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Capa B+: Em entrevista exclusiva o ator Velson D'Souza fala sobre seu retorno ao SBT após 13 anos

Após voltar ao Brasil para dar vida a Silvio Santos no teatro, o ator volta também a integrar o time da emissora com papel de destaque em "A Infância de Romeu e Julieta", nova novela de Íris Abravanel.

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Com uma trajetória toda entrelaçada com o SBT e a família Abravanel, o ator Velson D’Souza se orgulha de ter a emissora de Silvio Santos por trás de muitos de seus trabalhos.

O artista, que começou profissionalmente nos palcos sob a direção da filha nº1, Cíntia Abravanel, no antigo Teatro Imprensa, e dividindo cena com o amigo Tiago Abravanel em espetáculos como ‘Avoar’ e ‘A Sessão da Tarde ou Você não soube me amar’, acabou conquistando seu espaço também na TV, nas primeiras novelas de Íris Abravanel, para onde retornou após 13 anos com “A infância de Romeu e Julieta”, inspirada na obra de William Shakespeare e recém estreada na TV aberta e no streaming.

Depois de viver o próprio Silvio Santos na comédia musical “Silvio Santos Vem Aí’, motivo pelo qual aceitou retornar ao Brasil após 10 anos de morada nos Estados Unidos, ele encara agora o desafio de dar vida a Fred, seu novo personagem nesta que é a primeira produção do SBT em coprodução com o Prime Video.

“Voltar de fato ao SBT, depois de 13 anos, é um tanto quanto surreal. Eu não sei nem explicar a felicidade que tenho de estar de volta. Estou encontrando pessoas que não via todo esse tempo, que me conheceram quando eu era um garoto, desde quando fiz minha primeira participação em novela, ‘Cristal’ (2006), que aliás, o SBT reprisou recentemente, e também conhecendo muitas pessoas incríveis agora. Eu me sinto em casa lá, e sempre fui tratado como um membro da família. Todos da família SBT criam um ambiente muito gostoso, acolhedor, confortável de trabalhar, e isso faz uma diferença incrível”, celebra. 

Ainda em fase de gravação, Velson se anima com cada novidade no roteiro, repleto de capítulos que considera divertidos e dinâmicos, e que destaca como um ponto alto do projeto, pelos diversos temas relevantes a serem abordados ao longo da trama, prevista para durar dois anos, como inclusão e diversidade, e que acredita serem um diferencial dentro da teledramaturgia brasileira, considerando que tudo vem sendo pensado para comunicar especialmente com crianças e jovens. "Tratar desses temas para um público em formação, é fundamental”, reflete ele, que tem conquistado fãs de todas as idades. 

Velson interpretando Silvio Santos no Teatro - Foto: Andy Santana

Mas antes mesmo que a estreia acontecesse, o artista já pôde ser visto no time de celebridades do Bake Off Brasil Mão na Massa, reality culinário do SBT apresentado pela chef confeiteira Beca Milano e pelo chef Carlos Bertolazzi, onde testou suas habilidades na cozinha em desafios até então, inimagináveis - e se superou em vários programas, chegando inclusive a conquistar o avental de Mestre Confeiteiro - na mais recente temporada da atração, comandada também por Nadja Haddad.

E entre muitas receitas de doces e gravações da novela, o artista encontrou ainda um tempo para revisitar o divertido texto do musical “Silvio Santos Vem Aí”, produzido pela Paris Cultural e responsável por trazer o artista de volta ao país, bem como ao seu universo cultural.

Escolhido à convite para dar vida ao dono da emissora que têm, carinhosamente, como uma segunda casa, Velson esteve à frente de todas as temporadas do espetáculo, incluindo as quatro apresentações especiais realizadas no último mês de abril.

Por sua interpretação, desprendida de qualquer imitação caricata, e capaz de conquistar o aval de todo clã Abravanel, recebeu indicações de Destaque Ator no Prêmio Destaque Imprensa Digital e também de Melhor Ator no Prêmio Bibi Ferreira, os dois mais importantes do gênero no país.

Outra atividade que vem ocupando parte do tempo do artista, em paralelo ao cronograma de gravações e ensaios, é a de empresário e arte-educador, função dupla que desempenha no seu Espaço Co.Lab, localizado em São Paulo, e tocado em sociedade com Daniela Stirbulov; é neste “palco” que ele ministra aulas de interpretação para atores profissionais e jovens atores iniciantes, abordando técnicas especiais que foram aprendidas no seu mestrado, em Nova York, focado em TV e Cinema, e das quais não abre mão de aplicar em nenhum de seus trabalhos, incluindo os atuais e os que deseja realizar em breve, tanto nos palcos como no audiovisual.

