Com mais de 20 anos de carreira, que a consagraram como uma das grandes estrelas de teatro musical do país, a atriz e produtora Sara Sarres se prepara para fazer sua grande estreia no streaming, estrelando a série “O Coro: Sucesso Aqui Vou Eu”, produção inédita e original do Disney+, sob a direção de Miguel Falabella - que também assina o roteiro ao lado de Rosana Hermann - e Cininha de Paula.
Realizada pela Formata Produções e Conteúdo e pela Nonstop, a primeira temporada chegou ao catálogo em 28 de setembro, dividida em 10 episódios.
Levando para as telas o universo dos musicais, bastante familiar para a estrela de superproduções conhecidas no mundo inteiro como “O Fantasma da Ópera”, “West Side Story”, “Les Misérables”, “Shrek – O Musical”, “Escola do Rock”, “Billy Elliot” e, mais recentemente, “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”, é na pele de Marita, apresentada ao público também como uma ‘diva dos palcos’, que Sara poderá ser vista nas telas por toda América Latina.
Celebrando mais de duas décadas de amizade com Miguel, este não é o primeiro trabalho da dupla, que se aproximou durante o processo de “Godspell – O Circo da Paixão”, musical adaptado e dirigido por ele; juntos estiveram também em “A Madrinha Embriagada” e “O Homem de La Mancha”, onde recebeu sua direção cênica ao dar vida às protagonistas femininas Jane Valadão e Aldonza/Dulcinéia, respectivamente; já em 2018, viveram o par romântico de “Annie – O Musical”, Grace Farrell e Oliver Warbucks.
Sara direto do Canadá, conversou com o Correio B+ desta semana com exclusividade e contou sobre a estreia na Disney+, escolhas, trabalhos e também como está se adaptando em um país tão diferente do Brasil.
CE - Como se deu o seu encontro com a arte? O que te motivou?
SS - O meu encontro com a arte, na verdade, os meus pais sempre brincaram que eu nasci artista.
E eu acho que, realmente, a expressão artística, ela foi notada pela minha família muito cedo.
Então, com um aninho de idade o meu avô me deu um piano de brinquedo e a partir daí ele me acompanhou praticamente, sabe, o meu melhor amigo?
O amigo invisível... Eu não vivia sem esse piano, eu levava até para o banheiro.
Eu realmente cresci em volta desse pianinho de brinquedo, e ainda muito jovem, eu comecei a tirar músicas de ouvido dali daquele pianinho, e meu pai reconheceu esse talento, meu pai era muito sensível, tinha uma percepção muito aguçada, e assim que eu tive idade, quando eu comecei a minha alfabetização, eu também comecei a minha musicalização.
Então, os meus pais me matricularam em uma escola de música pública em Brasília, e ali foi o meu grande berço, onde eu comecei a minha formação.
E, assim, Brasília é uma cidade muito especial para mim, os meus primeiros passos artísticos foram lá, e a minha mudança para São Paulo foi uma coisa que parece que estava escrito, sabe? Era para ser.
Foto: Franklin MaimoneCE - Seus primeiros passos artísticos foram dados ainda em Brasília. Como foi sua mudança para São Paulo? Quais desafios enfrentou e como foi a adaptação?
SS - Então, uma amiga estava em São Paulo, nós estudávamos e cantávamos juntas em vários corais e ela estava em São Paulo e viu no jornal um anúncio de testes de audições para o Les Misérables o primeiro grande musical da era de ouro que a gente considera da volta dos musicais no Brasil com a inauguração do Teatro Abril, antigo Teatro Paramount, que hoje é o Teatro Renault.
Então, no mesmo dia, eu contei para os meus amigos que a gente tinha em comum, a gente tinha uma pequena companhia de musicais, onde estudávamos musicais, em Brasília, e daí veio o carinhoso apelido que a gente chamada de “invasão brasiliense” né, porque 13 brasilienses passaram nas audições de “Os Miseráveis” inclusive a grande maioria os protagonistas dessa montagem...
E a partir daí, eu passei para interpretar a Cosette no Les Misérables e fui literalmente emendando um espetáculo após o outro a partir daí.
O Fantasma da Ópera
CE - Você teve a oportunidade de estrelar musicais que são considerados verdadeiros clássicos. Imaginava que um dia conquistaria esses papéis?
