Sem médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, falta de equipamentos, móveis e exames de diagnósticos, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Santa Mônica, em Campo Grande, é investigada pelo Ministério Público do Estado (MPE-MS) por irregularidades. no funcionamento.
A presença de médicos no local é raridade. O problema é constante e nunca foi solucionado desde a inauguração do prédio em julho de 2016. A unidade só começou a funcionar efetivamente semanas depois, e mesmo assim médico pediatra, por exemplo, nunca atendeu no local. A situação é confirmada pelas escalas de plantão, disponíveis no site da prefeitura, e também por moradores da região.
Quando chegam ao local em busca de atendimento as mães que levam os filhos para consulta são orientadas a irem até a UPA Vila Almeida, a mais próxima da região. Mesmo assim, para quem depende do transporte coletivo a viagem demora em média uma hora. “Em dia de semana é uma hora para chegar lá. Tem que pegar dois ônibus. Mas fim de semana e feriado, uma hora e meia no mínimo de deslocamento”, afirma a dona de casa Alice Espíndola, 37 anos.
Moradora do Bairro Nova Campo Grande ela é mãe de quatro filhos, o caçula Murilo tem apenas sete meses, e desde março não vai a consulta com o pediatra da Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) Serradinho - bairro que fica na mesma região da UPA Santa Mônica.
“Lá é outro problema. Tem quatro pediatras, cada um atende moradores de determinados bairros. Só que para o povo da Nova Campo Grande não tem médico, está sem. Então o doutor que atende o pessoal do Jardim Carioca está sobrecarregado, tem que consultar todo mundo. Já tem um mês que não consigo horário para o meu filho, desisti”.
Sem a quantidade suficiente de médicos na UBSF e profissionais inexistentes na UPA, a solução parece ser mesmo enfrentar horas de espera na unidade 24h da Vila Almeida, porém somente em situações críticas. “Lá é um ‘Deus nos acuda’, só pelo sangue do cordeiro! Quem precisa muito vai mesmo, tem que tomar uma maracugina e esperar. Eu já fiquei quatro, cinco horas na fila e só fui atendida porque comecei a fazer escândalo”, admite a cabeleireira, Gremilcia da Silva, 28 anos.
Ela estava na UPA ontem acompanhando a irmã e auxiliar de produção, Iraides de Moura, 22 anos. Com os olhos inchados por conta de alergia, Iraides, que mora em Indubrasil - distrito industrial da cidade -, diz sofrer com o problema há muito tempo e nunca conseguiu consulta com especialista para resolver o problema.
“Lá (Indubrasil) não tem posto de saúde nenhum e os mais próximos nunca tem médico. Aqui na UPA ainda a gente encontra um (médico) de vez em quando. Tenho problema de alergia há muito tempo e toda vez tenho que vir tentar atendimento de urgência mesmo, porque consulta com alergista é impossível!
Particular eu não tenho como fazer nem teste de alergia, custa uns R$ 500, é quase o valor do meu salário. Então toda vez que passo mal venho e tomo remédio na veia, é assim”, diz a jovem. “Quem sabe se ela entrar em alguma fila agora, daqui uns dois anos ela consiga a consulta”, critica Gremilcia.
INVESTIGAÇÃO
Conduzida pela titular da 32“Promotoria de Justiça de Saúde Pública de Campo Grande, Filomena Fluminhan, a investigação da UPA Santa Mônica é para apurar falta e insuficiência de profissionais para o preenchimento de todos os turnos de atendimento, principalmente médicos clínicos e pediatras, enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos - o que resulta no fechamento da farmácia deixando os pacientes sem remédios - e técnico em radiologia.
No local também existe falta e insuficiência de equipamentos, mobiliários e exames diagnósticos, principalmente para exame de raio-x. Com esta investigação aberta, todas as seis UPAs da cidade estão com procedimentos em andamento junto ao MPE para identificar falhas na prestação dos serviço de saúde.
Em Campo Grande, são mais de 200 procedimentos em andamento na Promotoria de Saúde - 143 inquéritos civis, 54 procedimentos administrativos e 14 notícias de fato. Entre janeiro de 2016 e fevereiro de 2017, foram arquivadas 139 notícias de fato, 73 notícias de fato finalizadas, 36 procedimentos administrativos, três inquéritos civis e quatro procedimentos preparatórios.
“Trabalhar com a saúde é um desafio constante. Apesar de todos os avanços que tivemos na legislação ainda não foram implementados, na prática. Temos ainda inúmeras deficiências porque, infelizmente, estamos conseguindo atuar, somente na área de urgência e emergência, que inclui os leitos hospitalares que não estão à disposição e os medicamentos básicos que deveriam ser disponibilizados.
Enquanto já deveríamos estar cobrando do Poder Público a implementação da saúde especializada, a diminuição das filas, principalmente nas especialidades de cardiologia, neurocirurgia, ortopedia, portanto é um caminho muito longo que temos que trabalhar”, afirma a promotora.
A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) foi notificada para, no prazo de 30 dias úteis, informar a respeito da situação da unidade Santa Mônica.


