Cidades

MENOS RECURSOS

Sem atender requisitos, Saúde deixa de receber R$ 38 milhões

Sesau argumenta que falta de recurso não gera impactos na assistência oferecida

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Sem qualificação de cinco Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e de mais 24 postos participantes do Programa Saúde na Hora, do governo federal, e do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD III), Campo Grande perde aproximadamente R$ 38 milhões em recursos para a área da saúde por ano.

A estimativa é do titular da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), José Mauro Filho, que no dia 27 de agosto apresentou, durante sessão na Câmara Municipal, relatório dos investimentos, projetos, contratações de profissionais e obras executadas no setor. Pelo relatório, foram apresentadas algumas dificuldades existentes hoje na saúde pública da Capital e como estão as ações e os planos de enfrentamento. 

O deficit de profissionais, principalmente médicos de determinadas especialidades, o alto índice de judicialização, falta de qualificação de serviços em algumas unidades – o que impacta no repasse de recursos pelo Ministério da Saúde – e o aumento da folha de pagamento são alguns problemas apontados pela Sesau. 

Caso as qualificações sejam concretizadas, a pasta tem expectativa de receber R$ 38 milhões a partir do próximo ano. Além da regularização das unidades, a secretaria também prevê incremento de recursos referente a novos leitos hospitalares e centros de saúde, que não recebem do Ministério da Saúde e são mantidos apenas com verba própria do município.

O Conselho Municipal de Saúde (CMS) confirma o problema que impede o repasse de recursos. A situação é antiga. Na Capital, apenas a UPA Universitário é qualificada para alguns tipos de atendimentos, que fazem com que o repasse para o funcionamento do local tenha incremento. As outras cinco unidades 24 horas de pronto atendimento – Moreninha, Leblon, Santa Mônica, Vila Almeida e Coronel Antonino – não são qualificadas. A UPA Coronel Antonino já tentou passar pelo processo há alguns anos, mas teve o pedido negado. 

“Cinco não são qualificadas, isso daria por ano os R$ 38 milhões em recursos. A única qualificada é a do Universitário. Todas são habilitadas, podem abrir e funcionar. Mas, quando qualifica, o recurso a mais que recebe pode chegar, em alguns casos, a R$ 500 mil por mês a partir da concretização do processo. De tempos em tempos, o Ministério da Saúde avalia. Caso a unidade não esteja cumprindo tudo certinho, pode perder essa qualificação”, explicou o secretário-executivo do CMS, Josimar Corvalã dos Santos.

Como todas as seis UPAs já estão habilitadas, ou seja, em funcionamento 24 horas com equipe médica adequada, já recebem R$ 1,9 milhão em recursos federais e estaduais. No entanto, precisam de qualificação para que o valor repassado aumente. Para que sejam consideradas qualificadas, conforme portaria nº 342, de 4 de março de 2013, do Ministério da Saúde, as UPAs precisam atender a alguns requisitos, como bom atendimento, treinamento de profissionais e manutenção adequada de equipamentos. 

CAPS

Outra situação preocupante para a área de atendimento especializado é relativa ao funcionamento dos Caps. De acordo com o CMS, a unidade do Caps AD III, que desde o ano passado funciona como IV, ou seja, poderia fazer mais atendimentos e ter serviços além dos já oferecidos, não recebeu nenhum repasse da União já na nova função. “O Caps passou de III para IV, foi reconhecido assim. Mas não foi feito repasse ainda, não recebeu nada, nenhum recurso extra. Está assim desde o ano passado. Quando tem nova classificação, aumenta o número de leitos, equipes. Se não vem recurso, atrapalha o atendimento. É um gargalo na saúde”, disse Santos.

Na prática, quem procura o atendimento do Caps – localizado na Rua Teotônio Rosa Pires, 19, no São Bento – tem dificuldade de conseguir a primeira consulta e o retorno. Pacientes que estavam no local ontem aguardando consulta revelaram que a espera pode durar dias e até meses. “Eu vim há três meses. Mas continuo usando drogas. Não tem internação e eu não quero tomar remédio”, disse M., 19 anos, usuário de drogas desde os 11 anos, que pediu para não ter o nome divulgado.

“Tive uma crise noite passada, pedi para minha esposa vir comigo e assim tentar o tratamento. Quero parar de usar drogas, mas só vou conseguir com ajuda mesmo”, disse outro paciente, que usa drogas há 14 anos. “Eu nunca faltei um dia de trabalho. Mas toda minha família sofre com a minha situação. O usuário de drogas não tem controle, eu preciso de intervenção, sim, tenho consciência disso”, disse.

A Capital tem cinco unidades Caps para adultos, mas poderia ter pelo menos mais uma. “É por conta da quantidade de habitantes. Algumas cuidam de transtornos mentais, depressão, fobias, ansiedade. As AD, que são de álcool de drogas, já tratam dos vícios”, explicou o representante do CMS.

