Cidades

ENTREVISTA

"Se o Pantanal ficar sem cheias, a vegetação vai ser substituída, mudando permanentemente"

Biólogo e coordenador do Núcleo de Estudos do Fogo em Áreas Úmidas da UFMS destacou, em entrevista, informações obtidas em pesquisas sobre a relação do fogo com a vegetação pantaneira

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A pedido do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) realizam, desde 2021, estudos para entender o comportamento do bioma Pantanal após o período de incêndios.

O objetivo deste grupo de pesquisadores, que fazem parte do programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (Peld), do Núcleo de Estudos do Fogo em Áreas Úmidas (Nefau), é compreender os efeitos do fogo e da inundação no bioma pantaneiro. 

Em entrevista ao Correio do Estado, o biólogo e professor da UFMS Geraldo Damasceno Júnior, que é coordenador do Nefau, explicou como tem atuado o núcleo de pesquisas no Pantanal e como a vegetação do bioma se adapta à passagem do fogo, além de como sofre alterações em sua composição paisagística nos períodos de seca.

Quais são as linhas de pesquisa e as perguntas que o Nefau busca responder sobre a relação do fogo com o Pantanal Sul-Mato-Grossense?

O nosso projeto tem várias linhas de atuação. Tem uma linha de atuação que a gente trabalha mais diretamente com o efeito do fogo com a inundação, que é um fator importante no Pantanal e na estrutura da vegetação da flora, na composição da flora, na diversidade funcional.

Também tem o estudo do efeito do fogo e da inundação, na fauna, na fauna edáfica [comunidade de animais que vivem no solo ou na serrapilheira, desempenhando funções cruciais para a saúde e o funcionamento do ecossistema terrestre], na avifauna, em vários grupos e na herpetofauna, que também estamos estudando.

Estamos estudando, também, o efeito do fogo nas comunidades de polinizadores [grupos de animais que realizam a polinização], na rede de interações entre comunidades de polinizadores no Pantanal, e como o fogo afeta essas relações.

Nós estamos estudando, também, o efeito do fogo em áreas de floresta, de capão, e vendo também o efeito nas aves, os dispersores de sementes. No DNA ambiental, no caso, a gente está vendo como a passagem do fogo altera a quantidade de espécies, o que a gente pode encontrar no solo de fungos, no fundo de baías, e o efeito do fogo nos peixes. Então, tem uma linha toda ligada a essa parte biológica.

A gente vê, também, o efeito do fogo nas comunidades humanas, trabalhando um pouco essa parte da saúde, como é que fica essa questão de doenças respiratórias.

Estamos começando, agora, um convênio com o pessoal da UFGD, vamos trabalhar a questão do material particulado que fica na atmosfera. Como que isso está relacionado com a saúde das pessoas, com a ocorrência de doenças respiratórias durante esses episódios grandes de fogo, a gente também está avaliando.

A gente também está avaliando como as comunidades e as fazendas, de maneira em geral, encaram o fogo, como é que elas utilizam o fogo como ferramenta de manejo da paisagem, entendendo como é o uso do fogo pelo povo pantaneiro, na cultura pantaneira, como é que essa coisa funciona. Então, essa é uma outra linha na parte mais humana, o efeito do fogo na economia a gente está vendo também.

E a gente tem uma parceria com um grupo de pesquisa do Rio de Janeiro, da professora Renata Libonati, onde a gente está vendo o fogo na atmosfera, como é essa questão das ondas de calor, das mudanças climáticas globais, como elas afetam a probabilidade de fogo, como isso está afetando os regimes do fogo no Pantanal, como é que isso está acontecendo, e de que forma a gente pode tentar mitigar esses impactos de uma maneira geral.

Então, a gente tem essas três linhas de ação no projeto, uma mais ligada aos biomas, no caso flora e fauna, uma mais ligada à parte humana, que engloba a saúde e o conhecimento tradicional sobre o fogo, e tem essa parte mais geral, que engloba a modelagem sobre o fogo, a questão do fogo e a atmosfera, das ondas de calor, das condições atmosféricas em relação ao fogo.

