Correio B

Música

"Para entender nossa cultura, é necessário escutar Helena Meirelles"

Em entrevista ao Correio B, o instrumentista Julio Borba, que se apresenta na Concha Acústica Helena Meirelles neste domingo, fala sobre o seu estilo de tocar o violão de sete cordas, suas influências "brasiguaias" e sobre o novo álbum

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Julio, como será o show de domingo na Concha Acústica Helena Meirelles?

Em um processo de amadurecimento do meu repertório solo para violão de sete cordas, levarei para esse concerto um repertório autoral, contextualizado na cultura de Mato Grosso do Sul, que venho desenvolvendo ao longo dos últimos dez anos, mas que só ganhou corpo como um projeto estruturado e maduro agora em 2024. Apresentar esse trabalho para o público da capital Campo Grande é uma realização pessoal, pois, trabalhei, em minhas pesquisas artísticas e acadêmicas, a paisagem sonora e as identificações culturais de nossa região. É muito bom poder devolver essa reflexão para as pessoas que me ajudaram a construir o meu trabalho, meu público, meus interlocutores e os amantes da música que estarão presentes neste domingo.

Pode falar sobre o repertório?

Estou muito feliz por apresentar as músicas em que acredito e que me dão vontade de viver e sonhar. Tocarei minhas composições com inspirações na música paraguaia e brasileira, trazendo junto influências paraguaias como de Agustin Barrios, Cardoso Ocampo, Félix Pérez Cardoso e brasileiras como Baden Powell, Tião Carreiro, Dino Rocha, Almir Sater e Helena Meirelles. São marcantes também no meu fazer musical influências da música de concerto como do cubano Léo Brouwer e do francês Claude Debussy.

Algumas músicas desse repertório nunca foram gravadas e são danças como chamamé e polca paraguaia, estilos marcantes no nosso estado, os quais podemos considerar de dentro de uma região fronteiriça. Tocarei também neste show versões de clássicos da cultura caipira e chamamezeira, como “Rio de Piracicaba”, de Tião Carreiro e Lourival dos Santos, assim como “Km11”, de Tránsito Cocomarola. Enfatizo também neste show as influências dos textos psicanalíticos, pois, no processo de análise de meus sonhos, compus três músicas que contextualizo por meio de meus poemas, inspirados em sonhos.

Há como resumir o tipo de música que irá apresentar na concha?

Meu estilo se localiza na música instrumental brasileira, e paraguaia, principalmente na música caipira, no choro e também no chamamé e polca paraguaia. Em um neologismo me identifico com o termo “música instrumental brasiguaia”.

Aliás, a violeira que dá nome ao espaço acaba de completar 100 anos de nascimento. Gostaria de dizer algo?

Sim, pra mim é um orgulho e responsabilidade tocar neste lugar, um espaço importante para nossa cultura e para nossa música instrumental. Para mim, a Helena Meirelles, além de ser uma das maiores referências musicais de nosso país, também é um exemplo de humildade e coragem, quem conviveu direta ou indiretamente com ela sabe de sua capacidade e resiliência para enfrentar os grandes desafios na vida de um artista.

Ela lutou e nos encantou durante toda a sua vida, tocar as minhas composições na Concha Acústica Helena Meirelles é como dar continuidade ao seu legado musical. Para entender a nossa cultura num sentido amplo e profundo, é necessário estudar e escutar o trabalho dessa incrível violeira. 

O que diria do seu próprio estilo de tocar hoje? E como se estabeleceu o foco na expressão do regional local e transfronteiriço em diálogos, fusões e releituras a partir das referências que traz? Me refiro a isso tendo em mente algumas apresentações recentes, como no Teatro do Mundo e no Espaço Arte e Vida.

Meu estilo de tocar foi construído por uma vivência desde a infância no contexto de Mato Grosso do Sul, também chamado de pantaneiro, ouvindo música caipira e os ritmos hipnotizantes de nossa fronteira entre Brasil, Paraguai e Bolívia. Desde criança escuto e leio as poesias de Manoel de Barros e a sanfona de Dino Rocha. Essas influências foram marcantes. Na minha adolescência aprendi a ler partitura no projeto do governo estadual chamado Musicalizando (entre 2006 e 2007). Ao ser alfabetizado na música, pude ler partituras dos grandes mestres do violão na cultura ocidental, o que modificou para sempre a minha escuta.

Desde que me identifiquei como músico profissional, tenho essa busca incessante para relacionar, acoplar ou fazer fusões entre diferentes musicalidades. Na prática, faço relações entre músicas mais reflexivas e intelectuais e as músicas de baile, por isso, hoje minhas músicas tem pelo menos duas intencionalidades, uma onírica e reflexiva e outra da festa e dos encontros, o que ao meu ver, traz à tona as contradições e divisões que constituem a realidade humana, de uma maneira original e totalmente influenciada por nosso contexto cultural.

