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CRÍTICA

A primavera de Eric Rohmer

Entre encontros e desencontros, filosofia e protagonismo feminino marcam o primeiro dos quatro filmes da série Contos das Estações realizada pelo diretor francês

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Desde domingo, ela, a primavera preenche a imaginação e os anseios de quem considera a estação das flores um momento de beleza singular na paisagem e, do ponto de vista simbólico, uma motivação e tanto para a brotação de ideias, afetos e projetos. Mesmo com a intensa floração dos ipês colorindo Campo Grande já nos meses de inverno, a força do calendário oficial estimula todo um universo subjetivo em muita gente - e, quase sempre, na mídia também.

Não parece ser diferente com os artistas, embora, neles, a criação ganhe outros percursos, onde a motivação aparente muitas vezes sirva somente de pretexto para outros sentimentos e abordagens que acabam se distanciando do suposto mote inspirador. Se, nos concertos de Vivaldi, allegros e adagios acompanhem com uma maior fidelidade, seguindo, inclusive poemas previamente escritos, o que se pode entender como uma espécie de mood de cada fase da natureza, a coisa muda de figura nos filmes do francês Éric Rohmer (1920-2010).

Ícone da nouvelle vague, o diretor já contava seus 70 anos quando levou a público o primeiro dos quatro longas de seus Contos das Estações, o “Conto da Primavera” (“Conte de Printemps”, 1990). Na trama, que segue leve, fluente e afiada desde o princípio, três mulheres meio que emparedam o personagem masculino, Igor, vivido pelo ator Hugues Quester. Natascha (Florence Darel), uma jovem estudante de música, é a sua filha. Ève (Eloïse Bennett), sua namorada, bem mais nova que ele. E Jeanne (Anne Teyssèdre), uma professora de filosofia, a terceira mulher.

Sentindo-se sem espaço em seu próprio apartamento, por causa da presença de um familiar, Jeanne também rejeita o apê do noivo; afinal, o cara nem está por lá (nem em lugar algum) e a bagunça toma conta de tudo. É quando ela encontra Natascha numa festa e a menina a convida para pousar no quarto do pai, já que ele passa mais tempo longe com a namoradinha do que em seu próprio lar. Em algum momento, os quatro vão parar na casa de campo de Igor. E a filha desse, já cúmplice da nova amiga, projeta o romance da professora com o pai.

Dito assim, parece apenas mais um enredo de novela, ou de filme de Woody Allen (aliás, em cartaz na cidade com o seu “Golpe de Sorte em Paris”). Rohmer, porém, se afasta de qualquer possível comparação pela força que imprime nas situações que costumam encenar. No ímpeto de querer ver o pai atracar-se com Jeanne, o que até acontece, Natascha arma situações e lança desconfiança sobre Ève ante o desaparecimento de um colar. A professora embarca no imbróglio, Igor fica hesitante, a namorada aceita a disputa, a filha vibra.

Mas, nessa história, como Rohmer a conta, cada desdobramento vai esgotando a dimensão de folhetim e encorpando seu caráter mais reflexivo. A filosofia, latente o tempo inteiro, ganha lugar de destaque em vários momentos. Num deles, com os quatro à mesa, a namorada e a paquera entram em divergência.

Mantêm a elegância e a informalidade enquanto comem e conversam sobre a compreensão da filosofia segundo a visão individual de cada um. Ève, que está enredada em uma monografia sobre o tema, apresenta certezas inabaláveis.

Jeanne defende que, mais que os conceitos de Platão ou Spinoza, precisa estimular nos alunos (de classe proletária) a autonomia do próprio pensamento e o amor próprio. Uma ataca com “metafísica”; a outra devolve com “filosofia transcendental”. Tudo isso regado a Kant, Husserl. No fundo, dão a impressão de estar falando de si mesmas e da responsabilidade de cada um ali pelos próprios atos. Pai e filha vão se entreolhando e o espectador, também olhando para dentro de si, conversa com os seus próprios borbotões, reflete, exulta.

É nesse movimento, de deslizar o conteúdo da trama, para a sensibilidade e o pensamento de quem acompanha a narrativa que Éric Rohmer demonstra sua argúcia de pensador da natureza humana - até que ponto somos, de fato, responsáveis por nossos próprios gestos? - e sua alta capacidade de colocar os elementos da representação a favor desta operação, tão agradável quanto arriscada, de nos levar à observação interna, repassando atos e desejos com rigor, mas sem julgamentos. Será tudo isso possível numa primavera? Para Rohmer, sim.

