Não sou da galera que idolatra The Walking Dead e assisti ao mínimo possível para ter algum tipo de conversa entre amigos. Ainda assim, hoje estou aqui para comentar sobre The Walking Dead: Dead City.
O spin-off com seis episódios traz dois personagens populares da série, Maggie (Lauren Cohan) e Negan (Jeffrey Dean Morgan), inimigos mortais desde que Negan traumatizou a jovem – e a nós – massacrando o pobre marido dela, Glenn (Steven Yeun), na temporada 7.
Mesmo com um arco de recuperação que apenas apocalipse proporciona às pessoas (poder ser um psicopata assassino por duas longas temporadas, mas virar o herói redimido pelo amor às crianças em duas depois), Maggie nos representa porque não há como confiar em Negan depois de tudo que ele fez. Ou é possível?
Ao longo de mais de uma década, The Walking Dead bate na tecla das atrocidades que humanos são capazes de perpetuar uns com os outros mesmo em meio à um planeta dominado por zumbis.
Igualmente, diante da destruição material e moral do mundo e da sociedade, são as conexões com sobreviventes que também desperta o melhor das pessoas, sempre permitindo uma reinvenção radical. Negan é um dos maiores exemplos disso.
Agora que a franquia lida com múltiplas histórias paralelas, embora a sensação do “já deu” seja real, vai demandar concentração para entender como elas eventualmente possam se cruzar e fazer sentido.
Todos os clichês estão presentes, incluindo personagens que aparecem e que sabemos que estão ali como corpos pontenciais para proteger os protagonistas, o que é também fonte de tédio porque a construção de suspense é apenas uma sequência de música e olhares nervosos, mas quem lidera jamais está correndo sério risco.
A sensação de segurança é um dos problemas de The Walking Dead porque não há “Glenns” sendo mortos a todo momento.
Dead City não foi o primeiro spinoffs de Walking Dead, mas sim Fear the Walking Dead. Também houve The Walking Dead: The World Beyond e Tales of the Walking Dead, mas agora é efetivamente algo que saiu diretamente da “nave mãe”.
Foto: DivulgaçãoA aliança improvável dos inimigos Maggie e Negan sempre foi meio que suspeita e finalmente colocamos os pingos nos is aqui.
A trama é simples: o filho de Maggie foi sequestrado por um ex-membro da tripulação de Negan. Para localizá-lo, ainda com vida, ela “caça” o assassino recuperado que está fugindo da “lei” e se unem e um objetivo de redenção para ele.
Boa parte desse argumento que mals sustentaria seis episódios só funciona por conta do carisma inegável de Jeffrey Dean Morgan. Lauren Cohan está ótima, mas é ele que traz a profundidade e nos convence tanto quando é cruel como quando é bonzinho.
A transformação de Negan
É preciso lembrar ou saber que Maggie e Glenn se apaixonaram logo no início de The Walking Dead e que, como mencionado, Negan o matou deliberadamente e violentamente na temporada 7, quando Maggie, grávida, testemunhou o ataque sem poder fazer nada.
Negan era o líder de um culto pós-apocalíptico chamado Salvadores, e foi eventualmente derrotado e preso por Rick Grimes e seus aliados. Os Salvadores se dispersaram, alguns juntando-se aos sobreviventes, outros seguindo seu próprio caminho.
Negan escapou, voltou, escapou novamente, matou mais gente, foi exilado e aceito de volta ao grupo. Se casou, teve um filho e perdeu os dois. Virou outro homem, mas isso aconteceu quando Maggie estava fora, vivendo em outra comunidade e quando volta fica chocada e enlouquecida de ter que conviver com o assassino de seu marido.
Nem um pedido formal de desculpas no final da série, foi o suficiente, mas juntos os dois são o pesadelo dos antagonistas. Algo que Dead City contou para esticar a nova trama em seis longos episódios.
Para quem acompanhou a série, mesmo transformando Negan em um bom homem, é impossível que Maggie possa perdoá-lo. E por isso há algo desafinado no fato dela ter que pedir ajuda ao homem que assassinou o amor de sua vida e trabalhar com ele.
A virada “surpreendente” e a explicação do final
Aqui é spoiler puro. Dead City se arrasta por cinco episódios, repetindo TODOS os clichês do gênero até que, no episódio final, tem a virada surpresa e o gancho para as futuras temporadas.
Era absolutamente previsível, mas nos últimos minutos da temporada, o atento Negan finalmente descobre que Maggie mentiu sobre a razão de trazê-lo para Nova York. O sequestro de Hershel (Logan Kim) é verdade, mas o resgate era entregar Negan para seu antigo inimigo e assim levá-lo para um novo Santuário.
Essa parte Maggie não sabia, é verdade, ela acreditou que fossem matar Negan e mesmo se sentindo mal de usá-lo, no fundo achava que merecia.
“Nós poderíamos ter salvado Hershel. Porque você e eu juntos, formamos um time incrível. O fato é, Maggie, não importa quais desculpas eu lhe dê ou quantas desculpas eu ofereça, você pode’ Não supere isso. E você não deveria”, Negan diz a Maggie, fazendo um gaslighting absurdo com a heroína.
O problema é que Maggie foi usada para criar ameaças séries a qualquer comunidade sobrevivente. O croata (Željko Ivanek) nunca quis matar Negan. A meta era dar à Negan um novo trabalho e um novo título.
Foto: DivulgaçãoIsso mesmo, ele entrega o assassino à Dama (Lisa Emery), a nova líder antagonista que por sua vez quer que Negan lidere Manhattan no inevitável “choque de civilizações” por recursos naturais. Manhattan descobriu a técnica de transformar os cadáveres em energia por conta do metano que produzem. Isso coloca Nova York em guerra com a Federação da Nova Babilônia. A função de Negan é unir os assentamentos sob um único governo.
Sei que soa uma piada, mas é sério. Aparentemente Negan é coagido a aceitar a proposta porque sente arrependimento pelas pessoas que matou no passado.
Faz muito pouco sentido, mas ao ver que a Dama tem o dedo do pé de Hershel como souvenir, ela avisa que se Negan não aceitar o cargo, que voltará para mais pedaços de Hershel.
A essa altura, depois do que Maggie fez, ele deveria estar dizendo “fique à vontade”, mas aparentemente ele aceita o jogo.
Com a tela dividida de Maggie e Negan “compartilhando um rosto” fica a dica de que a parceria entre Negan e Maggie é possível e pode inverter toda franquia de The Walking Dead, as duas faces de uma mesma moeda.
The Walking Dead: Dead City está longe da qualidade narrativa que marca a franquia como uma das mais adoradas da TV, mas também abre um novo começo. Precisamos mesmo dele?
O ator Bernando Mesquita é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Felipe Quintini - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia Viana
O ator Bernando Mesquita é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Felipe Quintini - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia Viana


