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Capa B+: Entrevista exclusiva com uma das maiores bartenders do país Adriana Pino

"A conquista aconteceu a cada drink e a cada cliente. Como em qualquer profissão, é preciso ter dedicação".

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Referência de bartender mulher no Brasil, Adriana Pino se consolida no setor ao fazer da degustação de bebidas uma experiência única ao paladar nas suas receitas

Ela é representante do laboratório de coquetéis A Bartenderia, além de possuir títulos importantes em premiações de drinks mundo a fora.

Adriana Pino é bartender especialista em transformar bebidas em experiências únicas através da degustação de suas receitas. Ao começar a atuar nesse mercado para conseguir uma renda extra, ela descobriu que trabalhar nos bares também é uma forma de harmonizar história à gastronomia e decidiu fazer dessa combinação a sua profissão.

Com quase 20 anos de carreira, ela se tornou uma profissional referência nacional em um espaço predominantemente ocupado pela figura masculina.

“Sou mulher, autônoma e mãe. Dou aula, crio experiências, tenho uma empresa de eventos, e constantemente preciso estar até tarde neles, seja de festa infantil, de formatura, de marcas ou de executivos. Trabalho mostrando que o bar pode ser um lugar de encontros, boas conversas e experiências agradáveis”, afirma. Adriana é representante da “Bartenderia”, um laboratório de coquetéis. Em sua trajetória, ela também carrega consigo títulos em premiações importantes como “Cocktail Journey 2015”, “Katel One 2015”, “Behind The Barrel 2016” e “WC BR 2018”.

Na A Bartenderia na capital paulista, ela realizou o seu sonho de ter uma escola de coquetelaria. “Parecia algo muito grande e distante para uma bartender, aí eu conheci os melhores sócios, o João e o Will, que acreditaram e apostaram na minha ideia. Juntos, nós fazemos eventos, masterclass e vídeo aulas”, conta Adriana Pino.

“O público dos cursos é muito diverso, desde empresas a entusiastas e até mesmo amigos que acompanham o meu trabalho e acabam se interessando em fazer o Masterclass para aprender sobre o universo da coquetelaria. Poder atingir diferentes tipos de público ensinando tudo o que eu aprendi durante todos esses anos a tanta gente é uma das melhores partes em fazer o que eu faço”, completa.

Através do seu trabalho, Adriana representa um posicionamento influente do setor de bebidas. “Os bartenders são a conexão das marcas com os consumidores. Cabe a nós a responsabilidade de atestar a credibilidade daquilo que elas oferecem. Fico feliz pela valorização do setor, que confia no meu trabalho, e não só contrata o meu serviço como também investe no que eu faço entrando como apoiador ou patrocinador dos meus projetos, por exemplo. Assim como em qualquer profissão, é preciso dedicação, disciplina e treino, e ser reconhecido é uma consequência. Fico muito feliz ao olhar para o início da minha trajetória e ver o lugar que consegui chegar hoje”, finaliza.

Referência na bartenderia do país, premiada e destaque nos principais veículos de comunicação do Brasil, Adriana é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela conta do seu início de carreira, sobre preconceito na profissão e de realização de sonhos em sua área.

A emprasária e bartender Adriana Pino é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Glauco Epov - Diagramação: Denis Felipe e Denise Neves

CE - Adriana como você começou como bartender?
AP -
Meu primeiro contato com bar foi em balada servindo doses de destilados e terríveis mojitos (risos). Era pra ser somente um extra de fim de semana, depois fui entendendo que existe muita história, cultura e criatividade nesse ramo.

CE - Como você vê as mulheres dentro desse espaço?
AP -
As mulheres têm desempenhado um papel fundamental na profissão, trazendo mais diversidade, criatividade e praticidade, mostrando que o bar pode ser um lugar de encontros, boas conversas, experiências agradáveis. Vemos excelentes bartenders, sommelieres, mixologistas, professoras e mestres destiladoras de diversos estilos e culturas.

CE - Como você começou a conquistar esse espaço Adriana?
AP -
Acho que eu nunca realmente calculei essa conquista, ela simplesmente aconteceu, aliás ela continua acontecendo, a cada drink e a cada cliente. Assim como qualquer profissão é preciso dedicação, disciplina e treino, ser reconhecido é a consequência.

