Cidades

INTERNAÇÃO

Prefeitura tem 60 dias para implantar 244 leitos psiquiátricos

Capital tem 159 para pacientes psiquiátricos, mas o ideal é 403

IZABELA JORNADA E FÁBIO ORUÊ

14/10/2019 - 10h18
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Total de 244 leitos destinados a pacientes com transtorno mental ou com algum problema intelectual decorrente de álcool e drogas deve ser implantado em Campo Grande no prazo de dois meses. A recomendação para que sejam criadas novas vagas com o objetivo de atender à demanda da Rede de Atendimento Psicossocial é do Ministério Público do Estado (MPE) – publicada no Diário Oficial na semana passada.

Dados mostram aumento gradativo, nos últimos anos, de tentativas de suicídio, que, segundo a recomendação, podem ter relação com a falta de leitos psiquiátricos – para internação – nos hospitais da Capital. 

Segundo o documento, foram 750 tentativas de suicídios em 2014, 812 em 2015, 868 em 2016, 1.086 em 2017 e, por fim, 1.127 em 2018, representando um aumento de 50% nas tentativas em quatro anos. Os números de casos consumados aumentou em 48%, saindo de 49 em 2015 para 73 em 2018.

De acordo com dados do Corpo de Bombeiros, 48 tentativas consumadas foram contabilizadas de janeiro a agosto de 2019. “Se continuar assim, este ano vai ser maior que o ano passado, pois, na projeção de mês a mês, este ano já superou 2018”, afirmou o tenente Lucas Medrado, ouvido pelo Correio do Estado

ONDE TEM VAGAS?

Campo Grande conta atualmente com 159 leitos psiquiátricos para pacientes com deficiência ou usuário de álcool e drogas, sendo 65 do Sistema Único de Saúde (SUS) e 94 particulares. Esse número equivale a 39% do adequado para a Capital, se levar em conta o número de habitantes da cidade. Conforme Filomena Fluminhan, promotora de Justiça da área da saúde, a portaria ministerial regulamentada pela Nota Técnica nº 11, de 2019, diz que a referência é de um leito para cada 2,2 mil habitantes. A população do município é estimada em 985,9 mil pessoas – segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – ou seja, a Capital deveria ter ao menos 403 leitos psiquiátricos de internação hospitalar.  

Na cidade, 53 leitos do SUS estão no Hospital Nosso Lar e 12 no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS). O setor de psiquiatria da Santa Casa já havia sido reduzido a poucos leitos e, em setembro de 2017, foi fechado definitivamente. Há dez anos, o hospital comportava 48 leitos para internação e mil consultas, mas neste período sofreu redução de 90%.

O médico psiquiatra Juberty Antonio de Souza diz que a questão foi criminosa e a população da Capital passou a ficar ainda mais desassistida  do que já estava. “Precisaria de 800 leitos psiquiátricos em Campo Grande para atender os doentes mentais”.

O psiquiatra declarou também que os hospitais não querem atender pacientes com doenças mentais por receio do que possa acontecer e também por conta do trabalho que esse tipo de paciente demanda. “Os hospitais não querem mais receber esse tipo de paciente [com problemas psiquiátricos]”.

No mês passado, um enfermeiro do Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) Aero Rancho, na Capital, foi esfaqueado por um paciente, que apresentou surto psiquiátrico e golpeou a vítima três vezes com uma faca. Conforme informações da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), o paciente estava em acompanhamento no local e teve uma reação inesperada. No momento da agressão, o atendimento estava normal e não havia demora ou filas, ou seja, o caso foi em decorrência de um surto repentino, de acordo com a pasta.

CAPS

Há quatro Caps em Campo Grande, que atendem especificamente pacientes que sofrem de depressão, mas o trâmite para que essas pessoas sejam encaminhadas aos centros é muito burocrático. A médica explica que o paciente precisa ir até uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e, a partir de uma consulta, que deverá ser agendada com antecedência, será avaliado por médicos que definirão se ele será encaminhado para algum Caps. 

O secretário municipal de Saúde, José Mauro Pinto de Castro, diz que a recomendação do MPE está sendo analisada juridicamente pela pasta. “É [um número] muito expressivo. Está fora da nossa realidade”. Castro também informou que o projeto de um Caps no Coophavila, com mais 20 leitos, está sendo finalizado, além de parceira com o governo do Estado para a abertura de mais 36 leitos no Hospital Nosso Lar. 

Como estratégia para tentar diminuir o índice de suicídios na Capital, a Sesau criou o Programa de Prevenção ao Suicídio. Aqueles pacientes que tentaram, mas não chegaram a consumar o ato, foram “fichados” na rede pública de saúde. Posteriormente, eles são contactados e encaminhados, diretamente, para receber atendimento no Centro de Especialidades Médicas Municipal (CEM). 