Diálogo

Confira a coluna Diálogo na íntegra, desta quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Por Ester Figueiredo ([email protected])

26/09/2024 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Arthur Schopenhauer filósofo alemão

A honra é, objetivamente, a opinião dos outros acerca do nosso valor e, subjetivamente, o nosso medo dessa opinião”.

 FELPUDA

A rádio-peão está igual poeira, ou seja, permanece no ar, para o deleite de alguns servidores estaduais, que só faltam comemorar quando o assunto é a provável saída de secretários. Enquanto alguns “barnabés” imaginam quais serão as figuras que “pegarão o caminho da roça”, e por conta disso são só sorrisos, outros andam cabisbaixos e fazendo figa, temerosos que só de perderem a boquinha com a saída dos atuais titulares dos órgãos. O tempo dirá...

Solas

Na próxima semana, de 28 de setembro a 5 de outubro, período que antecede o dia das eleições, os deputados estaduais estarão gastando as solas das botinas nos municípios do interior.

Mais

As sessões foram suspensas, conforme decisão votada no dia 24, e os parlamentares estarão dando a última cartada para tentar alavancar candidaturas de prefeitos e de vereadores.

DiálogoDivulgação/ 

O Tribunal Regional Eleitoral do Ceará concedeu o título de embaixadora da acessibilidade da Justiça Eleitoral daquele estado a Marina Timbó, primeira mesária cearense com síndrome de Down. Mais de 1,45 milhão de eleitores com deficiência poderão votar nas eleições municipais de outubro. Esse é o maior número registrado nos últimos anos para esse grupo do eleitorado.

DiálogoWilson Loubet e Fabíola Pithan- Studio Vollkopf

 

DiálogoZoroastro Coutinho Neto e Ana Carolina Pires de Rezende Coutinho- Studio Vollkopf

Frigideira

Embora o governador Eduardo Riedel tenha sinalizado que não pretende trocar o secretário de Saúde, o processo de “fritura” está em andamento, mas em outra praça. Deputados estaduais, a maioria da base aliada da administração tucana, criticaram a falta de medicamentos e a precariedade no atendimento aos pacientes com câncer. Foram pronunciamentos acalorados, com direito até a frases de efeito, em alguns momentos.

Hora H

O presidente da Comissão Permanente de Saúde, deputado Lucas de Lima (PDT) aproveitou para convidar os colegas a participarem da audiência de prestação de contas daquele órgão estadual. Será, segundo ele, a oportunidade para as devidas cobranças. O encontro será realizado hoje (26), às 14h, no plenarinho. Há quem aposte que nenhum dos queixosos deverá comparecer. A conferir.

Crescendo

A Fiocruz informou que o novo Boletim InfoGripe, divulgado dia 19, destaca que os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) por Covid-19 mantêm a curva de crescimento e de ampliação no País. A atualização mostra aumento em Mato Grosso do Sul, no Distrito Federal, em Goiás, no Rio de Janeiro e em São Paulo.  A análise é referente à semana epidemiológica 37, período de 8 a 14 de setembro, e tem como base os dados inseridos no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe).

 

