Correio B

100 anos

Marcello Mastroianni, a exaltação da vida

Astro italiano, que chegou a ser enviado para campos de trabalho forçado durante a 2ª Guerra, imprimiu em 160 filmes, mais que a sua aparência de galã, a intensidade do viver

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Outro dia morreu Alain Delon, ícone do cinema e dono de um par de olhos azuis de tamanho magnetismo que certamente muito contribuiu para que seu reconhecimento como ator fosse apequenado em favor da estampa. Homem mais bonito do mundo por três, quatro décadas. Era o que já se dizia dele, e voltou a se dizer com a notícia do falecimento. 


No entanto, na cabeça de meio mundo, aquela metade do planeta que cresceu e se criou ainda nos tempos em que o cinema era o principal vetor da indústria cultural, quando irrompe o superlativo da beleza masculina, aparece ladeando ou superando o astro francês o nome de um italiano.

Reprodução


Houve uma vez, nas telas e na vida, Marcello Vincenzo Domenico Mastrojanni, com o seu porte médio (1,74 m), seus olhos e cabelos castanhos e os ares de galã sedutor que pôs de joelhos centenas de mulheres onde quer que fosse, na ficção e fora dela. 


Marido de Catherine Deneuve, com quem teve uma de suas filhas, a cineasta Chiara Mastroianni, Marcello era tão matador nas artimanhas da sedução quanto discreto em publicizar o que fazia na vida privada – tanto quanto isso fosse possível para uma das maiores estrelas de sua época, que o próprio astro retratou, em “La Dolce Vita”, de Fellini, como o tempo dos paparazzi.


Mesmo sem ter legado uma autobiografia de próprio punho, o italiano, que nasceu em Fontana de Liri, ao sul de Roma, em 28 de setembro de 1924, completando portanto 100 anos de nascimento neste sábado, e que se foi há quase três décadas, em 19 de dezembro de 1996, deixou um depoimento revelador, concedido ao jornalista e amigo Enzo Biaggi, que saiu em livro (“Marcello Mastroianni – La Bella Vita”) no Brasil seis meses depois de sua morte. 


Além do retrato de uma geração, Biaggi, contemporâneo de Mastroianni, enfileira as conquistas do ator contabilizando 116 mulheres: Jeanne Moreau, Ursula Andress, Claudia Cardinale, Anita Ekberg, Monica Vitti, Julie Andrews, Shirley McLaine e Faye Dunaway são algumas delas. 


Deneuve, Flora Carabella Mastroianni, mãe de Barbara, a primeira filha do ator, e Anna Maria Tató, sua última companheira, também estão na lista. Quase todas aqui musas do cinema com que ele atuou. É uma lista de dar inveja em qualquer Roger Vadim.


Mas, reparando em alguns dos seus filmes, logo se vê que o charme de Marcello, embora não lhe faltasse em nada na aparência, estava muito no semblante, entre o abandono e o desvario, fosse qual fosse o personagem. 


O jornalista de “La Dolce Vita” (Federico Fellini, 1960), frustrado por ter que correr atrás da vida alheia. Giovanni, o marido adúltero e desencantado de “A Noite” (Michelangelo Antonioni, 1961), que parece sofrer mais que a esposa traída, vivida por Jeanne Moreau. O cineasta tresloucado Guido de “Oito e Meio” (1963) ou o ególatra Snàporaz de “Cidade das Mulheres” (1980), outros dois que fez com Fellini.


São personagens de extremos, entre a ingenuidade e a vilania ou quase, como tantos outros: os apaixonados por Sophia Loren (“Os Girassóis da Rússia”, Vittorio De Sica, 1970) e Maria Schell (“Noites Brancas”, Luchino Visconti, 1957), o homossexual comovente (“Um Dia Muito Especial”, Ettore Scola, 1977), o marido que não mais dá no couro de “Ontem, Hoje e Amanhã” (1963), outra parceria luminosa com Sophia Loren e De Sica, e, entre outros, a autocitação irônica em “Prêt-à-Porter” (Robert Altman, 1994).


E coisas menos conhecidas mas tão valiosas quanto “Dois Destinos” (Valério Zurlini, 1962), em que o reencontro com o passado em busca de um irmão o faz ver o quanto pode custar a cisão de uma família para o fracasso e a redenção de seus indivíduos. 