“Campo Grande está entre as capitais que têm o maior índice de suicídios no Brasil. Eles são atendidos sem precisarem esperar em filas, de segunda a sábado”, explicou a médica psiquiatra da Sesau, responsável por doenças mentais, Ana Carolina Guimarães.

Para Juberty, o maior problema é a política nacional para atendimento psiquiátrico, que está com ideologia inadequada. “Por muito tempo, doença mental era considerada invenção da sociedade, e o resultado disso foi o fechamento de 90 mil leitos nos últimos anos, em todo o Brasil”, afirmou o profissional.

INCERTEZAS

Gigante da celulose recua e engaveta projeto de R$ 15 bilhões em MS

No fim de novembro a Eldorado informou que ampliaria o plantio de eucaliptos em 2026 de olho da duplicação da fábrica. Agora, porém, diz que esse aumento não sairá do papel

20/12/2025 16h50

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

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Depois de anunciar, no final de novembro, que a partir do próximo ano pretendia ampliar de 25 mil para até 50 mil hectares o plantio anual de eculiptos na região de leste de Mato Grosso do Sul, a indústria de celulose Eldorado deixou claro nesta semana que engavetou, pelo menos por enquanto, o projeto de expansão. 

Com o recuou, a empresa, que produz em torno de 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano, deixa claro que está adiando a prometida duplicação de capacidade de produção da Eldorado, o que demandaria investimentos da ordem de R$ 15 bilhões US$ 3 bilhões), conforme anunciado em abril do ano passado pelos irmãos Joesley e Wessley Batista, donos da empresa. 

Em entrevista ao site AGFeed, especiliazado em agronegócio, o diretor florestal da Eldorado, Germano Vieira, afirmou que a empresa tem atualmente 305 mil hectares de pantações de eucaliptos na região, mas precisa de apenas dois terços disso para abastecer a fábrica. 

Ou seja, a empresa tem em torno de 100 mil hectares de eucaliptos sobrando e este excedente está sendo vendido ou permutado com a Bracell e a Suzano, que opera duas fábricas do setor na região, em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo. 

Então, caso o comando da Eldorado decida desengavetar repentinamente o projeto da duplicação,  já existe um excedente que seria capaz de abastecer a segunda unidade no período inicial, mesmo que não ocorra o início do plantio extra a partir de 2026, explicou Germano Vieira.

Atualmente são colhidos em torno de 25 mil hectares por ano para abastecer a indústria e o mesmo tanto é replantado, fazendo um giro para que sempre haja florestas "maduras".

São necessários, em média, sete anos para que a planta chegue ao estágio de corte e por conta disso havia a programação de começar o plantio agora (2026) para que houvesse matéria-prima suficiente quando a ampliação da fábrica estivesse concluída. Em três anos é possível fazer a ampliação da indústria, acredita Germando Vieira.  

Uma das explicações para o recuo, segundo a reportagem do AGFeed, é que a Eldorado ainda têm uma série de ajustes financeiros a serem feitos depois que os irmãos Batista conseguiram, em maio deste ano, fechar um acordo e colocar fim a batalha judicial com a Paper Excellence.

Para retomarem o controle total da Eldorado, que funciona em Três Lagoas desde 2012 e havia sido vendida parcialmente em 2017, eles se comprometeram a pagar US$ 2,640 bilhões à canadense Paper, que detinha pouco mais de 49% das ações do complexo industrial.  

Para duplicar a produção, segundo Germando Vieira, serão necessários 450 mil hecteres de florestas. Para chegar a esse montante, a empresa teria que arrendar mais 150 mil hecteres, o que demandaria um investimento da ordem de R$ 180 milhões anuais, já que o arrendamento custa em torno de R$ 1,2 mil por ano por hectare. 

Além disso, somente para o plantio de 25 mil hectares anuais a mais, conforme chegou a ser anunciado, seriam necessários em torno de R$ 220 milhões extras no setor florestal por ano, uma vez que o custo do plantio está na casa dos R$ 8,7 mil por hectare. E isso sem contabilizar os custos com o combate a pragas e combate a incêndios, entre outros. 

No final de novembro, Carlos Justo, gerente-geral florestal da Eldorado, chegou a informar ao site The AgriBiz que 15 mil hectares já haviam sido arrendados para dar início à ampliação do plantiu a partir do próximo ano. 

Preços da celulose

Embora Germano Vieira diga que a demanda mundial por celulose cresça em torno de um milhão de toneladas por ano e por conta disso a Eldorado mantem viva a promessa da duplicação, a empresa pisou no freio em meio à queda nos preços mundiais e ao aumento da oferta. 

Neste ano, o faturamento das três fábricas de Mato Grosso do Sul literalmente despencou. Por conta da ativação da unidade de Ribas do Rio Pardo, que tem capacidade de até 2,55 milhões de toneladas por ano, as exportações de Mato Grosso do Sul aumentaram em 57% nos dez primeiros meses de 2025, passando de 3,71 milhões de toneladas para 5,84 milhões de toneladas. 