O bioma pantaneiro consegue se restaurar de incêndios que acontecem com frequência? Em quanto tempo, em média, a vegetação se readapta? Como acontece esse processo?

Com certeza, o bioma Pantanal consegue se restaurar das queimadas. O Pantanal é um dos biomas brasileiros que é dependente do fogo. Ou seja, o fogo é um elemento que faz parte da paisagem no Pantanal, mesmo antes de existir gente no Pantanal, já existia fogo.

É uma região que, pela sazonalidade, tem sempre estações chuvosas, com cheia. Depois, você tem a seca, com muita gramínea, e essa seca, às vezes mais pronunciada, propicia a formação de extensas áreas de campos naturais que são sujeitas ao fogo. Muitas espécies são extremamente adaptadas ao fogo, algumas até florescem depois do fogo. 

Agora, com a questão das queimadas recorrentes, eventualmente você tem algumas espécies que são mais sensíveis. Se queima todo ano, se você tem uma sequência muito grande de eventos de fogo, pode ser que algumas espécies sejam prejudicadas em relação ao fogo. 

Existem alguns ambientes que são mais sensíveis ao fogo também, por exemplo, as matas ciliares. Se o fogo for de baixa intensidade nessas florestas, o prejuízo não é tão grande. Você tem alguma mudança na composição das espécies, no número de árvores, mas não é tão grande.

Agora, se ele ocorrer com grande frequência, e também com intensidade muito grande, aí sim você tem um prejuízo às vezes maior. Dependendo da situação, pode levar até 20 anos para a vegetação se recuperar de um fogo em área de floresta ali no Pantanal, dependendo da floresta e dependendo da intensidade do fogo.

Geralmente nas vegetações herbáceas, mesmo aquáticas, quando tem ocorrência de fogo, tem muita planta que fica no banco de sementes no solo. Logo após o fogo, vem a água e inunda aquela semente de planta aquática que estava ali enterrada no solo e protegida do fogo, ela vai germinar e vai reocupar o ambiente.

Mesmo assim, também tem plantas que têm sistemas subterrâneos, são caules subterrâneos que ficam ali enterrados. Mesmo plantas aquáticas que têm caules subterrâneos conseguem sobreviver à seca e ao fogo.

Depois, quando vem a inundação, elas rebrotam. Então, tem bastante adaptação com relação a corrente do fogo para a vegetação pantaneira.

As queimadas mudam, de alguma forma, a vegetação nativa do Pantanal? A vegetação de uma área afetada muitas vezes tende a crescer de maneira diferente?

Existem períodos no Pantanal que são mais secos, como o que a gente está passando agora, e períodos que são mais úmidos. Então, nesses períodos mais secos, você tem uma tendência de avanço de vegetação de lugares mais secos. Algumas espécies de lugares mais secos vão ocupar áreas que são mais inundáveis e assim por diante.

Depois, quando você tem os períodos mais úmidos, a inundação, quando vem em grande quantidade, vai matar muitas espécies que estavam ocupando o campo nos períodos mais secos. Então, o fogo, dentro desse contexto, é só mais um elemento que vai se somar a isso aí.

Dentro de um contexto de período mais seco, quando você tem ocorrência de fogo mais exacerbado, mais frequente, essa vegetação mais sensível, às vezes, principalmente a vegetação arbórea, a vegetação de floresta que ocupa os lugares mais úmidos durante esses períodos mais úmidos, tende a perder espaço, a diminuir em quantidade em relação a essas áreas por causa do fogo. Ele acaba sendo um elemento que ajuda na eliminação dessas espécies mais sensíveis que ocupam os lugares mais inundáveis durante os períodos mais inundáveis.

Existe a possibilidade de o bioma sofrer mudanças na vegetação nativa com a falta de períodos inundados?