Mesmo nos equivocados, não necessariamente por sua presença, “Gabriela” (Bruno Barreto, 1983) ou “O Estrangeiro” (Luchino Visconti, 1967), Mastroianni afirmou o que talvez seja o seu maior valor como artista: conscientes ou não do bem ou do mal que possamos praticar, somos, no fundo, apenas seres sem muita certeza ou controle de nada, sujeitos às vicissitudes de um destino quase sempre implacável; é preciso, então, acreditar, sobretudo, na vida. A força do viver, na tela e além. Essa foi, sim, a sua maior beleza.

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OSCAR 2026

Wagner Moura tem 91,34% de chance de vencer o Oscar, aponta ranking

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%

21/12/2025 23h00

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62% Divulgação

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As expectativas brasileiras para o Oscar 2026 crescem antes mesmo do anúncio oficial dos indicados, previsto para 22 de janeiro. Wagner Moura aparece entre os nomes mais fortes da disputa pelo prêmio de melhor ator, segundo um novo levantamento do site especializado Gold Derby.

De acordo com a projeção, o ator brasileiro tem 91,34% de chance de vitória, porcentual que o coloca na terceira posição entre os 15 nomes mais bem colocados na categoria. A lista reúne artistas que já figuram entre os pré-indicados e aqueles acompanhados de perto durante a temporada de premiações.

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%. Wagner aparece logo atrás, à frente de nomes como Michael B. Jordan e Ethan Hawke.

As estimativas do Gold Derby são elaboradas a partir da combinação de previsões de especialistas de grandes veículos internacionais, editores do próprio site que acompanham a temporada de premiações e um grupo de usuários com alto índice de acerto em edições anteriores do Oscar.

O Agente Secreto está entre os pré-indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional e de Melhor Escalação de Elenco, em lista divulgada no último dia 16, pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

A cerimônia do Oscar 2026 está marcada para 15 de março, com transmissão da TNT e da HBO Max, e terá novamente Conan O’Brien como apresentador. A edição também deve ampliar a presença brasileira na premiação: produções nacionais como O Agente Secreto já figuram em listas de pré-indicados da Academia, em categorias como Melhor Filme Internacional e Melhor Escalação de Elenco.

Ranking do Gold Derby para o Oscar 2026 de melhor ator:

1. Leonardo DiCaprio (95,08%)

2. Timothée Chalamet (93,62%)

3. Wagner Moura (91,34%)

4. Michael B. Jordan (83,35%)

5. Ethan Hawke (73,46%)

6. Joel Edgerton (25,24%)

7. Jesse Plemons (7,09%)

8. George Clooney (4,25%)

9. Jeremy Allen White (4,06%)

10. Dwayne Johnson (2,64%)

11. Lee Byung Hun (2,52%)

12. Oscar Isaac (0,83%)

13. Daniel Day-Lewis (0,39%)

14. Brendan Fraser (0,31%)

15. Tonatiuh (0,24%)
 

Correio B+

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

Bailarina, atriz e criadora do método Dança Integral, Keila Fuke transforma o movimento em linguagem de escuta, autocuidado e reinvenção feminina

21/12/2025 20h00

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos Foto: Divulgação

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Keila Fuke fala de dança como quem fala de família. Não no sentido de abrigo confortável apenas, mas de território vivo - onde moram memória, desejo, silêncio e prazer. Quando ela diz que o corpo é templo, não soa místico. Soa prático. Soa vivido.

“A dança é uma arte que se expressa pelo corpo, e o corpo é nossa casa, templo sagrado e cheio de emoções, histórias e prazer”, diz. Para ela, quando uma mulher escuta e sente o próprio corpo, algo essencial se reorganiza: “ela realmente se conecta com sua essência primária, seus desejos, e consegue ir para a vida de forma mais consciente”.

Há mais de três décadas, Keila dança, atua, coreografa e cria. Sua formação artística começou ainda na infância e se expandiu por diferentes linguagens (dança, teatro, musical e direção), construindo uma trajetória consistente nos palcos brasileiros. Nos grandes musicais, viveu a intensidade da cena em produções como “Miss Saigon”, “Sweet Charity”, “A Bela e a Fera”, “Victor ou Victoria” e “Zorro” (experiências que aprofundaram sua relação com a disciplina, a entrega e a presença).

Foi também no teatro que sua trajetória profissional ganhou contorno definitivo. Keila estreou ao lado de Marília Pêra, em “Elas por Ela”, num encontro que deixaria marcas profundas em sua forma de compreender a arte. A convivência com Marília reforçou a noção de que o palco exige verdade, escuta e disponibilidade (valores que atravessam seu trabalho até hoje).