Porém, o faturamento cresceu apenas 25,6%, subindo de U$ 2,121 bilhões para U$ 2,665 bilhões. No ano passado, quando a cotação da celulose já não estava nos melhores patamares, o valor médio da tonelada rendeu 570 dólares aos cofres das três indústrias. Neste ano, porém, elas tiveram rendimento médio de apenas 456 dólares, o que representa queda de 20%. 

Em decorrência desta queda nos preços, as indústrias deixaram de faturar em torno de 666 milhões de dólares, ou algo em torno de R$ 3,6 bilhões na moeda local, nos dez primeiros meses deste ano. 

Por conta disso, a Suzano, concorrente da Eldorado, chegou a emitir um alerta no começo de novembro dizendo que os preços internacionais estavam "completamete insustentáveis" e por isso estava reduzindo sua produção em cerca de 3,5%. 

O alerta da Suzano foi feito durante a prestação de contas relativa aos resultados do terceiro trimestre da empresa. E, segundo Leonardo Grimaldi, diretor do negócio de celulose da Suzano, a situação é crítica e “o setor está sangrando há meses”. 

Mas, apresar deste cenário de apreensão, investimentos da ordem de R$ 25 bilhões estão a todo vapor em Inocência, onde a chilena Arauco está instalando uma fábrica que terá capacidade para colocar 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano a partir do final de 2027. 

Outra empresa, a Bracell, pretende começar, em fevereiro do próximo ano, em Batagussu, as obras de uma fábrica que terá capacidade para 1,8 milhão de toneladas por ano. Os investimentos previstos são da ordem de R$ 16 bilhões. 


 

MATO GROSSO DO SUL

Em pleno período de chuvas, Hidrelétrica Porto Primavera reduz vazão

Com a barragem mais extensa do País (10,2km), redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciadano último dia 12, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira

20/12/2025 14h14

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera Reprodução/Cesp

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Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera, a unidade começou nesta sexta-feira (19) através da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) a redução da vazão, para preservar os estoques de água dos reservatórios da bacia do Rio Paraná. 

Com a barragem mais extensa do País (10,2 km), essa redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciada pela Cesp no último dia 12, prevista para começar ainda em 15 de dezembro, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira. 

"O patamar mínimo defluente será reduzido de forma gradual e controlada, passando dos atuais 4.600 metros cúbicos por segundo para 3.900 m³/s, seguindo diretrizes operacionais do ONS", cita a Cesp em nota. 

Além disso, a Companhia frisa que, durante o processo, será mantido o plano de conservação da biodiversidade que havia sido aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), e teve início em maio deste ano, para monitoramento do Rio Paraná justamente nos trechos da jusante - parte rio abaixo - da Porto Primavera até a foz do Ivinhema. 

Ou seja, entre outros pontos, equipes embarcadas formadas por biólogos e demais profissionais especializados, devem trabalhar como os responsáveis por acompanhar a qualidade da água, bem como a conservação e comportamento dos peixes locais enquanto durar a flexibilização da vazão. 

Importante frisar a redução adotada também ao final de novembro (24/11) e mantida até 1° de dezembro, a partir de quando houve a retomada gradativa aos patamares originais. 

Problemas com a vazão

Em épocas passadas, como bem acompanha o Correio do Estado, o controle da vazão em Porto Primavera já trouxe prejuízo e revolta de produtores que chegaram a culpar a ONS pelas fazendas alagadas por mais de quatro meses em Batayporã no ano de 2023, por exemplo. 

Nessa ocasião, o problema começou com a abertura das comportas de Porto Primavera no dia 18 de janeiro de 2023, com a usina avisando a Defesa Civil de Batayporã da liberação de até 14,7 mil metros cúbicos de água por segundo. 

Sendo a maior vazão desde o começo do período chuvoso, as águas se somaram ainda à liberação dos cerca de 3 mil metros cúbicos por segundo do Rio Paranapanema, juntando em torno de 18 mil metros cúbicos por segundo. 

Na linha cronológica em 2023, o problema dos alagamentos começou no final de janeiro, indo até o mês de abril diante do fechamento das comportas em 31 de março. 

Quando a água já havia recuado, saindo de boa parte dos nove mil hectares alagados, as comportas foram reabertas na terceira semana de abril, com vazão máxima de dez mil metros cúbicos.

Depois, o aumento da vazão para até 13 mil metros cúbicos chegou a alcançar 14,7 mil m³, sendo que antes disso o volume anterior já havia sido responsável por invadir casas de moradores locais pela terceira vez no ano. 

Estimativas da Defesa Civil de Batayporã à época apontaram que pelo menos sete mil animais tiveram de ser remanejados na região por causa do mesmo problema. E, mesmo depois que a água baixar, são necessários de dois a três meses para que o pasto cresça e esteja em condições para alimentar os rebanhos. 

 

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