A inundação e o fogo acabam delimitando as áreas onde a vegetação pantaneira ocorre, os tipos de vegetação. Os lugares que inundam bastante geralmente têm vegetação mais herbácea. Quando inunda e pega fogo, a vegetação mais herbácea é mais baixa. E, nos lugares mais altos, você tem vegetação mais florestal.

Quando você tem um conjunto de anos mais secos, há uma tendência dessa vegetação florestal avançar sobre os campos. Dependendo da situação, do tempo que permanece seco o Pantanal, há uma colonização de espécies de lugares mais altos que vão colonizar os lugares mais baixos.

A vegetação que tendia a ser mais aberta, mais campestre, tende a ficar mais fechada. Para quem tem pasto, o que acontece é que suja o campo, começa a ficar cheio de árvores e de arbustos.

De uma maneira geral, quando o Pantanal fica muito tempo sem encher, realmente há uma mudança de vegetação. Mas, voltando a encher, há uma volta desse processo.

Agora, se o Pantanal ficar sem encher, aí sim essas espécies de lugares altos vão ocupar as áreas mais baixas e essa vegetação vai ser substituída, e realmente dá uma mudança permanente na vegetação.

Este ciclo que existe no Pantanal, de períodos secos e inundados, está sendo afetado por causa das mudanças do clima? De que forma a escassez de chuva vem interferindo no bioma e no surgimento de incêndios?

A gente não tem muitos elementos ainda sobre o estudo de mudança climática no Pantanal, mas uma coisa que é clara é que esses períodos secos já aconteceram no passado. A gente tem o registro de Ladário mostrando que, na década de 1960, o Pantanal ficou mais ou menos 14 anos sem encher, um período maior do que a gente está vivendo agora, de seca, que é de cerca de 7 anos.

Mas a principal diferença em relação às mudanças climáticas, nesses períodos de seca que aconteceram no passado e que estão acontecendo agora, são as ondas de calor muito fortes. Quando tem essas ondas de calor você estabelece a regra dos 30. Você tem 30 dias sem chover, temperatura acima de 30ºC, vento acima de 30 quilômetros por hora, umidade abaixo de 30%.

Quando você tem essa situação, qualquer fósforo riscado, qualquer fogo no quintal para poder limpar, um fogo para poder tirar a abelha, um fogo numa pastagem mal conduzido, pode virar um grande incêndio.

Sobre o manejo de fogo, por que esta forma preventiva de evitar grandes queimadas é benéfica ao Pantanal?

O manejo integrado do fogo é, vamos dizer assim, um novo paradigma que está surgindo no mundo, de uma maneira geral, para as pessoas que trabalham com o fogo. É o uso de várias técnicas, incluindo o fogo controlado, o fogo prescrito, a realização de aceiros de planejamento para você conseguir evitar que aconteçam esses eventos de incêndios catastróficos.

Então, quando você faz um planejamento de manejo da área, controle de biomassa, uso de fogo prescrito e de várias técnicas você evita que, quando chegue um tempo muito seco, não haja uma quantidade grande de biomassa que possa queimar e causar grandes incêndios.

Hoje, já existe regulamentação na lei. Há uma lei estadual de Mato Grosso do Sul regulamentando isso, e também foi aprovado no final do ano passado uma lei federal regulamentando o uso do manejo integrado do fogo.

Perfil - Geraldo Damasceno Júnior 

Tem graduação (1987) em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), mestrado (1997), doutorado (2005) em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e pós-doutorado pela Universidade de Hamburgo (2014). Atualmente, é professor da UFMS.

