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Seresteiros que relembram canções românticas que perderam espaço

Seresteiros que relembram canções românticas que perderam espaço

CASSIA MODENA

16/02/2017 - 16h00
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Das músicas cantadas pelas ruas em procissão, que faziam muitos saírem às janelas e sacadas, nasceu a seresta. Tradição da música popular brasileira, experimentou sua época de ouro nas vozes e nos violões de grupos nômades, que interpretavam canções melódicas nas calçadas. 

Somente mais tarde, começou a ser promovida como um show intimista nas praças, com equipamentos de som e data marcada. 

Da década de 1990 em diante, o movimento musical foi perdendo espaço em muitas cidades do País, mas permaneceu e teve prestígio estendido em Campo Grande – especialmente em virtude da “Noite da Seresta”, projeto que a promoveu até 2014, em uma parceria entre a prefeitura e os seresteiros. Ele não acontece desde que entrou na lista dos cortes de gastos municipais e não tem previsão para retorno. Mesmo assim, parte dos cerca de 90 seresteiros existentes por aqui continua ativa em apresentações confinadas a pequenos bares e clubes fechados.

O presidente da Associação dos Seresteiros de Mato Grosso do Sul, Silvio Lobo, tenta se movimentar para que o evento volte a acontecer. “É o projeto de maior cunho popular já promovido pela prefeitura”, justifica. Ele destaca que públicos de 10 a 15 mil pessoas já se reuniram para ver serestas em que Angela Maria, Cauby Peixoto, Agnaldo Raiol, Agnaldo Timóteo e Sidnei Magal participaram como cantores convidados. 

Nesse formato mais recente de apresentação, os seresteiros campo-grandenses faziam show de abertura para receber os convidados especiais uma vez por mês, nas noites de sexta-feira. Inicialmente, o cachê dos convidados e dos artistas locais era pago pela prefeitura.

ESPAÇO MENOR

Com violas, violões e um grupo de cantadores, estava formada uma seresta para sair nas noites campo-grandenses do passado. Houve época em que aconteciam livremente nas praças e comoviam moradores do Centro e dos bairros com polcas, boleros e guaranis carregados por letras sentimentais. Eram sucesso antes mesmo de serem formalizadas e abraçadas pela administração municipal, em 1994.

Quando a Noite da Seresta começou, era realizada na Praça Ary Coelho. O projeto teve algumas pausas e mudou para a praça do Rádio Clube em 2004. Muitas histórias dos seresteiros mais velhos, presentes das primeiras apresentações, já partiram com eles. 

Osvaldo Florêncio – ou Wadico, seu nome artístico – se lembra com saudade daquele tempo. Aos 76 anos, guarda vários flashes na memória das movimentações do palco improvisado na Praça Ary Coelho, onde fez muitos amigos e cantou as músicas românticas que gostava. Wadico trabalhava com alfaiate nesse período e, por isso, sabia como era importante estar bem vestido para se apresentar. “Porque é com uma boa apresentação visual que a gente ganha mesmo o público”, explica. Ele fez fama com as serestas, gravou dois CDs e chegou a participar do programa “Som Brasil”, da antiga TV Cultura.

“Antes, era só voz e violão na praça. Depois a gente começou a tocar também em bares famosos aqui da cidade que muitos nem lembram, o Sandália de Prata, o Som de Cristal, por exemplo”, conta Wadico. Os “tempos áureos da seresta” se foram, afirma, mas ela sobrevive em formatos diferentes, com espaço menor e com a ajuda do público fiel de sempre. 

Antônio César Neves, 63 anos, também cantou nas serestas das praças e bairros de Campo Grande. Foi influenciado pelo tio, que era “um seresteiro muito elegante, passava muito tempo penteando o cabelo, tinha os sapatos sempre muito brilhosos e voltava tarde para casa”, como descreve. Fez aula de canto erudito quando era jovem, mas pendeu mais para a música popular, por perceber que ela poderia passar mensagens a todo tipo de pessoa. Uniu isso ao gosto pela música internacional e pôde serestar com interpretações das canções de Elvis Presley, Frank Sinatra e artistas italianos.  

Quem também sente saudade é Ivone Souza, homenageada pela prefeitura com o título de “Rainha da Seresta”. Começou a cantar aos 12 anos, em Lins (SP). Quando mudou-se para Campo Grande, afastou-se dos palcos por questões religiosas e por causa dos afazeres da vida de mãe. Esperou que os filhos crescessem para começar a cantar na praça do Rádio Clube, seu palco preferido. Hoje, aos 80 anos, continua cantando.

BREGA

As serestas derivam das serenatas feitas nas janelas – os formatos são diferentes, sobretudo os ritmos lentos e letras românticas permaneceram. No início, eram vistas com preconceito por serem articuladas por grupos que pertenciam às camadas mais pobres das cidades brasileiras. 

