Correio B

ALEGRIA, ALEGRIA

Carnaval é válvula de escape da população, diz historiador

Psicólogo e foliões também falam da importância da festividade mais popular do Brasil

EDUARDO FREGATTO

17/02/2015 - 16h19
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Já diz o ditado popular: “tudo que é bom dura pouco”. É assim com o Carnaval, que tem hoje o último dia de festa. Nesta reta final, já há muitos foliões enfrentando a ressaca, seja física ou moral, e se preparando para a Quarta-Feira de Cinzas e a Quaresma.

Após tanta folia, os dias que seguem representam um bom momento para reflexão. Afinal, qual o verdadeiro sentido do Carnaval? A reportagem do Correio B conversou com historiador, psicanalista e, claro, pessoas comuns de Campo Grande, para entender as motivações por trás da diversão e a sensação de liberdade que aflora neste período do ano.

“Grande parte da população utiliza esses dias de Carnaval exatamente como válvula de escape, para subverter a ordem vigente, fazer coisas que não fariam em outros períodos”, define o historiador Leandro Mendonça Barbosa, autor de um estudo sobre as festas tradicionais do Deus Dionísio, da Grécia, documentadas uma das primeiras festividades da humanidade que celebravam a “alegria” e uma das origens do Carnaval como conhecemos nos dias de hoje.

Extravasar

“Quanto mais o estado ou o poder oficial sufoca, mas a população tem necessidade de ter essas ‘explosões’. Desde a Idade Média, vemos diversas manifestações do tipo. A gente percebe uma necessidade do ser humano de extravasar”, argumenta o historiador.

A psicanalista Isloany Machado defende que os foliões se libertam nos dias de festa por conta da presença de grupos e multidões. “É uma estratégia que se cria para poder fazer coisas que não se fazem no cotidiano”, explica. “Quando se está em grupo, as pessoas se identificam com o grupo e perdem a própria identidade. Por isso, fazem coisas que não fariam caso estivessem sozinhas. É uma forma de fazer o que quer e voltar a ser criança”, avalia a especialista.

Para a estudante de Enfermagem Herica Montenegro, o Carnaval é importante para que as pessoas tenham coragem de quebrar seus próprios tabus. “Há o aval para ‘soltarem a franga’. Algumas pessoas precisam dessa coletividade para entrar em contato com algumas necessidades e vontades, que normalmente são controladas por tabus e regras da sociedade”, opina. 

“Acho importante, sim, extravasar, subverter a ordem sempre, mas ainda há muitas questões a serem pensadas, porque o machismo, o racismo e outros problemas estão presentes no Carnaval”, conclui Herica, que cita os casos de assédio moral e sexual contra a mulher, os quais ocorrem nas festas típicas.

Excessos

O historiador Leandro pondera que a festividade atual, com o excesso de bebidas, “pegação” e até brigas, é um Carnaval moderno.

“O Carnaval de hoje se descaracterizou, é fruto da sociedade capitalista. É aquele Carnaval que tem de gerar lucro, tem de vender bebida, abadás. Em vez de fomentar uma banda de marchinhas, se contrata um artista de axé, por exemplo”, pontua. 

“Não há nada de errado em beber e fazer farra, mas é preciso conhecer também o Carnaval enquanto tradição histórica”, aponta.

“Originalmente, o Carnaval era mais uma brincadeira. Hoje, temos esse teor mais sexual”, afirma também a psicanalista Isloany.

Leandro, contudo, vê um ressurgimento do Carnaval tradicional com a retomada dos blocos e cordões de Campo Grande. 

“Estão resgatando a tradição da festa. E assim, as pessoas ficam mais felizes e os governantes ficam mais felizes [com a valorização do Carnaval da cidade]. Todo mundo sai ganhando”, conclui.

Ressaca moral?

Depois do Carnaval, chega a Quaresma. São quarenta dias em que a Igreja Católica propõe que seja um período de purificação, meditação e reflexão.

A proximidade das datas não é um acaso. Leandro relata que, na Idade Média, reconhecendo que não poderia acabar com a festa, a Igreja Católica e o poder público instituíram a data oficial do Carnaval, antecedendo a Páscoa e caracterizando a Quaresma.

O acadêmico de Psicologia Gabriel Nolasco, 24 anos, reconhece que o “truque” da Igreja funciona até hoje. “O Carnaval possibilita que as pessoas fiquem à vontade, porque nesses dias ‘pode tudo’, e logo depois vem a moralidade religiosa para nos fazer pagar”, reflete Gabriel.

Para Isloany, a sensação de culpa e ressaca moral é uma consequência normal. “Para algumas pessoas, deve bater essa reflexão. Mas depende muito de cada um e do que a pessoa fez. É muito individual. Depende de como a pessoa lida com essa liberdade”.

Leandro destaca que atualmente há uma onda de perseguição no Brasil, que ataca o Carnaval como uma época de imoralidades e libertinagem.

