A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) informou que, entre março e outubro, 42 pacientes procuraram atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para tratar o vício em jogo online que ficaram conhecidos como Bets.
Conforme explicou a coordenadora da rede de saúde mental da Sesau, Gislayne Budib, a patologia de vício em jogos é conhecida como ludopatia ou transtorno do jogo. Em entrevista ao Correio do Estado, contou que o transtorno tem como característica a necessidade compulsiva de jogar, mesmo que isso acabe trazendo prejuízos financeiros - como os jogos ilegais.
No entanto, é importante ressaltar que, muito antes do tema ganhar a mídia com a explosão dos jogos de azar online, os CAPS já recebiam e realizavam tratamento de pessoas que eventualmente apresentavam problemas com esse tipo de vício. A nota em questão chegou para alinhar a oferta de tratamento diante do problema enfrentado em todo o país.
Nota
Diante do aumento de usuários de jogos online, o Ministério da Saúde distribuiu, no final de outubro, uma nota técnica a todas as secretarias de saúde com orientações sobre o atendimento.
A nota foi divulgada nas 17 Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) e 74 CAPS.
A Sesau ressalta que essas unidades têm funcionamento 24 horas, com atendimento médio de 1.300 consultas ambulatoriais de saúde mental e 2.000 atendimentos mensais.
Atendimento
O Departamento de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas (DESMAD) do Ministério da Saúde reforçou que tanto a Atenção Primária à Saúde (APS) quanto os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) devem acolher pessoas com vício em jogos, prestar tratamento e realizar o acompanhamento do paciente.
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Equipe multidisciplinar: compostas por profissionais de saúde de diferentes áreas (EMULIT), trabalhando de forma complementar e integrada às outras equipes da Atenção Primária à Saúde (APS).
- Rede de Apoio: Familiares e amigos dos pacientes devem receber suporte e orientações sobre como lidar com o paciente no enfrentamento do transtorno de jogo.
A especialista ressaltou que a nota esclarece dúvidas, inclusive entre os profissionais de saúde, sobre como proceder para oferecer o melhor atendimento ao paciente que chega em estado de sofrimento.
O que leva a pessoa a procurar o jogo online?
No começo o jogo pode servir como diversão e até eventuais conexão social, mas depois evolui para outros fatores, como:
- Conexão e interação social;
- Satisfação de necessidades psicológicas não atendidas;
- Escape emocional (principalmente em pessoas mais velhas);
- Necessidade financeira;
- Redução de estresse;
- Ansiedade, depressão e solidão;
- Luto;
- Aposentadoria;
- Dor física e problemas físicos.
Além do jogo, conforme explicou a médica, é comum o uso de outras substâncias, como tabaco e álcool. Eventualmente, a pessoa que desenvolve o vício apresenta:
- Transtornos afetivos e de humor;
- Transtornos obsessivos-compulsivos;
- Risco de suicídio e autolesão.
- Sinais de alerta
- A pessoa dedica menos tempo à família;
- Aumento do consumo de álcool e outras drogas;
- Sentimento frequente de culpa, arrependimento, insegurança e vergonha;
- Mentir sobre o tempo e/ou o dinheiro que gasta com o jogo.
Sintomas nas crianças
- Crianças e adolescentes mostrando sinais de angústia e enfrentando dificuldades na escola;
- Desempenho reduzido nos estudos ou no trabalho;
- Mudança nos padrões de sono, alimentação ou relacionamento sexual;
- Sentimentos de raiva, desesperança, solidão, desvalia e isolamento social;
- Ideação suicida.
Vício das Bets
Segundo a Pesquisa DataSenado, 22,13 milhões (13%) dos brasileiros com 16 anos ou mais disseram ter jogado algum tipo de jogo de Bet na internet.
O recorte de pessoas que costumam fazer apostas esportivas é o seguinte:
- Homens: 62%
- Homens com idade entre 16 a 39 anos: 52%
- Com ensino médio incompleto: 40%
- Dos que costumam jogar online, cerca de 3% afirmaram ter usado mais de R$ 769 mil em jogos de aposta.