ANIVERSARIANTES 

Marcelos Antonio Arisi, 
Lázara Lessonier, 
João Roberto Giacomini, 
Mirian Fonseca Ferro,
Marcelo Silva Boza,
Cesar Rezende da Silva,
Dahoud Robban,
Justina Conche Farina,
Marcos Fernando Herradon,
Maria José de Oliveira,
Sylvio Shojin Fukuchi,
Maria Lúcia Barbosa Ribeiro, 
Bartolomeu Ortega Garcia,
Gilson Chacon Marroni,
Leandro Gregório,
Maria Eva Ferreira Espinosa,
Dirceu Júnior Tonietti de Almeida, 
Elísio de Deus Santos,
Carlos Américo Grubert, 
Daniela Longo Garcia,
Samária Rosa de Souza,
Rosemary Gaúna de Oliveira Medeiros,
Adriana Aquino Ratier, 
Mariella Mamede Duarte, 
Dra. Leide Célia Ottoni Nunes Toniasso,
Dr. Wilson Girão,
Gilberto Coelho Ferreira,
Pamella Rodrigues Vieira,
Sandra Marques Fernandes,
Fénelon Rafael Pires, 
Francisco Silva de Freitas,
Ana Soledade Alcova Campos, 
Aparecido Alves das Neves,
Marcela Correa Peixoto de Azevedo,
Nadir Pereira Borges,
Gilvan Guilherme Carvalho,
Emile El Saddi,
Jucileide Flôres Baldo,   
Lair Paes Camargo,
Marlei Biazetto,
Fabiane Biazetto,
Fabricia Biazetto,
Nilson Gomes Azambuja,
Regina Maria Rondon,
Teldo Kasper Filho, 
Marcelo Borges,
Dirce Arakaki,
Carmem Oliveira,
João Carlos de Andrade,
Dauth de Almeida Filho,
Nadia Daniani Guenka,
Vilma Hebeler Lopes,
José Celso Garcez,
Ana Maria dos Passos Azevedo,
Eliane Teixeira Ramos,
Marília Rocha Franco Lopes,
Enildo Nantes Martins,
Ramona Garcia da Silveira,
Tânia Mara Elias,
Eliana de Carvalho Vieira,
Tânia Espíndola,
Mário Jorge Duarte,
Maique de Oliveira,
Juvenal Mota Rodrigues,
Aristeu Pereira Patrocinio,
Carlos Augusto Molina,
Dalila Bárbara Suffiatti Frozza,
Cintia Fukuchi Soken, 
Danilo Monte Negro,
Nair Neres da Costa Leite,
Jeferson Rodrigues Pinheiro,
Regina Maria Horta Barbosa 
de Oliveira,
Luiz Renê Goncalves do Amaral,
Adilce Viegas de Araújo,
Gisele Gomes Coutinho,
Lucas Teodoro Siqueira de Jesus,
Silvania Reani Rodrigues 
de Carvalho,
Cipriano Santos Lopes, 
José Cleide Vargas,
Ângela Maria Gavira Lahoud,
Francisco Vieira de Castro Neto,
Neuza Feico Kikuchi Kaneki,
Waldyr Ribeiro Soares,
Edmar Fernando de Figueiredo Cruz,
Francisca Tércia Taveira,      
Ana Picolini do Prado Gouvêa,
Laissa Fernanda Loureiro,  
Aline Joana Linhares Gurski,
Leonardo de Pina Bulhões 
Di Giorgio,
Juliano da Cunha Miranda,
Atos Pessatto,
Meline Paludetto Pazian,
Otília Kreutzer Brito,
Jorge Luiz Arguello,
Antônio Marcos Moura Delmondes,
Cristiane Bukalil de Matos Coelho,
Daniela Wagner, 
Diego Goulart Wyder Herradon,
Gil Dutra de Andrade,
Maria José Nunes Franco,
Gilmar Miguel Bottan,
Juliana Duarte Lucas Facincani,
Leandro César Ferreira,
Giuliano Corradi Astolfi,
Beatriz Bernadete Gusso,
Gelvânia Estigarribia Marques.

 

Cinema

Filme brasileiro que disputa vaga no Oscar estreia em 7 de novembro

"Ainda Estou Aqui" retrata o período da ditadura militar com Fernanda Torres e Fernanda mOntenegro interpretando o mesmo papel

25/09/2024 10h15

Cena de

Cena de "Ainda Estou Aqui" Reprodução

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O filme "Ainda Estou Aqui", escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional, ganhou data de estreia no Brasil. A produção será lançada nos cinemas de todo o país em 7 de novembro de 2024. 

Inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, o filme aborda a história real da família Paiva, que enfrentou uma mudança drástica após um ato de violência política. O enredo destaca Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, que precisa reconstruir sua vida ao lado dos cinco filhos após o desaparecimento do marido, Rubens Paiva, um importante ativista político durante o regime militar no Brasil.

O elenco de "Ainda Estou Aqui" inclui grandes nomes do cinema brasileiro, como Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro, o que reforça o apelo da obra tanto para o público quanto para a crítica. A produção está entre os grandes lançamentos nacionais de 2024, e sua seleção para o Oscar aumenta a expectativa sobre o filme.

Além de ser uma forte candidata a ganhar destaque no cenário internacional, a adaptação cinematográfica coloca em evidência questões históricas e emocionais da ditadura militar no Brasil, um tema recorrente na obra de Marcelo Rubens Paiva.

Com direção de Walter Salles, o filme promete atrair a atenção não só pela relevância política, mas também pela qualidade artística, sendo uma das principais apostas brasileiras para o Oscar nos últimos anos.

Confira o trailer do filme:

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