O crescente uso de telas por crianças e adolescentes tem despertado preocupações quanto aos seus impactos na saúde e desenvolvimento. Relatos de comportamentos extremos, como o de uma criança de 12 anos incapaz de realizar atividades básicas devido ao vício em telas, destacam a urgência de impor limites e orientações.
Ao Correio B, a madrasta de um menino de 12 anos, viciado em telas, relata episódios agressivos e o desafio de lidar com esse comportamento. Enquanto isso, a advogada Camila Zanetti adotou medidas para controlar o uso de telas por suas filhas, estabelecendo regras e monitorando o acesso por meio de aplicativos.
"Já está num nível de tratamento psicológico. Meu enteado é extremamente viciado em telas, já quebrou diversos celulares porque um jogo trava, por exemplo. Se deixar ele não come, não vai ao banheiro e não dorme. O uso de telas começou desde quando era bebê. Atualmente, ele acabou de mudar de escola, mas a anterior já reclamava do uso de celular nas aulas", relata a madrasta.

Já a advogada Camila Zanetti, conseguiu remediar o uso excessivo de telas de suas duas filhas em idade escolar, estabelecendo regras como horários e dias específicos para sua utilização. Além disso, instalou em seu celular um aplicativo que monitora o que e quando suas filhas estão acessando o celular.
"Aqui temos horários e combinados bem rígidos e uso o Family Link para controlar. Bloqueio nas horas não combinadas. E o segredo é não abrir exceção, nem quando a gente precisa da ajuda das telas. Então os problemas acabaram. Durante a semana é proibido total e aos fins de semana, 1 hora na sexta à noite e 2 horas no sábado e domingo. Atrapalha demais o humor da criança, então não vale o custo benefício da distração", afirma Camila.
Para ajudar os pais ou responsáveis a administrar o uso de telas, o Correio do Estado realizou uma entrevista com a psicóloga Carlota Philippsen, que ofereceu importantes orientações sobre quando e como procurar ajuda especializada.
"Como qualquer atividade que tenha como característica essa questão de ter uma recompensa imediata, como no caso da tela, ela exige pouco e existe uma hiperestimulação. Isso pode gerar várias questões como isolamento, quadros de ansiedade, a pessoa começa a ter uma baixa capacidade de vivenciar frustrações, a vida dela acaba ficando cada vez mais limitada", alertou a psicóloga.
Philippsen também destacou a importância de estar atento a sinais de alerta, pois existem várias questões em jogo. Até mesmo a pornografia, que é uma questão bem particular.
"Tem os usuários que ficam muito tempo na tela só rolando pra cima e vendo bobeirinhas. Não conseguem ficar sem essa anestesia pro cérebro. É uma atenção que não demanda entendimento. Você não precisa ter um foco muito grande. É só o seu olhar. Geralmente isso pode ser uma questão de ansiedade, uma questão de dificuldade de lidar com os compromissos difíceis. Ou até a dificuldade de construir rotinas saudáveis", pondera a profisisonal.
Por fim, a psicóloga ressaltou ainda a vulnerabilidade das crianças e adolescentes nesse contexto.
"Geralmente crianças e adolescentes acabam sendo mais vulneráveis por conta de fatores biológicos e emocionais. Isso torna as crianças mais propensas a desenvolverem problemas relacionados ao uso de telas."
Essas orientações fornecidas pela psicóloga Carlota Philippsen visam conscientizar os pais e responsáveis sobre os potenciais impactos do uso excessivo de telas, ajudando-os a identificar sinais de problemas e buscar apoio quando necessário.
Guia para uso consciente
O Governo Federal deu início a uma importante iniciativa visando abordar os crescentes desafios relacionados ao uso excessivo de telas por crianças e adolescentes. Com foco na saúde e no desenvolvimento integral dessa parcela da população, o Ministério da Saúde está liderando a elaboração do "Guia para Uso Consciente de Telas e Dispositivos Digitais por Crianças e Adolescentes".
A iniciativa, que conta com representação de sete ministérios e diversos segmentos da sociedade civil, tem como objetivo fornecer orientações práticas e embasar políticas públicas abrangentes para lidar com os riscos associados ao uso inadequado de telas.
A primeira reunião do Grupo de Trabalho encarregado da elaboração do guia está prevista para ocorrer ainda este mês. Durante esse encontro, serão discutidas estratégias para abordar o tema, incluindo processos de escuta de crianças e adolescentes e o envolvimento de empresas e associações do ramo.
Diante das evidências científicas cada vez mais claras sobre os riscos associados ao uso excessivo de telas, o Governo Federal reafirma seu compromisso em promover um uso consciente e saudável da tecnologia, priorizando o bem-estar e o desenvolvimento das futuras gerações.
"A presença de crianças e adolescentes no mundo digital é uma realidade, mas nem por isso deixa de ser objeto de preocupação. A ideia do guia é que familiares, docentes e responsáveis, além das próprias crianças e adolescentes, tenham mais ferramentas para lidar com os riscos e problemas associados ao uso excessivo ou inadequado de aplicações e produtos digitais, visando a conhecê-los e mitigá-los", explicou João Brant, Secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM-PR).
O lançamento do Guia para Uso Consciente de Telas por Crianças e Adolescentes está previsto até o final de 2024, representando um marco significativo na proteção e promoção da saúde das nossas crianças e adolescentes na era digital.
“O Ministério da Saúde está engajado nesta iniciativa desde o princípio. A etapa da consulta pública foi importante, muitas contribuições foram recebidas e subsidiarão a elaboração do guia”, afirma a secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad. “A preocupação com o uso excessivo de telas pelas crianças e o impacto na sua saúde, crescimento e desenvolvimento integral nos leva a priorizar a conscientização de pais, professores e da sociedade para o uso racional e supervisionado das telas por crianças e adolescentes estes na era digital”, completou.
B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação
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