Atualmente, outro preconceito, na opinião de Silvio, é associá-las à música brega e de baixa qualidade. Ele pesquisou sobre o movimento para escrever um livro sobre as serestas em Mato Grosso do Sul e garante que “grande parte do repertório da seresta é de músicas mais clássicas, com maior riqueza de notas musicais e uma diversidade de instrumentos de percussão, de sopro, o tradicional teclado, mas também até o piano, algumas vezes”.

As serestas cantadas em diferentes regiões do País têm características diferentes, explica Silvio. No Centro-Oeste, atualmente, elas passam pelos gêneros “samba-canção, tango, músicas sertanejas que são boleros, o próprio bolero e as ‘músicas emprestadas’, principalmente as guarânias paraguaias”.

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B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

Bailarina, atriz e criadora do método Dança Integral, Keila Fuke transforma o movimento em linguagem de escuta, autocuidado e reinvenção feminina

21/12/2025 20h00

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos Foto: Divulgação

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Keila Fuke fala de dança como quem fala de família. Não no sentido de abrigo confortável apenas, mas de território vivo - onde moram memória, desejo, silêncio e prazer. Quando ela diz que o corpo é templo, não soa místico. Soa prático. Soa vivido.

“A dança é uma arte que se expressa pelo corpo, e o corpo é nossa casa, templo sagrado e cheio de emoções, histórias e prazer”, diz. Para ela, quando uma mulher escuta e sente o próprio corpo, algo essencial se reorganiza: “ela realmente se conecta com sua essência primária, seus desejos, e consegue ir para a vida de forma mais consciente”.

Há mais de três décadas, Keila dança, atua, coreografa e cria. Sua formação artística começou ainda na infância e se expandiu por diferentes linguagens (dança, teatro, musical e direção), construindo uma trajetória consistente nos palcos brasileiros. Nos grandes musicais, viveu a intensidade da cena em produções como “Miss Saigon”, “Sweet Charity”, “A Bela e a Fera”, “Victor ou Victoria” e “Zorro” (experiências que aprofundaram sua relação com a disciplina, a entrega e a presença).

Foi também no teatro que sua trajetória profissional ganhou contorno definitivo. Keila estreou ao lado de Marília Pêra, em “Elas por Ela”, num encontro que deixaria marcas profundas em sua forma de compreender a arte. A convivência com Marília reforçou a noção de que o palco exige verdade, escuta e disponibilidade (valores que atravessam seu trabalho até hoje).

Mas só quem escuta com atenção percebe que sua trajetória não foi guiada apenas pela busca da forma perfeita ou do espetáculo bem acabado - e sim por uma pergunta insistente: o que o corpo ainda tem a dizer quando a vida muda de ritmo? Essa pergunta atravessa tudo o que ela faz hoje.

Ao falar sobre movimento, Keila não separa o gesto do afeto, nem a técnica da emoção. “A dança revela a comunicação entre o mundo interno e o externo. O gesto se torna linguagem, o movimento vira verdade.” Talvez seja exatamente por isso que tantas mulheres chegam às suas vivências depois de períodos de exaustão: ali não se pede performance, mas presença.

Existe algo de radicalmente gentil na forma como Keila olha para o corpo feminino. Especialmente aquele que atravessa a maturidade. A menopausa, tema ainda cercado de silêncio, aparece em sua fala como travessia, não como falha. “Todas as mulheres irão passar por esse portal ao entrar na maturidade”, afirma. “Não para corrigir o corpo, mas para reconhecê-lo.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos         B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Foi desse entendimento que nasceu o método Dança Integral, desenvolvido a partir da integração entre sua experiência artística e seus estudos terapêuticos. Ao longo dos anos, Keila aprofundou-se em yoga, meditação, tantra, bioenergética e consciência sistêmica, incorporando esses saberes à dança. “É um trabalho que convida a mulher a ativar e integrar seus corpos (físico, mental e emocional) devolvendo consciência, presença e escuta.”

Na prática, o movimento deixa de ser esforço e passa a ser aliado. O corpo volta a circular energia, as emoções encontram expressão e a mente desacelera. “No movimento consciente, o corpo lembra que não nasceu para ser corrigido, mas habitado.” Quando isso acontece, o corpo deixa de ser campo de conflito e volta a ser morada.

A ancestralidade japonesa que Keila carrega atravessa profundamente esse olhar. Mestiça de origens japonesa, italiana, alemã e libanesa, ela se reconhece como uma mulher amarela e traz dessa herança a disciplina entendida como cuidado. O respeito ao tempo, ao silêncio e ao gesto essencial molda sua relação com o movimento, a prática e o feminino. Espiritualmente, o corpo é templo, o movimento é ritual e a repetição, um caminho de aperfeiçoamento interno.

Ao mesmo tempo, Keila é mistura. Emoção, calor e invenção brasileira convivem com rigor e silêncio. “Vivo entre tradição e vanguarda, entre raiz e criação”, diz. É dessa fusão que nasce um trabalho que não se fixa nem na forma nem no conceito, mas no estado de presença.

