O Comando Militar do Oeste (CMO) mantém, até os dias atuais, tropas de unidades localizadas em Mato Grosso do Sul na fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana, em Roraima. As equipes, em sua maioria originárias da 4ª Brigada de Cavalaria Motorizada, de Dourados, continuam na fronteira com os dois países, na Região Norte.
Os 28 blindados integram a Operação Roraima, a maior operação logística do Exército Brasileiro dos últimos tempos e, certamente, a primeira em décadas desencadeada em função de uma ameaça externa. As tropas sediadas não somente em Dourados, mas também no 9º Grupamento de Logística de Campo Grande – unidades estratégicas no arranjo do Exército Brasileiro para a defesa da soberania nacional –, levaram 18 dias para se deslocar da capital de Mato Grosso do Sul até o local onde a operação, de caráter dissuasivo, está montada.
fator preponderante para o desencadeamento da Operação Roraima foram as ameaças diretas do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, à soberania do território da Guiana, na região de Essequibo. A área é historicamente pleiteada pela Venezuela, mas o pleito ganhou força depois que a Guiana passou a ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo.
Apesar de existir uma longa fronteira entre Venezuela e Guiana, a região de Essequibo é inóspita, e os meios para se chegar a pontos estratégicos da Guiana poderiam levar venezuelanos a adentrarem em território brasileiro para atingir esse objetivo. Este foi um dos motivos da operação.
O comandante do CMO, general de Exército Luiz Fernando Estorilho Baganha, apresentou os números da Operação Roraima na semana passada a autoridades sul-mato-grossenses, entre elas, o governador Eduardo Riedel (PSDB), e à imprensa.
A Operação Roraima envolveu 334 militares, 123 viaturas não blindadas, 28 viaturas blindadas, 10,4 mil litros de gasolina, 94 mil litros de óleo diesel e 5 toneladas de munições e explosivos.
O deslocamento de 4 mil quilômetros seria o bastante para cruzar todo o continente europeu. A comparação foi feita pelo general Baganha: “Um deslocamento que cruza a Europa, mas não com as facilidades logísticas daquele continente”, afirmou.
Parte das tropas foi de avião, mas os 28 blindados viajaram de Campo Grande a Porto Velho (RO) por via terrestre, de Porto Velho a Manaus (AM) por via fluvial e, novamente, da capital amazonense à fronteira com a Guiana e a Venezuela por via terrestre.
“Lá, nossa tropa montou uma linha defensiva, uma demonstração de força”, contou. “Não houve nenhum acidente ou incidente na operação”, completou o general, que ainda relatou nunca ter visto tal deslocamento de tropas brasileiras em seus 42 anos de carreira no Exército.
O MUNDO MUDOU
No mesmo evento, em entrevista, o general Richard Fernandez Nunes, chefe do Estado-Maior do Exército Brasileiro, lembrou que o arranjo geopolítico mudou e que o Exército está atento a essas transformações.
“Fizemos uma diretriz para as novas atividades, e essa diretriz é sempre atualizada. Mudou o mundo, o cenário é outro”, pontuou.
Ele ressaltou que, após as últimas eleições nos Estados Unidos, a concepção da doutrina norte-americana sofreu alterações.
“Temos conflito na Ucrânia, conflito de Israel com o Hamas na Faixa de Gaza. Temos de reagir a tudo isso e atualizar o nosso planejamento internacional. Esse documento explicita tudo isso”, disse.
Ao fim do evento, já em entrevista coletiva, o chefe do Estado-Maior reforçou: “O mundo está em conflito e temos de estar preparados para isso”.


