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Capa B+: Entrevista exclusiva com a estilista Lethicia Bronstein

A estilista tem como missão, exaltar a moda nacional.

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Emoção maior que entrevistar Lethicia Bronstein, é sentir essa emoção por conhecer a carreira dela e saber em entrevista de sua relação com a dança. Ela não é somente uma estilista, ela é uma celebridade e unanimidade quando o assunto é moda e comportamento, inclusive fora do país. No universo das noivas, quem não quer casar com um vestido assinado por ela? 

Lethicia Bronstein é considerada uma das estilistas mais importantes do cenário fashion brasileiro há pelo menos 17 anos, quando sua carreira recebeu os merecidos holofotes no mundo da moda nacional.

Inicialmente conhecida por seus vestidos feitos à mão para festas e noivas, a carioca chegou a dedicar-se a um segmento de moda casual, de 2016 a 2023, que fez bastante sucesso durante a pandemia, mas não exatamente alimentou sua paixão pelo ofício.

Em 2024, Lethicia decidiu mudar o foco para se reconectar verdadeiramente ao que sempre a inspirou: a criação de peças exclusivas, sob medida. A ideia não é apenas reencontrar sua essência criativa, mas explorar um nicho de mercado em ascensão, formado por uma clientela específica e exigente, que valoriza o trabalho artesanal, a personalização e quer pagar por peças que duram gerações.

Seguindo tendência mundial, Lethicia e equipe também mudam o atendimento na loja da Oscar Freire, em São Paulo, passando a receber as clientes de forma reservada, pessoal e olho no olho, com portas fechadas para a rua e somente com horário marcado.

A busca por autenticidade, exclusividade e uma conexão genuína com a marca, é uma resposta direta ao desejo das consumidoras de serem reconhecidas como indivíduos, não apenas como números de vendas.

Quando se compromete com um atendimento a “portas fechadas”, Lethicia vai além da simples confecção de um vestido, oferecendo uma experiência única com peças de características singulares e foco na modelagem impecável, sexy e moderna.

Os clientes podem, muitas vezes, ter a chance de receber conselhos diretamente da designer, ajustando cada detalhe ao seu gosto pessoal e às suas preferências, o que torna a peça em obra de arte sob medida. “Num mundo cada vez mais digitalizado e impessoal, a gente quer estar perto, conhecer nossas clientes e fazer parte da vida delas”, adianta Lethicia, sobre a nova fase da marca.

Para o sucesso do formato, a estilista precisou adotar e treinar um time de atendimento especial que compartilha e transmite seus valores e visões pessoais, mantendo assim a identidade da grife e também a representando fisicamente.

Para ela, pós-pandemia as marcas de moda precisam investir em experiências, no intuito de inovar e criar conexões com as consumidoras, especialmente num momento social em que comprar peças novas acaba sendo um grande investimento, mesmo em lojas mais populares. “Eu gosto de criar peças que criem desejo nas pessoas. Uma peça que vai ser a coisa mais especial do seu guarda-roupa e não só mais uma roupa”, explica Bronstein.

Autoridade no universo dos casamentos, a estilista também conta que sentiu o mercado, nos últimos anos, relevar a importância que um vestido de noiva carrega. “A proliferação de especialistas autoproclamados, impulsionados pelas redes sociais, tem banalizado a singularidade e a importância que uma peça dessas carrega, tanto em termos de significado, quanto de criação”, explica, adiantando que segue trabalhando firme no segmento.

O foco nos bordados e no desejo das pessoas por peças com mais brilho é mais uma de suas estratégias. O bordado oferece uma conexão tangível com a herança e a identidade cultural nacional e ao associar a técnica a pedrarias, Lethicia não apenas respeita essa tradição, mas também a eleva, criando algo único que já se destacou no mercado.

Lethicia Bronstein - Foto: Glauco Epov com exclusividade para o Correio B+

Essa abordagem de combinar o tradicional com o inovador é exatamente o que a fez ficar tão conhecida no Brasil e no mundo.

Apesar de estar focada na volta do exclusivo, Lethicia conta que ainda não abriu mão de suas peças mais casuais, que seguem sendo vendidas na flagship Oscar Freire, lojas multimarcas especializadas espalhadas pelo país e também em seu site.

No entanto, ela pretende seguir um caminho mais intuitivo para a linha, que ainda terá o DNA do handmade e da alta costura, priorizando sempre materiais de qualidade.