Sobre a falta de qualificação das Unidades de Saúde da Família (USFs), programa do Ministério da Sáude lançado em julho em Campo Grande pelo ministro Luiz Henrique Mandetta, a situação é ainda mais delicada. “Coincidiu com o projeto do município, da Clínica da Família, que também prevê atendimento em horário estendido. Mas não veio recurso ainda”, disse Santos. 

Ao Correio do Estado, a Sesau informou que “recurso mencionado é o equivalente à contabilidade de todo o montante a mais que o município deixou de receber durante o último ano de verba federal, pela não qualificação das UPAs, unidades básicas, Caps e Samu. A não qualificação desse serviço não gera impactos na assistência, uma vez que ele continua sendo ofertado. No caso do Saúde na Hora, foram habilitadas 25 unidades que, em funcionamento, devem receber durante um ano um incremento de R$ 10,5 milhões. Os Caps I.J, Afrodite Doris Contes e Caps AD foram qualificados, aumentando o financiamento em R$ 4,7 milhões”, explicou a secretaria.

INCERTEZAS

Gigante da celulose recua e engaveta projeto de R$ 15 bilhões em MS

No fim de novembro a Eldorado informou que ampliaria o plantio de eucaliptos em 2026 de olho da duplicação da fábrica. Agora, porém, diz que esse aumento não sairá do papel

20/12/2025 16h50

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

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Depois de anunciar, no final de novembro, que a partir do próximo ano pretendia ampliar de 25 mil para até 50 mil hectares o plantio anual de eculiptos na região de leste de Mato Grosso do Sul, a indústria de celulose Eldorado deixou claro nesta semana que engavetou, pelo menos por enquanto, o projeto de expansão. 

Com o recuou, a empresa, que produz em torno de 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano, deixa claro que está adiando a prometida duplicação de capacidade de produção da Eldorado, o que demandaria investimentos da ordem de R$ 15 bilhões US$ 3 bilhões), conforme anunciado em abril do ano passado pelos irmãos Joesley e Wessley Batista, donos da empresa. 

Em entrevista ao site AGFeed, especiliazado em agronegócio, o diretor florestal da Eldorado, Germano Vieira, afirmou que a empresa tem atualmente 305 mil hectares de pantações de eucaliptos na região, mas precisa de apenas dois terços disso para abastecer a fábrica. 

Ou seja, a empresa tem em torno de 100 mil hectares de eucaliptos sobrando e este excedente está sendo vendido ou permutado com a Bracell e a Suzano, que opera duas fábricas do setor na região, em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo. 

Então, caso o comando da Eldorado decida desengavetar repentinamente o projeto da duplicação,  já existe um excedente que seria capaz de abastecer a segunda unidade no período inicial, mesmo que não ocorra o início do plantio extra a partir de 2026, explicou Germano Vieira.

Atualmente são colhidos em torno de 25 mil hectares por ano para abastecer a indústria e o mesmo tanto é replantado, fazendo um giro para que sempre haja florestas "maduras".

São necessários, em média, sete anos para que a planta chegue ao estágio de corte e por conta disso havia a programação de começar o plantio agora (2026) para que houvesse matéria-prima suficiente quando a ampliação da fábrica estivesse concluída. Em três anos é possível fazer a ampliação da indústria, acredita Germando Vieira.  

Uma das explicações para o recuo, segundo a reportagem do AGFeed, é que a Eldorado ainda têm uma série de ajustes financeiros a serem feitos depois que os irmãos Batista conseguiram, em maio deste ano, fechar um acordo e colocar fim a batalha judicial com a Paper Excellence.

Para retomarem o controle total da Eldorado, que funciona em Três Lagoas desde 2012 e havia sido vendida parcialmente em 2017, eles se comprometeram a pagar US$ 2,640 bilhões à canadense Paper, que detinha pouco mais de 49% das ações do complexo industrial.  

Para duplicar a produção, segundo Germando Vieira, serão necessários 450 mil hecteres de florestas. Para chegar a esse montante, a empresa teria que arrendar mais 150 mil hecteres, o que demandaria um investimento da ordem de R$ 180 milhões anuais, já que o arrendamento custa em torno de R$ 1,2 mil por ano por hectare. 

Além disso, somente para o plantio de 25 mil hectares anuais a mais, conforme chegou a ser anunciado, seriam necessários em torno de R$ 220 milhões extras no setor florestal por ano, uma vez que o custo do plantio está na casa dos R$ 8,7 mil por hectare. E isso sem contabilizar os custos com o combate a pragas e combate a incêndios, entre outros. 

No final de novembro, Carlos Justo, gerente-geral florestal da Eldorado, chegou a informar ao site The AgriBiz que 15 mil hectares já haviam sido arrendados para dar início à ampliação do plantiu a partir do próximo ano. 

Preços da celulose

Embora Germano Vieira diga que a demanda mundial por celulose cresça em torno de um milhão de toneladas por ano e por conta disso a Eldorado mantem viva a promessa da duplicação, a empresa pisou no freio em meio à queda nos preços mundiais e ao aumento da oferta. 

