Há 40 anos essa cena fez de Tom Cruise uma estrela.
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A sequência é um dos pontos altos de Negócio Arriscado, uma ‘comédia adolescente’ que era o formato febre dos anos 1980s. Dirigida e escrita por Paul Brickman foi comparado na época ao clássico A Primeira Noite de Um Homem e uma das maiores bilheterias do ano (mais de 68 milhões de dólares apenas nos EUA).
A trama é simples e segue, como mencionado, as regras repetidas ad nauseum por pelo menos 10 anos: quando os pais viagem de férias, um adolescente no último ano do ensino médio embarca em uma série de aventuras (românticas e sexuais) e desventuras (casas e carros são destruídos) com momentos cômicos e um final romântico pra cima.
Há 40 anos a comédia era essencialmente em situações chamadas de “politicamente incorretas”, e Negócio Arriscado é mais um exemplo. Joel Goodsen (Tom Cruise) vive com seus pais ricos que o querem estudando na Universidade de Princeton. Para conseguir a nota que precisa para entrar, Joel participa de uma atividade extracurricular na qual os alunos trabalham em equipes para criar pequenos negócios.
Tom Cruise - 40 anos de Negócio Arrsicado - Foto: DivulgaçãoO problema é que na ausência dos pais ele faz uma “festinha” em casa, destruindo tudo e precisa fazer dinheiro rápido para cobrir o prejuízo. A alternativa é “agenciar” garotas de programa, levadas por Lana (Rebecca DeMornay). Ou seja, o ‘negócio arriscado’ e bem sucedido de Joel é ser cafetão de luxo. Pois é.
Se hoje a cena na qual Tom Cruise dança pela sala de cueca e camisa de botão ao som de Old Time Rock and Roll é considerada um clássico ironicamente, o filme todo quando estava apenas no roteiro foi difícil de emplacar. Na época, a porno comédia Porky’s era o que se considerava engraçado e a história bolada por Brickman não era nem ousada ou arriscada o suficiente.
Só o diálogo no qual se pergunta “que p**** é essa”, algo incomum há 40 anos, sugeria algo “arriscado”. Desde então, palavrões passaram a ser corriqueiros em Hollywood. Outro sinal dos tempos é que a questão da prostituição até foi um obstáculo em 1893, mas não pela ótica da exploração feminina, mas porque na linha de Porky’s, outras produções usaram bordéis como cenário, como The Best Little Whorehouse in Texas e Night Shift, ambas sem sucesso.
Isso mesmo, “prostituição não rendia suficiente para convencer os estúdios”. Ainda assim, o projeto foi aceito e um dos pedidos feitos pelos executivos foi apenas o de aumentar a idade de Lana, a namorada de Joel e garota de programa, que inicialmente teria apenas 16 anos e passou para 21 para não ser ilegal. Que consideração, hein?
Antes de fechar com o desconhecido Tom Cruise, todos os jovens atores da época fizeram teste: Sean Penn, Gary Sinise, Kevin Bacon, John Cusack e Kevin Anderson foram rejeitados. Megan Mullally, anos antes de Will e Grace foi rejeitada para o papel de Lana.
Foto: DivulgaçãoFoi apenas com o sucesso de Vidas Sem Rumo que viram um jovem que aparece em poucas cenas, sempre com o cabelo oleoso para trás e um dente pontiagudo e que tinha um dia de folga na cidade, que decidiram fazer um teste com ele na hora do almoço. Assim nascem as lendas, não é?
O garoto educado e sério arrebentou no teste. Só faltava escolher quem seria seu par romântico, mas não havia muitas mulheres empolgadas com a ideia de interpretar uma garota de programa que seduz um aluno menor de idade do último ano do ensino médio.
Michelle Pfeiffer, por exemplo, recusou. Foi quando decidiram testar a então “namorada de Harry Dean Stanton”, Rebecca De Mornay. A química com Tom Cruise era inegável (mais tarde eles viriam a namorar). E, para estrelar Negócio Arriscado, Tom recusou o convite de Francis Ford Coppola para ser um dos principais em O Selvagem da Motocicleta, papel que acabou indo para Matt Dillon.
Quando as filmagens avançaram, descobriram que o final original (onde Joel ‘perde’ tudo) não funcionava e deram a ele o impossível: entrar em Princeton, ter um futuro felizmente ambíguo com Lana e deixar seus pais sem saber de suas aventuras – exceto por uma pequena rachadura no ovo de cristal. A cara dos anos 1980s e um profundo desagrado para o diretor, que achou a conclusão cafona.
Às vésperas de voltar às telas com Missão Impossível, é divertido olhar como o fenômeno Tom Cruise surgiu de um projeto tão pequeno. E também graças ao filme, há 40 anos, associamos o ator aos melhores óculos escuros do momento. Lendas nascem assim.
Reprodução obra "A procura da caça", de Lúcia Martins
“Onça que Chora”, um dos trabalhos inéditos da nova exposição
Reprodução obra Florescer no Pântano, de Lúcia Martins