Como tudo isso vai soar no disco novo? Tem data de lançamento prevista?

Esse projeto tem a finalidade de propor um conceito estético original, aliando a reflexão sobre a realidade dos sonhos traduzidos em música com gêneros musicais populares de nossa região, como o chamamé e a polca paraguaia. A unidade estética desse trabalho se dá por sua realização exclusivamente feita no violão de sete cordas, como locutor dessa narrativa, ao mesmo tempo onírica e com os pés no chão, junto de meu povo.

Neste álbum declamo três poesias de minha autoria para contextualizar e conduzir os ouvintes nesse cenário do inconsciente, com uma arquitetura musical trabalhada em seus mínimos detalhes. Gravei oito músicas neste novo álbum, com o nome “Sete Cordas e Um Poema”. Com captação, mixagem e masterização do produtor Anderson Rocha, esse trabalho será lançado no mês de dezembro.

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OSCAR 2026

Wagner Moura tem 91,34% de chance de vencer o Oscar, aponta ranking

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%

21/12/2025 23h00

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62% Divulgação

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As expectativas brasileiras para o Oscar 2026 crescem antes mesmo do anúncio oficial dos indicados, previsto para 22 de janeiro. Wagner Moura aparece entre os nomes mais fortes da disputa pelo prêmio de melhor ator, segundo um novo levantamento do site especializado Gold Derby.

De acordo com a projeção, o ator brasileiro tem 91,34% de chance de vitória, porcentual que o coloca na terceira posição entre os 15 nomes mais bem colocados na categoria. A lista reúne artistas que já figuram entre os pré-indicados e aqueles acompanhados de perto durante a temporada de premiações.

A liderança do ranking é de Leonardo DiCaprio, com 95,08% de probabilidade, seguido por Timothée Chalamet, com 93,62%. Wagner aparece logo atrás, à frente de nomes como Michael B. Jordan e Ethan Hawke.

As estimativas do Gold Derby são elaboradas a partir da combinação de previsões de especialistas de grandes veículos internacionais, editores do próprio site que acompanham a temporada de premiações e um grupo de usuários com alto índice de acerto em edições anteriores do Oscar.

O Agente Secreto está entre os pré-indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional e de Melhor Escalação de Elenco, em lista divulgada no último dia 16, pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

A cerimônia do Oscar 2026 está marcada para 15 de março, com transmissão da TNT e da HBO Max, e terá novamente Conan O’Brien como apresentador. A edição também deve ampliar a presença brasileira na premiação: produções nacionais como O Agente Secreto já figuram em listas de pré-indicados da Academia, em categorias como Melhor Filme Internacional e Melhor Escalação de Elenco.

Ranking do Gold Derby para o Oscar 2026 de melhor ator:

1. Leonardo DiCaprio (95,08%)

2. Timothée Chalamet (93,62%)

3. Wagner Moura (91,34%)

4. Michael B. Jordan (83,35%)

5. Ethan Hawke (73,46%)

6. Joel Edgerton (25,24%)

7. Jesse Plemons (7,09%)

8. George Clooney (4,25%)

9. Jeremy Allen White (4,06%)

10. Dwayne Johnson (2,64%)

11. Lee Byung Hun (2,52%)

12. Oscar Isaac (0,83%)

13. Daniel Day-Lewis (0,39%)

14. Brendan Fraser (0,31%)

15. Tonatiuh (0,24%)
 

Correio B+

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

Bailarina, atriz e criadora do método Dança Integral, Keila Fuke transforma o movimento em linguagem de escuta, autocuidado e reinvenção feminina

21/12/2025 20h00

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos Foto: Divulgação

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Keila Fuke fala de dança como quem fala de família. Não no sentido de abrigo confortável apenas, mas de território vivo - onde moram memória, desejo, silêncio e prazer. Quando ela diz que o corpo é templo, não soa místico. Soa prático. Soa vivido.

“A dança é uma arte que se expressa pelo corpo, e o corpo é nossa casa, templo sagrado e cheio de emoções, histórias e prazer”, diz. Para ela, quando uma mulher escuta e sente o próprio corpo, algo essencial se reorganiza: “ela realmente se conecta com sua essência primária, seus desejos, e consegue ir para a vida de forma mais consciente”.

Há mais de três décadas, Keila dança, atua, coreografa e cria. Sua formação artística começou ainda na infância e se expandiu por diferentes linguagens (dança, teatro, musical e direção), construindo uma trajetória consistente nos palcos brasileiros. Nos grandes musicais, viveu a intensidade da cena em produções como “Miss Saigon”, “Sweet Charity”, “A Bela e a Fera”, “Victor ou Victoria” e “Zorro” (experiências que aprofundaram sua relação com a disciplina, a entrega e a presença).

