Manga, pitanga, acerola, amora, araçá, goiaba, limão, jaca, seriguela, caju, jambu, jamelão. São muitas as espécies frutíferas disponíveis em ruas, avenidas, parques e praças de Campo Grande. E não se trata daqueles “pés de árvore” de usufruto proibido, do lado de dentro dos muros ou grades, apenas com a copa e os galhos das espécies pendendo para fora dos limites privados das propriedades.
A oferta dessa verdadeira “salada de frutas a céu aberto” aparece, sem dificuldade, em locais públicos de várias regiões da Capital Morena, como, por exemplo, ao longo da Avenida das Bandeiras ou da Avenida Mato Grosso, no Parque dos Poderes, na Vila Rosa Pires, no Carandá Bosque ou no Santa Fé. Praticamente em toda a extensão da cidade é possível ver – e degustar! – uma ampla variedade de frutas, e, muitas vezes, são os moradores os responsáveis por semear e cuidar das espécies.
É uma produção, de certo modo, espontânea de alimentos naturais que revela um potencial e tanto de trabalho para a Gerência de Fiscalização de Arborização e Áreas Verdes, ligada à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Sustentável (Semades), e outras instituições do poder público ou privado, como as universidades, ou do terceiro setor. Não se sabe o número estimado de espécies e muitos menos quantos exemplares crescem no solo dos espaços públicos de Campo Grande, que, além de alimentarem vários animais, dão de comer a muita gente.
FARTURA DO DF
Uma iniciativa recente do Distrito Federal dá o exemplo e pode servir de inspiração para projetos similares por aqui. Brasília abriga um grande pomar a céu aberto, com mais de 950 mil exemplares de árvores frutíferas de 35 espécies. A partir dessa diversidade de recursos naturais, a estudante de nutrição Camila Faeda, do Centro Universitário de Brasília (Ceub), buscou identificar o pomar urbano como aliado no combate à insegurança alimentar da população vulnerável.
O resultado da pesquisa surpreendeu e permitiu constatar: com práticas simples, como o aproveitamento integral de frutas, o Distrito Federal pode combater a insegurança alimentar e se tornar referência em nutrição sustentável. Nas superquadras da capital federal, é possível colher, em diferentes épocas do ano, frutas como abacate, acerola, açaí, amêndoa, amora, cajá-manga, caju, carambola, goiaba, graviola, jaboticaba, jambo, jamelão, jaca, manga, nêspera, pitanga, pitomba, romã, tamarindo, uva-do-pará, araçá, baru, cagaita, cajá, ingá, jatobá e pequi.
Já no Parque da Cidade podem ser encontradas espécies adicionais, como limão, jenipapo e oiti. Focada no aproveitamento integral desses alimentos, com o uso de partes não convencionais como as cascas, a pesquisadora testou a aceitação e a viabilidade do consumo de ingredientes sustentáveis e acessíveis.
O PODER DA MANGA
“Ao incorporar ingredientes ricos em nutrientes, evita-se a compra de produtos industrializados ou suplementos mais caros. Para famílias vulneráveis, onde cada real faz diferença, transformar resíduos em refeições nutritivas é uma estratégia para garantir alimentos acessíveis e combater o desperdício”, destaca a pesquisadora.
A partir da análise de literatura e experiência sensorial com uma das frutas presentes nos locais públicos da cidade, a escolha da manga se deu pela abundância em Brasília e pelo alto valor nutricional e a versatilidade em receitas culinárias. “As mangueiras espalhadas pela capital fornecem um recurso alimentar riquíssimo, mas que muitas vezes é subutilizado”, alerta Camila.
Após a escolha do fruto, foi desenvolvida uma receita de bolo de casca de manga para a experiência sensorial de degustação para voluntários adultos de 20 anos a 60 anos. Essa etapa consistiu em desenvolver uma receita simples, facilitando a adoção e a promoção de alimentação mais saudável e sustentável para famílias de diferentes contextos. “O bolo oferece fibras, antioxidantes e compostos que beneficiam o organismo. A ideia foi criar uma receita composta por ingredientes baratos e fáceis de encontrar. São todos disponíveis em cestas básicas”, afirma a estudante.
Segundo Camila, a aceitação positiva do bolo de casca de manga sugere que tais práticas não só são viáveis, mas podem ser bem recebidas pela comunidade e implementadas em políticas públicas no combate à fome. “Com práticas simples, como o aproveitamento das cascas de manga, a região não só pode combater a insegurança alimentar, mas também se tornar referência em nutrição sustentável, inspirando outras regiões a fazer o mesmo”, frisa a pesquisadora.
FRUTOS NO FRONT
Para expandir o impacto da pesquisa, Camila Faeda afirma ser essencial promover, por meio de políticas públicas, oficinas culinárias gratuitas, ensinando famílias a usar partes não convencionais dos alimentos. “Programas escolares podem integrar o tema em atividades e merendas, sensibilizando as novas gerações. Campanhas educativas podem destacar os benefícios nutricionais e econômicos dessas práticas. Já parcerias com supermercados e feiras livres podem oferecer alimentos que seriam descartados a preços acessíveis”, reforça a pesquisadora.
Para Paloma Popov, orientadora do projeto e professora de nutrição do Ceub, a metodologia utilizada é adaptável a diferentes contextos urbanos, ou seja, em outras cidades com diversidade de espécies frutíferas. “É importante identificar os alimentos mais comuns em cada região. Por exemplo, onde a manga não é comum, cascas de banana, sementes de abóbora ou talos de vegetais podem ser alternativas”, propõe a orientadora.
Bolo de casca de manga
Ingredientes
- 250 g de casca de manga (1 unidade);
- 150 g de polpa de manga (1 unidade);
- 240 g de farinha de trigo (2 xícaras);
- 200 g de açúcar (1 xícara);
- 120 ml de óleo vegetal (½ xícara);
- 240 ml de leite (1 xícara);
- 100 g de ovos (2 unidades);
- 10 g de fermento em pó (1 colher de sopa).
Modo de Preparo
Preaqueça o forno a 180°C e unte uma forma de bolo.
No liquidificador, bata as cascas de manga com o leite e o óleo até obter uma mistura homogênea.
Em uma tigela grande, misture a farinha de trigo e o açúcar.
Adicione a mistura seca à polpa de manga e às cascas batidas, mexendo bem até incorporar todos os ingredientes.
Adicione os ovos à mistura e mexa até obter uma massa lisa.
Por último, acrescente o fermento em pó e misture delicadamente.
Despeje a massa na forma untada e leve ao forno por cerca de 35minutos a 40 minutos, ou até que um palito inserido no centro do bolo saia limpo.
Deixe esfriar antes de desenformar e servir.


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