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PRECONCEITO E SOFRIMENTO

'Cresci me sentindo uma
pessoa feia', diz Miss SP Gay

'Cresci me sentindo uma
pessoa feia', diz Miss SP Gay

G1

08/07/2017 - 23h00
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Eleito o mais belo transformista do estado de São Paulo, o maquiador Gerald Pizzi, de 25 anos, revela um passado difícil, de preconceitos e sofrimento, até alcançar seu maior sonho: o título de Miss SP Gay, conquistado em junho, com a personagem Bárbara Rivera.

Pizzi conta que foi o desejo de brilhar em um concurso de beleza que o motivou a enfrentar todas as críticas que sempre ouviu desde a infância em Brodowski (SP), cidade com pouco mais de 20 mil habitantes, onde nasceu e vive até hoje.

“Eu cresci me sentindo uma pessoa feia, me sentindo menosprezado pela sociedade, me sentindo diferente, mas não apenas em termos de orientação sexual. Eu nem pensava nisso naquela época. Para mim, era apenas coisa de aparência”, desabafa.

Nascido em família humilde, Pizzi e os quatro irmãos nunca tiveram regalias. Apesar da situação financeira difícil, a mãe, dona de casa, e o pai, vendedor de frutas, fizeram o possível para que os filhos concluíssem os estudos. Mas, foi na escola que o menino sofreu a primeira rejeição.

“Eu era ridicularizado, dificilmente tinha par para dançar festa junina, as mães me afastavam dos filhos dela, mas eu não entendia muito bem o por quê. Eu era uma criança inocente, só fui me descobrir gay aos 13 anos. Aliás, eu nem sabia o que era ser gay”, diz.

O maquiador chegou a pesar 107 quilos e a obesidade também o levava a ser alvo de piadas por parte dos colegas. Pizzi relata que se sentia muito triste com os apelidos que recebia e aos 9 anos decidiu, por conta própria, iniciar a primeira de muitas dietas.

“No popular, eu era pobre, gordo, negro e gay. Era só assim que as pessoas me enxergavam. Hoje, não existe tanto preconceito, mas naquela época era muito diferente. Eu era tudo o que as pessoas não gostavam”, afirma.

Mas, as “brincadeiras” foram se tornando mais agressivas. Prestes a concluir o ensino médio, Pizzi abandonou os estudos. Foram dois anos longe das salas de aula, até que a família o matriculou em uma escola em Ribeirão Preto (SP), município vizinho.

“Fui um adolescente recluso, saía poucas vezes, não tinha amigos. Só ia do trabalho para casa e de casa para o trabalho. Na rua, eu andava de cabeça baixa, tinha vergonha de olhar na cara das pessoas e ser atacado, ou ser ofendido. E, realmente, isso acontecia”, revela.

Até na vida profissional, Pizzi conta que enfrentou muitos obstáculos e chegou a ser demitido de uma empresa onde trabalhava porque usava protetor solar com cor no rosto, devido à pele morena, e manteiga de cacau nos lábios.

“Eles entraram em contato comigo, dizendo que estavam recebendo reclamações por eu trabalhar maquiado e justificando que as pessoas não estavam acostumadas com isso, ainda mais por ser uma empresa que vendia material de construção”, conta.

A pressão psicológica se tornou depressão. Pizzi afirma que não sentia mais vontade de viver e passava os dias fechado no quarto. A televisão era a única companhia e foi justamente assistindo a um concurso de beleza que tudo começou a mudar.

O maquiador relembra exatamente a data: era 28 de maio de 2007, quando a então Miss Brasil Natália Guimarães perdeu para a concorrente japonesa e ficou em segundo ligar no Miss Universo daquele ano.

“Naquele momento, eu decidi que minha vida seria diferente, eu queria me tornar miss. Eu sentei, escrevi em um papel todas as minhas metas e em que época conquistaria cada coisa. Eu me apoiei no mundo miss para viver”, relembra.

Foi nesse mesmo período que Pizzi começou a se interessar por maquiagem, ao perceber que a prática funcionava como uma forma de terapia. Aos 18 anos, concluiu o primeiro curso na área e, aos 22, já havia se tornado um profissional reconhecido no interior de São Paulo.

“A maquiagem foi uma válvula de escape que, aos poucos, se tornou uma paixão. Acho que ela também ajuda a esconder um pouco do meu sofrimento interno. Quando estuo mal, eu me maquio. Se estou triste, ou com a autoestima baixa, me maquio”, afirma.

Focado exclusivamente nos concursos de beleza, o maquiador conta que emagreceu 40 quilos em um ano e meio. Só na reta final para o Miss SP Gay foram 16 quilos eliminados em 45 dias. Conforme Pizzi se preparava, aos poucos a personagem Bárbara Rivera nascia.

Junto com ela, o estúdio do maquiador foi ganhando mais cor: vestidos, saltos, perucas, unhas e cílios postiços, além de muitos e muitos itens de beleza para uma maquiagem impecável, a marca registrada do transformista.