SS - Eu ouso dizer que sim. Inclusive, é algo que eu tenho para mim como lema e que eu comunico para todos os meus alunos, que sonhar é o primeiro passo para a realização.
Então, eu acredito que quando um ator tem o primeiro contato com o material durante a audição, uma das coisas primordiais é você realmente vestir aquele personagem, é você realmente se entregar ao estudo daquele personagem, se entregar àquele papel, e com isso, a gente acaba de visualizando, muito, vivendo esses personagens e contando essas histórias.
Por isso que é tão dolorido quando a gente não consegue um papel ou quando a gente não consegue entrar em um espetáculo, porque realmente a gente quando estuda ou quando se vê nessa situação de ser testado ou pelo processo de audição, a gente realmente se vê nesses papéis.
Mas, às vezes nem eu consigo acreditar que eu já vivi tantos personagens incríveis e de tantos musicais que eu, como grande fã de teatro musical que também que sou, sempre ouvi e sempre estiveram nas minhas playlists de musicais favoritos e de repente eu tava ali vivendo, cantando e contando essas histórias.
DivulgaçãoCE - Sua vida é marcada por grandes momentos profissionais. Qual considera que tenha sido seu divisor de águas e por quê?
SS - Eu considero que o meu divisor de águas tenha sido “O Fantasma da Ópera”. Bom, eu vinha de um processo já de literalmente estar terminando uma temporada e já ensaiando a próxima, e para a Christine eu acabei tendo um período de dedicação maior.
Eu cheguei a ir para a Itália para estudar… Assim que eu fiquei sabendo, né, que eu tinha passado no musical, eu fui para Milão estudar, porque eu vinha fazendo musicais que faziam técnicas de canto mais populares, então, eu precisava realmente trabalhar a minha voz operística e fui estudar, fiquei um grande período lá.
E “O Fantasma da Ópera” é até hoje um grande marco quando se fala em teatro musical, né.
CE - O teatro musical te abriu portas também internacionais. Como foi ser escolhida para viver Christine, na tour mundial de "O Fantasma da Ópera"?
SS - Foi um sonho, eu me beliscava literalmente em vários momentos, tanto no dia em que eu recebi a ligação se eu tinha interesse em reviver Christine, no dia em que eu fiz a minha audição, o meu teste em Nova York, na sala do Harold Prince, no escritório dele, na hora que eu subia no prédio quando tava ali escritório “Sara Sarres, visita a Harold Prince”, eu pensava: “meu Deus do céu, o que que tá acontecendo comigo?”.
Então, foram muitos momentos que, para mim, quanto artista, e Sara, aquela menina fã de teatro musical, foram momentos muito mágicos que essa experiência internacional me trouxe.
Foto Caio GallucciCE - Dentre tantas personagens teria alguma que gostaria de reviver? E das que ainda não fez, tem alguma que ainda seja dos sonhos?
SS - Teriam muitas personagens que eu gostaria ainda de reviver, por incrível que pareça.
Eu acho que é uma experiência incrível quando o ator tem a oportunidade de reviver personagens depois de ter ganho mais experiência. Ou de estar em espetáculos com personagens diferentes.
Eu adoraria fazer “Les Misérables” como Fantine, que é uma outra personagem.
Eu adoraria reviver a Rosalie Mullins, da “Escola do Rock”, de repente numa outra produção, numa outra montagem… A própria Aldonza/Dulcineia, eu adoraria fazer “O Homem De La Mancha” em outra língua, então, tem muitas personagens que eu acho que seria muito divertido ter novas oportunidades.
Tem também a Fiona do “Shrek”, adoraria reviver a Fiona… Então, tem alguns personagens que com certeza seriam bem interessantes de reencontrar, de refazer.
CE - Foram mais de 20 anos dedicados aos palcos, emendando trabalhos, o que pode ter afetado sua vida pessoal e até outras escolhas profissionais. Precisou abrir mão de algo ao longo da carreira? Chegou a pensar em pausar?
SS - Eu acho que sim, a gente sempre abre mão de algo ao longo da carreira.
Eu abri mão da família, a gente acaba tendo que realmente que, é uma dedicação dê tempo muito grande pro teatro musical.
