Desde que Silvio de Abreu assumiu a direção de teledramaturgia da Globo, em 2014, todo o setor ganhou em organização. Com uma grade montada com antecedência, Sílvio antecipou o período de pré-produção das tramas e conseguiu dividir autores, elenco e equipes técnicas de forma mais harmônica. Com algumas exceções, é um método de trabalho que vem gerando resultados e um ambiente de trabalho mais confortável. Em “Verão 90”, outro ponto muito questionado por autores e diretores também mudou. Por conta da oscilação de audiência, a emissora sempre optou por não ter uma grande frente de capítulos para levar a história em direção aos anseios do público e bons índices no Ibope. A atual novela das sete, que já está em clima de despedida, mudou essa regra. Como a Globo já viu que não consegue segurar os “spoilers” dos momentos finais de suas tramas, resolveu terminar os trabalhos no estúdio cerca de um mês antes do último capítulo. Com isso, conseguiu fazer cenas de forma mais elaboradas e evitar a perda de qualidade de sequências captadas em momentos de pressão.
Sem correr com a trama além do necessário, o último mês de “Verão 90” foi marcado por tudo o que funcionou durante a exibição. Depois de muitos perrengues, Lidi Pantera, de Claudia Raia, enfim, reconquistou o sucesso de outrora ao virar uma musa “fitness” bem ao gosto do apelo popular que as academias de ginástica ganharam na primeira metade da década homenageada. Símbolo dos anos 1990, Claudia esteve à vontade na personagem e com propriedade, brincou com as idiossincrasias da época sem medo de cair na mesmice ou no ridículo. Com as tramas principais já bem desenvolvidas, as autoras aproveitaram o momento para agraciar com um pouco mais de espaço alguns personagens secundários que acabaram coadjuvantes demais, como é o caso do “playboy” Candé, de Kayky Brito. Depois de ver a família sofrer uma derrocada financeira, o choque de realidade acabou causando uma positiva transformação no papel, a ponto de ele até assumir a paixão reprimida por Sabrina, a “drag queen” vivida por Miguel Rômulo.
Mesmo que seja desnecessária, a volta de Humberto Martins só corrobora o quanto a má construção de seu Herculano fez o personagem totalmente irrelevante para o desdobramento da história. Com mais apelo e comicidade, a junção de Janaína com Raimundo, personagens de Dira Paes e Flávio Tolezzani, ganhou a torcida do público. Aliás, foram os contextos românticos menos óbvios que acabaram dando mais certo em “Verão 90”. Na lista, Larissa e Diego, de Marina Moschen e Sergio Malheiro, e o “trisal” Jerônimo, Vanessa e Galdino, de Jesuíta Barbosa, Camila Queiroz e Gabriel Godoy. Na pele não apenas de Galdino, mas também de seus disfarces Adelaide, Andreas e Gertrudes, Godoy foi a grande revelação da trama. Com bom aparato cênico e muita improvisação, o ator e comediante conseguiu sustentar sua atuação e lembrou que o humor é um dos pilares fundamentais das novelas das sete. Honesta em sua leveza, “Verão 90” está longe de ser um clássico ou exemplo de ousadia, mas fez um belo e atualizado retrato de uma época.

Cristianne e Rinaldo Modesto de Oliveira
Isabella Suplicy