CE - Sofreu ou sofre algum preconceito?
AP -
Sou mulher, sou autônoma, sou mãe, dou aulas, crio experiências, tenho uma empresa de eventos, constantemente preciso estar até tarde nos eventos, seja ele festa infantil, formatura, com marcas ou executivos.

O que pra mim é uma grande conquista pra outras pessoas soa como se eu fosse da rua, da vida, já fui chamada dos piores nomes e inclusive por gente da família, que me conhece e convive comigo, então respondendo a pergunta, sim, diariamente sofro preconceito em relação ao que faço, o negócio é que eu aprendi a contornar e não deixo mais me atingir, pois eu sou honesta e amo o que faço, e não preciso provar isso pra ninguém, estou constantemente com pessoas boas que me apoiam e reconhece meu talento, isso basta pra mim.

Adriana Pino - Foto: Glauco Epov

CE - Para quem quiser seguir esse caminho, quais são os seus conselhos?
AP -
Não tem jeito, coquetelaria é treino, tem gente que faz 3 eventos tatua, uma taça martini no braço e se diz bartender. Meus conselhos seriam seguir a ordem certa das coisas: começe como barback, o trabalho de um assistente é aprender produção e auxiliar o bartender, ir executando as receitas clássicas pra depois começar a usar a criatividade nos drinks.

Divida seu aprendizado por técnicas ou família de coquetéis, assim vai ficar mais fácil entender como o mundo da coquetelaria funciona. Siga personalidades que gosta e faça masterclass com elas, conhecer a visão de vários profissionais te fará mais criativo.

CE - Muitas mulheres fazem os seus cursos, seguem você nas redes sociais, te pedem conselhos, como é?
AP -
O público dos cursos são diversos, mas sim, converso com muitas mulheres, acho que mais recebo elogios do que dou conselhos, o que mais gosto de ouvir é quando dizem que sou inspiração pra elas. Outro dia uma mulher me mandou uma mensagem agradecendo pelos meus vídeos, ela havia ajudado a “melhorar” as receitas dos drinks no bar do pai dela e aquilo havia ajudado a aumentar os ganhos da família, ela estava muito agradecida, eu fiquei muito feliz.

CE - Qual é o seu drink favorito e porquê?
AP -
Essa com certeza é a pergunta mais difícil (risos). Acho que eu sou de fases, ultimamente tenho me aventurado no mundo dos bitters e aperitivos, mas também estou aprendendo bastante sobre coquetéis clarificados.

CE - Muitas marcas te apoiam e patrocinam, você acha que é um novo espaço e posicionamento delas?
AP -
Depois de quase 20 anos de profissão, acho que tenho feito alguma coisa legal (risos), mas brincadeiras á parte, acho que adquiri um estilo que tem sinergia com muitas marcas, e fico feliz e mais uma vez agradecida pela valorização delas e pela a oportunidade de estar próxima. As marcas tem apostado cada vez mais nos bartenders porque somos nós quem criamos e realizamos experiências com os clientes, então acho que existe espaço pra muitos profissionais de bar.

Adriana Pino - Foto: Glauco Epov

CE - Como é trabalhar em um ambiente que antes eram dominados por homens?
AP -
Igual a trabalhar em qualquer ambiente acredito, mesmo ciente que é um ambiente dominado por eles, eu nunca me senti intimada por isso, pra mim é um trabalho, um trabalho difícil, e pra se destacar não dá pra enrolar, tem que trabalhar, simples assim, eu nunca tive vantagens por ser mulher, muito pelo contrário, pra ser respeitada eu tive, muitas vezes que trabalhar mais do que eles, chegar mais cedo e sair mais tarde para demostrar interesse e ser respeitada.

CE - Como eles veem isso e se comportam na sua opinião?
AP -
Ah, isso eu não sei dizer com certeza, se gostam ou se não gostam, eles não me falam (risos), mas me sinto parte da história da coquetelaria do nosso país, sei que sabem disso.

CE - Você já teve algum problema com isso?
AP -
Neste ramo e com o tempo de trabalho que tenho, já tive todos os tipos de problemas, mas a gente cresce, aprende, se arrepende, pede desculpas, recebe desculpas, começa de novo e evolui.

