O circuito das artes plásticas vai, aos poucos, reagindo ao recesso forçado pela pandemia e retoma, dentro do possível, a agenda de eventos que seguia paralisada há tantos meses. Para os artistas de Mato Grosso do Sul, a temporada de retorno promete bastante, com chances promissoras de visibilidade fora do País.
A novidade parte, desta vez, da Galeria Mara Dolzan. Convidada a representar o Brasil na 13ª edição da Bienal de Arte de Roma, a galeria escolheu o “Santo Sudário”, acrílico sobre tela de Ary Jr., para expor no Museo Stadio di Domiziano, localizado na Piazza Navona, centro histórico de Roma.
A mostra envolve trabalhos de 30 países e estará aberta à visitação de 12 a 21 de setembro. Por causa da Covid-19, buscando evitar aglomeração, a Bienal foi dividida em dois módulos. O segundo módulo, de 14 a 23 de novembro, põe em evidência Mariano Chelo, Gina Tondo e Marco Vigo, entre outros nomes.
Esta é a primeira vez que a Biennale d’Arte di Roma será realizada no antigo sítio histórico, onde antes havia um estádio erguido pelo Imperador Domiziano, no ano 86 da era cristã.
Trata-se também de uma dupla estreia – artista e galeria – para a arte sul-mato-grossense, destaca Mara Dolzan, graças ao convite da marchand Livia Bucci, representante da Bienal e outras mostras italianas no Brasil.
“Pela primeira vez, a direção do evento faz o convite para uma galeria, isso é uma coisa rara”, comemora a galerista, que já confirmou presença na Bienal e planeja mais duas exposições na Itália em 2021.
O “Santo Sudário”, de Ary Jr., que explora tons de azul em uma tela de 150 cm por 100 cm, está depositado em Roma desde o mês de junho. Nascido em 1962, em Ponta Porã, o artista começou a pintar por conta própria, aos 13 anos, e teve uma formação inicialmente autodidata.
Começou a expor em 1978 e participou, entre outras mostras, da coletiva de 10 artistas locais em Tóquio (1996), do Salão de Artes MS de 1999 e da OFF Bienal 2006, no Mube de São Paulo. Antes de explorar a arte abstrata, teve aulas de figurativo com o pintor e desenhista Masahiko Fujita.
“Ajoelhado ou em pé, debruçado sobre a tela, Ary Corrêa Jr. cria um universo em que cores livres de limites asfixiantes atingem a plenitude”, escreve o curador Carlos Von Schmidt sobre o artista, em um portrait de 2003.
“No conjunto mais recente de suas obras, o pintor dá livre curso à sua imaginação, acentuando sobre a dinâmica da forma e da luz e direcionando-se para uma abstração que se diferencia a cada uma de suas criações.
Em alguns casos, seus quadros poderiam ser definidos como uma pintura de transição feita com liberdade instantânea e passagens velozes, quase sem limites e sem submissão a regras externas.
O seu imediatismo e seu afastamento a todo e qualquer formalismo constituem um chamamento a uma total liberdade criativa”, observa o crítico Emanuel von Lauenstein Massarani.
Em 2021, tem mais
“Escolhi o Ary porque é nosso exclusivo e é nosso. É local”, diz Mara Dolzan.
A galerista prevê um aumento no interesse pelo trabalho do artista depois da exibição em Roma, que não deverá viajar para a capital italiana. Mas ele voltará a expor no país em maio de 2021, novamente sob a iniciativa da Galeria Mara Dolzan, na Basílica de São Paulo, Cidade do Vaticano.
“Desta vez, levarei três artistas daqui e uma do Rio”, conta Mara.
Além de Ary Jr., serão comissionadas pela galeria três artistas mulheres. Thetis Selingardi e Karla Zahran são veteranas de Campo Grande.
A carioca Paula Klien nasceu em 1968 e iniciou a carreira nos anos de 1980. Dedica-se à fotografia e experimentos com água e outros materiais. Pintando, fotografando ou arriscando procedimentos, Paula Klien participou de mostras nos EUA, na Alemanha e na Itália. Aliás, esteve em 2012 na Bienal de Roma.
Mara Dolzan deve confirmar, nos próximos dias, a presença de sua galeria em mais uma exposição na Itália, prevista para o segundo semestre de 2021. “Será novamente em Roma, no Pantheon”.