“Todos têm direito de gostar ou não do Carnaval, mas é preciso compreender que é  uma tradição que remonta à Antiguidade, que deve ser respeitada como contexto histórico. O Carnaval tem elementos da Igreja Católica, da cultura africana, elementos do comportamento humano. Não é imposição de algum grupo somente. É uma festa que combina diversas crenças, costumes, práticas e tradições. O Carnaval precisa ser compreendido dessa forma”, finaliza.

As origens da folia

De acordo com o historiador Leandro Mendonça Barbosa, o primeiro registro de uma festa que celebrava a “alegria” vem da Antiguidade, por volta do século 6 a.C., na Grécia. Eram as celebrações ao Dionísio, deus do vinho.

Os próximos registros são de Roma, onde se iniciam as festas de “Carnavalia”, que significa celebração da carne.

A festa, que contestava os valores e a ordem vigente, chamou atenção da Igreja Católica e do poder público. Cientes que não poderiam acabar com a tradição, os dois poderes criam a data específica da festa, justamente antes da Páscoa e da Quaresma, o período de reflexão e purificação. A tentativa é, ao menos, controlar as manifestações.

O Carnaval chega ao Brasil por meio dos portugueses. Aqui, a festa se transforma, principalmente, por influência da cultura africana, vinda dos negros escravizados que aqui viviam. Elementos como os batuques e as músicas típicas são introduzidos.

 

OSCAR 2026

Wagner Moura tem 91,34% de chance de vencer o Oscar, aponta ranking

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%

21/12/2025 23h00

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62% Divulgação

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As expectativas brasileiras para o Oscar 2026 crescem antes mesmo do anúncio oficial dos indicados, previsto para 22 de janeiro. Wagner Moura aparece entre os nomes mais fortes da disputa pelo prêmio de melhor ator, segundo um novo levantamento do site especializado Gold Derby.

De acordo com a projeção, o ator brasileiro tem 91,34% de chance de vitória, porcentual que o coloca na terceira posição entre os 15 nomes mais bem colocados na categoria. A lista reúne artistas que já figuram entre os pré-indicados e aqueles acompanhados de perto durante a temporada de premiações.

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%. Wagner aparece logo atrás, à frente de nomes como Michael B. Jordan e Ethan Hawke.

As estimativas do Gold Derby são elaboradas a partir da combinação de previsões de especialistas de grandes veículos internacionais, editores do próprio site que acompanham a temporada de premiações e um grupo de usuários com alto índice de acerto em edições anteriores do Oscar.

O Agente Secreto está entre os pré-indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional e de Melhor Escalação de Elenco, em lista divulgada no último dia 16, pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

A cerimônia do Oscar 2026 está marcada para 15 de março, com transmissão da TNT e da HBO Max, e terá novamente Conan O’Brien como apresentador. A edição também deve ampliar a presença brasileira na premiação: produções nacionais como O Agente Secreto já figuram em listas de pré-indicados da Academia, em categorias como Melhor Filme Internacional e Melhor Escalação de Elenco.

Ranking do Gold Derby para o Oscar 2026 de melhor ator:

1. Leonardo DiCaprio (95,08%)

2. Timothée Chalamet (93,62%)

3. Wagner Moura (91,34%)

4. Michael B. Jordan (83,35%)

5. Ethan Hawke (73,46%)

6. Joel Edgerton (25,24%)

7. Jesse Plemons (7,09%)

8. George Clooney (4,25%)

9. Jeremy Allen White (4,06%)

10. Dwayne Johnson (2,64%)

11. Lee Byung Hun (2,52%)

12. Oscar Isaac (0,83%)

13. Daniel Day-Lewis (0,39%)

14. Brendan Fraser (0,31%)

15. Tonatiuh (0,24%)
 

Correio B+

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

Bailarina, atriz e criadora do método Dança Integral, Keila Fuke transforma o movimento em linguagem de escuta, autocuidado e reinvenção feminina

21/12/2025 20h00

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos Foto: Divulgação

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Keila Fuke fala de dança como quem fala de família. Não no sentido de abrigo confortável apenas, mas de território vivo - onde moram memória, desejo, silêncio e prazer. Quando ela diz que o corpo é templo, não soa místico. Soa prático. Soa vivido.

“A dança é uma arte que se expressa pelo corpo, e o corpo é nossa casa, templo sagrado e cheio de emoções, histórias e prazer”, diz. Para ela, quando uma mulher escuta e sente o próprio corpo, algo essencial se reorganiza: “ela realmente se conecta com sua essência primária, seus desejos, e consegue ir para a vida de forma mais consciente”.