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CAMPO GRANDE

Sem salário, motoristas de ônibus resistem a retornar ao trabalho

Sindicato decidiu descumprir decisão judicial que determina 70% da frota em circulação e vai arcar com multa de R$ 20 mil

16/12/2025 08h00

Todos os ônibus estão parados desde a meia noite de segunda-feira (15)

Todos os ônibus estão parados desde a meia noite de segunda-feira (15) Foto: Marcelo Victor/Correio do Estado

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Os motoristas de ônibus de Campo Grande seguirão firmes na posição de greve e a frota continuará parada hoje, como ficou decidido em reunião do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande (STTU-CG), mesmo diante de decisão judicial que impõe a retomada de 70% das atividades.

Ontem, horas depois do começo da greve por parte dos motoristas, o desembargador César Palumbo Fernandes, do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (TRT24), emitiu uma decisão judicial favorável ao Consórcio Guaicurus que determinou que, no mínimo, 70% da frota de ônibus deveria estar circulando, mesmo sob efeito de greve dos funcionários, o que não foi seguido pelo sindicato.

“Em serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade”, consta no documento da decisão judicial.

Diante disso, o desembargador determinou a retomada das atividades do mínimo exigido em contrato, sob multa diária de R$ 20 mil pelo descumprimento da ordem. Mesmo com divulgação às 22h de domingo, a decisão chegou nas mãos do STTU-CG às 13h de ontem, quase nove horas depois do início da greve.

À reportagem, Demétrio Freitas, presidente do sindicato, disse que uma reunião de urgência foi convocada para decidir o que a classe faria diante da ordem judicial, motivada também pela multa. Sem tempo para realizá-la de forma presencial, o debate foi feito por WhatsApp e chegaram a uma decisão no fim da tarde.

Em suma, a categoria disse que a greve vai continuar como está, ou seja, com 100% da frota fora de circulação. Sobre a multa, Demétrio disse que os motoristas estão dispostos a arcar com o valor.

“O trabalhador está disposto a pagar esses R$ 20 mil, porque o que não pode é ficar sem receber, sem nenhuma perspectiva de quando vai receber”, reforça.

Em nota enviada à reportagem, o desembargador do caso disse que “a Justiça do Trabalho reconhece a importância do direito de greve, constitucionalmente assegurado aos trabalhadores e também a gravidade da situação, ante ao não recebimento dos seus vencimentos. Entretanto, a população também tem constitucionalmente garantido o acesso a serviço público de transporte urbano, caracterizado como essencial e por esse motivo não se pode aceitar a paralisação de 100% dos serviços”.

Todos os ônibus estão parados desde a meia noite de segunda-feira (15)Veículos do Consórcio Guaicurus permaneceram na garagem durante toda a segunda-feira na Capital - Foto: Marcelo Victor/Correio do Estado

Por causa da greve, acontecerá hoje, às 15h45min, na sede do TRT da 24ª Região, uma audiência de conciliação entre as partes – Consórcio Guaicurus, sindicato e Prefeitura Municipal de Campo Grande. O objetivo deste encontro é que todos os lados entrem em um acordo para que o transporte coletivo da Capital seja restabelecido o quanto antes.

A intenção e exigência dos motoristas é que sejam efetuados os pagamentos de três valores: o salário vencido no quinto dia útil, o qual apenas metade foi pago; a segunda parcela do 13º salário, que ainda vai vencer no dia 20; e pagamento do “vale” (adiantamento), que também vai vencer no dia 20. Sem isso, a classe reforça que não voltará a trabalhar.

NARRATIVAS

Após o começo da greve, representantes da Administração Municipal convocaram uma coletiva de imprensa para esclarecer pontos sobre a crise financeira no setor do transporte coletivo da cidade.

Sem a presença da prefeita Adriane Lopes (PP), representaram o Executivo Municipal: Otávio Figueiró, diretor-executivo da Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg); Ulysses Rocha, chefe de gabinete da Prefeitura; e Cecília Saad Cruz Rizkallah, procuradora-geral do Município. 

A prefeitura reforçou que não está em débito com o Consórcio Guaicurus e que foram repassados cerca de R$ 35 milhões somente este ano à concessionária, somando subsídios, vale-transporte e pagamentos de gratuidades. Segundo estimativa apresentada na coletiva, cerca de 110 mil campo-grandenses foram prejudicados pela paralisação.

