A tendência é mudar. A moda desfila pelas transformações políticas, sociais, culturais e estéticas de cada tempo, vai e volta, mas não é habituada a ficar. Na semana passada, o São Paulo Fashion Week (SPFW) mostrou que chegou a vez de uma moda que quer recomeçar e dar espaço à diversidade e à identidade das pessoas e promete romper com os padrões. Parece uma possibilidade ainda remota esse tipo de produção prosperar em Mato Grosso do Sul – afinal, o Estado não tem tradição criativa nesse mercado –, mas há várias iniciativas mostrando que podem surpreender.
Para a designer e consultora de moda Hanna Viana, a aceitação de mudanças é um processo que, de fato, pode demorar por aqui. “Há tentativa de acompanhar e aceitar os novos desafios da moda sem gênero e diversidades do corpo, por exemplo. Mas é um investimento em longo prazo, ainda não tem muita aceitação e as indústrias ainda produzem muito em série”. Ela participou, na semana passada, do evento Inova Moda, promovido pelo Senai, com objetivo de atender os profissionais da indústria da moda.
Alheias a essa previsão e aspirantes à aceitação, as novas propostas procuram abraçar as temáticas regionais, fazer parcerias com ícones da cultura local, arriscar na moda unissex e apostar na originalidade das peças. A produção independente, sem ligação com marcas consolidadas no mercado, é a que mais tem se empenhado em fugir do lugar-comum, ao mesmo tempo em que as empresas tradicionais, aos poucos, também começam a despertar para as mudanças.
DENTRO PARA FORA
O estilista campo-grandense Fabiano Torino tem apenas 23 anos, formou-se em Moda e Design no ano passado e, em pouco tempo, conseguiu destaque nesse cenário pela ousadia das peças de sua primeira coleção, com marca que leva seu nome e sobrenome. O carro-chefe são saias masculinas inspiradas na kilt escocesa e adaptadas ao clima tropical.
“A moda aqui é muito tradicional, sem ousadia. O xadrez e a bota ainda predominam no visual do sul-mato-grossense, acredito que pela influência do agronegócio. Eu vim com essa ideia de saias para homens justamente para chamar atenção, ousar, mostrar que roupa não tem gênero, é para quem quiser usar”.
Ele afirma que é o precursor da saia masculina no Estado e conta que está animado com as reações. Pessoas daqui e de fora têm se interessado pelo seu trabalho, divulgado com a ajuda das redes sociais, suas principais aliadas. Foi por meio delas que o estilista começou a vender. “A aceitação tem sido muito boa. No início, era mais o público LGBT que procurava, hoje, vendo para todos, inclusive tive que fazer uma modelagem diferente para mulheres, que viram as peças e encomendaram”.
A Capivaral, marca de roupas, acessórios e utensílios dos sócios Camila Zavalo, 29 anos, e Leonardo Dalferth, 31 anos, é outra iniciativa que tem a intenção de atrair clientes de vários estados, mas sem deixar de investir na clientela sul-mato-grossense. A ideia das produções, que associa elementos regionais com motivos da cultura pop, é explorar essas referências sem cair no clichê: “Estive no Pantanal e lembrei de você”. As camisetas são as peças mais vendidas, principalmente as que levam estamparia divertida com peixes, capivaras e frases de efeito.
Camila, arquiteta por formação, morou no Rio de Janeiro (RJ) por três anos, onde trabalhou como cenógrafa de uma novela. De volta às origens, trouxe novos ares e bagagem em produção artística para empreender com o administrador e amigo Leonardo. “A ideia surgiu da vontade de fazer algo que pudesse acrescentar valor à experiência dos turistas que visitam a região do Pantanal e sem se esquecer dos que são, assim como nós, filhos de Mato Grosso do Sul, apaixonados por essa terra e amantes de sua cultura”.
Atualmente, eles vendem as produções pela internet, por meio de pontos de venda em Corumbá, Bonito e Campo Grande e em exposições por outras cidades do País.
MODA VERÃO DE MS
Mato Grosso do Sul não tem praia, mas também tem buscado potencial para a criação na moda de banho. Uma das empresas de Campo Grande que investe na identidade do Estado para criar peças exclusivas é a Kibela, que, nesta semana, lança uma coleção idealizada pelo estilista mineiro Ronaldo Fraga – destaque na mostra SPFW de 2016.
Estampas com tuiuiús, garças, tucanos, vitórias-régias e piranhas, inspiradas nas obras do artista plástico regional Isaac Oliveira, serão as novidades nos tops e tangas dos biquínis, nas sungas e maiôs, que têm formas retrôs e tradicionais e estão disponíveis em todos os tamanhos.
A proprietária da loja, Irlanda Coelho, afirma que a ideia é levar a coleção para as praias brasileiras e também para os rios de água doce do Estado, em cidades turísticas como Bonito e Bodoquena, reforçando as temáticas regionais.