Velson é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Osmar Lucas - Diagramação/Capa: Denis Felipe e Denise Neves

CE - Você está de volta ao SBT, como funcionário, após 13 anos. Qual é a sensação?
VS - 
Voltar ao Sbt depois de 13 anos é um tanto quanto surreal. Eu não sei nem explicar a felicidade que tenho de estar de volta.

Estou encontrando pessoas que não via todo esse tempo, que me conheceram quando eu era um garoto, desde quando fiz minha primeira participação em novela, Cristal (2006). Aliás, o SBT reprisou essa novela há pouco tempo. Eu me sinto em casa lá, e sempre fui tratado como um membro da família.

Foi muito gostoso retornar e ser tão bem recebido pelas pessoas que estão lá desde quando iniciei, e também pelas pessoas que estou conhecendo agora. O clima é muito gostoso. Todos da família SBT criam um ambiente muito acolhedor, confortável de trabalhar, e isso faz uma diferença incrível. 

CE - Você fez parte das primeiras novelas de Íris Abravanel e agora retorna para sua nova produção. Como acha que será essa nova experiência, considerando as anteriores?  O que acha que será mais diferente?
VS - 
Desde 'Revelação' eu já amava o texto escrito pela Íris e sua equipe, e com esse não foi diferente. Os capítulos são incríveis, divertidíssimos, dinâmicos, muito, muito bons. Essa novela tem falado e ainda vai falar sobre algumas questões muito importantes para a nossa sociedade, como a inclusão e diversidade, que serão um divisor de águas na teledramaturgia brasileira.

E é maravilhoso que isso seja dito para o público infantil. Apesar de que acredito que não são somente os jovens que estão se identificando com essa história. Mas tratar desses temas para um público em formação, é fundamental. E eu me sinto honrado como artista de poder fazer parte de um projeto tão importante quanto esse. 

O que acaba sendo mais diferente para mim, é o fato de que estou mais experiente, afinal, agora "sou pai" né haha - na ficção, mas não somente nessa questão. Eu amadureci muito como ator e como pessoa, e minha forma de ver o mundo é bem diferente atualmente. Acho que tudo acaba pesando no dia a dia das gravações. Mas há algo que não tem como deixar de dizer: esse é meu primeiro papel cômico na televisão. Eu amo fazer comédia, e fiz muito no teatro. Porém, em todas as novelas que fiz no SBT, os papéis puxavam para o lado do drama. Já o Fred… 

Velson no Bake Off Brasil - Foto: Divulgação SBT

CE - Fale um pouco sobre o Fred e sua trama.
VS - 
O Fred é tio do Romeu. Ele é casado com Gláucia, vivida por Karin Hils, que é irmã de Bernardo, pai de Romeu. Ele é um homem que evita conflitos, está sempre tentando agradar ao sogro, Leandro, conquistar a confiança, o que muitas vezes o leva a dizer ou fazer coisas sem muito "filtro" (risos).

CE - Sobre a construção do personagem, o que buscou para compor o perfil/personalidade dele? Possuem semelhanças e diferenças que se destaquem?
VS -
 Eu acho que o Fred é muito do bem, tem um bom coração e quer o bem dos outros. Isto, somado ao fato dele evitar conflitos, são as coisas que mais temos em comum. A parte da bajulação já é o oposto… eu odeio bajulação ou pessoas que puxam saco sabe? Ou aquelas pessoas que ficam buscando validação ou aprovação a todo custo. Mas, claro que sempre tem alguém que a gente busca a aprovação na nossa vida, e eu tento usar esse meu lado e só amplificá-lo para compor essa característica peculiar do Fred. 

CE - Na trama seu personagem tem família formada e é pai de dois filhos, uma vivência que você ainda não tem. Como tem sido essa experiência? É algo que planeja para sua "vida real"?
VS - 
Tem sido maravilhoso. Eu adoro os atores que são meus filhos, o Samuel e o Lukas. Eles são muito divertidos e muito inteligentes. Talentosíssimos. 
Com certeza, ter uma família está nos planos. Quero muito ser pai, mas quero esperar ainda alguns anos. 

