Muito questionado por sua qualidade, o transporte coletivo de Campo Grande perdeu 24,7% de sua frota de ônibus em 12 anos, enquanto a população da Capital cresceu 11,5% nesse mesmo período.
Segundo dados fornecidos pelo Consórcio Guaicurus, a frota atual total é de 460 veículos. Entretanto, quando o contrato foi assinado em outubro de 2012, a quantidade total era de 574 carros para atender ao transporte coletivo e urbano da Capital.
Naquela época, de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia 805.397 habitantes em Campo Grande, número inferior aos atuais 898.100 moradores, conforme dados do Censo Demográfico de 2022 realizado pelo mesmo instituto.
Além de ser um número inferior ao do primeiro ano de contrato, dos 460 carros totais da frota, 418 estão em operação e outros 42 servem de reserva técnica, para o caso de necessidade de ampliação dos carros à disposição ou na quebra de algum veículo.
Isso mostra, portanto, que o transporte coletivo teve uma evolução inversa ao crescimento populacional da cidade.
A concessionária alegou que a quantidade de carros da empresa são determinados pela Prefeitura de Campo Grande, por meio da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), autarquia responsável pela criação e extinção de linhas de ônibus na Capital.
“O aumento ou não da frota depende do poder concedente”, afirmou a assessoria do Consórcio Guaicurus.
Para se ter uma ideia, pelo menos até agosto de 2024, a frota da concessionária da Capital era de 486 carros.
Outro ponto importante é relacionado ao tipo dos veículos hoje em circulação. Enquanto em 2012 havia 44 ônibus articulados – do tipo que tem uma maior capacidade de transportar passageiros –, atualmente poucos ou praticamente nenhum carro desse tipo é utilizado pelo grupo de empresas que comandam o serviço em Campo Grande.
A reportagem do Correio do Estado procurou a prefeitura para saber o motivo da redução da frota, porém, após mais de 24 horas de espera, a solicitação não foi respondida.
RECLAMAÇÕES
Durante a apresentação do novo CEO do Consórcio Guaicurus, Themis de Oliveira, ele negou que existam problemas com a frota do grupo e afirmou que, com relação às reclamações frequentes de usuários sobre a qualidade do transporte coletivo e o sucateamento da frota, haverá uma escuta ativa para ouvir a população e também o município, que é o contratante da prestação de serviço, mas salientou que muitas pessoas “focam em ver os problemas”.
“Existem veículos antigos, mas eu fiz um tour nas garagens, e vocês vão se surpreender com a organização e a manutenção dos ônibus, mas são milhares de trabalhadores para atender uma cidade de 1 milhão de habitantes. Se levar em conta o número de problemas que temos, e eles repercutem, são estatisticamente muito pouco”, disse Oliveira durante a coletiva desta terça-feira.
Como pontos positivos, o novo CEO do grupo ainda citou o fato de não haver registros de assaltos no transporte coletivo há anos. Segundo ele, isso ocorre pelo fato de a tarifa ser 100% via cartões, sem a necessidade de movimentar dinheiro em espécie dentro dos ônibus.
TARIFA DE ÔNIBUS
Atualmente, a passagem de ônibus custa R$ 4,75, valor que deverá ser reajustado neste ano, uma vez que o último aumento ocorreu em março de 2024.
Porém, até o fim da tarde de ontem, o município ainda não havia publicado nem sequer a tarifa técnica (hoje pautada em R$ 5,95), a qual baseia o valor repassado à população e também o valor do subsídio dado pelas gratuidades do serviço.
Uma ação movida pelo Consórcio Guaicurus busca na Justiça o aumento da tarifa técnica para R$ 7,79. Esse valor, segundo documento da Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg), seria referente a um reequilíbrio no contrato de concessão, medida estabelecida na pactuação para ocorrer a cada sete anos, mas que não foi realizada e que é solicitada judicialmente.
A matéria é analisada pela juíza Cíntia Xavier Letteriello, da 4ª Vara de Fazenda Pública e Registros Públicos de Campo Grande, que aguarda resultado de uma perícia judicial que começou a ser realizada em dezembro de 2024 nas contas do Consórcio Guaicurus.