Por Ana Claudia Paixão
Energeticamente, esse período do ano, independentemente da corrente religiosa, é, sem dúvida, importante.
Para os cristãos é Páscoa o período no qual Jesus Cristo morreu e ressuscitou.
Como aqui falamos de filmes e séries, não poderia deixar passar a data de 45 anos de lançamento de uma série que revolucionou a TV, capitaneada pelo diretor Franco Zeffirelli.
Exatamente 50 anos depois que Cecil B. DeMille retratou a vida de Jesus no seu filme mudo, Rei dos Reis, em 1927, o diretor italiano se lançou em uma empreitada inigualável: filmar o novo testamento para TV em cores. Essa era a proposta de Jesus de Narazé.
A série de seis horas, dividida em duas partes de três horas de duração cada, custou mais de 18 milhões de dólares na época e contava com estrelas do teatro e cinema, como Laurence Olivier, James Earl Jones, Christopher Plummer, James Mason, Peter Ustinov e Anne Bancroft, para citar poucos. Todos em pequenas pontas.
Gastar o orçamento de um filme em uma produção foi algo escandaloso e por muitos anos, não teve paralelo.
Exibido pela primeira vez nos Estados Unidos na Páscoa de 1977, Jesus de Nazaré aqui no Brasil foi ao ar na Globo, dividido em 6 episódios de 1h. Para os críticos, a diferença positiva estava na combinação da fé católica do diretor, que soube trazer para o projeto “uma rara combinação de sensibilidade religiosa e experiência cinematográfica”.
Além disso, contou com o roteirista e romancista Anthony Burgess, conhecido por A Laranja Mecânica e que escreveu um roteiro inteligente e emocionante, equilibrando pela primeira vez a biografia de Jesus com o contexto político e social de sua época.
Além disso, o que dizer a música de Maurice Jarre, autor de Lawrence da Arábia entre outros clássicos? Duvido que não se emocione.
Para garantir que o filme fosse o mais preciso possível, a produção trabalhou com especialistas do Vaticano, assim de outras religiões, mas, ainda assim, sofreu críticas de conservadores que não gostaram da visão ousada de Jesus como “um homem comum, gentil, frágil, simples”.
Tamanha foi a pressão na época que muitos dizem que o filme ter saído do papel foi um milagre.
Outro fator para atemporalidade da obra está na inteligente decisão de Zeffirelli pela austeridade, considerada revolucionária.
Não usou efeitos especiais ou grandes cenas com multidões, mas apostou no impacto humano que dependia da mais interpretação dos atores espetaculares que reuniu.
Foi um enorme sucesso. Tanto que saiu da TV para o cinema, uma coisa que era quase heresia naqueles anos.
A atuação de Robert Powell como Jesus Cristo não foi aceita com unanimidade, mas é icônica.
O ator, que tinha trabalhado com o diretor Ken Russell antes, era mais atuante em teatro, e foi considerado, pasmem, muito introspectivo.
Porém os críticos também reconheceram que a complexidade do papel era incrível e que o ator soube lidar como poucos com o desafio.
Anos depois, quando voltou aos locais onde gravaram para fazer um especial para Discovery, Robert Powell ainda foi reconhecido pelo papel.
Uma ironia para um intérprete que não era particularmente religioso, mas que gostou da proposta de Zeffirelli de humanizar ao máximo possível Jesus.
Para Robert, como disse anos depois em entrevistas, uma das razões para que “seu” Jesus Cristo permaneça tão atemporal é que, nas palavras dele “ele é quem você o deseja ser”.
E, sim, o fato de que, mesmo 45 anos depois as pessoas ainda se emocionem e o reconheçam pela série o tocam profundamente.
É como um crítico do Wall Street Journal escreveu em 1977: “Zeffirelli produziu um épico emocional e ressonante que faz mais do que contar muito bem uma história muito boa.
Jesus de Nazaré é sobre os sonhos humanos atemporais de vida além da morte e refúgio da dor. A verdadeira beleza disso é justamente a verdadeira beleza de tudo”.
Sei que não é muito fácil achar onde Jesus de Nazaré vai ao ar hoje em dia, mas sempre tem um canal exibindo na Páscoa. Aqui fica meus votos de Paz e muito amor.