“É uma linha para minhas clientes fiéis e para quem ainda não me conhece, mas não quero compromisso com data ou estações ao criá-la. Eu quero lançar coleções cápsulas para complementar o mix de festas que é o core da nossa exclusividade. É um casual, mas não deixa de ser especial, como tudo o que eu faço”, finaliza.

A estilista também lançou recentemente uma collab inédita com a Estrela Brinquedos e também está no Canal do Youtube compartilhando um pouco de seu propósito, desafios e aprendizados no seu longo caminho e relação com a moda. 

A estilista é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ai Caderno ela fala sobre seu propósito na moda, collabs inéditas, lançamentos e a satisfação da sua escolha na moda.

As fotos são de Glauco Epov com exclusividade para o Correio do Estado com bastidores e fotos também registradas com o novo Samsung Galaxy Ultra S25 testado pelo Correio B+.

A estilista Lethicia Brontein é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Glauco Epov com exclusividade para o B+ - Diagramação: Denis Felipe - Por Flavinha Viana

CE - Lethicia, como surgiu e aconteceu a ideia do seu projeto no Canal do YouTube?
LB - 
“Eu acho que o YouTube veio muito de um movimento que, quando eu estava com uma ideia na pandemia de expandir a marca, de vender para as multimarcas, de ter um site gigante, de entrar num calendário da moda, eu me vi num momento muito longe do meu core, assim, de onde eu me sentia bem. 

E resolvi, ao longo do ano passado inteiro, fazer um exercício comigo mesma de quem é a Lethicia Estilista, quem é a marca, o que eu quero deixar de legado para a moda, o que eu quero passar para a minha cliente. Eu preciso mesmo de estar lançando coleção num calendário que foi instituído por um calendário internacional? Eu quero exportar? O que eu quero fazer? 

Quando você faz todo o exercício, não é do dia para a noite, foi um ano de redescoberta e de voltar muito para onde eu comecei, para o que eu acredito que é a minha moda e o que as pessoas esperam de mim. Para mim, ficou muito claro que eu queria deixar um legado de tudo o que eu aprendi, porque além da marca estar fazendo 18 anos neste ano, eu trabalho com moda há 25, e vim de uma família que fundou a marca ‘Maria Bonita’, de duas primas que também viveram de moda.

Eu cresci vendo a ‘Maria Bonita’, como eu era muito da dança, eu não olhava com um olhar tão... ‘Ai, eu quero fazer isso’. Mas quando eu descobri com 16 anos que eu não ia trabalhar com dança, que a minha paixão era a moda, parece que a ficha toda caiu e junto com a importância da ‘Maria Bonita’.

Eu trabalhei lá, foi o meu primeiro emprego, e viver aquilo tudo realmente foi uma experiência muito especial. Era muito à frente do tempo, os desfiles eram incríveis, o olhar da Cândida...

Acho que é uma roupa que todo mundo que tem uma peça no armário não se desfez, e a genialidade dela de criar a ‘Maria Bonita Extra’, que era uma marca que atendia a própria cliente da ‘Maria Bonita’, mas também rejuvenesceu, porque eu me lembro da minha mãe usar e de eu usar ‘Maria Bonita Extra’. Então, eu vi a ‘Maria Bonita’ muito pra minha mãe. Eu sou dessa época.

Então, eu hoje analisando tudo isso e depois trabalhando em outras marcas e tendo aprendido muito, eu pensei: ‘O que eu posso deixar para aquela pessoa que tem vontade de abrir uma marca ou para aquela pessoa que tem uma multimarca e que não se acha no universo da moda? 

Como é que ela pode trazer um DNA? Como é que ela pode entender que ela pode, dentro daquele negócio dela, independentemente de ela ser uma stylist ou uma grande empresária, que ela pode trazer alguma coisa? E eu acho que o meu DNA é o que eu consegui construir, que as pessoas reconhecem de longe. 

Então, por que não passar esse conhecimento à diante? E foi aí que surgiu. E uma outra coisa que me impulsionou muito, desde a pandemia, mas eu acho que na pandemia isso ficou mais forte, porque como as pessoas não estavam viajando, as pessoas estavam, em muito tempo, voltando a olhar para a moda nacional, que era o que a gente tinha para consumir.

Então, na pandemia, eu criei um movimento chamado ‘Red Carpet Made in Brasil’. Porque, na minha cabeça, precisa acontecer lá fora para que o brasileiro, muitas vezes, valorize. E é realmente uma coisa cultural do brasileiro. E não se muda da noite para o dia. Então, na pandemia, eu comecei a falar muito disso. E eu trago muito isso até nos vídeos do YouTube.

