Cidades

CRIME ORGANIZADO

Racha em cúpula do PCC cria
novas rotas do tráfico em MS

Polícia e Gaeco de São Paulo estão na cola de novo esquema

RAFAEL RIBEIRO

28/02/2018 - 18h30
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A recente guerra velada entre lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC) e apreensões de drogas feitas pelas Polícias Federal, Militar e Civil em Mato Grosso do Sul são motivo de investigação em São Paulo sobre a possibilidade de aliados de algumas das lideranças da quadrilha que foram executadas neste mês estarem buscando rotas alternativas para o tráfico de drogas e armas do Paraguai.

Setores da inteligência da Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo apuram que a criação de rotas alternativas em Mato Grosso do Sul para o fluxo de maconha, cocaína e armamento vindos do país vizinho desrespeitaria ordem direta de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, indicado como principal líder do PCC,e que poderia gerar ainda mais represálias.

Órgãos como o Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos de São Paulo (Denarc) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público paulista (Gaeco-SP) estranharam uma semelhança específica nos três casos seguidos, entre os dias 19 e 23 deste mês, de apreensões de maconha.

Todas envolvem Diadema, cidade da Grande São Paulo que teria o carregamento como destino, faz divisa com o litoral sul paulista e serve de triagem dos produtos ilícitos antes de eles serem encaminhados a pontos estratégicos da região, como o porto de Santos e a rota litorânea ao Rio de Janeiro, com menos fiscalização que o caminho pela capital paulista.

Duas ocorrências, em específico, chamaram a atenção. A de uma jovem que transportava erva-mate de tereré como maconha, após ser enganada na fronteira com o Paraguai, e o de um adolescente que transportava quase meia tonelada da droga em um veículo roubado e com placa clonada.

Essa apreensão em específica foi definida em relatório interno como 'amadora', afinal o suspeito, de 17 anos, estava em estrada errada ao caminho que deveria seguir para São Paulo e cometeu erros primários que chamaram a atenção da Polícia Rodoviária Federal, como demonstrar nervosismo ao pedir informação e carregar o carro com a droga visível, além de ser menor de idade e não ter habilitação.

"Uma 'mula' (como são chamados os carregadores de drogas para os traficantes) ser enganada dessa forma, procedimentos amadores dos detidos. Há a suspeita que estejam tentando criar um novo caminho (de tráfico a São Paulo). Vamos conversar com as autoridades de Mato Grosso do Sul para pegar mais informações, mas tudo está mudando na facção com as execuções", disse um promotor do Gaeco-SP ouvido pelo Portal Correio do Estado.

A principal referência do Gaeco para a investigação é o fato de justamente o responsável pela rota de Diadema ter sido executado a tiros de fuzil no último dia 22, em frente a um hotel na zona leste de São Paulo. Wagner Ferreira da Silva, o 'Cabelo Duro', teria sido assassinado como forma de represália por ser o mentor das mortes de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, no último dia 15, no Ceará. Ambos eram os integrantes mais poderosos do PCC fora dos presídios e estavam se desentendendo com Marcola.

"Cabelo Duro' era mais do que leal a Marcola, obedeceu a ordem, mas o ato foi visto como traição por alguns setores da quadrilha", disse o promotor do Gaeco-SP.

Seriam justamente os justiceiros de Gegê do Mangue que poderiam estar tentando descobrir rotas alternativas em Mato Grosso do Sul. Afinal, segundo apura a Polícia Civil, a cadeia de comando do PCC da rota de Diadema estaria vaga, já que aliados de Silva também estão sendo executados, como José Adinaldo Moura, o Nado, seu braço direito, desaparecido desde a última sexta-feira (23).

LIGAÇÃO

O Gaeco-SP é claro em apontar a ligação de 'Cabelo Duro' com Mato Grosso do Sul. Ele mesmo foi um dos escolhidos de Marcola para dar sustentação ao controle do PCC na fronteira com Ponta Porã após Jorge Rafaat ser morto, em junho de 2016. Nado, por exemplo, já foi preso pelo Departamento de Operações de Fronteira (DOF) por associação ao tráfico. 

E como se não fosse suficiente, Felipe Ramos Morais, o piloto de helicóptero contratado por 'Cabelo Duro' para levar Gegê e Paca à reserva indígena onde foram torturados e executados, também já operou em ações ilícitas em território sul-mato-grossense.

Morais foi flagrado em julho de 2012 em operação da Polícia Federal. O helicóptero que pilotava teria transportado 174 quilos de cocaína para uma fazenda no interior cearense. A droga teria sido adquirida na Bolívia e entrou no Brasil pelo Mato Grosso do Sul. O suspeito foi preso em Picos, no Piauí, quando a aeronave seria reabastecida. Os agentes da PF encontraram quase R$ 30 mil em espécie, além de R$ 12 mil em cheques no helicóptero.

Além disso, a Justiça Federal de São Paulo tem em mãos relatório da PF que liga Morais a diversos hangares do tráfico de drogas estourados em operações tanto em cidades da fronteira com a Bolívia, como Corumbá, como no próprio país vizinho.