CE - Pode-se dizer que sua carreira de ator começou com trabalhos voltados para o público infantil, em peças de teatro. Como tem sido reencontrar este público? 
VS - 
Verdade. Meu primeiro grande trabalho foi o musical infantil “Avoar”, de Vladimir Capella, produzido por Cintia Abravanel, minha madrinha no teatro, e que ficou em cartaz no Teatro Imprensa.

Trabalhei muito com teatro infantil, com a Cia da Revista fizemos o projeto “Clássicos para Menores”, apresentando Shakespeare, Moliere e Commedia Dell’Arte para crianças. Eu amo o fascínio que as crianças tem quando entram em contato com a arte.

E acho esse trabalho fundamental. É na criança que tudo começa, as grandes mudanças da sociedade. Acredito que a cultura tem um papel extremamente importante na formação do ser humano e na evolução da sociedade. E estou extremamente feliz em poder fazer parte dessa novela que falará sobre inclusão, sobre diversidade, sobre amor,  justamente para o público infantil. 

O ator no Jogo dos Pontinhos - Foto: Divulgação

CE - Há poucos meses a novela "Cristal" foi reprisada na emissora. Conte um pouco sobre como foi fazer esse trabalho. Gosta de se ver em cena?
VS -
 Faz tanto tempo que fiz ‘Cristal’ hehe, foi meu primeiro trabalho na televisão, minha primeira participação. Pra ser muito sincero, eu era muito imaturo como ator, mas foi uma experiência muito importante na minha vida. Eu me lembro de estar muito nervoso em todas as cenas que gravei haha e olha que só fiz o último mês de novela. Mas tudo tem um começo, não é mesmo? 

CE - Em paralelo às gravações da novela, você esteve na última edição no Bake Off Celebridades. Como foi essa participação? Como era/é sua relação com a cozinha?
VS -
 Eu absolutamente AMEI participar do Bake Off. Fui muito bem recebido por todos da equipe e o elenco está sensacional! Eu peguei um gosto muito grande por fazer bolos e doces. Aprendi muita coisa, me superei demais. Nunca imaginei que conseguiria fazer as coisas que fiz ali… Eu sempre cozinhei, e gosto muito, mas nunca tinha feito doces… muito menos bolos de confeitaria haha, mas levando em consideração que cheguei a ganhar até o avental do Mestre Confeiteiro, acho que posso dizer que me saí bem ao longo do processo…

CE - Qual foi o maior desafio dessa experiência?
VS - 
O maior desafio foi aprender muita coisa em um curto espaço de tempo. E as provas técnicas, que a gente teve que replicar o doce da Beca (Millano), meu Deus! Essas provas foram uma loucura!!! 

CE - Como você avalia o seu momento profissional?
VS - 
Não posso reclamar. De um ano para cá eu abri meu estúdio, o Espaço Co.Lab, onde dou aulas de interpretação para atores profissionais e jovens atores iniciantes, abordando técnicas que aprendi no meu mestrado em NY e focado em TV e Cinema.

Fiz mais uma temporada do musical “Silvio Santos Vem Aí” - que foi um tremendo sucesso e sempre pode ganhar novo fôlego. Fui convidado para participar do Bake Off Celebridades, e depois fechei um contrato para retornar à família SBT e estar nessa novela “A Infância de Romeu e Julieta”, que é mais um acerto da emissora.

Eu me sinto abençoado. Sinto que começou o tempo da colheita, e acredito que os próximos meses vão nessa mesma direção. É tempo de colher tudo que foi plantado nos últimos anos, desde o meu retorno para o Brasil.

O ator é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Osmar Lucas - Diagramação/Capa: Denis Felipe e Denise Neves

ENTREVISTA COM BIANCA

"A fauna pantaneira é a base musical das nove composições de 'Pantanal Jam'"

Cantora Bianca Bacha, da Urbem, fala como a paisagem natural de Miranda afetou o processo de criação e gravação do segundo álbum da banda, sobre a diferença entre o canto com letra e as vocalizações que são a sua marca e anuncia projetos nos EUA e Espanha

15/12/2025 11h00

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano Divulgação / Alexis Prappas

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ENTREVISTA COM BIANCA

Recuperando para o leitor: como se deu a oportunidade do encontro e da parceria com o Ryan para o projeto do álbum “Pantanal Jam”?

Conhecemos Ryan Keberle no Campo Grande Jazz Festival [em março de 2024] e com ele tivemos uma troca musical instantânea. Tocamos juntos em um show no Sesc [Teatro Prosa] em setembro de 2024 e, a partir de lá, tivemos a certeza de que ainda faríamos muita música juntos.