Em contrapartida, o diretor-presidente do Consórcio, Themis Oliveira, afirmou em entrevista que o Executivo Municipal deve R$ 39 milhões à empresa, valor do acumulado de três anos, e reforçou que os vencimentos pedidos pelos funcionários só serão quitados após o pagamento desta quantia milionária.

“Nós estamos desde 2022 com uma tarifa pública e uma técnica e sem receber essa diferença. Só nos últimos 12 meses, essa diferença já dá R$ 8,5 milhões. Se eu levar desde o começo de 2022, esse valor chega a R$ 39 milhões. Agora, chegou no ponto em que nós não conseguimos recursos para pagar, nós estamos devendo fornecedor, estamos devendo ao banco, e não conseguimos os recursos para pagar 100% da folha”, explica Themis.

Entre a dívida alegada pelo consórcio está a diferença entre as tarifas e também uma parte do subsídio às gratuidades, valor que é pego tanto pela Prefeitura como pelo governo do Estado.
Responsável por uma parcela do repasse, o Governo afirmou apenas que “não mantém relação contratual com o Consórcio Guaicurus”.

INTERVENÇÃO MUNICIPAL

No relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurou a crise no transporte público de Campo Grande, apresentado em setembro deste ano, os vereadores chegaram a sugerir uma intervenção municipal na concessão, caso as medidas recomendadas pela comissão não fossem adotadas pelo Consórcio Guaicurus. Com a crise instaurada no setor, a questão voltou ao debate.

Em conversa com a reportagem, o vereador Doutor Lívio (União Brasil), que foi presidente da comissão, afirmou que os parlamentares envolvidos na CPI se reuniram com a Prefeitura há cerca de duas semanas, para debater sobre uma possível intervenção municipal na concessão, mas que foi descartada pela prefeita Adriane Lopes (PP).

“Nós conversamos com a prefeita e ela foi questionada diretamente se teria condição de intervir, e ela disse que não tem condição de intervir porque não tem pernas para isso. Então, esse é um posicionamento que parece que ficou muito claro, a questão da prefeitura é financeira”, diz o vereador.

*SAIBA

Esta foi a segunda greve dos motoristas de ônibus que impactou diretamente a circulação do transporte coletivo campo-grandense. A última vez havia sido no fim de 2021, quando os funcionários pararam alegando falta de reajuste salarial e de outros benefícios.

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CAOS

Ônibus param pelo 2º dia e greve já é a maior em 31 anos

Campo Grande amanheceu chuvosa e sem ônibus nesta terça-feira (16)

16/12/2025 07h25

Caos dobrado: a terça-feira amanheceu chuvosa e sem ônibus em Campo Grande.

Caos dobrado: a terça-feira amanheceu chuvosa e sem ônibus em Campo Grande. ARQUIVO PESSOAL

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Terça-feira (16) amanheceu chuvosa e sem ônibus em Campo Grande.

O transporte coletivo está parado pelo segundo dia consecutivo e paralisado por tempo indeterminado. Com isso, a greve se torna a maior dos últimos 31 anos.

Em outubro 1994, na gestão do ex-prefeito Juvêncio César, o transporte coletivo paralisou por quase três dias. Os ônibus tomaram as ruas do centro e interditaram o trânsito. Na ocasião, motoristas murcharam os pneus dos ônibus em forma de protesto.

Hoje, mais uma vez, os terminais Morenão, Julio de Castilho, Bandeirantes, Nova Bahia, Moreninhas, Aero Rancho, Guaicurus, General Osório e Hércules Maymone amanheceram fechados sem nenhuma "alma viva".

Em contrapartida, as garagens amanheceram lotadas de ônibus estacionados. A greve foi alertada antecipadamente, estava prevista e não pegou passageiros de surpresa.