Há mais de três décadas, Keila dança, atua, coreografa e cria. Sua formação artística começou ainda na infância e se expandiu por diferentes linguagens (dança, teatro, musical e direção), construindo uma trajetória consistente nos palcos brasileiros. Nos grandes musicais, viveu a intensidade da cena em produções como “Miss Saigon”, “Sweet Charity”, “A Bela e a Fera”, “Victor ou Victoria” e “Zorro” (experiências que aprofundaram sua relação com a disciplina, a entrega e a presença).

Foi também no teatro que sua trajetória profissional ganhou contorno definitivo. Keila estreou ao lado de Marília Pêra, em “Elas por Ela”, num encontro que deixaria marcas profundas em sua forma de compreender a arte. A convivência com Marília reforçou a noção de que o palco exige verdade, escuta e disponibilidade (valores que atravessam seu trabalho até hoje).

Mas só quem escuta com atenção percebe que sua trajetória não foi guiada apenas pela busca da forma perfeita ou do espetáculo bem acabado - e sim por uma pergunta insistente: o que o corpo ainda tem a dizer quando a vida muda de ritmo? Essa pergunta atravessa tudo o que ela faz hoje.

Ao falar sobre movimento, Keila não separa o gesto do afeto, nem a técnica da emoção. “A dança revela a comunicação entre o mundo interno e o externo. O gesto se torna linguagem, o movimento vira verdade.” Talvez seja exatamente por isso que tantas mulheres chegam às suas vivências depois de períodos de exaustão: ali não se pede performance, mas presença.

Existe algo de radicalmente gentil na forma como Keila olha para o corpo feminino. Especialmente aquele que atravessa a maturidade. A menopausa, tema ainda cercado de silêncio, aparece em sua fala como travessia, não como falha. “Todas as mulheres irão passar por esse portal ao entrar na maturidade”, afirma. “Não para corrigir o corpo, mas para reconhecê-lo.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos         B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Foi desse entendimento que nasceu o método Dança Integral, desenvolvido a partir da integração entre sua experiência artística e seus estudos terapêuticos. Ao longo dos anos, Keila aprofundou-se em yoga, meditação, tantra, bioenergética e consciência sistêmica, incorporando esses saberes à dança. “É um trabalho que convida a mulher a ativar e integrar seus corpos (físico, mental e emocional) devolvendo consciência, presença e escuta.”

Na prática, o movimento deixa de ser esforço e passa a ser aliado. O corpo volta a circular energia, as emoções encontram expressão e a mente desacelera. “No movimento consciente, o corpo lembra que não nasceu para ser corrigido, mas habitado.” Quando isso acontece, o corpo deixa de ser campo de conflito e volta a ser morada.

A ancestralidade japonesa que Keila carrega atravessa profundamente esse olhar. Mestiça de origens japonesa, italiana, alemã e libanesa, ela se reconhece como uma mulher amarela e traz dessa herança a disciplina entendida como cuidado. O respeito ao tempo, ao silêncio e ao gesto essencial molda sua relação com o movimento, a prática e o feminino. Espiritualmente, o corpo é templo, o movimento é ritual e a repetição, um caminho de aperfeiçoamento interno.

Ao mesmo tempo, Keila é mistura. Emoção, calor e invenção brasileira convivem com rigor e silêncio. “Vivo entre tradição e vanguarda, entre raiz e criação”, diz. É dessa fusão que nasce um trabalho que não se fixa nem na forma nem no conceito, mas no estado de presença.

Essa escuta sensível também se manifesta fora das salas de dança. Há 17 anos, Keila atua na Fundação Lia Maria Aguiar, em Campos do Jordão, onde integra a formação artística de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Ali, ela participa da criação de um núcleo de teatro musical que utiliza a arte como ferramenta de educação, inclusão e fortalecimento da autoestima. “Com eles, aprendo que sensibilidade não é fragilidade, é potência.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anosB+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Falar de reinvenção aos 59 anos, para Keila, não tem a ver com começar do zero. Tem a ver com fidelidade. “Se reinventar é um gesto de fidelidade à vida.” Ela fala de saúde emocional, de vulnerabilidade, mas também de prazer, curiosidade e desejo. “Depois dos 50, algo se organiza internamente: ganhamos coragem para comunicar quem somos e ocupar nosso lugar sem pedir permissão.”

Existe algo profundamente político nesse corpo que segue dançando sem pedir licença ao tempo. Que reivindica delicadeza sem abrir mão de força. “Dançar, assim, é um ato político e espiritual”, diz. “É a mulher dizendo ao próprio corpo: eu te vejo, eu te respeito, eu te celebro.”

Quando Keila afirma que cada passo é uma oração, a frase ganha densidade. “Hoje, a oração que guia meus passos é a gratidão em movimento.” Gratidão por estar viva, criando, aprendendo e colocando o talento a serviço da vida. “Que minha arte continue sendo ponte - entre corpo, alma e coração.”

Talvez seja isso que faz de Keila Fuke uma presença tão inspiradora: não apenas o que ela construiu nos palcos, mas a forma como permanece. Em movimento. Em escuta. Em verdade.

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