No Pantanal, onde Ryan esteve pela primeira vez durante as gravações, ficou nítido que ele conseguiu transpassar para o repertório o encantamento que ele estava vivendo em meio a toda aquela natureza.

É o segundo disco, nove anos depois de “Living Room”. O que “Pantanal Jam” representa para a Urbem?

Este projeto é o nosso território sonoro: onde a música que criamos se entrelaça à natureza que nos guia em forma de jam. Na música, uma jam significa um encontro musical sem aviso prévio, as coisas vão acontecer ali na hora, portanto, o inesperado é bem-vindo e, com ele, você improvisa.

Qual seria o conceito geral do álbum?

O conceito do álbum nasce da escuta profunda da fauna pantaneira. Os cantos dos pássaros, o esturro da onça e os sons das águas e dos ventos não são efeitos nem pano de fundo: são a base musical das nove composições. A natureza atua como um músico a mais na banda de jazz, dialogando conosco em frases de pergunta e resposta.

Sandro Moreno registrou esses sons in loco, mergulhando no Pantanal para captá-los com precisão. Depois, analisou esse vasto material para identificar melodias, ritmos e motivos que se tornariam a essência das composições.

E, para fechar o ciclo, o álbum também foi gravado no coração do Pantanal. Com geradores a gasolina e um estúdio móvel, nós, a Urbem e o trombonista Ryan Keberle, levamos a música para o ambiente que a inspirou. E ali criamos, novamente in loco, em plena natureza selvagem.

Que tipo de referências buscaram para os arranjos, as sonoridades e as texturas?

Toda a referência e textura do álbum “Pantanal Jam” nascem dos próprios sons do Pantanal. A imersão no território e a escuta atenta transformaram cantos de pássaros, esturros, movimentos da água e vozes da mata em matéria-prima musical.

Cada faixa traduz essa convivência direta com a fauna e seus ritmos naturais, convertendo sons de bichos em música. Viva, orgânica e profundamente enraizada na paisagem pantaneira.

Isso está bastante perceptível. Os sons e toda a atmosfera do Pantanal atravessam o mood e talvez a própria concepção dos temas. Pode comentar um pouco mais sobre essa presença de elementos da natureza – e dessa natureza tão singular de MS – na criação de vocês?

A fauna, a luz, o silêncio amplo, os ventos, os cantos e até os vazios típicos da paisagem pantaneira influenciam diretamente a forma como criamos. É como se o ambiente nos orientasse musicalmente: às vezes guiando uma melodia, às vezes sugerindo um pulso, às vezes impondo uma pausa.

Esse encontro com a natureza não é decorativo, é estrutural. Ela atravessa tudo, o gesto musical, o espírito do disco e a maneira como a banda se relaciona com o som.

No “Pantanal Jam”, a paisagem não é cenário: é presença, é voz, é parceria criativa. É música.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Onde exatamente estiveram e gravaram? E quando foi?

As gravações foram feitas na Fazenda Caiman, em junho deste ano, num cenário que não poderia ser mais inspirador. Foram escolhidas pela produtora três locações diferentes, e para cada uma delas, três músicas.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Com uma equipe ultraprofissional que trouxe segurança e leveza para uma gravação ao vivo numa condição completamente inusitada.

E quanto ao repertório? Como chegaram às nove canções do disco?

Entre as composições, temos duas músicas do Paulo Calasans [“Swingue Verdejante” e “Suspiro da Terra”], um dos maiores produtores, arranjadores e instrumentistas do País, além de duas canções do Ryan Keberle junto com Sandro Moreno [“Paisagem Invertida” e “Entre Folhas”] e cinco composições nossas [“Espiral”, “Pluma”, “Voo Curvo”, “Barro” e “Canção do Ninho”].

Penso que o Pantanal é experimentado de um jeito bem particular por cada pessoa. Como é para você? Como aquele ambiente lhe toca e eventualmente interfere no seu jeito de cantar?

Tudo ali era extremamente inspirador. Dormir e acordar naquele lugar por alguns dias já me fazia até respirar de jeito diferente, com menos pressão e mais imersão.

Isso com certeza influenciou no jeito de cantar. Porém, o mais impressionante era saber que estava gravando um disco com toda aquela fauna ao redor, um jacaré no lago ao lado e uma onça a alguns quilômetros.

Embora domine há duas décadas o canto com letra e muitas vezes cante dessa forma em apresentações ao vivo, na Urbem, você investe sempre nos vocalizes e scats.

