É comum que as mulheres ouçam em algum momento da vida profissional frases do tipo “não é possível conciliar carreira e maternidade”, “mães devem ser poupadas de novos desafios” ou até mesmo “quero ser mãe, mas preciso ganhar dinheiro antes”. Esses “ruídos” acabam sendo aceitos – e até reproduzidos – e alimentando, mesmo que inconscientemente, preconceitos e estereótipos.
Nesse cenário, a maternidade é colocada como um obstáculo para o crescimento profissional, levando muitas a adiarem a gravidez ou até a abandonarem suas carreiras em busca de opções mais flexíveis.
Um exemplo disso são os crescentes gastos com congelamento de óvulos, que aumentaram 89% nos últimos cinco anos, sendo 25% somente no ano passado, de acordo com informações divulgadas pelo Itaú Unibanco.
Esses números comprovam que mesmo as mulheres que querem ter filhos ainda sentem a necessidade de adiar a maternidade por receio de perder oportunidades, enquanto tentam conciliar carreira e família.
Já dados divulgados pelo Google mostram que a procura por termos relacionando demissão, estabilidade e licença-maternidade cresceram mais de 300% nos últimos cinco anos, o que demonstra que os estereótipos de gênero e a crença de que as mães são menos comprometidas com suas carreiras frequentemente limitam oportunidades de crescimento e progressão profissional.
A PAUTA DO CUIDADO
O artigo “The Expanding Gender Earnings Gap: Evidence from the LEHD-2000 Census”, publicado em 2017, nos Estados Unidos, afirma que a maternidade é o principal promotor de desigualdade salarial entre homens e mulheres.
As brasileiras, por exemplo, ainda recebem em média 70% do salário dos homens executando as mesmas tarefas. Não é à toa que depois de se tornarem mães muitas optam pelo empreendedorismo, o que está longe de ser um caminho mais fácil.
Ainda é válido refletir que cuidar de um outro ser humano é um PhD intensivo de soft skills como resiliência, habilidades de comunicação e negociação, capacidade de resolver problemas, gestão de tempo
e criatividade, entre outros. Por isso, acreditamos que quando nasce uma mãe também nasce uma líder.
Nesse sentido, é crucial desnaturalizar crenças limitantes e conscientizar as pessoas sobre a igualdade de capacidades no cuidado e na carreira. Pesquisas científicas têm demonstrado que homens e mulheres são igualmente preparados nesse sentido, desmistificando a ideia de que a responsabilidade do cuidado deva ser exclusivamente feminina.
Precisamos fortalecer a parentalidade como um elemento na vida de muitas pessoas, pautando que não só é possível conciliar esses papéis, mas que eles se retroalimentam. Para isso, é indispensável incluir os homens na pauta do cuidado, promovendo uma divisão equitativa das responsabilidades familiares.
Isso não só beneficia as mulheres ao reduzir sua sobrecarga de trabalho, mas também contribui para o bem-estar de toda a família – inclusive dos homens – e para uma cultura organizacional mais inclusiva, o que já está comprovado que gera mais resultados de negócio. Está na hora de transformarmos o cenário no mercado de trabalho, começando com pequenas ações, que denotem esse olhar para todas as pessoas.
EMPATIA
Segundo a pesquisa “Silêncio dos Homens”, de 2019, oito em cada 10 homens gostariam de passar mais tempo com os filhos. Além disso, já existem movimentos que consideram a busca pela equalização da licença-maternidade e da licença-paternidade, como o CoPai, que trabalha pela ampliação de 30 dias para homens.
Inclusive, em alguns países, isso já é uma realidade, como na Nova Zelândia, na Austrália, na Islândia e na Suécia, onde a licença parental é oferecida de forma igualitária, incluindo casais do mesmo gênero, independentemente da relação biológica com a criança. Dessa maneira, conforme os pais se envolvem no cuidado e nas tarefas domésticas, será possível que uma mudança de fato aconteça e, assim, as diferenças diminuam.
A maternidade tem muito a nos ensinar sobre empatia, relações, dedicação, empenho e produtividade. Ao contrário do que se acredita, não é um obstáculo, mas um poderoso impulso – não só para a mulher, mas também para empresas e toda a sociedade.


B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação
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