Cidades

QUATRO MESES NO IMOL

Seis dias antes de morrer, Lourival revelou a cuidadora que nasceu mulher

Corpo dele está no IMOL há quatro meses à espera de identificação

PAULA MACIULEVICIUS BRASIL

05/02/2019 - 20h30
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“Eu gosto muito dele e não vai mudar nada. Para mim ele sempre vai ser o seu Lourival”. No passado e no presente da cuidadora, a identidade de Lourival Bezerra de Sá não mudou nem depois da revelação que ele mesmo fez a ela, seis dias antes de morrer, de que se chamava Enedina Maria de Jesus. “Ele olhou para mim e falou que era mulher”, conta.

Da varanda da casa que os dois dividiram nos últimos 36 anos, a cuidadora resume a vida de companheirismo que tiveram, mas deixa bem claro que não eram casados e nem mantinham relacionamento. “Ele era o senhor que eu cuidava, ajudava, lavava, passava e cozinhava”. 

A senhora de 66 anos não quer ser identificada, também se recusa a abrir a casa que junto de Lourival decorou com mais de 11 mil garrafas PET. Num primeiro momento, ela se irrita com as perguntas e diz que Lourival não foi enterrado ainda porque ele mesmo quem procurou por isso ao esconder sua identidade. No entanto, ao voltar ao passado, ela ri das lembranças de quem não comia refeição que não tivesse carne e reclamava quando era moída.

“Ele era enjoado para comer e gostava de pedaço de carne grande, quando eu fazia moída ele dizia: ‘mas eu não te dei dinheiro para comprar carne?’ Eu respondia: ‘e isso não é carne?’ Mas só depois que eu comecei a conversar mais com ele, também... Foram 36 anos”, reflete sobre o diálogo que ficou na memória. 

Imagem do álbum de família de Lourival. 

A história dos dois se inicia em Cuiabá, quando ela, que sofria crises de epilepsia, foi levada pela mãe até um médium novo, recém chegado de Goiás. “Ele passou um remédio para mim que eu nunca mais caí, acho que é por isso que eu tenho devoção ao seu Lourival. Eu devo isso a ele”, diz. Além do tratamento espiritual, ela conta que o médium tirou dinheiro do próprio bolso para que a paciente comprasse remédios e fizesse um eletroencefalograma. 

A senhorinha conta que na época, era um alvoroço só na cidade por conta dele, e então o médium pediu indicação de uma pessoa que pudesse lavar, passar e cozinhar, porque ele mesmo não tinha mais tempo. “Ele pediu para a minha mãe arrumar uma pessoa, e ela falou de mim. Ele disse: ‘então, se ela quiser, eu pago por mês”.

Os dois se mudaram para Campo Grande em 1982. O ano exatamente, a ex-empregada doméstica não se lembra, mas tem na recordação a alegria da cidade ao comemorar a vitória de Wilson Barbosa Martins ao governo do Estado. “Cheguei aqui e continuei trabalhando com ele. Eu era como empregada doméstica e depois cuidadora de uns 10 anos para cá. Ele me pagava todos os meses, mas chegou em um ponto que ele não tinha mais como me pagar”, relata. 

Sobre casamento, a dona de casa prefere dizer que se casou sim, mas com outro marido e teve seus filhos. “Do seu Lourival eu não sei nada da vida dele. Nestes 36 anos eu cuidei dele, ele quase não andava, tinha uma dor no joelho e eu que carregava ele pra lá e pra cá”, fala.

Uma das caminhadas era atravessar a rua e dar direto no centro espírita que Lourival era médium. “Ele pegava no meu braço e eu levava ele até lá, para voltar, quem ele estava atendendo que trazia. Ele nunca fez mal a ninguém”, frisa. 