Lethicia no Canal do YouTube - Foto: Waler Felix/Divulgação

CE - Qual a sua relação com a dança e como ela reflete no seu trabalho com a moda?
LB -
 “Eu comecei a dançar jazz com 2 para 3 anos de idade. Acho que sempre fui aquela criança que todo mundo falava assim: ‘Nossa, ela leva jeito’. E fui levando jeito até que com 12 anos eu comecei a dar aula para meninas de 9, que tinha que lidar com a mãe da menina de 9, então era muita responsabilidade.

A dança te traz disciplina e organização, quando você acha que chegou, alguém te mostra que você ainda tem que ir mais. Quando você acha que pode relaxar, a sua professora te lembra que você tem que melhorar. Você nunca está bom o suficiente na dança. E eu acho que a dança também me trouxe um olhar estético, tanto da minha paixão por ela, como pelos musicais da Broadway. Eu queria ser bailarina da Broadway, até uma certa idade da minha carreira, até que um professor me disse que eu não sabia cantar (risos). Ele falou: ‘Para atuar, você leva jeito, mas cantar não é para você’.

A Ana Botafogo é a minha bailarina preferida. Eu acho que ela conseguiu ser uma pessoa popular em nosso país. A dança representa, para mim, pelo menos 50% da parte da estética que eu tenho, o figurino, o movimento, como a roupa se comporta, o conforto... E os outros 50% da profissional que eu sou, incansável, que eu não tenho dia e nem hora, estou sempre buscando a perfeição, sou responsável, porque a dança também me trouxe isso. Então, não sei se eu seria a ‘Lethicia Bronstein estilista’, se eu não tivesse sido a ‘Lethicia Bronstein dançarina e bailarina’.”

CE - Lethicia e as Celebridades...
LB - 
“Eu criei relacionamentos muito legais, eu trouxe para a minha vida pessoas muito legais e, no início, quando eu comecei a vestir as celebridades, era um momento em que elas também estavam descobrindo o red carpet, isso estava chegando ainda no Brasil, os stylists estavam começando a aparecer...

Porque antes, em festa de novela, falavam: ‘É tudo bicho grilo, vai de calça jeans, tênis e tal’. E aí, elas descobriram que com o look icônico, isso trazia publicidade, isso mudava a imagem, elas viraram fashionistas. Então, eu participei disso, eu ajudei a construir, eu me disponibilizava a fazer um look do zero.

Você fazer um look do zero é diferente de você pegar uma roupa pronta. E assim também com as modelos, com a turma da moda. Por exemplo, na primeira vez que me ligaram para vestir a Mariana Rios, ela ainda era de ‘Malhação’ e ela ia ao ‘Prêmio Multishow’, eu fiz um vestido amarelo de renda para ela e virou um look super icônico e fez ela virar uma pessoa fashionista. Eu tenho muito disso, se uma pessoa me pede algo e ainda não é gigante, mas eu acho que conversa com a marca, eu não deixo de vestir. 

Eu nunca vou deixar de vestir uma pessoa que eu acho bacana, mas também se é uma pessoa que eu acho que não tem a ver com o DNA da marca, eu também me dou o direito de não vestir. Os sapatos daqui são todos desenvolvidos por mim sob encomenda, já os acessórios como as bijuterias, por exemplo, são de marcas parceiras.”

Lethicia assina os vestidos de noivas mais desejados do país - Foto: Glauco Epov com exclusividade para o Correio B+

CE - Todas desejam um vestido assinados pela Lethicia, inclusive no segmento de noivas, pois eles são incríveis... E você está sempre em voga e em uma constante, como é todo esse processo?
LB - 
“Eu não acho que existe um processo criativo. Até porque quando você fala de noivas, você tem a noiva que é a coleção que eu desenho pra desfilar ou pra fotografar, e que aí vai muito de um desejo meu interno, que aí vai em volta do meu DNA ou de uma moda temporal, e tem a noiva que vem aqui pra fazer um vestido pra ela, e aí a minha inspiração é ela. Eu acho que se ela veio aqui, ela conhece meu trabalho. Então, eu acho que eu sou quase uma psicóloga da noiva, e uso todo o meu know-how para criar pra ela. 

E essa coisa de se manter no topo, eu acho que tem um lado que é um exercício, que é difícil, que é quase igual o das redes sociais, que é você parar de olhar o que eu vou estar fazendo. Um exemplo, quando eu fiz o vestido da Pugliese, que foi uma comoção na época, pode-se dizer que naquele momento eu estava na crista da onda, mas uma certeza que eu tenho é que eu nunca caí, ainda que eu não seja a bola da vez. 