CE - Você está à frente da A Bartenderia, fala um pouco pra gente?
AP -
Um dia eu tive um sonho de ter uma escola de coquetelaria, parecia muito grande e muito distante pra uma bartender, aí eu conheci os melhores sócios o João e o Will, que acreditaram e apostaram na ideia, estamos trabalhando pra sermos referência em São Paulo e quem sabe em outros estados também.

Adriana ao lado de seu sócio na A Bartenderia João - Foto: Glauco Epov

CE - Quais os objetivos e atrativos da empresa?
AP -
Somos um laboratório de drinks. Aqui na A Bartenderia a coquetelaria é o centro, fazemos eventos, masterclass, vídeo aulas, produção e criação pras nossas marcas parceiras e pros clientes.

CE - Você voltou de viagem da Itália, conta pra gente o que aconteceu por lá, e novidades?
AP -
Sim, por dois nos consecutivos fui jurada do campeonato que mais cresce no Brasil, o CBC (Campari Bartender Copetition), este ano fui pra Milão acompanhar a Biruta da Terra, a Campeã 2024. Visitamos o Camparino, um bar histórico onde aconteceu uma experiência exclusiva pra nós com drinks especiais e um jantar incrível com o time, visitamos a Galeria Campari onde conhecemos ainda mais a conexão da marca com artistas e a importância dela na coquetelaria mundial, visitamos bares e pontos turísticos em Milão, Veneza e Torino.

CE - Como tem sido tantas viagens que tem feito pelo Brasil e mundo?
AP -
Eu acho que existem alguns ápices na via do bartender, ganhar campeonatos, abrir o próprio bar e viajar. Pra mim tem sido além de experiência profissional, uma grande oportunidade de conhecimento e conexão com outros profissionais e outros sabores, enriquecendo meu repertório e portfólio, aprendendo e ensinando, compartilhando nossos sabores e diversidade.

CE - Um drink exótico que você criou e as pessoas adoram...
AP -
O Botânic, em 2015 no Brown Sugar, drink feito para um campeonato, fui campeã e o drink eu já reproduzi em mais de 10 bares, ele ainda existe no Brown Sugar em São Paulo, e é um dos mais vendidos.
Ele é feito com manjericão, vodka (Ketel One) suco de lima e limão, xarope simples e espuma de jambu com cardamomo.

Adriana Pino - Foto: Glauco Epov

CE - Como você desenvolve uma carta nova de drinks para um bar ou restaurante?
AP -
Antes de criar, preciso entender vários pontos: o tamanho da casa, o tema, os horários, o ticket médio pretendido, a estrutura disponível e os objetivos que os proprietários planejam pro projeto.

CE - Como é esse processo todo?
AP -
Começo criando um cronograma pro cliente com: criação e degustação dos drinks que é feito na A Bartenderia, escolha dos copos e bebidas que farão parte do menu, ficha técnica com todas as receitas e processos de produção dos ingredientes, toda a documentação do bar com planilhas de ingredientes, bebidas, hortifrutti, utensílios e equipamentos necessários.

Com a posse de todos os produtos a gente parte pra parte prática que consite em treinamento de produção, treinamento dos bartenders para execução de todos os drinks disponíveis na carta, treinamento dos garçons para venda de todos os coquetéis e em alguns casos harmonização com os pratos. Produção das fotos para conteúdo de redes sociais e finalmente inauguração da casa.

CE - Quais as novidades para 2025?
AP -
Muita energia para 2025 com novos projetos de abertura de bares. Estou a frente de alguns projetos com marcas, que ainda não posso divulgar, mas acredito que vamos agitar o mundo da coquetelaria brasileira com novos campeonatos, competições e experiência com os clientes.

CE - Como é ser vista hoje como uma das principais bartenders do país?
AP -
Eu sinto muito orgulho daquela menina inocente cheia de sonhos, que não tinha nenhuma perspectiva de vida, que sofreu demais por não ter uma família estruturada e unida, sinto que estou no caminho certo pra fazer história e colaborar para colocar o Brasil na lista dos melhores bares do mundo. Porque é isso, temos uma biodiversidade única, o mundo precisa ver isso e a coquetelaria e um caminho.