Os anos juntos transformaram a relação deles entre patrão e empregada em cumplicidade. “Eu fazia companhia para ele e ele para mim, mas cada um no seu lugar, não tínhamos relação”, reafirma. Nas três décadas, a cuidadora diz nunca ter percebido que “seu Lourival era mulher... Ele tinha os maiores cuidados, trancava a porta do quarto dele para tomar banho. Ele nunca vestiu um short”, conta. Outro exemplo que a dona de casa lembra é que ele também não tomava banho de rio, cachoeira e nem piscina. “Eu tenho nove irmãos, final do ano a gente ia para lá e tinha piscina. Ele ia junto, mas não entrava. Seu Lourival foi uma caixa de segredos e até hoje nem a Polícia está resolvendo”. 

Pela idade e experiência de vida, a senhora sabia que alguma coisa Lourival escondia, perguntava, mas ouvia como resposta que “a vida dele só cabia a ele”. Os filhos que a Polícia apurou que ele registrou em Goiás também nunca o visitaram. 

Uma das coisas que Lourival mais gostava de fazer era dançar. “E ele dançava muito. Nossa” Nós íamos para a casa dos parentes e ele dançava, falava que tinha ganhado concurso de dança”, lembra entre risadas. 

Seu Lourival fazendo o que mais gostava: dançar.

Segundo a cuidadora, foram seis anos tentando fazer com que Lourival tirasse os documentos que ele relata terem sido roubados, mas ela nunca conseguiu. Lourival só tinha um CPF em seu nome e, conforme investigação da Polícia, chegou a emitir um RG em 1968, quando tinha 29 anos.

“Chegamos até 1968, conseguimos andar 50 anos para trás e achar a cédula de identidade no nome de Lourival. O papel é certo, verdadeiro, emitido por um órgão público, mas o que consta lá dentro que é falso”, informa a delegada responsável pelo caso, Christiane Grossi. A morte dele, em outubro do ano passado, virou caso de Polícia, quando aos 78 anos depois de um infarto, o corpo dele ficou no Imol (Instituto Médico e Odontológico Legal) por não ter, segundo a Polícia, uma "identificação válida" para ser liberado.

Na vida de Lourival, além dos filhos e do trabalho no centro espírita, ele foi pintor, construtor e corretor de imóveis. Ultimamente, de acordo com a Polícia, vivia de doações.  

Para a cuidadora, Lourival só revelou seu segredo porque sabia que estava vivendo os últimos dias. “Ele tinha perdido 43 quilos, teve pneumonia e foi emagrecendo, emagrecendo. Já não andava e quase não comia, só tomava leite com mucilon”, contextualiza a cuidadora. 

Desde que o caso veio à tona, a Polícia Civil já recebeu o contato de duas pessoas através da ouvidoria. “Uma delas achou que poderia ser a mãe que estava desaparecida, mas a data não bate e a outra, que poderia ser a avó materna”, conta a delegada. 

Para a Polícia, a cuidadora não sabia, de fato, que Lourival havia nascido como mulher. “Tanto é que quando descobriu que biologicamente ele seria uma mulher, tinha uma pessoa entrando na casa e presenciou essa discussão”. 

Não há um prazo para que a delegada encerre o caso que já se arrasta por quatro meses. A delegada frisa que não está questionando o fato de que Lourival possa ser um homem transgênero. “A gente não sabe se é identidade de gênero, ou se ele não se sentia homem, mas foi para se esconder de uma situação ou até mesmo oportunidade de trabalho. Não estamos questionando o fato de ele ser homem ou não, a gente tem que saber quem ele é”, diz Christiane. 

Hoje, se Lourival fosse um homem trans, teria acesso à mudança de todos os documentos, o que ele fez por conta própria em 1968. “O Lourival, no mundo legal, não existe e a gente tem que saber quem está por trás dele, porque existe uma família que tem uma pessoa que está desaparecida e biologicamente é uma mulher”, declara a delegada.

Lourival, parte dos filhos e a primeira esposa, já falecida.

A Polícia acredita que os pais, pela idade de Lourival, possam não estar mais vivos, mas irmãos e até filhos podem existir. “Estamos procurando mais por uma questão humanitária”. Sobre o enterro, a delegada fala que cabe ao juiz determinar quando e como vai ser e que à Polícia o objetivo é de esclarecer.

“A aparência dele era de um senhorzinho que tinha família, que tinha aquela vidinha na casinha dele”, resume Christiane. 