Eu acho que a maior dificuldade de um artista, independente dele ser cantor, estilista etc, não é chegar no topo, mas se manter no topo. Eu sempre tive um trabalho muito coerente, e até quando eu estava ali me perdendo na coisa de crescer a empresa e ir para o casual, e eu percebi isso, eu acho que é isso te mantém bem, e não se cobrar ser a bola da vez, porque isso é muito subjetivo. 

Como é que eu vou adivinhar o que todas as noivas vão estar querendo? O da Pugliesi foi mega decotado, bordado inteiro pra praia com fundo pele, já o da Camila Queiroz foi um de princesa na praia, quando se casava na praia com um look mais sexy na época, não podia ser de princesa sem casar na igreja ou num salão. Eu acho que é essa verdade de manter meu DNA e de escutar a noiva que tá me pedindo e estar ali 100% pra ela, fazendo o meu melhor, é o que me mantém relevante.”

Vestido de Noiva da atriz Camila Queiroz assinada pela estilista Lethicia Bronstein - Divulgação

CE - Conta um pouco sobre a sua collab inédita com a Estrela Brinquedos...
LB -
 “Eu sempre fui uma pessoa que fiz muita collab, porque eu sempre entendi que a moda luxo no Brasil é para poucos, a gente vive num país que é difícil você levar o luxo pra todo mundo. Eu comecei vestindo muitas celebridades, era uma moda que todo mundo tinha desejo, as pessoas queriam a roupa, as coisas etc. Então, eu sempre enxerguei nas collabs uma forma de democratizar.

A pessoa podia não ter um vestido meu de noiva, mas ela tinha um esmalte meu feito para noiva, para usar no dia, lingerie etc. Eu tava há um tempo sem fazer collabs que faziam significado para mim. No passado, quando eu tava nesse momento de redescoberta do que eu queria do meu core, a minha filha ganhou um brinquedo que a avó comprou e eu lembrei que escuto muito das minhas amigas sobre quererem levar as filhas no ateliê, que geralmente têm entre 6 e 12 anos.

E eu pensei: ‘Nossa, eu preciso fazer um brinquedo porque é o momento e não tem no Brasil’. E aí, eu fui atrás da Estrela. E nessa conversa, me apresentaram o ‘Escolinha da Moda’, que acabou fazendo parte de uma memória afetiva que eu tinha e deram a ideia de repaginar esse projeto.

E é muito legal porque quando se faz isso, não se conecta só com a criança, mas também com a mãe, e aí você fala com as duas gerações. E com uma filha da idade da Pietra, fez mais sentido ainda. Eu gosto de fazer collab’s que são de verdade.

Eu nunca fiz só por fazer. Nessa collab, eu que fui atrás. Às vezes, as pessoas estão esperando muito cair no colo, mas se você tem uma ideia boa, por que não ir atrás? Olha o projeto lindo que a gente botou de pé. Então eu acho que esse momento que eu estou é muito disso, de fazer a coisa acontecer.”

Lethicia Bronstein em parceria com a Estrela - Foto: Glauco Epov com exclusividade para o Correio B+

CE - Quem é a Lethicia Bronstein?
LB -
 Carioca com alma de paulista, nova iorquina, londrina... Incansável. Eu acho que eu sou uma pessoa normal. Existe um glamour em volta do estilista, aqui no Brasil um pouco menos, porque lá fora eles são muito celebridade, mas a gente aqui tem uma coisa de achar que o estilista é metido. Tem muita cliente que chega e fala assim: ‘Nossa, não sabia que você era tão legal’. Mas de onde você tirou que eu era chata? (risos).

Eu sou uma pessoa que valorizo muito o meu time, eu sei que sozinha eu não faço nada. Minha mãe, que fica no Rio, às vezes fala: ‘Lethicia, você está muito besta’ porque às vezes ela me liga e eu não consigo atender, e eu falo: ‘Mãe, eu estou zero besta, eu estou é trabalhando para caramba’ (risos).

Eu nunca consegui ficar "metida", porque para eu entregar esse trabalho do ‘Red Carpet’, eu preciso de um monte de costureira, que são mulheres batalhadoras, que pegam ônibus para vir e para voltar, e ainda chegam em casa, lavam, passam, cozinham para a família etc, e, no outro dia, sem elas, eu não entrego o vestido.