Todas as músicas do álbum “Pantanal Jam” usam a voz como instrumento, ou seja, não há letras nas músicas. Além de ser uma característica jazzística, esse estilo de canto se aproxima mais do cantar dos pássaros, a busca por seus fonemas e emissões.

Cada música exige uma altura e um escolher apropriado de sílabas que encaixem com a afinação e a expressão.

Adoro o canto com letras. Ali você tem palavras, interpreta, coloca ênfases. É até uma emissão de voz diferente. Só que comecei a me encantar com o mundo do jazz e toda essa coisa do canto que não usa palavras, o vocalize. E comecei a ouvir cantoras que cantam assim.

Tatiana Parra [cantora, compositora e professora paulistana] canta assim, nossa, de um jeito maravilhoso. A [portuguesa] Sara Serpa também. Tem também as divas mais antigas que faziam mais questão de improviso, o scat singing.

O canto sem palavra é muito desafiador porque ele é mais cru, mostra mais imperfeições de respiração, de emissão, de escolha de sílabas. E é muito improvisado. Porque a cada dia você pode usar uma sílaba diferente, pode caracterizar de uma outra forma.

Num dia vou fazer “u”, no outro dia posso fazer “a”, no outro posso fazer “e”. E você tem que descobrir ali, numa forma você com o seu corpo. E além de ter o desafio de você demonstrar o interpretar com emoção sem ter palavras.

Então é muito jazz [risos]. E acho muito bonito. Sempre vai ser um desafio. Sou com o meu corpo, com as palavras que eu escolho, que nem sempre são pensadas.

Claro que tem uma questão técnica de que o “i” você vai mais para um agudo, no “u” também; nos graves, você vai para outras escolhas, as consoantes também interferem. Gosto muito de passear pelas duas áreas. Tanto a área da interpretação com letra quanto a área dos vocalizes e texturas.

E Nova York? Pode contar um pouco sobre a recente temporada de vocês por lá?

O “Pantanal Jam” foi lançado em novembro deste ano com um show memorável em Nova York, durante a feira internacional de turismo Visit Brazil Gallery [na Detour Gallery], e a recepção foi extraordinária.

Pessoas do mundo inteiro, agentes de turismo, diretores da National Geographic, fotógrafos de natureza e profissionais de diversas áreas assistiram ao show com atenção absoluta.

Desde a primeira música, compreenderam nossa proposta e permaneceram maravilhados até o fim. Foi um momento histórico para Mato Grosso do Sul e para a arte sul-mato-grossense.

Esse resultado só foi possível graças ao apoio total da Fundtur e do seu diretor-presidente, Bruno Wendling, que acreditou no projeto desde o início e se comprometeu a nos apoiar tanto nas etapas de captação no Pantanal quanto no lançamento em Nova York. Além disso, segue impulsionando a campanha contínua de apresentar o “Pantanal Jam” ao mundo.

E faz sentido: ouvir o Pantanal desperta o desejo de visitá-lo, conhecê-lo e preservá-lo. O projeto reúne arte, natureza, conservação, turismo e toda a beleza única do nosso bioma, uma combinação que emociona e conecta o público global ao coração do Pantanal.

Além do álbum que já está lançado em todas as plataformas, temos uma série de vídeos das nove músicas e um minidocumentário.

Quando teremos shows da Urbem? Quais os próximos passos e projetos da banda?

A Urbem se sente profundamente entusiasmada em seguir os passos de Manoel de Barros, da família Espíndola, de Guilherme Rondon, Paulo Simões, Grupo Acaba, Geraldo Roca e tantos artistas que sempre beberam dessa fonte primária que é o Pantanal, transformando-a em arte para o mundo.

Recentemente, pesquisadores de Harvard e professores da UFMS colheram sons do Pantanal [pelo projeto Pantanal Sounds, que conta, entre outros, com nomes como o do violoncelista e professor William Teixeira], e esse movimento nos inspirou a ir a campo gravar os sons pantaneiros e a fazer composições dentro da nossa linguagem jazzística, incorporando esses registros naturais ao nosso modo de compor e evidenciando em música as belezas pantaneiras.

Temos planos de retornar aos Estados Unidos em breve e estamos em diálogo com a Embaixada do Brasil em Barcelona, onde palestraremos em março.

Além disso, a Urbem participará do Campo Grande Jazz Festival de Rua, no dia 21 de dezembro [neste domingo], em uma jam session com músicos locais e de São Paulo.

