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LITERATURA

"A MORTE FAZ PARTE DA VIDA"

Psiquiatra e escritora, Natalia Timerman, autora de "As Pequenas Chances" (Editora Todavia), em que, na chave da ficção, aborda a morte do pai, conversa com o público hoje na Hámor Livraria; Lorena Gonçalves e Marcos Vitor participam do bate-papo e a entr

"Anoto coisas o tempo todo, em cadernos, nos livros que leio, no próprio celular. Mas quando meu pai estava doente não anotei uma única linha", afirma a escritora Natalia Timerman, que já lançou um romance pela Todavia, entre outras publicações

"Anoto coisas o tempo todo, em cadernos, nos livros que leio, no próprio celular. Mas quando meu pai estava doente não anotei uma única linha", afirma a escritora Natalia Timerman, que já lançou um romance pela Todavia, entre outras publicações - Foto: Renato Parada

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O que pensamos e sentimos e como agimos quando perdemos um familiar? E se quem morrer for seu pai? Natalia Timerman passou pela experiência em 2019. E como, nas suas palavras, “não havia mais nada a se fazer”, sentiu-se instada a escrever o que se tornou “As Pequenas Chances”, segundo romance da psiquiatra e escritora paulista, publicado em 2023 pela Editora Todavia, que ganha lançamento em Campo Grande. A autora conversa com o público hoje, na Hámor Livraria, a partir das 19h, com entrada franca.

Lorena Gonçalves e Marcos Vitor participam do bate-papo, em que a prática da escrita como aliada ao processo de luto familiar e sua articulação com o exercício literário devem pautar o encontro, assim como a expressão autobiográfica e as origens judaicas da autora, que para ela representaram o resgate de tradições que até então desconhecia e que a morte do pai, também médico, em decorrência de um câncer, acabou ocasionando.

Natalia tem 43 anos e é mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), onde cursa atualmente doutorado em Literatura. Desde o lançamento, “As Pequenas Chances” vem obtendo seguidas resenhas positivas, pelo modo como sua narrativa confessional alinhava fabulação e reflexão pessoal a partir do mote autobiográfico. “Tem trilhado um caminho bonito”, diz a escritora sobre o livro que já ganhou algumas reimpressões e a levou à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e a Portugal.

Sua produção já publicada inclui “Desterros: Histórias de Um Hospital-Prisão” (Editora Elefante, 2017), a coletânea de contos “Rachaduras” (Quelônio, 2019), que esteve entre os finalistas do prêmio Jabuti, e, também pela Todavia, “Copo Vazio” (2021), seu primeiro romance, em que apresenta a perturbada paixão de Mirela por Pedro, em que “a dúvida e o desalento” se seguem à “felicidade insuportável” do início.

A quatro mãos, com a psicanalista Bel Tatit, publicou “Os Óculos de Lucas” (Brinque-Book, 2022), seu primeiro livro infantil, com ilustrações de Veridiana Scarpelli. Natalia é colunista do portal UOL e colaboradora das revistas Quatro Cinco Um e CULT. Também dá aulas de literatura em cursos livres. Confira, a seguir, o que diz a escritora sobre “As Pequenas Chances”, em entrevista ao Correio B.

Como apresentaria a trama de “As Pequenas Chances”?

“As Pequenas Chances” é um romance sobre a morte de um pai. Um pai médico, cuja filha, narradora do livro, também é médica, um pai que tem um linfoma e entra em cuidados paliativos e morre. É também um livro sobre luto, sobre memória e sobre judaísmo, pois essa filha, que até então não se reconhecia judia, se vê acolhida pelos rituais fúnebres judaicos e decide, depois, empreender uma viagem para as terras de onde vieram seus avós. 

O que motivou o desejo de escrevê-lo e publicá-lo?

Eu anoto coisas o tempo todo, em cadernos, nos livros que leio, no próprio celular. Mas quando meu pai estava doente não anotei uma única linha. Depois que ele morreu, não havia mais nada a se fazer. Por isso escrevi. “As Pequenas Chances” tem um cerne autobiográfico, sustentado por uma ficção, e é um livro que se assume como ficcional. Não pensei se devia ou não publicá-lo, porque o livro já foi concebido como parte do meu percurso como escritora.

