Caso que agora corre em segredo de Justiça, em ação movida pela Defensoria Pública a professora da Rede Municipal de Ensino (REME), Emy Santos, busca que os conteúdos e postagens de cunho transfóbico sejam retirados das devidas redes sociais de deputado e vereadores acusados de atacarem a educadora.
Há uma semana ela veio à público após ser alvo, na Assembleia Legislativa e Câmara Municipal, de falas com cunho transfóbico e discriminatório.
"A pedido da escola, eu fui fantasiada de Barbie no primeiro dia de aula, onde algumas outras professoras também foram fantasiadas para receber de forma lúdica as crianças em seu primeiro dia de aula", explicou ela.
Na sessão da Assembleia Legislativa em 11 de fevereiro, uma fala do deputado João Henrique Catan (PL) provocou indignação e polêmica, tomando em seguida as redes sociais, já que exibiu o momento gravado pela professora a chamando pelo pronome masculino.
Em sua publicação, Emy esclarece que gravou em um momento de euforia, onde estava feliz com a recepção no primeiro dia de aula, para mostrar para outras pessoas trans e travestis que há lugares, como o de professora, que elas podem ocupar por direito.
"Eu estudei, eu tive o meu diploma, eu retifiquei todas as minhas documentações para tentar não passar nenhum tipo de constrangimento ou transfobia, mas ainda assim não foi o suficiente, porque a transfobia ela está enraizada nessa sociedade", complementa. Abaixo, o vídeo da professora na íntegra.
Repercussão parlamentar
Todos membros do Partido Liberal (PL), João Henrique Catan fez uso da Assembleia Legislativa e usou suas redes sociais para chamar Emy de "professor montado", com pronome e tratamento masculino adotado inclusive no texto do requerimento proposto na Casa.
"Um professor da Rede Pública Municipal está mostrando para alunos de sete anos de idade como que se veste, montada de travesti. Um homenzarrão querendo levar a ideia para alunos de sete anos de idade que o professor homem precisa ter tetas", disse João Henrique.
Porém, esse assunto não ficou apenas na Assembleia, abordado também pelos vereadores do PL na Câmara Municipal de Campo Grande, na figura de Rafael Tavares e em vídeos do policial André Salineiro.
No mesmo dia 11, ele usou as redes para divulgar um vídeo com a capa em que mostra a figura de Emy e a mensagem "abuso" em letras garrafais, se referindo à Emy como "esse artista" e dizendo que:
"Isso não pode ser normalizado... a escola não pode servir de circo para aqueles que ainda acham que este tipo de apresentação dentro de escola é arte".
Já Tavares também começou os ataques, chamando Emy de "professor" e "servidor municipal", no dia 11 de fevereiro, celebrando a nota da Secretaria Municipal de Educação sobre a apuração da denúncia recebida, abordada pelo Correio do Estado.
Ele ainda fez outro vídeo, com a legenda "investigação de professor travesti", postado há quatro dias em cima de discurso feito na Câmara Municipal, fala essa inclusive rebatida pela colega de parlamento.
"Não se valha da sua imunidade parlamentar para fazer transfobia. Não se utilize do respeito que os eleitores tiveram ao senhor para fazer discriminação e preconceituosas referências, a uma pessoa que está trabalhando honestamente através de concurso público", disse Luiza Ribeiro em resposta à fala transfóbica em parlamento.
Somente no Instagram, os cerca de sete vídeos de Rafael Tavares a respeito do assunto já beiram aproximadamente dez mil visualizações.
Já os materiais publicados por Catan possuem um alcance ainda maior, com o primeiro vídeo, onde o deputado inclusive expõe o rosto da professora e alunos, alcançando cerca de 312 mil visualizações, e os outros dois materiais somando aproximadamente 16,6 mil.


