Depois de impedir que novos barracos fossem erguidos pelas cerca de 46 famílias e 70 pessoas que ocuparam uma área pública, no último final de semana, na região do Jardim Tijuca, a prometida reunião na Agência Municipal de Habitação de Campo Grande (Emha) foi um fracasso e os manifestantes devem seguir com os acampamentos no terreno da rua Bororós.
Após dormirem a madrugada de domingo para segunda-feira (23) no terreno, cumprindo a recomendação por parte do Executivo, Guarda Municipal e Polícia Militar de que novos barracos não deveriam ser erguidos, as famílias que compõe o grupo saiu desacreditado da dita reunião que estava marcada para a manhã de hoje.
Agora, enquanto aguardam a presença da prefeitura para que tome uma medida sobre a situação, a decisão do grupo é não sair do local do terreno que fica no quadrilátero entre as vias:
- Rua Bororós,
- Anita Laterza,
- Antônio Meireles Assunção e
- Ivo Menoni
Com a chuva e o frio cada vez mais próximos, segundo repassado pelo grupo, a ideia é que todas essas ações e movimentações de reivindicações se mantenham, em um sentimento de "cada um por si", para que tenha sequência a ocupação da área, alegando que entre os manifestantes há apenas famílias pobres e sem condições.
Relembre
Desde a tarde da última quinta-feira (19) teve início a ocupação do terreno, por parte de famílias sem-terra que apontam inclusive para uma possível ocupação irregular desse espaço de terra por parte de terceiros privados, devido ao muro sendo erguido no que seriam os fundos do terreno, em paralelo com a rua Bororós.
Já na sexta-feira (20) eles teriam recebido o primeiro aviso para que deixassem o local, com uma abordagem mais violenta no último sábado (21), que resultou no lançamento de bombas de efeito moral em famílias com crianças por parte das forças de segurança pública mobilizadas.
Ao Correio do Estado, ontem (22), o Executivo apontou que, de fato, o terreno no Jardim Tijuca é de propriedade do Município e que há pelo menos dois anos está em andamento um processo de regularização fundiária em área vizinha.
Em complemento, a nota da Emha é categórica em frisar que "não será permitida qualquer tentativa de ocupação irregular", segundo a Agência, que salientou o emprego da Guarda Civil Metropolitana para monitorar e evitar que novos barracos sejam erguidos no local.
Reunião fracassada
Conforme repassado pelos representantes do grupo, presentes no que seria a reunião de hoje junto à Agência de Habitação, a resposta por parte do Poder Público foi convocar cerca de quatro pessoas para falar em nome de 70 e 46 famílias, pedindo que essas entrassem no cadastro por uma moradia.
"Assistente social simplesmente falou para mim, depois de quatro ou cinco dias vocês tem um assistente social para poder verificar como é que as famílias se encontram... a senhora não viu as fotos nas reportagens, como está o alojamento? Tem criança dormindo no chão, idoso passando dia e noite sentado em cadeira", expressou uma das manifestantes presente na reunião.
Karolina Rojas faz parte do movimento, como uma das representantes do grupo, indicando que há quase duas décadas esperam por um sorteio de residências que nunca veio, indicando que a reunião de hoje aconteceu com a presença de apenas uma assistente social.
"A gente vai continuar morando aí, porque querendo ou não eles não tiveram acordo com a gente... falaram que iam participar da reunião e em nenhum momento eles participaram", diz.
O que diz o Executivo
Em nota, a Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários (EMHA) afirmou que, após a reunião na manhã de hoje (23), quando oferecido atualização ou primeiro preenchimento de cadastro habitacional, as famílias escolheram não seguir com o atendimento.
Sem dar resposta ao questionamento de qual seria a alternativa por parte do Executivo Municipal, uma vez que as famílias alegam não ter para onde ir, a Agência apenas pontuou que segue critérios estabelecidos por normas federais e diz respeitar uma fila para sorteios de moradias.
Abaixo, você confere na íntegra a nota enviada por parte da Agência de Habitação de Campo Grande:
"A Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários (EMHA) informa que, na manhã desta segunda-feira (23), representantes do grupo que ocupa área pública no Jardim Tijuca estiveram na sede da Agência, onde foi oferecido atendimento pelo setor social, com atualização ou realização de cadastro habitacional, porém as famílias optaram por não dar continuidade ao atendimento.
Cabe destacar que a EMHA mantém uma fila pública e transparente de pessoas cadastradas, que aguardam de forma ordenada e legal a oportunidade de participar dos sorteios de moradias, respeitando os critérios estabelecidos por normativas federais e municipais.
Trabalhamos continuamente para ampliar o acesso à moradia digna por meio de programas habitacionais como sorteio de apartamentos e lotes, respeitando critérios legais e sociais previamente definidos.
A EMHA permanece à disposição para esclarecimentos e reforça seu compromisso com a legalidade, a justiça social e o respeito ao direito à moradia.
As famílias podem comparecer pessoalmente à agência para informações sobre os programas habitacionais da EMHA, ou pode entrar em contato direto com o setor social da Agência pelo número (67) 99826-5794. Famílias em situação de vulnerabilidade social podem ainda buscar atendimento junto à Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (SAS), dirigindo-se diretamente ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de sua região.
No local, é possível solicitar benefícios eventuais, como cestas básicas e cobertores, além de realizar ou atualizar o Cadastro Único, necessário para acesso a diversos programas sociais. Mais informações também podem ser obtidas pelo telefone geral da SAS: (67) 3314-4482".
**(Colaborou Karina Varjão)







