O que está "contra" Fernanda é o pouco alcance internacional de filmes não falados em italiano, espanhol, francês ou inglês, que ficam muito restritos para o público americano (em geral, avesso às legendas).
Fernanda Torres – merecidamente – arrancou na frente na corrida da temporada de premiações com uma vitória nem tanto inesperada, e ultra importante. O que ela significa para o Oscar? Assim como ela, sentimos algumas surpresas (Jodie Foster, estou pensando em você) dão alguma perspectiva para os Emmys também. Vamos ao recap e aos palpites?
Um quarto de século e “A prova de que a arte permanece ao longo da vida”
Tirando todo “patriotismo” de comportamento viralata aos que resumem “a vitória do Brasil”, o reconhecimento de Fernanda Torres nos Estados Unidos é sem dúvida emocionante porque embora seja filha de uma lenda, ela mesma é icônica. “Nanda”, como os amigos dela a chamam para diferenciar de sua mãe, “Fernandona”, é a mais bem sucedida (em termos de prêmios) das atrizes brasileiras com alcance internacional, sem jamais ter dado uma pausa ou focado em mudar de país para ganhar maior fama ou ampliar horizontes artísticos.
Isso não é crítica aos que estão em Hollywood, mas um fato. Fernanda ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes quando ainda tinha 20 anos, em 1986, mas ficou no Brasil circulando entre TV, Teatro e Cinema, construindo um legado sólido e tão importante quanto o dos seus pais famosos. Seu trabalho em Ainda Estou
Aqui é unanimidade e se ela tinha uma chance de repetir os passos de sua mãe 25 anos depois, vencer no Globo de Ouro (onde Fernanda Montenegro perdeu), era vital.
Walter Salles viveu duas realidades que são paradoxalmente semelhantes e opostas. Em 1999, Central do Brasil ganhou como Melhor Filme Estrangeiro, apesar da presença e empenho de Harvey Weinstein de emplacar suas produções e artistas.
Havia o fenômeno A Vida É Bela, mas “Brasil bateu a Itália” na imprensa estrangeira. Na categoria de Atriz, Fernandona perdeu – no Globo de Ouro – para Cate Blanchett em Elizabeth, sentimos na época mas hoje é razoável.
Em 2025, Walter volta à premiação sendo interrompido pelo fenômeno que é Emilia Perez, e “Brasil perdeu para França” na categoria de filme, meio que dando uma esfriada em quem não prestava atenção. Nicole Kidman era a favorita, Angelina Jolie era forte, mas Fernanda tinha tudo para vencer:
Nicole está meio que “super exposta” e Angelina não arrasou como Maria Callas. A corrida pelo Oscar agora tem maior peso no nome de Demi Moore por A Substância que reúne as fórmulas irresistíveis de Hollywood e fez um discurso histórico e emocionante. E Fernanda? Tem tudo agora para estar entre as indicadas.
Para os que vêem em Fernanda Torres vencendo como uma resposta às derrotas de Fernanda Montenegro vale lembrar que em 25 anos muita coisa mudou em Hollywood. As chances de uma estrangeira vencer – na época – eram ainda menores do que as de hoje.
Fernanda ao lado da mãe Fernanda Montenegro - Divulgação Ainda mais em um filme estrangeiro e falado em português. Por isso, o carinho, a inteligência e a educação da atriz foram um show de classe e merecimento. “Quero dedicar este prêmio à minha mãe. Vocês não fazem ideia… Ela esteve aqui há 25 anos. Isso é uma prova de que a arte permanece ao longo da vida, mesmo em momentos difíceis, como os que Eunice Paiva enfrentou.”
O que está “contra” Fernanda é o pouco alcance internacional de filmes não falados em italiano, espanhol, francês ou inglês, que ficam muito restritos para o público americano (em geral, avesso às legendas). Ela está de fora das finalistas de outros prêmios como o BAFTA e dos Críticos, mas quem sabe entre os atores foi diferente?
Amanhã sai a lista do SAG Awards, essa sim um sinal do que vai parar no Oscar. E, essa vitória, em plena época de votos para os indicados da Academia coloca Demi Moore e Fernanda Torres entre as cinco melhores. A terceira vaga certamente é de Nicole Kidman. Será que Angelina Jolie e Tilda Swinton garantem suas vagas? Não aposto muito e nenhuma das duas ganhou força…
Parabéns Fernanda, foi muito lindo.
Uma festa que ainda precisa de ajustes
O Golden Globes passou por mudanças nos últimos anos, tanto nos bastidores como no palco. Em termos de ‘formato’, ainda é longo, mas excluiu a transmissão de algumas categorias que poderiam estender mais a duração, como o Cecil B Demille e o Carol Burnett Awards, tampouco fez homenagem aos mortos. Fizeram falta? Tenho dúvidas.
A apresentadora Nikki Glaser herdou uma função difícil, mas em geral teve um desempenho positivo. Fez piadas “quase” perigosas, mas com tato e agilidade para não criar embaraço. Não expôs nem intimidade com as estrelas ou se mostrou intimada por elas. Fez o suficiente para ser um dos pontos altos da transmissão.
A atriz Demi Moore - Divulgação A posição das câmeras e o fundo das mesas como cenário ainda gera estranhamento. Os apresentadores ficam de costas para parte da platéia, muitas vezes de costas para os indicados. Isso é ruim. E o formato de dupla fazendo piadinhas entre eles é tão antigo como essas festas, raramente tendo alcançado o efeito desejado. Melhor se fossem direto ao ponto.
As zebras da noite
Para os Emmys teremos algumas possíveis surpresas. Os prêmios de Bebê Rena e Shogun são ainda o reflexo do sucesso dessas séries em 2024 (elas foram lançadas depois da premiação do ano passado) mas a vitória de Jodie Foster deixou muita gente indignada. Eu mesma e porque esqueci que ela é f********* Jodie Foster, maravilhosa em tudo o que faz, e que já tinha levado o Emmy!
Isso não tira a chance de Kristin Millioti (Jodie estará fora do páreo porque True Detective não estará elegível), mas nos lembra que embora a série tenha sido considerada apenas razoável, o efeito Foster sempre se aplica.
No campo dos atores, Ralph Fiennes está perdendo espaço para a unanimidade que Adrien Brody e O Brutalista vêm ganhando. Dos 10 filmes para o Oscar, quatro estão definidos: O Conclave, Wicked, Emilia Perez e O Brutalista. A maior disputa estará mesmo na categoria de Melhor Atriz.
Antes de ir, vamos falar do karma de The Bear? A série febre dos últimos três anos virou febre, ganhou tudo, mas despertou polêmica por estar na categoria errada. A série definida como comédia, tirou a onda de crescimento de Abbot Elementary, nunca deu chance para Only Murders in the Building e só foi interrompida por Hacks, ela mesma uma série dramática mas sobre comédia e com momento (desde o início) cômicos.
Com isso, quem sofre são os atores, todos brilhantes mas a cada premiação que se passa, pagando a conta. O único que ainda se mantém na liderança é Jeremy White Allen, mas até ele vai começar a sentir uma rejeição.
Assim, o Golden Globes 2025 foi bem mais positivo do que seus últimos anos, sinalizando uma retomada interessante de prestígio, surpresas e influência na indústria. Uma ótima notícia para abrir o ano!