Então, isso sempre me deixou muito pé no chão. Quando eu fiz a minha festa de anos de casada, eu chamei todos os meus funcionários. Eu sou uma pessoa que ao mesmo tempo circula em qualquer lugar, eu sou feliz. Eu sou feliz no simples, mas eu também sou feliz no luxo. 

Eu vim ao mundo para ser feliz. E se eu puder mostrar para os brasileiros o quanto a nossa moda é tão incrível, eu já vou ter feito a minha missão profissional, que é fazer a moda brasileira ser enxergada com o mérito que ela tem, não só por mim, mas por muitos outros profissionais incríveis que a gente tem.”

Lethicia Bronstein com exclusividade para o Correio B+ - Foto: Glauco Epov

CE - O que mudou no mercado de moda de quando você começou?
LB -
 “Eu sempre tentei blindar a minha marca em um lugar diferente, porque é muito frustrante principalmente pro tipo de roupa que eu faço, pro tipo de mão de obra que eu tenho e o tipo de preciosismo, e que custa caro, quando as redes sociais começaram a vir com seus tratamentos de foto, tudo, todo o trabalho que eu tive como estilista pra me tornar relevante, de apresentar meu trabalho pros jornalistas, vestir uma celebridade, que aquela foto não era tratada e o vestido tinha que estar impecável, tudo isso acabou indo pra uma única prateleira.

E aí, você pega uma marca que ninguém conhecia até ontem, ela paga um influenciador e de repente ela vira relevante sem ter feito todo esse trabalho de anos de relacionamento e de busca por um produto melhor que eu fiz, por exemplo, para chegar onde eu cheguei.”

CE - Lethicia como foi essa adaptação para o nosso movimento de hoje?
LB -
 “Uma vez, eu dei uma entrevista que falava dos cinco estilistas de moda-festa mais relevantes de São Paulo. E o jornalista disse que dos cinco eu era a mais pop, porque eu era a única que tinha rede social, eu tinha um reality quando o streaming ainda nem era o que é hoje, eu sempre olhei a frente, pensando no que eu posso fazer, como eu posso me comunicar etc.

Quando começaram os podcasts, eu já estava em todos. Eu brinco que eu vou muito bem no ao vivo. Eu acho que fui me adaptando... Quando eram os programas de TV, eu fazia as participações e ia bem, quando foi para ter o meu reality, eu ia bem. E eu já dei várias palestras também, que é algo que eu pouco divulgo. Eu acho que hoje tudo é conteúdo e tudo é conteúdo relevante. Então, muitas vezes eu ia dar uma palestra em Brasília e ninguém ficava sabendo, só o pessoal que estava lá na palestra.

Não foi difícil eu me adaptar, foi difícil criar o conteúdo. Eu tenho um time que me ajuda nessa parte de roteiro e de tudo mais e foram quase dois meses de imersão, com reuniões de pelo menos duas vezes por semana, de três horas cada uma, para eles entenderem e a gente desenhar um caminho, trilhar, como é que a gente queria costurar esse diálogo.

Não precisa ter 300 mil visualizações, se você chegar em pessoas que você consiga mudar um pouquinho a vida delas, a missão já está cumprida. Não foi difícil falar para câmera, mas, sim, o desafio de construir uma narrativa em que eu achasse que fosse fácil para entender desde um empresário com mais tempo do mercado até a uma pessoa como a minha babá, que é super instruída, mas que é do ramo de confeitaria.

Então, como que ela poderia espelhar aquilo para o business dela? Tudo nasceu com esse propósito, de deixar um legado, e no dia que eu for embora, deixar isso aí que eu acho que pode ajudar muita gente.”

Lethicia Bronstein com exclusividade para o Correio B+ - Foto: Flávia Viana em parceria com a Samsung Galaxy Ultra S25

CE - E ainda falando sobre estar sempre nessa constante, qual é o seu diferencial?
LB -
 “Quando eu senti necessidade de voltar mais para dentro da minha verdade, é porque eu estava sentindo falta de tempo de olhar para fora e fazer projetos que me desafiassem. A nossa mente é um músculo, você precisa estar exercitando. E quando você exercita fora do seu dia a dia, você acaba abrindo para quando você voltar para fazer aquela roupa, você está com a cabeça ali a mil. 

E eu falo brincando, mas é uma coisa que eu tenho muita vontade no futuro, porque hoje realmente eu não tenho tempo de ter, que é uma agência de ideias, porque eu falo que eu dou ideia de graça para todo mundo (risos). E porque é uma coisa que eu faço naturalmente, as ideias saem. 