O que diria ao leitor?

O leitor encontrará um livro que olha de frente para a dor da perda, mas que não considero um livro triste. É um livro acima de tudo sobre a vida, e a morte faz parte da vida. 

E você? O que espera com a publicação?

O livro foi lançado em outubro de 2023 e tem trilhado um caminho bonito. Me levou à Flip e a diversos outros festivais, foi publicado também em Portugal, de onde voltei há pouco, e já foi reimpresso algumas vezes. 

Como se deu a rotina da escrita?

Eu escrevi a maior parte do livro em uma residência artística para a qual havia ganhado uma bolsa e para onde fui apenas três meses depois da morte do meu pai. Dali, saiu um material denso, bruto, que me emocionou muito ao escrever. Passaram-se três anos antes que eu tocasse naquilo de novo e finalizasse o livro. Esse tempo foi importante, pois me possibilitou distinguir que dor pertencia à narradora e que dor pertencia somente a mim. 

Luto, perda, culpa, vínculos familiares, saudades, suturas. Do ponto de vista pessoal, qual o maior desafio de levar ao papel essa temática?

Escrever sobre a morte de alguém muito amado, se, por um lado, organiza um material doloroso disforme, por outro, revolve esse mesmo material. 
Como o livro parte de eventos autobiográficos, pessoas de verdade estão envolvidas. A Martha, companheira do meu pai, por exemplo, adorou o livro, mas me disse que ela se lembrava de tudo de um jeito muito diferente. Entendi então que eu tinha escrito a minha versão, ou melhor: a versão de uma personagem que viveu coisas que eu não vivi e que se diferencia de mim principalmente porque tem a palavra, o que diante da morte eu não tive. 
Lembro-me do dia do primeiro lançamento, em São Paulo: eu me sentia muito feliz e tinha dificuldade em conciliar essa felicidade com toda a tristeza pela morte do meu pai, que deu origem ao livro. Pareciam coisas incompatíveis, e são, mas o papel da literatura é justamente esse: sustentar contradições.

O que é, afinal, o luto? E por que as pessoas, de modo geral, parecem ter tanta dificuldade com ele? Tanto com o seu próprio processo de enlutamento quanto com o dos outros.

O luto é um longo processo, talvez infinito, de criar uma vida nova depois que se perde algo ou alguém muito importante. A maneira como vivemos, a maneira como consumimos e somos consumidos, desconsidera a morte. Por isso é tão importante falar dela: para que vivamos bem.

Em que medida o fato de ser uma psiquiatra e também o seu percurso de pós-graduação eventualmente afetaram e afetam o processo criativo?

Escrevemos com tudo o que somos, mesmo que não seja sobre nós mesmos. Ser psiquiatra, então, está no cerne da minha escrita, que se embrenha, acho, nos pensamentos, emoções, vergonhas, culpas e segredos das minhas personagens.

Já pensa em um próximo projeto literário?

Minha mãe está muito pouco presente em “As Pequenas Chances”. Meu próximo livro, então, será sobre ela.

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B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

Bailarina, atriz e criadora do método Dança Integral, Keila Fuke transforma o movimento em linguagem de escuta, autocuidado e reinvenção feminina

21/12/2025 20h00

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos Foto: Divulgação

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Keila Fuke fala de dança como quem fala de família. Não no sentido de abrigo confortável apenas, mas de território vivo - onde moram memória, desejo, silêncio e prazer. Quando ela diz que o corpo é templo, não soa místico. Soa prático. Soa vivido.

“A dança é uma arte que se expressa pelo corpo, e o corpo é nossa casa, templo sagrado e cheio de emoções, histórias e prazer”, diz. Para ela, quando uma mulher escuta e sente o próprio corpo, algo essencial se reorganiza: “ela realmente se conecta com sua essência primária, seus desejos, e consegue ir para a vida de forma mais consciente”.