Neste ano, o faturamento das três fábricas de Mato Grosso do Sul literalmente despencou. Por conta da ativação da unidade de Ribas do Rio Pardo, que tem capacidade de até 2,55 milhões de toneladas por ano, as exportações de Mato Grosso do Sul aumentaram em 57% nos dez primeiros meses de 2025, passando de 3,71 milhões de toneladas para 5,84 milhões de toneladas. 

Porém, o faturamento cresceu apenas 25,6%, subindo de U$ 2,121 bilhões para U$ 2,665 bilhões. No ano passado, quando a cotação da celulose já não estava nos melhores patamares, o valor médio da tonelada rendeu 570 dólares aos cofres das três indústrias. Neste ano, porém, elas tiveram rendimento médio de apenas 456 dólares, o que representa queda de 20%. 

Em decorrência desta queda nos preços, as indústrias deixaram de faturar em torno de 666 milhões de dólares, ou algo em torno de R$ 3,6 bilhões na moeda local, nos dez primeiros meses deste ano. 

Por conta disso, a Suzano, concorrente da Eldorado, chegou a emitir um alerta no começo de novembro dizendo que os preços internacionais estavam "completamete insustentáveis" e por isso estava reduzindo sua produção em cerca de 3,5%. 

O alerta da Suzano foi feito durante a prestação de contas relativa aos resultados do terceiro trimestre da empresa. E, segundo Leonardo Grimaldi, diretor do negócio de celulose da Suzano, a situação é crítica e “o setor está sangrando há meses”. 

Mas, apresar deste cenário de apreensão, investimentos da ordem de R$ 25 bilhões estão a todo vapor em Inocência, onde a chilena Arauco está instalando uma fábrica que terá capacidade para colocar 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano a partir do final de 2027. 

Outra empresa, a Bracell, pretende começar, em fevereiro do próximo ano, em Batagussu, as obras de uma fábrica que terá capacidade para 1,8 milhão de toneladas por ano. Os investimentos previstos são da ordem de R$ 16 bilhões. 


 

MATO GROSSO DO SUL

Em pleno período de chuvas, Hidrelétrica Porto Primavera reduz vazão

Com a barragem mais extensa do País (10,2km), redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciadano último dia 12, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira

20/12/2025 14h14

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera Reprodução/Cesp

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Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera, a unidade começou nesta sexta-feira (19) através da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) a redução da vazão, para preservar os estoques de água dos reservatórios da bacia do Rio Paraná. 

Com a barragem mais extensa do País (10,2 km), essa redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciada pela Cesp no último dia 12, prevista para começar ainda em 15 de dezembro, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira. 

"O patamar mínimo defluente será reduzido de forma gradual e controlada, passando dos atuais 4.600 metros cúbicos por segundo para 3.900 m³/s, seguindo diretrizes operacionais do ONS", cita a Cesp em nota. 

Além disso, a Companhia frisa que, durante o processo, será mantido o plano de conservação da biodiversidade que havia sido aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), e teve início em maio deste ano, para monitoramento do Rio Paraná justamente nos trechos da jusante - parte rio abaixo - da Porto Primavera até a foz do Ivinhema. 

Ou seja, entre outros pontos, equipes embarcadas formadas por biólogos e demais profissionais especializados, devem trabalhar como os responsáveis por acompanhar a qualidade da água, bem como a conservação e comportamento dos peixes locais enquanto durar a flexibilização da vazão. 

Importante frisar a redução adotada também ao final de novembro (24/11) e mantida até 1° de dezembro, a partir de quando houve a retomada gradativa aos patamares originais. 

Problemas com a vazão

Em épocas passadas, como bem acompanha o Correio do Estado, o controle da vazão em Porto Primavera já trouxe prejuízo e revolta de produtores que chegaram a culpar a ONS pelas fazendas alagadas por mais de quatro meses em Batayporã no ano de 2023, por exemplo. 

Nessa ocasião, o problema começou com a abertura das comportas de Porto Primavera no dia 18 de janeiro de 2023, com a usina avisando a Defesa Civil de Batayporã da liberação de até 14,7 mil metros cúbicos de água por segundo. 

Sendo a maior vazão desde o começo do período chuvoso, as águas se somaram ainda à liberação dos cerca de 3 mil metros cúbicos por segundo do Rio Paranapanema, juntando em torno de 18 mil metros cúbicos por segundo. 

Na linha cronológica em 2023, o problema dos alagamentos começou no final de janeiro, indo até o mês de abril diante do fechamento das comportas em 31 de março. 

Quando a água já havia recuado, saindo de boa parte dos nove mil hectares alagados, as comportas foram reabertas na terceira semana de abril, com vazão máxima de dez mil metros cúbicos.

Depois, o aumento da vazão para até 13 mil metros cúbicos chegou a alcançar 14,7 mil m³, sendo que antes disso o volume anterior já havia sido responsável por invadir casas de moradores locais pela terceira vez no ano. 

Estimativas da Defesa Civil de Batayporã à época apontaram que pelo menos sete mil animais tiveram de ser remanejados na região por causa do mesmo problema. E, mesmo depois que a água baixar, são necessários de dois a três meses para que o pasto cresça e esteja em condições para alimentar os rebanhos. 

 

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