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MÚSICA

Entre onças e tuiuiús, o jazz

Em parceria com o trombonista Ryan Keberle, com nove composições inspiradas na exuberância do Pantanal, URBEM lança segundo álbum; 2º Campo Grande Jazz Festival celebra o gênero na Capital, com apresentações gratuitas

15/12/2025 10h00

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno Divulgação / Alexis Prappas

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Sem dar muitos detalhes, o baterista Sandro Moreno, quando conversou comigo, em junho, sobre o álbum que a Urbem gravaria com Ryan Keberle, adiantou que o projeto seria “algo muito especial”.

Após o show – memorável, diga-se – que fizeram juntos no Teatro do Mundo, o quarteto campo-grandense – além de Sandro, Bianca Bacha (vocais), Ana Ferreira (piano), Gabriel Basso (contrabaixo) – e o trombonista norte-americano foram para a zona rural de Miranda e se instalaram na Fazenda Caiman.

Foi lá que a magia aconteceu. Na estrada desde 2013 e com apenas um álbum lançado até então, “Living Room” (2016), a banda disponibilizou “Pantanal Jam” no Spotify no dia 29 de outubro, três dias antes do show que realizaria em Nova York, em um evento na Detour Gallery que uniu arte, gastronomia e turismo para promover o Pantanal.

São nove faixas criadas e gravadas com extremo apuro e sensibilidade, que alcançam os músicos da Urbem e Ryan num ponto bem elevado de suas capacidades.

Os temas soam como se os cinco artistas tivessem se deixado abraçar pela contagiante pregnância da natureza de Miranda, e Bianca Bacha confirma isso em entrevista exclusiva.

Melodias, pulsações e andamentos foram se definindo conforme eles mergulhavam em tudo que viam, ouviam e sentiam por ali: ventos, o canto das aves, “o esturro da onça”, como Bianca relata. Ouvindo os sons naturais, captados previamente por Sandro, que assina a produção musical do projeto, cada um estabeleceu sua conversa criativa com o Pantanal.

O registro dos sons naturais – de aves, por exemplo — introduz, se mescla ou faz a ponte para uma execução instrumental (voz inclusa) coesa e deveras inspirada, que não força a barra para sorver e devolver, em forma de música, a fartura que o habitat de Miranda oferece.

“Suspiro da Terra”, doce e pulsante, e “Paisagem Invertida”, essa mais selvagem e misteriosa, são uma prova disso.

Ryan pontua, preenche ou arremata sempre com uma precisão e desprendimento envolventes. Ana, como se ouve em “Espiral”, migra da base para os solos numa transparência que comove. Gabriel – em “Canção do Ninho”, por exemplo, que começa e segue na cama dos gomos que vai colhendo ao longo do tema – parece deter a justa medida para o desempenho de seu baixo.

"Foi uma grande honra participar da criação do ‘Pantanal Jam’. Os sons da Pantanal, do modo como Sandro captou, tiveram um papel direto no processo de composição das duas músicas que fiz para o álbum.

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro MorenoRyan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas

O tom e os ritmos dos sons naturais do Pantanal, inspirados por ideias musicais e paisagens sonoras próprias, criaram um clima que eu tentei capturar nas minhas composições. Quando nós gravamos, literalmente no meio de um dos lugares mais selvagens e remotos do mundo, a beleza e a energia natural nos inspirou a ouvir a natureza e um ao outro mais profundamente, o que resultou numa performance musical que demonstra uma profunda comunicação musical.

Adoro os músicos e a música da Urbem. E, desde que tocamos juntos em diversas ocasiões anteriores, eu compus as minhas músicas especificamente com o talento e a habilidade musical especial deles em mente” - Ryan Keberle, trombonista.

Sandro é um laboratório inquieto, dos pedais aos pratos de condução. E Bianca conduz os vocais numa têmpera e numa fruição que se articula como síntese do conjunto.

Comparações e referências são uma tentação no mundo do jazz. Mas a qualquer palpite sobre “Pantanal Jam”, é melhor calar e ouvir. É um álbum estimulante para esse silêncio de dentro, que nos faculta as melhores emoções da escuta e da experiência musical.

Brazilian jazz? Jazz? Ouça. Música apenas. E quanta música! Embrenhada e revelada nos refúgios de um lugar mágico, onde a natureza se recobra e o espírito se fortalece.

A Urbem lança “Pantanal Jam” hoje, às 18h, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. Apareça.

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