Há mais de três décadas, Keila dança, atua, coreografa e cria. Sua formação artística começou ainda na infância e se expandiu por diferentes linguagens (dança, teatro, musical e direção), construindo uma trajetória consistente nos palcos brasileiros. Nos grandes musicais, viveu a intensidade da cena em produções como “Miss Saigon”, “Sweet Charity”, “A Bela e a Fera”, “Victor ou Victoria” e “Zorro” (experiências que aprofundaram sua relação com a disciplina, a entrega e a presença).

Foi também no teatro que sua trajetória profissional ganhou contorno definitivo. Keila estreou ao lado de Marília Pêra, em “Elas por Ela”, num encontro que deixaria marcas profundas em sua forma de compreender a arte. A convivência com Marília reforçou a noção de que o palco exige verdade, escuta e disponibilidade (valores que atravessam seu trabalho até hoje).

Mas só quem escuta com atenção percebe que sua trajetória não foi guiada apenas pela busca da forma perfeita ou do espetáculo bem acabado - e sim por uma pergunta insistente: o que o corpo ainda tem a dizer quando a vida muda de ritmo? Essa pergunta atravessa tudo o que ela faz hoje.

Ao falar sobre movimento, Keila não separa o gesto do afeto, nem a técnica da emoção. “A dança revela a comunicação entre o mundo interno e o externo. O gesto se torna linguagem, o movimento vira verdade.” Talvez seja exatamente por isso que tantas mulheres chegam às suas vivências depois de períodos de exaustão: ali não se pede performance, mas presença.

Existe algo de radicalmente gentil na forma como Keila olha para o corpo feminino. Especialmente aquele que atravessa a maturidade. A menopausa, tema ainda cercado de silêncio, aparece em sua fala como travessia, não como falha. “Todas as mulheres irão passar por esse portal ao entrar na maturidade”, afirma. “Não para corrigir o corpo, mas para reconhecê-lo.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos         B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Foi desse entendimento que nasceu o método Dança Integral, desenvolvido a partir da integração entre sua experiência artística e seus estudos terapêuticos. Ao longo dos anos, Keila aprofundou-se em yoga, meditação, tantra, bioenergética e consciência sistêmica, incorporando esses saberes à dança. “É um trabalho que convida a mulher a ativar e integrar seus corpos (físico, mental e emocional) devolvendo consciência, presença e escuta.”

Na prática, o movimento deixa de ser esforço e passa a ser aliado. O corpo volta a circular energia, as emoções encontram expressão e a mente desacelera. “No movimento consciente, o corpo lembra que não nasceu para ser corrigido, mas habitado.” Quando isso acontece, o corpo deixa de ser campo de conflito e volta a ser morada.

A ancestralidade japonesa que Keila carrega atravessa profundamente esse olhar. Mestiça de origens japonesa, italiana, alemã e libanesa, ela se reconhece como uma mulher amarela e traz dessa herança a disciplina entendida como cuidado. O respeito ao tempo, ao silêncio e ao gesto essencial molda sua relação com o movimento, a prática e o feminino. Espiritualmente, o corpo é templo, o movimento é ritual e a repetição, um caminho de aperfeiçoamento interno.

Ao mesmo tempo, Keila é mistura. Emoção, calor e invenção brasileira convivem com rigor e silêncio. “Vivo entre tradição e vanguarda, entre raiz e criação”, diz. É dessa fusão que nasce um trabalho que não se fixa nem na forma nem no conceito, mas no estado de presença.

Essa escuta sensível também se manifesta fora das salas de dança. Há 17 anos, Keila atua na Fundação Lia Maria Aguiar, em Campos do Jordão, onde integra a formação artística de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Ali, ela participa da criação de um núcleo de teatro musical que utiliza a arte como ferramenta de educação, inclusão e fortalecimento da autoestima. “Com eles, aprendo que sensibilidade não é fragilidade, é potência.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anosB+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Falar de reinvenção aos 59 anos, para Keila, não tem a ver com começar do zero. Tem a ver com fidelidade. “Se reinventar é um gesto de fidelidade à vida.” Ela fala de saúde emocional, de vulnerabilidade, mas também de prazer, curiosidade e desejo. “Depois dos 50, algo se organiza internamente: ganhamos coragem para comunicar quem somos e ocupar nosso lugar sem pedir permissão.”