CE - Quais os prêmios que já conquistou?
AP -
Acho que o maior e mais importante foi o World Class 2018, fui representar nosso país em Berlin, mas também ganhei o Behind the barrel do Whiskey Wild Turkey em 2016 onde fui pro Kentucky conhecer tudo sobre produção de Bourbon e e da Katel One 2015 fui conhecer a Holanda, lá além de conhecer toda história e produção da Vodka, tb participei de alguns master class harmonizando queijos com Vodka, Gin e Genever, bebida que ainda não chega pra nós. 

OSCAR 2026

Wagner Moura tem 91,34% de chance de vencer o Oscar, aponta ranking

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%

21/12/2025 23h00

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62% Divulgação

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As expectativas brasileiras para o Oscar 2026 crescem antes mesmo do anúncio oficial dos indicados, previsto para 22 de janeiro. Wagner Moura aparece entre os nomes mais fortes da disputa pelo prêmio de melhor ator, segundo um novo levantamento do site especializado Gold Derby.

De acordo com a projeção, o ator brasileiro tem 91,34% de chance de vitória, porcentual que o coloca na terceira posição entre os 15 nomes mais bem colocados na categoria. A lista reúne artistas que já figuram entre os pré-indicados e aqueles acompanhados de perto durante a temporada de premiações.

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%. Wagner aparece logo atrás, à frente de nomes como Michael B. Jordan e Ethan Hawke.

As estimativas do Gold Derby são elaboradas a partir da combinação de previsões de especialistas de grandes veículos internacionais, editores do próprio site que acompanham a temporada de premiações e um grupo de usuários com alto índice de acerto em edições anteriores do Oscar.

O Agente Secreto está entre os pré-indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional e de Melhor Escalação de Elenco, em lista divulgada no último dia 16, pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

A cerimônia do Oscar 2026 está marcada para 15 de março, com transmissão da TNT e da HBO Max, e terá novamente Conan O’Brien como apresentador. A edição também deve ampliar a presença brasileira na premiação: produções nacionais como O Agente Secreto já figuram em listas de pré-indicados da Academia, em categorias como Melhor Filme Internacional e Melhor Escalação de Elenco.

Ranking do Gold Derby para o Oscar 2026 de melhor ator:

1. Leonardo DiCaprio (95,08%)

2. Timothée Chalamet (93,62%)

3. Wagner Moura (91,34%)

4. Michael B. Jordan (83,35%)

5. Ethan Hawke (73,46%)

6. Joel Edgerton (25,24%)

7. Jesse Plemons (7,09%)

8. George Clooney (4,25%)

9. Jeremy Allen White (4,06%)

10. Dwayne Johnson (2,64%)

11. Lee Byung Hun (2,52%)

12. Oscar Isaac (0,83%)

13. Daniel Day-Lewis (0,39%)

14. Brendan Fraser (0,31%)

15. Tonatiuh (0,24%)
 

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B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

Bailarina, atriz e criadora do método Dança Integral, Keila Fuke transforma o movimento em linguagem de escuta, autocuidado e reinvenção feminina

21/12/2025 20h00

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos Foto: Divulgação

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Keila Fuke fala de dança como quem fala de família. Não no sentido de abrigo confortável apenas, mas de território vivo - onde moram memória, desejo, silêncio e prazer. Quando ela diz que o corpo é templo, não soa místico. Soa prático. Soa vivido.

“A dança é uma arte que se expressa pelo corpo, e o corpo é nossa casa, templo sagrado e cheio de emoções, histórias e prazer”, diz. Para ela, quando uma mulher escuta e sente o próprio corpo, algo essencial se reorganiza: “ela realmente se conecta com sua essência primária, seus desejos, e consegue ir para a vida de forma mais consciente”.

Há mais de três décadas, Keila dança, atua, coreografa e cria. Sua formação artística começou ainda na infância e se expandiu por diferentes linguagens (dança, teatro, musical e direção), construindo uma trajetória consistente nos palcos brasileiros. Nos grandes musicais, viveu a intensidade da cena em produções como “Miss Saigon”, “Sweet Charity”, “A Bela e a Fera”, “Victor ou Victoria” e “Zorro” (experiências que aprofundaram sua relação com a disciplina, a entrega e a presença).

Foi também no teatro que sua trajetória profissional ganhou contorno definitivo. Keila estreou ao lado de Marília Pêra, em “Elas por Ela”, num encontro que deixaria marcas profundas em sua forma de compreender a arte. A convivência com Marília reforçou a noção de que o palco exige verdade, escuta e disponibilidade (valores que atravessam seu trabalho até hoje).

