“O show é uma área muito rentável para quem está atualizado, informado e quer sempre aprender. Com a tecnologia digital, tudo se atualiza muito mais rápido hoje em dia. Você tem as mesas digitais e, com elas, consegue fazer infinitas coisas. Elas já vêm com gates, compressores, efeitos, você pode fazer 10, 15 bandas no mesmo dia, com o mesmo console, é só salvar essa cena em um pendrive ou em um cartão”.
Quem fala é o técnico de som Júlio Corrêa, que já trabalhou para nomes como Titãs, Capital Inicial, Família Lima, além das duplas João Bosco & Vinícius e João Neto & Frederico. Quer mais? Iron Maiden, Scorpions, Sepultura e grandes eventos, como o Rock in Rio e o Carnaval carioca.
Aos 58 anos, e do alto de tanta experiência, Bosco é um dos profissionais que participam dos vídeos que foram bancados pelo Prêmio Arte da Graxa, da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), e que ensinam a operar equipamentos de áudio e de vídeo utilizados em shows e em outras produções musicais.
São tutoriais realizados por técnicos e por produtores culturais com o passo a passo para ofícios como o trabalho de roadie ou de operador de ferramentas como a mesa de som e o Resolume 4.
TERMOS TÉCNICOS
Não entendeu quase nada? O roadie (do inglês road, estrada) é o técnico de apoio que viaja com uma banda em turnê, encarregado de lidar com as produções de shows.
O termo aplica-se à indústria musical e a trupes teatrais ou outros eventos que envolvam uma produção artística com equipamentos.
Os roadies são quem executa toda a pré-produção de um espetáculo, preparando inclusive o palco.
O software Resolume é uma ferramenta de performance audiovisual que permite reproduzir diferentes conteúdos de imagem e de som, misturá-los com outros e aplicar efeitos, seja uma performance ao vivo ou uma gravação. Muitas pessoas que usam Resolume são VJs, e misturam clipes de vídeo ao vivo para acompanhar a música.
As oficinas em vídeo de roadie são ministradas por Lucas Matheus Ovando, Joberth Luiz Fraida, Diego Aguiar, Almir Pereira Freitas Dias e Reginaldo dos Santos Castelão. Hallan Gonçalves é o responsável pelas aulas sobre o Resolume.
“São conhecimentos importantes, tanto para as pessoas que ainda não atuam na área musical, caso queiram aprender uma nova profissão, quanto para as pessoas que já trabalham na área, para tirar dúvidas ou aprender algo a mais, modos diferentes, técnicas diferentes”, afirma Lucas Matheus, de 27 anos.
“O formato de webvídeo é uma ideia bem positiva, porque, hoje em dia, praticamente tudo é feito pela internet, jovens e adultos têm acesso fácil com apenas um celular na mão, então facilita mais ainda o acesso a informações. Na época em que comecei no ramo musical, não tive essa oportunidade de ter um suporte de uma videoaula, entrei em uma banda e fui aprendendo na raça. Se tivesse um suporte antes, eu desenvolveria bem mais rápido minhas funções”, conta Matheus.
“Hoje em dia, se tornou tudo muito mais fácil, com a informação e a era digital. Na nossa época, você tinha de entrar em uma empresa de som e começar carregando caixa de som. Tinha que ter muita força de vontade e esperar a boa vontade dos técnicos que já sabiam para poder te ensinar, porque não existia curso nem internet, não existia nada”, reforça Júlio Corrêa.
VETERANO DO ROCK
“Antigamente, no Rock in Rio, por exemplo, eram oito bandas por noite. Teria de ter oito mesas no palco e oito mesas no monitor. Hoje, são duas mesas de som; uma no palco, que se chama mesa de monitor, e outra no PA, que é onde fica o público. A mesa de monitor é onde o técnico de monitor faz o som para os músicos. Tudo que está no palco é essa mesa de monitor que faz para os músicos. Hoje em dia tem os fones de ouvido e cada músico ouve o que quer. A mesa de PA é onde o técnico faz para o público. São dois sons distintos, um que o público ouve e outro que o artista ouve”, resume o técnico. “Essa sigla, PA, public audience, é que o técnico faz o som para o público”, completa.
Corrêa nasceu em Campo Grande, onde começou como técnico em 1985, e em 1990 radicou-se em Campinas. Hoje, vive na ponte CG-SP por conta da carreira musical.
À exceção dos dois primeiros festivais, em 1985 e em 1991, participou de todas as edições brasileiras do Rock in Rio e das versões realizadas em Lisboa, Madrid e Las Vegas. Além de Corrêa, Bruno Eduardo de Mello e Ronaldo Benites Pereira são os instrutores que desvendam os segredos da mixagem.
O procedimento é feito em uma mesa de som, também conhecida como mixer ou console de mixagem.
Na mixagem, diversas fontes sonoras podem ser armazenadas em um ou mais canais. As fontes podem ter sido gravadas ao vivo ou em estúdio e podem ser de diferentes instrumentos, vozes, seções de orquestra, locutores ou ruídos de plateia.
Durante o processo, os níveis de sinal, os conteúdos de frequência, a dinâmica e a posição panorâmica são manipulados e efeitos como reverberação podem ser adicionados. Tal tratamento prático, estético ou criativo é feito de modo a se ter um produto final com maior apelo ao ouvinte.
“Geralmente fico no palco, sou técnico de monitor. Quando chega algum técnico de alguma banda que não conhece a mesa, eu tenho de deixar a mesa pronta para esse técnico. Mostrar para ele, explicar, ensinar tudo como funciona e deixar tudo pronto para que ele possa mixar o som para o artista, tentar dar a maior assistência possível e deixar mais simples para ele poder fazer o trabalho”, explica Júlio Corrêa.
“Outra coisa importante é saber falar um idioma a mais, principalmente inglês ou espanhol. Tem de estar muito informado, estudar muito, acompanhar as tecnologias novas, saber um idioma. Em show gringo, se você não souber falar, você não consegue nada”, recomenda o técnico.
Com orçamento de R$ 144 mil, o Prêmio Arte da Graxa contemplou técnicos e produtores culturais de todos os segmentos artísticos para a confecção dos vídeos. Cada um dos selecionados recebeu o valor de R$ 1,8 mil.