Existe algo profundamente político nesse corpo que segue dançando sem pedir licença ao tempo. Que reivindica delicadeza sem abrir mão de força. “Dançar, assim, é um ato político e espiritual”, diz. “É a mulher dizendo ao próprio corpo: eu te vejo, eu te respeito, eu te celebro.”

Quando Keila afirma que cada passo é uma oração, a frase ganha densidade. “Hoje, a oração que guia meus passos é a gratidão em movimento.” Gratidão por estar viva, criando, aprendendo e colocando o talento a serviço da vida. “Que minha arte continue sendo ponte - entre corpo, alma e coração.”

Talvez seja isso que faz de Keila Fuke uma presença tão inspiradora: não apenas o que ela construiu nos palcos, mas a forma como permanece. Em movimento. Em escuta. Em verdade.

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Saúde B+: Você sabia que bronzeado saudável não existe? Confira!

Médicos alertam sobre riscos da exposição solar e sobre a importância da proteção solar eficaz

21/12/2025 19h00

Saúde B+: Você sabia que bronzeado saudável não existe? Confira!

Saúde B+: Você sabia que bronzeado saudável não existe? Confira! Foto: Divulgação

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Infelizmente … aquele bronze dourado e saudável não existe! Esse, que é o desejo de muitas pessoas, pode representar um real perigo para a saúde da pele. “Classificamos os tipos de pele de I a VI, de acordo com a capacidade de resposta à radiação ultravioleta (UV), sendo chamado fototipo I aquele que sempre se queima e nunca se bronzeia, até o VI, pele negra, totalmente pigmentada, com grande resistência à radiação UV. A pigmentação constitutiva - cor natural da pele - é definida geneticamente. A cor facultativa - bronzeado - é induzida pela exposição solar e é reversível quando cessa a exposição”, explica a dermatologista Dra. Ana Paula Fucci, Membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

O chamado "bronzeado dourado" é observado nas peles mais claras e para ocorrer, ocasiona danos no DNA das células.  “As  consequências serão vistas anos mais tarde, em forma de fotoenvelhecimento, manchas ou lesões cutâneas malignas.O ideal é respeitar seu tipo de pele e sua sensibilidade ao sol. Nunca queimar a ponto de “descascar”. Importante: evite se expor ao sol entre 10 e 16h”, detalha a dermatologista. 

Dra. Ana Paula alerta ainda sobre os riscos de bronzeamento artificial, através das câmaras de bronzeamento: “esse é ainda mais prejudicial para a pele do que a exposição ao sol. A radiação é entregue de forma concentrada e direta, sem nenhum tipo de filtro ou proteção”.  

A médica ressalta que filtro solar não é uma permissão para a exposição ao sol. “Ele é um grande aliado, desde que sejam seguidas as orientações de horário, evitar exposição exagerada e usar complementos como bonés, óculos etc”, reforça Dra. Ana Paula Fucci.  

- Proteção solar eficaz 

A rotina de proteção solar é muito importante em qualquer época do ano, sobretudo agora no verão.  “Não deixe para aplicar o filtro quando chegar na praia ou piscina, por exemplo. O ideal é aplicá-lo cerca de 20 minutos antes de se expor ao sol, para dar tempo de ser absorvido e começar a agir. Também devemos reaplicar o filtro solar a cada 2 horas ou após se molhar ou suar muito”, destaca Dr. Franklin Veríssimo, Especialista e pós-graduado em Laser, Cosmiatria e Procedimentos pelo Hospital Albert Einstein-SP. 

Dr. Franklin destaca três aspectos importantes para uma proteção solar eficaz:

1- “Use filtro com FPS 30 ou maior;  e para as crianças ou pessoas que possuem pele mais sensível, FPS de no mínimo 50;

2- Use proteção adicional ao filtro solar, como chapéus, viseiras, óculos escuros. Recomendo evitar a exposição solar entre 10 e 16h;

3.  Use roupas leves, claras e chapéu e óculos de proteção UV, principalmente se for praticar caminhadas e atividades físicas ao ar livre.  Quem costuma ficar muito tempo no sol tem que redobrar os cuidados e investir em roupas com proteção ultravioleta”, conclui o médico.  

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