E aí, a pessoa nem me perguntou, e eu já estou dando ideia, dando palpite já criei uma coisa, já conectei etc. Então, quando dá, eu faço para mim e usufruo disso. Eu acho que a moda tem esse alcance. A moda é democrática, todo mundo consome moda. Então, eu consigo levar, através da moda, ideias para todas as áreas que eu quiser.” 

Lethicia no Baila da Vogue 2025 - Uma homenagem a Sabrina Sato. Divulgação

 

DE GRAÇA E NA RUA

2º Campo Grande Jazz Festival

15/12/2025 11h30

Felipe Silveira e Daniel Dalcantara

Felipe Silveira e Daniel Dalcantara Montagem / Divulgação

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Após uma primeira edição histórica em 2024, com apresentações em terminais de ônibus e no Armazém Cultural, onde, inclusive, a Urbem conheceu Ryan Keberle, o Campo Grande Jazz Festival deste ano se volta exclusivamente para espaços a céu da capital sul-mato-grossense com grande circulação de pessoas.

É a edição “rua” do festival, que acontece de quarta-feira a domingo, levando o jazz para o cotidiano da população campo-grandense.

A programação vai contar com uma série de cinco jam sessions, sendo três em terminais de ônibus, uma na Rua 14 de Julho (esquina com a Avenida Afonso Pena) e uma na Avenida Calógeras, próximo à Plataforma Cultural.

Sob a condução do produtor musical Adriel Santos, intercâmbios criativos unirão músicos experientes da cena local e nacional, explorando a espontaneidade do jazz tradicional e proporcionando encontros musicais de grande importância para o cenário musical sul-mato-grossense.

Felipe Silveira e Daniel DalcantaraFoto: Divulgação

“O festival busca promover a inclusão cultural, contribuir para o bem-estar social e fortalecer o sentimento de pertencimento e identidade cultural da comunidade de Campo Grande. O jazz misturado ao tecido urbano é uma aposta estética e um jeito de levar a experiência musical para onde as pessoas estão”, afirma o músico e coordenador do evento.

Nos terminais de ônibus, o festival propõe intervenções musicais descontraídas e cheias de vigor, desconstruindo a rotina e oferecendo uma experiência inesperada a trabalhadores, estudantes e todos que passam por ali.

Felipe Silveira e Daniel DalcantaraDaniel Dalcantara (SP) - Foto: Divulgação

A música emerge em meio ao fluxo, democratizando-se para um público diversificado que, muitas vezes, não tem a oportunidade de frequentar eventos culturais com ingresso pago.

“Essa estratégia de levar o Campo Grande Jazz Festival para os espaços urbanos reflete um compromisso firme com a democratização do acesso à cultura e a ressignificação dos espaços públicos”, reforça Adriel Santos.

>> Serviço

Programação

Quarta-feira – às 17h30min,
no Terminal Bandeirantes, com Bianca Bacha, Gabriel Basso, Ana Ferreira, Adriel Santos e Junior Matos.

Quinta-feira – às 17h30min,
no Terminal General Osório, com Juninho MPB, Junior Juba, Matheus Yule e Leo Cavallini.

Sexta-feira – às 17h30min,
no Terminal Morenão, com Adriel Santos, Gabriel Basso e Giovani Oliveira.

Sábado – às 17h30min,
na Praça Ary Coelho (R. 14 de Julho com Av. Afonso Pena), com Felipe Silveira (SP), Daniel D’Alcantara (SP) e artistas da cena local do jazz.

Domingo – às 17h30min,
na Av. Calógeras (em frente à Plataforma Cultural), com
Felipe Silveira (SP), Daniel D’Alcantara (SP) e artistas da cena local do jazz.

ENTREVISTA COM BIANCA

"A fauna pantaneira é a base musical das nove composições de 'Pantanal Jam'"

Cantora Bianca Bacha, da Urbem, fala como a paisagem natural de Miranda afetou o processo de criação e gravação do segundo álbum da banda, sobre a diferença entre o canto com letra e as vocalizações que são a sua marca e anuncia projetos nos EUA e Espanha

15/12/2025 11h00

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano Divulgação / Alexis Prappas

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ENTREVISTA COM BIANCA

Recuperando para o leitor: como se deu a oportunidade do encontro e da parceria com o Ryan para o projeto do álbum “Pantanal Jam”?

Conhecemos Ryan Keberle no Campo Grande Jazz Festival [em março de 2024] e com ele tivemos uma troca musical instantânea. Tocamos juntos em um show no Sesc [Teatro Prosa] em setembro de 2024 e, a partir de lá, tivemos a certeza de que ainda faríamos muita música juntos.

