Enquanto esteve vivo, Leonard Bernstein despertava críticos e adoradores com uma paixão similar. Tudo nele parecia exagerado: os cigarros sempre acesos, os gestos exagerados na regência, a força da música e da orquestração. Desde que ‘surgiu’, ainda jovem, ‘gênio’ parecia fazer parte de sua marca.
Se a intensidade no palco era evidente, podemos imaginar como era nos bastidores. O filme Maestro, dirigido e estrelado por Bradley Cooper, confirma toda e qualquer suspeita que pudéssemos ter.
A discussão inicial sobre a produção girou mais em torno do nariz prostético usado por Cooper para se parecer mais com o maestro. Se você não é da geração que conviveu com
Bernstein ainda vivo – ou não faz um google para saber mais sobre ele – a discussão pode ficar rasa se ficar discutindo a maquiagem, que aliás, deixou Bradley assustadoramente I-GUAL a Leonard Bernstein.
O gestual seria fácil ‘imitar’, mas o ator incorporou os mínimos detalhes inclusive da fala do maestro. E em alguns momentos parece que o compositor gostava mais do som de sua própria voz do que música porque ele fala, fala, e fala… Mas era isso mesmo.
Antes de entrar no mérito do filme por si mesmo, vamos comentar os bastidores de Maestro, porque são confusos como a vida de Bernstein. Foram pelo menos 5 anos de trabalhos antes chegar às telas e à plataforma da Netflix.
Inicialmente batizado como The American, o filme traria Jake Gyllenhaal no papel principal e Cary Fukunawa, de True Detective, ia dirigir. Porém a produção não conseguiu liberar os direitos musicais e sem música seria virtualmente impossível contar a história desse compositor e regente tão ímpar.
Foto: DivulgaçãoEles estavam disputando com Bradley Cooper, que conseguiu a liberação da música para a sua proposta. Diante disso, The American foi arquivado e Maestro passou a ser o único filme a seguir em frente.
Embora tenha grande força em toda narrativa (eu acho alguns trechos longos), o roteiro passeia pela música e criatividade de Bernstein, e foca mais na incomum história de amor dele com sua esposa, a atriz chilena Felicia Montealegre, interpretada por uma eternamente brilhante Carey Mulligan.
O que tornava a relação atípica é que o maestro era homossexual, um fato “escondido” para o grande público, mesmo que aberto para o meio artístico e íntimo do casal. Como os dois equilibraram o amor que existia entre eles apesar disso é o coração da emoção de Maestro.
Na minha opinião, tanto Carey como Bradley já podem contar seus nomes na seleta lista de indicados ao Oscar 2024, sendo que o ator, para mim, já pode preparar o discurso vencedor.
Carey esbarra com o favoritismo de Emma Stone por Pobres Criaturas (Poor Things), mas eu considero uma injustiça com ela se for perderdora. Como diretor, não há como Maestro tirar o hype em torno de Greta Gerwick por Barbie, mesmo que eu considere o trabalho de Bradley Cooper superior.
Outro prêmio inegável e merecido será de Kazu Hiro, que já ganhou o Oscar por transformar Gary Oldman em Winston Churchill em The Darkest Hour assim como Charlize Theron em Megyn Kelly em Bombshell. Quando Bradley Cooper é Leonard Bernstein aos 70 anos, você jura que ele envelheceu diante dos seus olhos.
Foto: DivulgaçãoMaestro espertamente evita a narrativa da moda que costuma agora sempre ser não-linear. E agradeço isso! Oppenheimer ficou especialmente longo e complexo justamente por não seguir a ordem dos fatos.
Aqui não, começamos com Leonard Bernstein lembrando saudoso de Felicia e voltamos no tempo acompanhando desde o momento que ganhou o estrelato, num ritmo frenético que vai sendo reduzido aos poucos, quando a relação dele com a esposa foi se desfazendo aos poucos.
Concordo com os outros críticos que há uma indecisão até estética de Bradley Cooper na direção, há momentos propositalmente tecnicamente e visualmente deslumbrante, sem explorar as músicas mais esperadas, assim como clipes alongados de concertos entrecortados por vazios e pausas nos diálogos, que não preenchem o vazio emocional.
Foto: DivulgaçãoSe você não conhecia Bernstein antes, continua sem entendê-lo 100%. Nem artisticamente, nem pessoalmente. Parece que há muita necessidade dos diretores de imporem ’assinaturas estéticas’, mas também que elas ficam muito obvias, atrapalhando o básico de simplesmente nos contar uma boa história. No caso de Maestro, não atrapalha.
E se faltou deixar ainda mais clara a genialidade do biografado, por outro lado, aumentou o mistério da lenda. E não há nada de errado com isso.
B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação
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