assim, o recurso foi negado.
Agora, a família espera a justificativa da universidade sobre os indeferimentos.
Assessoria de imprensa da UFMS disse ao Correio do Estado que no processo de avaliação para cotas, são levadas em consideração as características físicas (fenotípicas) do candidato, que são verificadas mediante a presença perante a Banca de Veracidade da Autodeclaração. Todos os candidatos inscritos em vagas reservadas sob o critério raça/cor são convocados para comparecer.
"A presença é obrigatória sob pena de não poder efetuar a matrícula. O candidato é fotografado e sua foto é arquivada. Não há entrevista ou análise documental dos antecedentes familiares. O parecer é emitido com base exclusivamente nas características físicas", diz a nota da universidade.
Ainda conforme a Universidade, após a divulgação do resultado, há um período reservado para os candidatos entrarem com recurso.