Para a companheira de casa, a cuidadora, o que ela mais importa agora é a liberação do corpo. Por que? Porque a pessoa merece ser enterrada”.

TEMPO

Saiba em que regiões do Brasil deve chover acima da média no verão

Inmet divulgou previsão para a estação, que começa hoje (21)

21/12/2025 20h00

Saiba em que regiões do Brasil deve chover acima da média no verão

Saiba em que regiões do Brasil deve chover acima da média no verão Paulo Pinto/Agência Brasil

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O verão do Hemisfério Sul começa neste domingo (21), e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê condições que podem causar chuvas acima da média em grande parte da regiões Norte e Sul do Brasil, além de poucas áreas do Nordeste e do Centro-Oeste.

No Norte, a maior parte dos estados deve ter mais precipitações e temperaturas mais elevadas. As exceções são o sudeste do Pará e o estado do Tocantins, que podem ter volumes de chuva abaixo da média histórica.

“A temperatura média do ar prevista indica valores acima da média climatológica no Amazonas, no centro-sul do Pará, no Acre e em Rondônia, com valores podendo chegar a 0,5 grau Celsius (°C) ou mais acima da média histórica do período (Tocantins). Nos estados mais ao norte da região, Amapá, Roraima e norte do Pará, são previstas temperaturas próximas à média histórica”, estima o Inmet.

Sul

Na Região Sul, a previsão indica condições favoráveis a chuvas acima da média histórica em todos os estados, com os maiores volumes previstos para as mesorregiões do sudeste e sudoeste do Rio Grande do Sul, com acumulados até 50 mm acima da média histórica do trimestre.

“Para a temperatura, as previsões indicam valores predominantemente acima da média durante os meses do verão, principalmente no oeste do Rio Grande do Sul, chegando até 1°C acima da climatologia”. 

Nordeste

Para a Região Nordeste, há indicação de chuva abaixo da média climatológica em praticamente toda a região, principalmente na Bahia, centro-sul do Piauí, e maior parte dos estados de Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Os volumes previstos são de até 100 mm abaixo da média histórica do trimestre.

Por outro lado, são previstos volumes de chuva próximos ou acima da média no centro-norte do Maranhão, norte do Piauí e noroeste do Ceará.

Centro-Oeste

Na Região Centro-Oeste, os volumes de chuva devem ficar acima da média histórica somente no setor oeste do Mato Grosso. Já no estado de Goiás, predominam volumes abaixo da média climatológica do período.

Para o restante da região, são previstos volumes próximos à média histórica. “As temperaturas previstas devem ter predomínio de valores acima da média climatológica nos próximos meses, com desvios de até 1°C acima da climatologia na faixa central da região”, diz o InMet.

Sudeste

Com predomínio de chuvas abaixo da média climatológica, a Região Sudeste deve registar volumes até 100 mm abaixo da média histórica do trimestre.

Deve chover menos nas mesorregiões de Minas Gerais (centro do estado, Zona da Mata, Vale do Rio Doce e Região Metropolitana de Belo Horizonte). A temperatura deve ter valores acima da média em até 1°C, segundo os especialistas do InMet.

Verão

A estação prossegue até o dia 20 de março de 2026. Além do aumento da temperatura, o período favorece mudanças rápidas nas condições do tempo, com a ocorrência de chuvas intensas, queda de granizo, vento com intensidade variando de moderada à forte e descargas elétricas.

Caracterizado pela elevação da temperatura em todo país com a maior exposição do Hemisfério Sul ao Sol, o verão tem dias mais longos que as noites.

Segundo o InMet, nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, as chuvas neste período são ocasionadas principalmente pela atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), enquanto no norte das regiões Nordeste e Norte, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é o principal sistema responsável pela ocorrência de chuvas.

Em média, os maiores volumes de precipitação devem ser observados sobre as regiões Norte e Centro-Oeste, com totais na faixa entre 700 e 1100 milimetros. As duas são as regiões mais extensas do país e abrigam os biomas Amazônia e Pantanal, que vivenciam épocas de chuva no período.