No Pantanal, onde Ryan esteve pela primeira vez durante as gravações, ficou nítido que ele conseguiu transpassar para o repertório o encantamento que ele estava vivendo em meio a toda aquela natureza.

É o segundo disco, nove anos depois de “Living Room”. O que “Pantanal Jam” representa para a Urbem?

Este projeto é o nosso território sonoro: onde a música que criamos se entrelaça à natureza que nos guia em forma de jam. Na música, uma jam significa um encontro musical sem aviso prévio, as coisas vão acontecer ali na hora, portanto, o inesperado é bem-vindo e, com ele, você improvisa.

Qual seria o conceito geral do álbum?

O conceito do álbum nasce da escuta profunda da fauna pantaneira. Os cantos dos pássaros, o esturro da onça e os sons das águas e dos ventos não são efeitos nem pano de fundo: são a base musical das nove composições. A natureza atua como um músico a mais na banda de jazz, dialogando conosco em frases de pergunta e resposta.

Sandro Moreno registrou esses sons in loco, mergulhando no Pantanal para captá-los com precisão. Depois, analisou esse vasto material para identificar melodias, ritmos e motivos que se tornariam a essência das composições.

E, para fechar o ciclo, o álbum também foi gravado no coração do Pantanal. Com geradores a gasolina e um estúdio móvel, nós, a Urbem e o trombonista Ryan Keberle, levamos a música para o ambiente que a inspirou. E ali criamos, novamente in loco, em plena natureza selvagem.

Que tipo de referências buscaram para os arranjos, as sonoridades e as texturas?

Toda a referência e textura do álbum “Pantanal Jam” nascem dos próprios sons do Pantanal. A imersão no território e a escuta atenta transformaram cantos de pássaros, esturros, movimentos da água e vozes da mata em matéria-prima musical.

Cada faixa traduz essa convivência direta com a fauna e seus ritmos naturais, convertendo sons de bichos em música. Viva, orgânica e profundamente enraizada na paisagem pantaneira.

Isso está bastante perceptível. Os sons e toda a atmosfera do Pantanal atravessam o mood e talvez a própria concepção dos temas. Pode comentar um pouco mais sobre essa presença de elementos da natureza – e dessa natureza tão singular de MS – na criação de vocês?

A fauna, a luz, o silêncio amplo, os ventos, os cantos e até os vazios típicos da paisagem pantaneira influenciam diretamente a forma como criamos. É como se o ambiente nos orientasse musicalmente: às vezes guiando uma melodia, às vezes sugerindo um pulso, às vezes impondo uma pausa.

Esse encontro com a natureza não é decorativo, é estrutural. Ela atravessa tudo, o gesto musical, o espírito do disco e a maneira como a banda se relaciona com o som.

No “Pantanal Jam”, a paisagem não é cenário: é presença, é voz, é parceria criativa. É música.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Onde exatamente estiveram e gravaram? E quando foi?

As gravações foram feitas na Fazenda Caiman, em junho deste ano, num cenário que não poderia ser mais inspirador. Foram escolhidas pela produtora três locações diferentes, e para cada uma delas, três músicas.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Com uma equipe ultraprofissional que trouxe segurança e leveza para uma gravação ao vivo numa condição completamente inusitada.

E quanto ao repertório? Como chegaram às nove canções do disco?

Entre as composições, temos duas músicas do Paulo Calasans [“Swingue Verdejante” e “Suspiro da Terra”], um dos maiores produtores, arranjadores e instrumentistas do País, além de duas canções do Ryan Keberle junto com Sandro Moreno [“Paisagem Invertida” e “Entre Folhas”] e cinco composições nossas [“Espiral”, “Pluma”, “Voo Curvo”, “Barro” e “Canção do Ninho”].

Penso que o Pantanal é experimentado de um jeito bem particular por cada pessoa. Como é para você? Como aquele ambiente lhe toca e eventualmente interfere no seu jeito de cantar?

Tudo ali era extremamente inspirador. Dormir e acordar naquele lugar por alguns dias já me fazia até respirar de jeito diferente, com menos pressão e mais imersão.

Isso com certeza influenciou no jeito de cantar. Porém, o mais impressionante era saber que estava gravando um disco com toda aquela fauna ao redor, um jacaré no lago ao lado e uma onça a alguns quilômetros.

Embora domine há duas décadas o canto com letra e muitas vezes cante dessa forma em apresentações ao vivo, na Urbem, você investe sempre nos vocalizes e scats.