Mas só quem escuta com atenção percebe que sua trajetória não foi guiada apenas pela busca da forma perfeita ou do espetáculo bem acabado - e sim por uma pergunta insistente: o que o corpo ainda tem a dizer quando a vida muda de ritmo? Essa pergunta atravessa tudo o que ela faz hoje.

Ao falar sobre movimento, Keila não separa o gesto do afeto, nem a técnica da emoção. “A dança revela a comunicação entre o mundo interno e o externo. O gesto se torna linguagem, o movimento vira verdade.” Talvez seja exatamente por isso que tantas mulheres chegam às suas vivências depois de períodos de exaustão: ali não se pede performance, mas presença.

Existe algo de radicalmente gentil na forma como Keila olha para o corpo feminino. Especialmente aquele que atravessa a maturidade. A menopausa, tema ainda cercado de silêncio, aparece em sua fala como travessia, não como falha. “Todas as mulheres irão passar por esse portal ao entrar na maturidade”, afirma. “Não para corrigir o corpo, mas para reconhecê-lo.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos         B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Foi desse entendimento que nasceu o método Dança Integral, desenvolvido a partir da integração entre sua experiência artística e seus estudos terapêuticos. Ao longo dos anos, Keila aprofundou-se em yoga, meditação, tantra, bioenergética e consciência sistêmica, incorporando esses saberes à dança. “É um trabalho que convida a mulher a ativar e integrar seus corpos (físico, mental e emocional) devolvendo consciência, presença e escuta.”

Na prática, o movimento deixa de ser esforço e passa a ser aliado. O corpo volta a circular energia, as emoções encontram expressão e a mente desacelera. “No movimento consciente, o corpo lembra que não nasceu para ser corrigido, mas habitado.” Quando isso acontece, o corpo deixa de ser campo de conflito e volta a ser morada.

A ancestralidade japonesa que Keila carrega atravessa profundamente esse olhar. Mestiça de origens japonesa, italiana, alemã e libanesa, ela se reconhece como uma mulher amarela e traz dessa herança a disciplina entendida como cuidado. O respeito ao tempo, ao silêncio e ao gesto essencial molda sua relação com o movimento, a prática e o feminino. Espiritualmente, o corpo é templo, o movimento é ritual e a repetição, um caminho de aperfeiçoamento interno.

Ao mesmo tempo, Keila é mistura. Emoção, calor e invenção brasileira convivem com rigor e silêncio. “Vivo entre tradição e vanguarda, entre raiz e criação”, diz. É dessa fusão que nasce um trabalho que não se fixa nem na forma nem no conceito, mas no estado de presença.

Essa escuta sensível também se manifesta fora das salas de dança. Há 17 anos, Keila atua na Fundação Lia Maria Aguiar, em Campos do Jordão, onde integra a formação artística de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Ali, ela participa da criação de um núcleo de teatro musical que utiliza a arte como ferramenta de educação, inclusão e fortalecimento da autoestima. “Com eles, aprendo que sensibilidade não é fragilidade, é potência.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anosB+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Falar de reinvenção aos 59 anos, para Keila, não tem a ver com começar do zero. Tem a ver com fidelidade. “Se reinventar é um gesto de fidelidade à vida.” Ela fala de saúde emocional, de vulnerabilidade, mas também de prazer, curiosidade e desejo. “Depois dos 50, algo se organiza internamente: ganhamos coragem para comunicar quem somos e ocupar nosso lugar sem pedir permissão.”

Existe algo profundamente político nesse corpo que segue dançando sem pedir licença ao tempo. Que reivindica delicadeza sem abrir mão de força. “Dançar, assim, é um ato político e espiritual”, diz. “É a mulher dizendo ao próprio corpo: eu te vejo, eu te respeito, eu te celebro.”

Quando Keila afirma que cada passo é uma oração, a frase ganha densidade. “Hoje, a oração que guia meus passos é a gratidão em movimento.” Gratidão por estar viva, criando, aprendendo e colocando o talento a serviço da vida. “Que minha arte continue sendo ponte - entre corpo, alma e coração.”

Talvez seja isso que faz de Keila Fuke uma presença tão inspiradora: não apenas o que ela construiu nos palcos, mas a forma como permanece. Em movimento. Em escuta. Em verdade.

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