TEMPO

Solstício faz deste domingo o dia mais longo do ano

O solstício de verão acontece quando um dos hemisférios está inclinado de forma a receber a maior incidência possível de luz solar direta

21/12/2025 19h00

Solstício faz deste domingo o dia mais longo do ano

Solstício faz deste domingo o dia mais longo do ano Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado

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O verão começou oficialmente às 12h03 (horário de Brasília) deste domingo, 21. A data marca o solstício de verão no Hemisfério Sul, fenômeno astronômico que faz deste o dia com o maior número de horas de luz ao longo de todo o ano.

As diferentes estações ocorrem devido à inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao seu plano de órbita e ao movimento de translação do planeta em torno do Sol. O solstício de verão acontece quando um dos hemisférios está inclinado de forma a receber a maior incidência possível de luz solar direta

No mesmo momento, ocorre o solstício de inverno no Hemisfério Norte, quando se registra a noite mais longa do ano. Em junho, a situação se inverte: o Hemisfério Sul entra no inverno, enquanto o norte passa a viver o verão.

Além dos solstícios, há os equinócios, que acontecem na primavera e no outono. Eles marcam o instante em que os dois hemisférios recebem a mesma quantidade de luz solar, fazendo com que dia e noite tenham duração semelhante.

O que acontece no verão?

Segundo Josina Nascimento, astrônoma do Observatório Nacional (ON), instituição vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o verão é a estação mais quente do ano justamente por causa da inclinação de cerca de 23 graus do eixo da Terra em relação ao seu plano de órbita. Esse ângulo faz com que os raios solares atinjam mais diretamente um hemisfério de cada vez.

Quando é verão no Hemisfério Sul, os raios solares incidem de forma mais intensa sobre essa região do planeta, o que resulta em dias mais longos e temperaturas mais elevadas.

Os efeitos das estações do ano são maiores nos locais distantes do equador terrestre. "Nas regiões próximas ao equador, a duração dos dias varia pouco ao longo do ano. Essa diferença aumenta progressivamente em direção aos polos, onde os contrastes são máximos", explica Nascimento.

Previsão do tempo para os próximos dias

Com a chegada do verão neste domingo, São Paulo deve ter dias quentes nas próximas semanas e pode bater o recorde de temperatura do ano na véspera do Natal. De acordo com o Climatempo, os próximos dias também devem ser com menos chuvas e tempo seco na capital paulista.

O que esperar do verão de 2025/2026 no Brasil

Dados do Instituto Nacional de Meteorologia indicam que a maior temperatura registrada em São Paulo em 2025 foi de 35,1°C, em 6 de outubro. A expectativa para o dia 24 de dezembro é de que a temperatura se aproxime de 35°C, o que pode igualar ou até superar o recorde do ano.

O calor deve ser uma constante em grande parte do Brasil. Nesta semana, o Rio de Janeiro pode registrar até 38°C e Belo Horizonte e Vitória devem alcançar máximas entre 32°C e 34°C, com pouca chuva. O tempo quente também deve chegar à região Sul e ao interior do Nordeste, com máximas próximas dos 35°C. No Norte, as máximas se aproximam de 32°C.

O verão se estende até às 11h45 do dia 21 de março de 2026 e será marcado pela Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), sistema de alta pressão atmosférica que atua sobre o oceano Atlântico Sul e inibe a formação de nuvens. O fenômeno climático deve atuar como um bloqueio atmosférico, afastando algumas frentes frias que passam pelo Brasil.

A Climatempo prevê que a chuva do verão 2025 e 2026 fique um pouco abaixo da média para estação em quase todo o País. A maior deficiência deve ser na costa norte do Brasil, entre o litoral do Pará e do Ceará, e em áreas do interior do Maranhão e do Piauí.

Já o fenômeno La Niña não deve ser o principal fator climático neste verão, devido à sua fraca intensidade e curta duração. A atuação do fenômeno está prevista para se estender até meados de janeiro de 2026 e sua influência sobre as condições climáticas desta estação tende a ser limitada.

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