"É uma rede de contatos ampla e bem estruturada. Não poderia ser diferente, desde que Rafaat foi morto e a facção tomou o controle da fronteira paraguaia. Mato Grosso do Sul é essencial para o organograma, tanto pelos tráficos, quanto pela proximidade dos presídios de segurança máxima de São Paulo", disse o promotor.

HISTÓRICO

A principal linha de investigação para as execuções de Gegê e Paca, que moravam na Bolívia e passavam férias no Ceará, além das acusações internas de roubo e revenda de material (drogas e armas) a rivais, é o do assassinato de um amigo particular de Marcola no sistema prisional paulista, no fim do ano passado, sem autorização do líder do PCC.

A tentativa de se criar novas rotas do tráfico em Mato Grosso do Sul quase foi o estopim para o estouro de uma guerra entre facções no início de 2017.

Para a socióloga Camila Nunes Dias, professora da Universidade Federal do ABC e uma das maiores autoridades em PCC, mortes serão inevitáveis para que a facção impeça o fortalecimento dessas rotas alternativas, já que esse é seu modo de atuação habitual.

"Em toda sua história, o PCC tem mantido esse tipo de atuação, evitando a divisão, o racha. Sempre que há confronto interno eles eliminam o foco", disse, alertando que se o controle de fato não existir ou não for reestabelecido, índices de homicídio e tumultos no sistema prisional poderiam acontecer.

Colapso na saúde

Deputado protocola ação pedindo intervenção urgente do Estado na saúde de Campo Grande

O parlamentar classifica a situação do SUS da Capital como grave e à beira de um colapso

19/12/2025 18h15

Saúde de Campo Grande é alvo de ações e acumula discussões por estar

Saúde de Campo Grande é alvo de ações e acumula discussões por estar "à beira de um colapso" FOTO: Gerson Oliveira/Correio do Estado

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O deputado estadual Pedrossian Neto entrou com uma ação no Ministério Público de Mato Grosso do Sul pedindo que o Governo do Estado adote medidas e providências na saúde de Campo Grande. 

O parlamentar classifica o quadro como “grave, estrutural e persistente”, além de “risco concreto de desassistência à população”. 

No documento encaminhado ao procurador-geral de Justiça, Romão Ávila, o deputado afirma que a crise na saúde da Capital não apresenta mais episódio pontuais de descaso, mas, sim, falhas recorrentes de organização, financiamento e governança, afetando diretamente na segurança dos pacientes, capacidade de resposta da rede de urgência e emergência, além do funcionamento regular do Sistema Único de Saúde. 

Um dos pontos centrais do pedido é a situação da Santa Casa de Campo Grande, o maior em atendimento do SUS no Estado e referência em urgência, emergência e alta complexidade. 

O documento mostra alertas e registros públicos que apontam superlotação extrema, atendimento de pacientes em corredores e macas, ocupação acima da capacidade e risco iminente de um colapso assistencial, repercutindo em toda a rede estadual. 

Além disso, o hospital sofre com desabastecimento de insumos e medicamentos na área de urgência e atenção básica, segundo já foi alertado pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-MS), além de falhas estruturais na rede de odontologia, como comunicado pelo Conselho Regional de Odontologia (CRO-MS), o que já levou à paralisação de atendimentos e prejuízo à assistência. 

Pedrossian ainda destacou a fragilidade da governança da saúde municipal, evidenciada pela reprovação do Relatório Anual de Gestão da Saúde de 2024 pelo Conselho Municipal de Saúde, aliado à ausência de secretário municipal de Saúde, deixando a pasta sob condução de um comitê gestor, que não condiz com o princípio de direção única do SUS. 

Para o deputado, a intervenção estadual não se trata de uma medida política, mas de “providência excepcional prevista na Constituição, necessária para assegurar a continuidade de um serviço público essencial, evitar um colapso sistêmico e proteger o direito à saúde da população”. 

PLANO DE AÇÃO

O Ministério Público de Mato Grosso do Sul determinou na última quinta-feira (18) que o Estado de Mato Grosso do Sul e o Município de Campo Grande têm 90 dias para apresentarem um Plano de Ação que se mostre eficaz à plena retomada do atendimento integral no Hospital Santa Casa. 

A decisão foi dada após o MPMS entrar com uma Ação Civil com o objetivo de impedir o agravamento da crise assistencial enfrentada pela Santa Casa de Campo Grande. 

O hospital, maior do Estado que atende o Sistema Único de Saúde (SUS), enfrenta problemas constantes de superlotação extrema, falta de insumos, dívidas acumuladas com médicos e fornecedores, comprometendo a continuidade dos serviços prestados. 

Na ação, o MPMS descreve o cenário como um “colapso institucional”, com setores essenciais funcionando muito acima da capacidade, superlotação do pronto-socorro agravada por uma reforma iniciada sem planejamento financeiro e sem conclusão após mais de dois anos de obras. 