Nós temos sete, às vezes oito sessões por semana, então, normalmente a família fica um pouco sacrificada, né, a gente costuma dizer que cada elenco, ou cada temporada de musical a gente acaba construindo uma nova família.
Porque a gente fica mais tempo dentro do teatro do que dentro da nossa própria casa, né.
Então, com isso, sim, eu acho que eu perdi um pico de qualidade muito precioso com entes queridos que já partiram, enfim, escolhas, né, mas eu acho que sim, assim como acontece com outros atores, isso aconteceu comigo, de precisar abrir mão, mas nunca pensei em pausar.
DivulgaçãoCE - Nos últimos anos você conciliou a rotina dos espetáculos e gravações com a da faculdade de Fonoaudiologia. O que te motivava a dar conta de tudo isso e como foi viver esse período?
SS - Não sei se por ser geminiana, mas sempre fui conciliadora de multitarefas, então eu vejo há muitos anos fazendo muita coisa ao mesmo tempo e sem conseguir interromper nenhuma delas.
Então, assim como eu tenho a carreira de teatro musical, eu sou arte-educadora, sou fonoaudióloga, também faço um trabalho de treinamento de reabilitação com os meus alunos, com os meus colegas, com as pessoas que me procuram focadas no treinamento em teatro musical, em artes vocais em geral, também isso é um lado meu que eu gosto muito, que eu não consigo deixar de lado mesmo quando eu estou em altas temporadas, temporadas intensas e vice-versa, eu estava em uma fase de estágios hospitalares e ao mesmo tempo estava filmando a série “O Coro”, fazendo “Charlie e A Fantástica Fábrica de Chocolate”, eu não sei como eu dei conta, como eu tive saúde, mas eu consegui conciliar as três atividades e a família ali também acaba que fica um pouco de lado, mas agora a gente está cuidando um pouquinho, né.
No Canadá eu estou cuidando da minha família, fiquei um pouquinho cuidando da minha família no Brasil também agora nesse período pós as filmagens da série e aí a gente vai tentando conciliar um pouco desse dia que tem apenas 24 horas (risos).
CE - Apesar de algumas experiências no audiovisual, essa é sua estreia no streaming. Como foi a experiência de gravar e lançar a série "O Coro: Sucesso, Aqui Vou Eu"?
SS - A minha experiência de lançar e gravar a série foi maravilhosa. Tem sido maravilhosa.
Se eu soubesse que era tão incrível e tão mágico, eu acho que teria me empenhado antes em tentar conciliar também o audiovisual com a carreira de teatro musical.
Porque acabou que isso sempre foi um empecilho, né, porque a gente nunca tinha o tempo disponível para estar com exclusividade para projetos de filmagem, então, ter a obrigatoriedade de estar no teatro de quarta a domingo, isso sempre foi um impeditivo, mas eu fiquei realmente muito feliz de de fato abrir essa porteira aí, abrir essa porta para o audiovisual, estou encantada, né.
E acho que a gente tem muita história linda, muita música boa, muito teatro musical para a gente trazer para as telas.
DivulgaçãoCE - A série transita por um universo que você conhece na vida real e sua personagem possui a relevância que você também tem dentro do gênero. Foi mais fácil construir a personagem por esses fatores? Como foi o processo?
SS - A minha experiência de lançar e gravar a série foi maravilhosa.
Tem sido maravilhosa. Se eu soubesse que era tão incrível e tão mágico, eu acho que teria me empenhado antes em tentar conciliar também o audiovisual com a carreira de teatro musical.
Porque acabou que isso sempre foi um empecilho, né, porque a gente nunca tinha o tempo disponível para estar com exclusividade para projetos de filmagem, então, ter a obrigatoriedade de estar no teatro de quarta a domingo, isso sempre foi um impeditivo, mas eu fiquei realmente muito feliz de de fato abrir essa porteira aí, abrir essa porta para o audiovisual, estou encantada, né.
E acho que a gente tem muita história linda, muita música boa, muito teatro musical para a gente trazer para as telas.
CE - Como você apresentaria Marita? Consegue encontrar semelhanças e diferenças entre vocês?