“Apesar de tudo isso, na hora que abriram as cortinas do Miss São Paulo eu pensei ‘não vou fazer nada ensaiado’. Fui eu mesmo, de coração, e então eu percebi que dentro de mim não havia só sofrimento, descobri uma beleza que nem eu sabia que existia. Foi a beleza interna que me fez vencer o concurso”, diz.

Agora, Bárbara Rivera se prepara para o Miss Brasil Gay. E diante de um desafio maior, a expectativa é de alçar um voo ainda mais alto e conquistar a coroa de Miss Universo Gay. Do passado de sofrimento, o transformista diz que só leva consigo o aprendizado.

“Hoje, eu tenho a admiração e o arrependimento das pessoas que me fizeram mal. Hoje, as mesmas pessoas que, antes, me julgavam, pedem foto. Por isso, eu aconselho sempre as pessoas a nunca desistirem dos seus sonhos e não darem ouvidos ao que as pessoas dizem, a menos que forem palavras de incentivo”, conclui.

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B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

Bailarina, atriz e criadora do método Dança Integral, Keila Fuke transforma o movimento em linguagem de escuta, autocuidado e reinvenção feminina

21/12/2025 20h00

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos Foto: Divulgação

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Keila Fuke fala de dança como quem fala de família. Não no sentido de abrigo confortável apenas, mas de território vivo - onde moram memória, desejo, silêncio e prazer. Quando ela diz que o corpo é templo, não soa místico. Soa prático. Soa vivido.

“A dança é uma arte que se expressa pelo corpo, e o corpo é nossa casa, templo sagrado e cheio de emoções, histórias e prazer”, diz. Para ela, quando uma mulher escuta e sente o próprio corpo, algo essencial se reorganiza: “ela realmente se conecta com sua essência primária, seus desejos, e consegue ir para a vida de forma mais consciente”.

Há mais de três décadas, Keila dança, atua, coreografa e cria. Sua formação artística começou ainda na infância e se expandiu por diferentes linguagens (dança, teatro, musical e direção), construindo uma trajetória consistente nos palcos brasileiros. Nos grandes musicais, viveu a intensidade da cena em produções como “Miss Saigon”, “Sweet Charity”, “A Bela e a Fera”, “Victor ou Victoria” e “Zorro” (experiências que aprofundaram sua relação com a disciplina, a entrega e a presença).

Foi também no teatro que sua trajetória profissional ganhou contorno definitivo. Keila estreou ao lado de Marília Pêra, em “Elas por Ela”, num encontro que deixaria marcas profundas em sua forma de compreender a arte. A convivência com Marília reforçou a noção de que o palco exige verdade, escuta e disponibilidade (valores que atravessam seu trabalho até hoje).

Mas só quem escuta com atenção percebe que sua trajetória não foi guiada apenas pela busca da forma perfeita ou do espetáculo bem acabado - e sim por uma pergunta insistente: o que o corpo ainda tem a dizer quando a vida muda de ritmo? Essa pergunta atravessa tudo o que ela faz hoje.

Ao falar sobre movimento, Keila não separa o gesto do afeto, nem a técnica da emoção. “A dança revela a comunicação entre o mundo interno e o externo. O gesto se torna linguagem, o movimento vira verdade.” Talvez seja exatamente por isso que tantas mulheres chegam às suas vivências depois de períodos de exaustão: ali não se pede performance, mas presença.

Existe algo de radicalmente gentil na forma como Keila olha para o corpo feminino. Especialmente aquele que atravessa a maturidade. A menopausa, tema ainda cercado de silêncio, aparece em sua fala como travessia, não como falha. “Todas as mulheres irão passar por esse portal ao entrar na maturidade”, afirma. “Não para corrigir o corpo, mas para reconhecê-lo.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos         B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Foi desse entendimento que nasceu o método Dança Integral, desenvolvido a partir da integração entre sua experiência artística e seus estudos terapêuticos. Ao longo dos anos, Keila aprofundou-se em yoga, meditação, tantra, bioenergética e consciência sistêmica, incorporando esses saberes à dança. “É um trabalho que convida a mulher a ativar e integrar seus corpos (físico, mental e emocional) devolvendo consciência, presença e escuta.”

Na prática, o movimento deixa de ser esforço e passa a ser aliado. O corpo volta a circular energia, as emoções encontram expressão e a mente desacelera. “No movimento consciente, o corpo lembra que não nasceu para ser corrigido, mas habitado.” Quando isso acontece, o corpo deixa de ser campo de conflito e volta a ser morada.

A ancestralidade japonesa que Keila carrega atravessa profundamente esse olhar. Mestiça de origens japonesa, italiana, alemã e libanesa, ela se reconhece como uma mulher amarela e traz dessa herança a disciplina entendida como cuidado. O respeito ao tempo, ao silêncio e ao gesto essencial molda sua relação com o movimento, a prática e o feminino. Espiritualmente, o corpo é templo, o movimento é ritual e a repetição, um caminho de aperfeiçoamento interno.

Ao mesmo tempo, Keila é mistura. Emoção, calor e invenção brasileira convivem com rigor e silêncio. “Vivo entre tradição e vanguarda, entre raiz e criação”, diz. É dessa fusão que nasce um trabalho que não se fixa nem na forma nem no conceito, mas no estado de presença.

