Cercada por moradias de alto padrão, a região da base aérea de Campo Grande foi “tomada” por pessoas em situação de rua, sobretudo entre a Avenida Duque de Caxias e Lúdio Martins Coelho, área central da Capital. Quem passa por lá, rapidamente se defronta com os barracos que ocupam alguns dos canteiros que, outrora, foram palco de manifestações políticas.
Natural de Santa Rita, interior de Minas Gerais, Sidnei Ferreira de Lima é um dos que vivem na região. Em Campo Grande há oito anos, se mantém por meio de coleta de recicláveis e papelão, além de pintor nas horas vagas. Distante 1,2 mil km de seu local de nascimento, foi criado no interior do Paraná e decidiu tentar a vida sozinho e distante de seus familiares.
“Não tenho ninguém comigo em Campo Grande, estou nessa vida por escolha própria, não quero falar sobre o quanto eu ganho todo mês, mas consigo viver muito bem”, destacou ao Correio do Estado, enquanto desmontava seu barraco coberto por lonas e alicerçado por sua bicicleta monark preta, que além de instrumento de locomoção, é utilizada para carregar algumas ferramentas de trabalho.
Barraco de outra pessoa em situação de rua, na mesma região / Foto: Gerson Oliveira/ Correio do EstadoQuestionado sobre a escolha do local de moradia, diz viver ali de forma ininterrupta desde que chegou ao município, em meados de 2017. “Invisível” aos olhos de quem passa despercebido, afirma montar e desmontar sua casa todos os dias, de forma incansável, justamente para evitar reclamações e burburinho por parte dos moradores mais antigos.
“Pode ser que quem passe por aqui não ligue para mim, não se importe, mas algumas pessoas sabem que eu monto meu barraco aqui, desmonto no decorrer do dia e volto a montar a noite, logo após o dia de trabalho”, disse Sidnei, com cara de poucos amigos.
De fala tranquila e olhar desconfiado, por volta das 15h desta quinta-feira (26), seguiu para mais um dia de trabalho após “embarcar” toda a casa em sua bicicleta. Sobre a vizinhança, disse querer distância dos outros moradores por ser “individualista, e de poucos amigos”. “Não conheço meu vizinho e nem quero me misturar ou conhecer, saber da vida alheia não faz parte da minha índole”, disse a reportagem, enquanto se despedia rapidamente.
A poucos metros de distância, outro barraco é avistado. Assim como no lar de Sidnei, algumas peças de roupa, um tênis surrado, alguns poucos recicláveis, e muitos pedaços de lona. A ausência do “vizinho” pode ser justificada por mais um dia de trabalho, além do intenso calor que emana do próprio material utilizado pelos moradores.
Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado Ao Correio do Estado, a prefeitura Municipal de Campo Grande destacou que a Rede Municipal de Assistência Social segue com os atendimentos de rotina, além do Inverno Acolhedor, para os dias de frio.
Conforme a administração municipal, entre janeiro e maio deste ano, mais de 4 mil cobertores foram entregues a pessoas em situação de rua e famílias vulneráveis, por meio dos Cras, Centros de Convivência.
Quanto ao número de pessoas em situação de rua, a prefeitura destacou que entre janeiro a abril realizou mais de 2,4 mil abordagens, onde 1.118 pessoas se declararam usuárias de droga, além de 760 migrantes nacionais (caso de Sidnei) e internacionais.