Segundo o órgão, a unidade funciona em condições precárias há anos, com pacientes aguardando atendimento em ambiente inadequado, como os corredores, além do desabastecimento de medicamentos e insumos, falta de materiais cirúrgicos, dívidas com médicos e prestadores e o risco real de paralisação de atendimentos de alta complexibilidade. 

Diante desse quadro, o Estado e o Município, com a participação da Santa Casa, têm 90 dias para apresentarem um plano emergencial concreto voltado para a regularização integral dos atendimentos, regularização dos estoques, reorganização do fluxo do Pronto-Socorro, além de garantir um cronograma físico-financeiro para a retomada plena dos serviços. 

Em caso de descumprimento, deve ser aplicada multa no valor de R$ 12 milhões mensais, valor correspondente ao déficit apontado pelo hospital. O valor deve ser pago de forma dividida igualmente entre o Estado e o Município, mediante o sequestro de R$ 6 milhões das contas de cada um. 

A decisão da 76ª Promotoria de Justiça enfatiza que a situação ultrapassou o limite da gestão interna do hospital e ameaça diretamente o direito fundamental à saúde. 

“A ação civil pública destaca que o que está em risco não é apenas a administração de um hospital, mas a vida de milhares de pacientes que dependem diariamente da Santa Casa. A crise instalada ultrapassa qualquer margem de tolerância administrativa, e o MPMS atua para impedir que a situação se transforme em tragédia assistencial, garantindo respostas imediatas e soluções estruturais para que o SUS continue a prestar atendimento em saúde com segurança e respeito ao cidadão”, ressaltou o Ministério Público. 
 

Cidades

Projeto de lei quer converter multas de trânsito em doação de sangue e medula

Infrator que optar pela doação não pagará multa, mas outras sanções podem ser mantidas, como pontos na CNH

19/12/2025 18h00

Multas leves de trânsito poderão ser convertidas em doação voluntária de sangue ou medula

Multas leves de trânsito poderão ser convertidas em doação voluntária de sangue ou medula Foto: Arquivo

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Um projeto de lei protocolado na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems) propõe converter multas aplicadas no trânsito, relativas a infrações de natureza leve, em doação voluntária de sangue ou medula óssea. Como a Casa está em recesso, a matéria tramitará no ano que vem.

Conforme a proposta, de autoria do deputado estadual Junior Mochi, a conversão do pagamento das multas em doação de sangue ou medula teria caráter alternativo e facultativo, não constituindo direito subjetivo do infrator, e deverá ser expressamente requerida pelo interessado, nos termos de posterior regulamentação.

Ainda conforme o projeto, a conversão da multa em doação somente será admitida quando:

  • a infração for de natureza leve, nos termos do Código de Trânsito Brasileiro;
  • não houver reincidência da mesma infração no período de 12 meses;
  • a multa não decorrer de infração que tenha colocado em risco a segurança viária, a vida ou a integridade física de terceiros;
  • a doação seja realizada em hemocentros públicos ou privados conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS), ou em instituições oficialmente reconhecidas;
  • haja aptidão médica do doador, conforme critérios técnicos estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

Cada doação de sangue corresponderá a conversão de uma multa de trânsito, assim como a inscrição no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).

Caso o doador seja compatível com alguma pessoa precisando de transplante e faça a doação efetiva da medula óssea, poderá ser convertida até duas multas de trânsito.

A comprovação da doação ou da inscrição no Redome será realizada mediante apresentação de documento oficial emitido pela instituição responsável, observado o prazo e os procedimentos definidos em regulamento

O projeto veda a compensação parcial da multa, bem como a conversão de penalidades acessórias, como suspensão ou cassação do direito de dirigir.

A conversão será apenas relacionada ao pagamento da multa, mas não exime o infrator das demais obrigações legais decorrentes da infração de trânsito, inclusive quanto ao registro de pontos na Carteira
Nacional de Habilitação (CNH), quando aplicável.

O Poder Executivo poderá celebrar convênios e parcerias com municípios, hemocentros e instituições de saúde, com vistas à operacionalização da lei, caso seja aprovada e sancionada.

Objetivos

Na justificativa do projeto, o deputado afirma que o objetivo é conciliar o caráter educativo das sanções
administrativas de trânsito com políticas públicas de incentivo à doação voluntária de sangue e de medula óssea, "práticas essenciais à manutenção da vida e à efetividade do Sistema Único de Saúde".

"A proposta não elimina a penalidade, mas a ressignifica, convertendo-a em uma ação de relevante interesse social, capaz de estimular a solidariedade, a cidadania e a responsabilidade coletiva. Trata-se de medida alinhada aos princípios da dignidade da pessoa humana, da função social das sanções administrativas e da eficiência das políticas públicas, diz a justificativa.

Em caso de aprovação e sanção, a adesão pelos municípios será facultativa, preservando o pacto federativo.

"Ressalte-se que a iniciativa respeita a autonomia municipal e o Código de Trânsito Brasileiro, limitando-se às infrações leves e excluindo aquelas que representem risco à segurança viária. A adesão pelos Municípios é facultativa, preservando-se o pacto federativo", conclui o texto.

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