Essa escuta sensível também se manifesta fora das salas de dança. Há 17 anos, Keila atua na Fundação Lia Maria Aguiar, em Campos do Jordão, onde integra a formação artística de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Ali, ela participa da criação de um núcleo de teatro musical que utiliza a arte como ferramenta de educação, inclusão e fortalecimento da autoestima. “Com eles, aprendo que sensibilidade não é fragilidade, é potência.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anosB+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Falar de reinvenção aos 59 anos, para Keila, não tem a ver com começar do zero. Tem a ver com fidelidade. “Se reinventar é um gesto de fidelidade à vida.” Ela fala de saúde emocional, de vulnerabilidade, mas também de prazer, curiosidade e desejo. “Depois dos 50, algo se organiza internamente: ganhamos coragem para comunicar quem somos e ocupar nosso lugar sem pedir permissão.”

Existe algo profundamente político nesse corpo que segue dançando sem pedir licença ao tempo. Que reivindica delicadeza sem abrir mão de força. “Dançar, assim, é um ato político e espiritual”, diz. “É a mulher dizendo ao próprio corpo: eu te vejo, eu te respeito, eu te celebro.”

Quando Keila afirma que cada passo é uma oração, a frase ganha densidade. “Hoje, a oração que guia meus passos é a gratidão em movimento.” Gratidão por estar viva, criando, aprendendo e colocando o talento a serviço da vida. “Que minha arte continue sendo ponte - entre corpo, alma e coração.”

Talvez seja isso que faz de Keila Fuke uma presença tão inspiradora: não apenas o que ela construiu nos palcos, mas a forma como permanece. Em movimento. Em escuta. Em verdade.

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Saúde B+: Você sabia que bronzeado saudável não existe? Confira!

Médicos alertam sobre riscos da exposição solar e sobre a importância da proteção solar eficaz

21/12/2025 19h00

Saúde B+: Você sabia que bronzeado saudável não existe? Confira!

Saúde B+: Você sabia que bronzeado saudável não existe? Confira! Foto: Divulgação

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Infelizmente … aquele bronze dourado e saudável não existe! Esse, que é o desejo de muitas pessoas, pode representar um real perigo para a saúde da pele. “Classificamos os tipos de pele de I a VI, de acordo com a capacidade de resposta à radiação ultravioleta (UV), sendo chamado fototipo I aquele que sempre se queima e nunca se bronzeia, até o VI, pele negra, totalmente pigmentada, com grande resistência à radiação UV. A pigmentação constitutiva - cor natural da pele - é definida geneticamente. A cor facultativa - bronzeado - é induzida pela exposição solar e é reversível quando cessa a exposição”, explica a dermatologista Dra. Ana Paula Fucci, Membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

O chamado "bronzeado dourado" é observado nas peles mais claras e para ocorrer, ocasiona danos no DNA das células.  “As  consequências serão vistas anos mais tarde, em forma de fotoenvelhecimento, manchas ou lesões cutâneas malignas.O ideal é respeitar seu tipo de pele e sua sensibilidade ao sol. Nunca queimar a ponto de “descascar”. Importante: evite se expor ao sol entre 10 e 16h”, detalha a dermatologista. 

Dra. Ana Paula alerta ainda sobre os riscos de bronzeamento artificial, através das câmaras de bronzeamento: “esse é ainda mais prejudicial para a pele do que a exposição ao sol. A radiação é entregue de forma concentrada e direta, sem nenhum tipo de filtro ou proteção”.  

A médica ressalta que filtro solar não é uma permissão para a exposição ao sol. “Ele é um grande aliado, desde que sejam seguidas as orientações de horário, evitar exposição exagerada e usar complementos como bonés, óculos etc”, reforça Dra. Ana Paula Fucci.  

- Proteção solar eficaz 

A rotina de proteção solar é muito importante em qualquer época do ano, sobretudo agora no verão.  “Não deixe para aplicar o filtro quando chegar na praia ou piscina, por exemplo. O ideal é aplicá-lo cerca de 20 minutos antes de se expor ao sol, para dar tempo de ser absorvido e começar a agir. Também devemos reaplicar o filtro solar a cada 2 horas ou após se molhar ou suar muito”, destaca Dr. Franklin Veríssimo, Especialista e pós-graduado em Laser, Cosmiatria e Procedimentos pelo Hospital Albert Einstein-SP. 

Dr. Franklin destaca três aspectos importantes para uma proteção solar eficaz:

1- “Use filtro com FPS 30 ou maior;  e para as crianças ou pessoas que possuem pele mais sensível, FPS de no mínimo 50;

2- Use proteção adicional ao filtro solar, como chapéus, viseiras, óculos escuros. Recomendo evitar a exposição solar entre 10 e 16h;

3.  Use roupas leves, claras e chapéu e óculos de proteção UV, principalmente se for praticar caminhadas e atividades físicas ao ar livre.  Quem costuma ficar muito tempo no sol tem que redobrar os cuidados e investir em roupas com proteção ultravioleta”, conclui o médico.  

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