SS - Eu acho que foi bacana construir a Marita Bell através do olhar da minha experiência dentro do teatro musical, né, apesar de que eu e Mareta somos muito diferentes.
Ouso dizer que completamente diferentes.
Porque eu vejo realmente o teatro musical como a arte do coletivo, então, e eu acho que nunca me vi verdadeiramente como diva, para mim, as divas estão no pantheon, para mim, diva é Bibi Ferreira, é Marília Pêra, elas estão lá, nos guiando e nos abençoando lá de cima.
Mas, confesso que foi muito divertido poder trazer um pouco desse estereótipo da diva para a pele da Marita.
Então, eu acabei pesquisando bastante, lendo bastante, inclusive, divas não obrigatoriamente do teatro musical mas divas da ópera, algumas divas do teatro musical internacional que são famosas por serem bem objetivas, claras e com seus posicionamentos.
Eu tentei trazer um pouquinho dessas pequenas pitadas para a Marita e acho que vem muita coisa legal por aí ainda.
A Marita é um presente. É um presente para mim como atriz e um grande presente para todos que amam teatro musical.
Caio GallucciCE - Sua história se cruza com a de Miguel Falabella de muitas formas, nos palcos e agora na tv. Conte um pouco sobre a importância dessa relação.
SS - O Miguel é o meu grande amigo. Eu considero o Miguel o meu padrinho nas artes, literalmente. Na primeira vez que nós nos encontramos ele fazia “O Beijo da Mulher Aranha” e eu ensaiava o “Les Misérables”.
E eu o vi em cena pela primeira vez e fiquei maravilhada, né.
Ele já era o grande Miguel Falabella que eu ia dormir todos os dias aos domingos assistindo no “Sai de Baixo” e não conseguia imaginar quão humano ele era; eu acho que a gente distancia um pouco, né, quando criança, os nossos grandes atores, as pessoas que nos encantam na televisão ou no cinema, e de repente ter a oportunidade de ver aquela pessoa ao vivo, eu era uma menina de Brasília, então, eu não tinha essa proximidade de grandes artistas, e quando ele ficou sabendo que o “Les Misérables" estava acontecendo, ele foi assistir e eu lembro de ter visto um homem extremamente amoroso, um homem com olhar de luz para as artes, para os artistas…
Ele é um diretor que reconhece talentos como ninguém.
E ele abraça esses talentos e ele apoia e encoraja esses talentos, e comigo não foi diferente, então, na época quando eu tava fazendo “Les Misérables” ele anunciou as audições para “Godspell - Circo da Paixão”, eu fui fazer esse teste e foi amor à primeira audição.
Nossa, o que eu aprendi com ele ali diariamente não está escrito e eu sou muito grata de todos os encontros que nós tivemos a partir daí - que foram vários, né.
Nós trabalhamos várias vezes juntos, e, para mim, estar agora na televisão ao lado dele, é mais do que um sonho realizado, além de ser diariamente uma grande alegria trabalhar com um diretor tão solar, um diretor que realmente consegue tirar o melhor não só dos atores, mas de cada membro da equipe.
Tudo com graça, com beleza, com leveza… Trabalhar com o Miguel é trabalhar em um ambiente de felicidade, sempre.
CE - Recentemente você se mudou para o Canadá, para viver um novo momento ao lado do seu marido. Como tem sido o processo?
SS - Aqui no Canadá eu estou de fato em um momento muito feliz, recém casada, buscando novos caminhos e novas oportunidades, eu acho que o audiovisual, traz determinadas facilidades que até então, vivendo apenas o universo do teatro no Brasil, era algo que eu não fazia ideia.
Então, eu acho que vem coisa boa por aí e eu não vejo a hora de poder dividir com vocês tudo que a gente está bolando, tanto para a série, que já tem a segunda temporada gravada, para o teatro musical e para os novos passos.
CE - Sobre projetos futuros, tem planos nacionais ou internacionais que possa compartilhar?
SS - Então, eu acho que vem coisa boa por aí e eu não vejo a hora de poder dividir com vocês tudo que a gente está bolando tanto para a série, para o teatro musical e para os novos passos.

Giovanna Araújo de Carvalho, que hoje comemora 15 anos
Tati Pilão, Rodrigo Branco e Lais Bocchi


