A história da família Lopes pode ser contada pela trajetória do caburé, um bolinho de mandioca tradicional do Paraguai. Quando Elisa Lopes deixou a vida confortável no município de San Juan Bautista, do Departamento de Misiones, no Paraguai, para seguir o amor da sua vida, Luis Antunes, tudo o que ela levou foram as receitas paraguaias passadas de geração a geração.
“Meus avós maternos, Luis Lopes Antunes e Elisa Lopes, vieram para o Brasil em 1930, de San Juan Bautista, um município do Paraguai e capital do Departamento de Misiones. Minha avó sempre gostou de cozinhar, fazia puchero, sopa paraguaia e o caburé. Até hoje os amigos e tios ligam em casa perguntando se podem tomar mate, tereré e se tem o caburé”, afirma Tatiana Lopes Baungarten, 45 anos.
O casal, que morou em uma casinha de sapê no Barranco Branco, onde hoje é Porto Murtinho, depois passou por Bonito e, enfim, Bela Vista, teve 18 filhos, sendo nove mulheres e nove homens. “Ela era filha única, o que fazia na vida era estudar, nunca lavou uma colher na casa dos pais. Para você ver o que é o amor, eles viveram juntos 58 anos”, ri dona Maria Helena Lopes Baungarten, 79 anos, filha do casal.
Dos filhos, foi Maria Helena que herdou os dotes culinários da matriarca, aprendendo a comer o caburé na folha de bananeira. “Eu conheço o caburé desde que eu me entendo por gente. Crescemos comendo o caburé no café da manhã, com ele sendo assado no fogão de lenha, em cima da folha de bananeira, que, segundo minha mãe, deixava mais suculento”, recorda-se. Das memórias da fazenda, Maria Helena tem muitas. “Minha mãe ralava a mandioca crua, lavava e deixava escorrer naqueles sacos de farinha, de um dia para o outro. A água que escorria era o polvilho, que usávamos para fazer chipa; a mandioca crua sequinha virava caburé. Ainda faço assim em casa, bato bem a mandioca e deixo escorrer. Já o polvilho precisa secar por uns 2 ou 3 dias, senão a chipa fica dura, não serve”, descreve Maria Helena.
Esse carinho pelas tradições da família continua a cada nova geração. Inscrita em um concurso de gastronomia, Tatiana trocou de última hora um bolo de goiaba com leite ninho por uma versão nova do caburé. “Eu comecei a cozinhar com 42 anos; antes, eu não tinha muito interesse. Eu gosto muito da área de confeitaria e doces gourmets. Pensei em me escrever no concurso com um bolo de goiaba, mas de última hora mudei de categoria e inscrevi o caburé em uma nova versão, com carne-seca na massa. Eu fiquei muito feliz, porque estou fazendo uma coisa que é passada de geração para geração. Isso te dá uma força, eu acredito muito nessa questão da ancestralidade. De nove irmãs, só minha mãe sabe fazer e, agora, eu também”, diz.
Para Maria Helena, é um orgulho ver a família valorizar as tradições. “Tenho duas netas e elas gostam de ajudar no preparo do caburé, também já estão aprendendo”, conta.
Concurso
O concurso em que Tatiana apresentou o bolinho integra a segunda edição do Comitiva dos Chefs, evento aberto ao público que ocorre entre os dias 16 e 18 de agosto, na Plataforma Cultural, na Esplanada Ferroviária. Os pratos selecionados terão espaço para comercialização durante os três dias de festival, pelo preço de R$ 25. As receitas precisam ter pelo menos um ingrediente regional, entre eles, jacaré, guariroba, mandioca, carne-seca, pequi, pimentas, jenipapo, baru, guavira, jatobá, tamarindo e plantas alimentícias não convencionais (Pancs).

Cristianne e Rinaldo Modesto de Oliveira
Isabella Suplicy