Foi também no teatro que sua trajetória profissional ganhou contorno definitivo. Keila estreou ao lado de Marília Pêra, em “Elas por Ela”, num encontro que deixaria marcas profundas em sua forma de compreender a arte. A convivência com Marília reforçou a noção de que o palco exige verdade, escuta e disponibilidade (valores que atravessam seu trabalho até hoje).

Mas só quem escuta com atenção percebe que sua trajetória não foi guiada apenas pela busca da forma perfeita ou do espetáculo bem acabado - e sim por uma pergunta insistente: o que o corpo ainda tem a dizer quando a vida muda de ritmo? Essa pergunta atravessa tudo o que ela faz hoje.

Ao falar sobre movimento, Keila não separa o gesto do afeto, nem a técnica da emoção. “A dança revela a comunicação entre o mundo interno e o externo. O gesto se torna linguagem, o movimento vira verdade.” Talvez seja exatamente por isso que tantas mulheres chegam às suas vivências depois de períodos de exaustão: ali não se pede performance, mas presença.

Existe algo de radicalmente gentil na forma como Keila olha para o corpo feminino. Especialmente aquele que atravessa a maturidade. A menopausa, tema ainda cercado de silêncio, aparece em sua fala como travessia, não como falha. “Todas as mulheres irão passar por esse portal ao entrar na maturidade”, afirma. “Não para corrigir o corpo, mas para reconhecê-lo.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos         B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Foi desse entendimento que nasceu o método Dança Integral, desenvolvido a partir da integração entre sua experiência artística e seus estudos terapêuticos. Ao longo dos anos, Keila aprofundou-se em yoga, meditação, tantra, bioenergética e consciência sistêmica, incorporando esses saberes à dança. “É um trabalho que convida a mulher a ativar e integrar seus corpos (físico, mental e emocional) devolvendo consciência, presença e escuta.”

Na prática, o movimento deixa de ser esforço e passa a ser aliado. O corpo volta a circular energia, as emoções encontram expressão e a mente desacelera. “No movimento consciente, o corpo lembra que não nasceu para ser corrigido, mas habitado.” Quando isso acontece, o corpo deixa de ser campo de conflito e volta a ser morada.

A ancestralidade japonesa que Keila carrega atravessa profundamente esse olhar. Mestiça de origens japonesa, italiana, alemã e libanesa, ela se reconhece como uma mulher amarela e traz dessa herança a disciplina entendida como cuidado. O respeito ao tempo, ao silêncio e ao gesto essencial molda sua relação com o movimento, a prática e o feminino. Espiritualmente, o corpo é templo, o movimento é ritual e a repetição, um caminho de aperfeiçoamento interno.

Ao mesmo tempo, Keila é mistura. Emoção, calor e invenção brasileira convivem com rigor e silêncio. “Vivo entre tradição e vanguarda, entre raiz e criação”, diz. É dessa fusão que nasce um trabalho que não se fixa nem na forma nem no conceito, mas no estado de presença.

Essa escuta sensível também se manifesta fora das salas de dança. Há 17 anos, Keila atua na Fundação Lia Maria Aguiar, em Campos do Jordão, onde integra a formação artística de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Ali, ela participa da criação de um núcleo de teatro musical que utiliza a arte como ferramenta de educação, inclusão e fortalecimento da autoestima. “Com eles, aprendo que sensibilidade não é fragilidade, é potência.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anosB+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Falar de reinvenção aos 59 anos, para Keila, não tem a ver com começar do zero. Tem a ver com fidelidade. “Se reinventar é um gesto de fidelidade à vida.” Ela fala de saúde emocional, de vulnerabilidade, mas também de prazer, curiosidade e desejo. “Depois dos 50, algo se organiza internamente: ganhamos coragem para comunicar quem somos e ocupar nosso lugar sem pedir permissão.”

Existe algo profundamente político nesse corpo que segue dançando sem pedir licença ao tempo. Que reivindica delicadeza sem abrir mão de força. “Dançar, assim, é um ato político e espiritual”, diz. “É a mulher dizendo ao próprio corpo: eu te vejo, eu te respeito, eu te celebro.”

Quando Keila afirma que cada passo é uma oração, a frase ganha densidade. “Hoje, a oração que guia meus passos é a gratidão em movimento.” Gratidão por estar viva, criando, aprendendo e colocando o talento a serviço da vida. “Que minha arte continue sendo ponte - entre corpo, alma e coração.”

Talvez seja isso que faz de Keila Fuke uma presença tão inspiradora: não apenas o que ela construiu nos palcos, mas a forma como permanece. Em movimento. Em escuta. Em verdade.

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