Na tentativa de reduzir a ação do crime organizado no país, principalmente o tráfico de drogas e armas, o Paraguai decidiu agilizar a entrega de criminosos à Justiça brasileira. Somente neste ano, pelo menos 15 condenados ou processados já foram devolvidos para o Brasil, incluindo Fábio Souza Santos, o Geleia, do Comando Vermelho (CV).
A intenção é evitar que os foragidos continuem usando o país como esconderijo e fomentando atividades de facções do Brasil, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), que há tempos vem brigando com o CV pelo controle de áreas produtoras ou distribuidoras de drogas na fronteira.
Segundo as informações, no ano passado, o país vizinho extraditou 97 brasileiros, entre eles, o traficante Marcelo Pinheiro Vieira, o Marcelo Piloto. Com histórico de diversas ações criminosas, inclusive tráfico internacional, falsidade ideológica e homicídios, e fugitivo de uma unidade prisional brasileira em agosto de 2017, ele foi preso no Paraguai no mesmo ano.
Em novembro de 2018, o governo paraguaio o entregou ao Brasil. Alguns dias antes, Piloto matou com 17 facadas uma jovem de 18 anos que o visitava em sua cela, no Paraguai. Autoridades paraguaias acreditam que ele cometeu esse crime somente para tentar evitar a extradição. Entregue à Delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu (PR), o traficante foi transferido para o Presídio Federal de Catanduvas (PR).
OUTRO EXTRADITADO
Em 2017, considerado um dos maiores fornecedores de cocaína para o Brasil e um dos líderes da ramificação do primeiro comando no Paraguai, o traficante Jarvis Chimenes Pavão também foi extraditado. Ele estava preso desde 2009 na penitenciária Tacumbu, em Assunção, onde cumpria pena de oito anos pelos crimes de lavagem de dinheiro e porte ilegal de arma. Antes, em janeiro do mesmo ano, a Justiça do Paraguai já havia extraditado para o Brasil o traficante paraguaio Carlos Antonio Caballero, o Capillo, aliado de Pavão.
Pavão também é apontado como um dos mandantes da execução de outro traficante brasileiro, Jorge Rafaat, em junho de 2016, na cidade de Pedro Juan Caballero. No ataque a Rafaat, que andava acompanhado de 22 seguranças armados com fuzis, o PCC usou uma metralhadora antiaérea.
No início deste mês, a Polícia Federal prendeu o traficante Sergio de Arruda Quintiliano Neto, conhecido como Minotauro. Ele é apontado pelas autoridades brasileiras e paraguaias como um dos principais responsáveis pelo tráfico de drogas na fronteira entre os dois países, além de ser investigado por homicídios na cidade de Pedro Juan Caballero. Minotauro foi capturado na Marina Beach Towers, em Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina.
FECHANDO AS PORTAS
De um modo geral, o governo paraguaio está se dispondo a fechar as portas às facções criminosas brasileiras, em meio à guerra pelo controle do tráfico na fronteira. A estratégia é implementar o programa de cooperação existente entre os dois países, permitindo que criminosos presos após cruzar a fronteira sejam rapidamente devolvidos.
Para a Justiça do país, essa disposição é retratada pelo número crescente de extradições e expulsões. No ano passado foram 97 presos brasileiros, isto é 60% a mais que os 59 mandados de volta ao Brasil em 2017, conforme dados oficiais. Autoridades paraguaias também investigam suspeitas de suborno a policiais para ajudar traficantes.
Além de agilizar as transferências, o governo do país vizinho reconhece que é preciso combater a corrupção nos meios policiais. Gustavo Molina, diretor de investigação da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai, avalia que os traficantes usam seu poderio econômico para subornar policiais. Para ele, as facções brasileiras tentam gradativamente aumentar a influência nos meios criminais locais. “São investigadas até suspeitas de envolvimento de membros da Polícia Nacional com esses grupos”, diz.
Na semana passada, por exemplo, investigação sobre o grupo liderado por Minotauro apontou o sumiço de cinco veículos que estavam em uma oficina em Pedro Juan Caballero. Os carros estavam guardados desde a megaoperação que ocorreu na região de fronteira, no dia 7 deste mês, quando houve a prisão de 15 suspeitos e a apreensão de 25 carros, além de drogas e munições.
O Ministério Público paraguaio investiga o caso e os policiais envolvidos no monitoramento do local foram afastados de suas funções.



