De acordo com uma pesquisa realizada pelo Núcleo Criminal (Nucrim) e divulgada pela Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, 81% das mulheres que foram presas em Campo Grande entre março de 2024 e março de 2025 são mães.
Os dados foram levantados a partir do acompanhamento da Defensoria Pública em audiências de custódia de 313 mulheres. Desse total, 254 tem filhos.
“O dado chamou a atenção da instituição para os impactos sociais provocados pela prisão de mães, principalmente em relação ao rompimento dos vínculos familiares e à vulnerabilização de crianças e adolescentes”, destaca o coordenador do Nucrim, defensor público Daniel de Oliveira Falleiros Calemes.
PERFIL
Idade: 61% têm entre 18 e 34 anos, fase considerada produtiva e crucial para a criação dos filhos.
Raça: 68% se declaram negras (pardas ou pretas), reflexo do racismo estrutural no sistema penal.
Situação econômica: 70% estavam em vulnerabilidade — 44% desempregadas e 26% no trabalho informal.
Crimes: Tráfico de drogas (41%) e crimes patrimoniais, como furto (33%), lideram as motivações.
IMPACTOS
A pesquisa reforça que 68% das presas não tinham antecedentes criminais, indicando que muitas são arrastadas para o sistema penal por circunstâncias socioeconômicas.
"São mães que, ao serem presas, deixam filhos desamparados, perpetuando ciclos de exclusão", explica Calemes.
Dados complementares de um mutirão de 2024 mostram que, das 444 mulheres identificadas como mães ou gestantes no estado, apenas 8,3% tiveram pedidos de prisão domiciliar deferidos.
REPETIÇÃO DE PADRÕES
Um estudo similar feito em 2023 no presídio feminino Irmã Irma Zorzi já apontava tendências idênticas:
- 90% das presas eram mães;
- 56% sustentavam os filhos;
- 76% eram negras;
- 59% tornaram-se mães antes dos 17 anos.
"O perfil não muda, evidenciando a falha das políticas públicas", afirma a defensora Thais Dominato, do Núcleo de Defesa à Mulher (Nudem).
CICLO DA VIOLÊNCIA
O relatório de 2023 revelou ainda que:
- 51% das presas sofreram violência doméstica;
- 30% relataram abuso sexual na infância;
- 77% não concluíram o ensino médio.
"O encarceramento feminino é marcado por desigualdades de gênero e raça. Precisamos de alternativas à prisão, especialmente para mães", defende o sociólogo Raphael Silva, coautor da pesquisa.