Mas só quem escuta com atenção percebe que sua trajetória não foi guiada apenas pela busca da forma perfeita ou do espetáculo bem acabado - e sim por uma pergunta insistente: o que o corpo ainda tem a dizer quando a vida muda de ritmo? Essa pergunta atravessa tudo o que ela faz hoje.

Ao falar sobre movimento, Keila não separa o gesto do afeto, nem a técnica da emoção. “A dança revela a comunicação entre o mundo interno e o externo. O gesto se torna linguagem, o movimento vira verdade.” Talvez seja exatamente por isso que tantas mulheres chegam às suas vivências depois de períodos de exaustão: ali não se pede performance, mas presença.

Existe algo de radicalmente gentil na forma como Keila olha para o corpo feminino. Especialmente aquele que atravessa a maturidade. A menopausa, tema ainda cercado de silêncio, aparece em sua fala como travessia, não como falha. “Todas as mulheres irão passar por esse portal ao entrar na maturidade”, afirma. “Não para corrigir o corpo, mas para reconhecê-lo.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos         B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Foi desse entendimento que nasceu o método Dança Integral, desenvolvido a partir da integração entre sua experiência artística e seus estudos terapêuticos. Ao longo dos anos, Keila aprofundou-se em yoga, meditação, tantra, bioenergética e consciência sistêmica, incorporando esses saberes à dança. “É um trabalho que convida a mulher a ativar e integrar seus corpos (físico, mental e emocional) devolvendo consciência, presença e escuta.”

Na prática, o movimento deixa de ser esforço e passa a ser aliado. O corpo volta a circular energia, as emoções encontram expressão e a mente desacelera. “No movimento consciente, o corpo lembra que não nasceu para ser corrigido, mas habitado.” Quando isso acontece, o corpo deixa de ser campo de conflito e volta a ser morada.

A ancestralidade japonesa que Keila carrega atravessa profundamente esse olhar. Mestiça de origens japonesa, italiana, alemã e libanesa, ela se reconhece como uma mulher amarela e traz dessa herança a disciplina entendida como cuidado. O respeito ao tempo, ao silêncio e ao gesto essencial molda sua relação com o movimento, a prática e o feminino. Espiritualmente, o corpo é templo, o movimento é ritual e a repetição, um caminho de aperfeiçoamento interno.

Ao mesmo tempo, Keila é mistura. Emoção, calor e invenção brasileira convivem com rigor e silêncio. “Vivo entre tradição e vanguarda, entre raiz e criação”, diz. É dessa fusão que nasce um trabalho que não se fixa nem na forma nem no conceito, mas no estado de presença.

Essa escuta sensível também se manifesta fora das salas de dança. Há 17 anos, Keila atua na Fundação Lia Maria Aguiar, em Campos do Jordão, onde integra a formação artística de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Ali, ela participa da criação de um núcleo de teatro musical que utiliza a arte como ferramenta de educação, inclusão e fortalecimento da autoestima. “Com eles, aprendo que sensibilidade não é fragilidade, é potência.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anosB+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Falar de reinvenção aos 59 anos, para Keila, não tem a ver com começar do zero. Tem a ver com fidelidade. “Se reinventar é um gesto de fidelidade à vida.” Ela fala de saúde emocional, de vulnerabilidade, mas também de prazer, curiosidade e desejo. “Depois dos 50, algo se organiza internamente: ganhamos coragem para comunicar quem somos e ocupar nosso lugar sem pedir permissão.”

Existe algo profundamente político nesse corpo que segue dançando sem pedir licença ao tempo. Que reivindica delicadeza sem abrir mão de força. “Dançar, assim, é um ato político e espiritual”, diz. “É a mulher dizendo ao próprio corpo: eu te vejo, eu te respeito, eu te celebro.”

Quando Keila afirma que cada passo é uma oração, a frase ganha densidade. “Hoje, a oração que guia meus passos é a gratidão em movimento.” Gratidão por estar viva, criando, aprendendo e colocando o talento a serviço da vida. “Que minha arte continue sendo ponte - entre corpo, alma e coração.”

Talvez seja isso que faz de Keila Fuke uma presença tão inspiradora: não apenas o que ela construiu nos palcos, mas a forma como permanece. Em movimento. Em escuta. Em verdade.

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