Todas as músicas do álbum “Pantanal Jam” usam a voz como instrumento, ou seja, não há letras nas músicas. Além de ser uma característica jazzística, esse estilo de canto se aproxima mais do cantar dos pássaros, a busca por seus fonemas e emissões.

Cada música exige uma altura e um escolher apropriado de sílabas que encaixem com a afinação e a expressão.

Adoro o canto com letras. Ali você tem palavras, interpreta, coloca ênfases. É até uma emissão de voz diferente. Só que comecei a me encantar com o mundo do jazz e toda essa coisa do canto que não usa palavras, o vocalize. E comecei a ouvir cantoras que cantam assim.

Tatiana Parra [cantora, compositora e professora paulistana] canta assim, nossa, de um jeito maravilhoso. A [portuguesa] Sara Serpa também. Tem também as divas mais antigas que faziam mais questão de improviso, o scat singing.

O canto sem palavra é muito desafiador porque ele é mais cru, mostra mais imperfeições de respiração, de emissão, de escolha de sílabas. E é muito improvisado. Porque a cada dia você pode usar uma sílaba diferente, pode caracterizar de uma outra forma.

Num dia vou fazer “u”, no outro dia posso fazer “a”, no outro posso fazer “e”. E você tem que descobrir ali, numa forma você com o seu corpo. E além de ter o desafio de você demonstrar o interpretar com emoção sem ter palavras.

Então é muito jazz [risos]. E acho muito bonito. Sempre vai ser um desafio. Sou com o meu corpo, com as palavras que eu escolho, que nem sempre são pensadas.

Claro que tem uma questão técnica de que o “i” você vai mais para um agudo, no “u” também; nos graves, você vai para outras escolhas, as consoantes também interferem. Gosto muito de passear pelas duas áreas. Tanto a área da interpretação com letra quanto a área dos vocalizes e texturas.

E Nova York? Pode contar um pouco sobre a recente temporada de vocês por lá?

O “Pantanal Jam” foi lançado em novembro deste ano com um show memorável em Nova York, durante a feira internacional de turismo Visit Brazil Gallery [na Detour Gallery], e a recepção foi extraordinária.

Pessoas do mundo inteiro, agentes de turismo, diretores da National Geographic, fotógrafos de natureza e profissionais de diversas áreas assistiram ao show com atenção absoluta.

Desde a primeira música, compreenderam nossa proposta e permaneceram maravilhados até o fim. Foi um momento histórico para Mato Grosso do Sul e para a arte sul-mato-grossense.

Esse resultado só foi possível graças ao apoio total da Fundtur e do seu diretor-presidente, Bruno Wendling, que acreditou no projeto desde o início e se comprometeu a nos apoiar tanto nas etapas de captação no Pantanal quanto no lançamento em Nova York. Além disso, segue impulsionando a campanha contínua de apresentar o “Pantanal Jam” ao mundo.

E faz sentido: ouvir o Pantanal desperta o desejo de visitá-lo, conhecê-lo e preservá-lo. O projeto reúne arte, natureza, conservação, turismo e toda a beleza única do nosso bioma, uma combinação que emociona e conecta o público global ao coração do Pantanal.

Além do álbum que já está lançado em todas as plataformas, temos uma série de vídeos das nove músicas e um minidocumentário.

Quando teremos shows da Urbem? Quais os próximos passos e projetos da banda?

A Urbem se sente profundamente entusiasmada em seguir os passos de Manoel de Barros, da família Espíndola, de Guilherme Rondon, Paulo Simões, Grupo Acaba, Geraldo Roca e tantos artistas que sempre beberam dessa fonte primária que é o Pantanal, transformando-a em arte para o mundo.

Recentemente, pesquisadores de Harvard e professores da UFMS colheram sons do Pantanal [pelo projeto Pantanal Sounds, que conta, entre outros, com nomes como o do violoncelista e professor William Teixeira], e esse movimento nos inspirou a ir a campo gravar os sons pantaneiros e a fazer composições dentro da nossa linguagem jazzística, incorporando esses registros naturais ao nosso modo de compor e evidenciando em música as belezas pantaneiras.

Temos planos de retornar aos Estados Unidos em breve e estamos em diálogo com a Embaixada do Brasil em Barcelona, onde palestraremos em março.

Além disso, a Urbem participará do Campo Grande Jazz Festival de Rua, no dia 21 de dezembro [neste domingo], em uma jam session com músicos locais e de São Paulo.

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