Por conta da chuva, ficou mais difícil recorrer a alternativas nesta terça-feira (16), sendo impossível chegar de bicicleta ao trabalho e complicado pagar o preço sugerido pelos transportes por aplicativo.

A greve ocorre por falta de pagamento. Com isso, os motoristas reivindicam por:

  • Pagamento do 5º dia útil, que deveria ter sido depositado em 5 de dezembro – foi depositado apenas 50% - está atrasado
  • Pagamento da segunda parcela do 13º salário – vai vencer em 20 de dezembro
  • Pagamento do vale (adiantamento) – vai vencer em 20 de dezembro

DECISÃO JUDICIAL

O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) determinou, em decisão judicial, que 70% dos motoristas trabalhem durante a paralisação, por se tratar de um serviço essencial de transporte coletivo urbano.

O valor da multa diária era de R$ 20 mil, mas, após nova decisão do Desembargador Federal do Trabalho, César Palumbo, subiu para R$ 100 mil.

Ele exige que os motoristas cumpram com urgência a decisão, que tem caráter de mandado judicial. Veja a decisão judicial na íntegra:

"Arbitramento. A multa pelo descumprimento de determinação judicial (astreinte) possui natureza jurídica coercitiva, e não indenizatória, destinando-se a assegurar a efetividade da ordem judicial e a compelir o obrigado ao cumprimento da obrigação de fazer imposta pelo Juízo. Não se presta, portanto, à simples incidência pecuniária, mas à preservação da autoridade da decisão judicial e do próprio Poder Judiciário.

No caso concreto, verifica-se descumprimento deliberado e injustificado da ordem judicial proferida nestes autos, que determinou a manutenção mínima de 70% da atividade essencial de transporte coletivo urbano, serviço público cuja paralisação afeta diretamente direitos fundamentais da coletividade.

A certidão lavrada pela Oficiala de Justiça, acompanhada de documentação e registros de áudio, colhidos em estrito cumprimento ao mandado de constatação, atestou de forma inequívoca o descumprimento da decisão judicial, apesar da ciência regular e pessoal do sindicato profissional.

Além disso, trata-se de fato notório, amplamente divulgado pelos meios de comunicação de grande circulação, que não houve circulação regular de transporte público na data de hoje, circunstância que evidencia a completa inobservância da ordem judicial e o esvaziamento prático da tutela jurisdicional deferida.

Tal conduta configura grave afronta à autoridade do Poder Judiciário, revela menosprezo consciente à ordem judicial e compromete a prestação de serviço público essencial, tornando manifesta a ineficácia da multa anteriormente fixada para compelir o cumprimento da obrigação.

Diante desse cenário, reputo necessária, adequada e proporcional a majoração das astreintes para o valor de R$ 100.000,00 por dia de descumprimento, como meio apto a restaurar a autoridade da decisão judicial e assegurar sua efetividade.

Consigno, ainda, que o Presidente do Sindicato profissional, na qualidade de dirigente máximo da entidade e responsável direto pela observância das determinações judiciais, passa a figurar como sujeito passivo, em tese, do crime de desobediência ao cumprimento de ordem judicial, previsto no art. 330 do Código Penal, sem prejuízo das demais consequências legais cabíveis.

Intime-se com urgência.

Dê-se ciência ao Oficial de Justiça de Plantão para as providências necessárias à imediata intimação do sindicato réu e de seu Presidente, inclusive devendo se valer de força policial caso encontre resistência à intimação.

A presente decisão tem força de mandado judicial. 

Cumpra-se"

Audiência de conciliação, entre Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano, Consórcio Guaicurus e Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG), ocorrerá às 15h45min de terça-feira (16), na sede do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-24ª Região), localizado na rua Delegado Carlos Roberto Bastos de Oliveira, 208, Jardim Veraneio, em Campo Grande.

A expectativa é que haja conciliação entre as partes e que o serviço de locomoção pública seja restabelecido o quanto antes.

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