Essa escuta sensível também se manifesta fora das salas de dança. Há 17 anos, Keila atua na Fundação Lia Maria Aguiar, em Campos do Jordão, onde integra a formação artística de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Ali, ela participa da criação de um núcleo de teatro musical que utiliza a arte como ferramenta de educação, inclusão e fortalecimento da autoestima. “Com eles, aprendo que sensibilidade não é fragilidade, é potência.”

B+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anosB+: Keila Fuke transforma a dança em escuta do corpo, cura emocional e reinvenção aos 59 anos - Divulgação

Falar de reinvenção aos 59 anos, para Keila, não tem a ver com começar do zero. Tem a ver com fidelidade. “Se reinventar é um gesto de fidelidade à vida.” Ela fala de saúde emocional, de vulnerabilidade, mas também de prazer, curiosidade e desejo. “Depois dos 50, algo se organiza internamente: ganhamos coragem para comunicar quem somos e ocupar nosso lugar sem pedir permissão.”

Existe algo profundamente político nesse corpo que segue dançando sem pedir licença ao tempo. Que reivindica delicadeza sem abrir mão de força. “Dançar, assim, é um ato político e espiritual”, diz. “É a mulher dizendo ao próprio corpo: eu te vejo, eu te respeito, eu te celebro.”

Quando Keila afirma que cada passo é uma oração, a frase ganha densidade. “Hoje, a oração que guia meus passos é a gratidão em movimento.” Gratidão por estar viva, criando, aprendendo e colocando o talento a serviço da vida. “Que minha arte continue sendo ponte - entre corpo, alma e coração.”

Talvez seja isso que faz de Keila Fuke uma presença tão inspiradora: não apenas o que ela construiu nos palcos, mas a forma como permanece. Em movimento. Em escuta. Em verdade.

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Saúde B+: Você sabia que bronzeado saudável não existe? Confira!

Médicos alertam sobre riscos da exposição solar e sobre a importância da proteção solar eficaz

21/12/2025 19h00

Saúde B+: Você sabia que bronzeado saudável não existe? Confira!

Saúde B+: Você sabia que bronzeado saudável não existe? Confira! Foto: Divulgação

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Infelizmente … aquele bronze dourado e saudável não existe! Esse, que é o desejo de muitas pessoas, pode representar um real perigo para a saúde da pele. “Classificamos os tipos de pele de I a VI, de acordo com a capacidade de resposta à radiação ultravioleta (UV), sendo chamado fototipo I aquele que sempre se queima e nunca se bronzeia, até o VI, pele negra, totalmente pigmentada, com grande resistência à radiação UV. A pigmentação constitutiva - cor natural da pele - é definida geneticamente. A cor facultativa - bronzeado - é induzida pela exposição solar e é reversível quando cessa a exposição”, explica a dermatologista Dra. Ana Paula Fucci, Membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

O chamado "bronzeado dourado" é observado nas peles mais claras e para ocorrer, ocasiona danos no DNA das células.  “As  consequências serão vistas anos mais tarde, em forma de fotoenvelhecimento, manchas ou lesões cutâneas malignas.O ideal é respeitar seu tipo de pele e sua sensibilidade ao sol. Nunca queimar a ponto de “descascar”. Importante: evite se expor ao sol entre 10 e 16h”, detalha a dermatologista. 

Dra. Ana Paula alerta ainda sobre os riscos de bronzeamento artificial, através das câmaras de bronzeamento: “esse é ainda mais prejudicial para a pele do que a exposição ao sol. A radiação é entregue de forma concentrada e direta, sem nenhum tipo de filtro ou proteção”.  

A médica ressalta que filtro solar não é uma permissão para a exposição ao sol. “Ele é um grande aliado, desde que sejam seguidas as orientações de horário, evitar exposição exagerada e usar complementos como bonés, óculos etc”, reforça Dra. Ana Paula Fucci.  

- Proteção solar eficaz 

A rotina de proteção solar é muito importante em qualquer época do ano, sobretudo agora no verão.  “Não deixe para aplicar o filtro quando chegar na praia ou piscina, por exemplo. O ideal é aplicá-lo cerca de 20 minutos antes de se expor ao sol, para dar tempo de ser absorvido e começar a agir. Também devemos reaplicar o filtro solar a cada 2 horas ou após se molhar ou suar muito”, destaca Dr. Franklin Veríssimo, Especialista e pós-graduado em Laser, Cosmiatria e Procedimentos pelo Hospital Albert Einstein-SP. 

Dr. Franklin destaca três aspectos importantes para uma proteção solar eficaz:

1- “Use filtro com FPS 30 ou maior;  e para as crianças ou pessoas que possuem pele mais sensível, FPS de no mínimo 50;

2- Use proteção adicional ao filtro solar, como chapéus, viseiras, óculos escuros. Recomendo evitar a exposição solar entre 10 e 16h;

3.  Use roupas leves, claras e chapéu e óculos de proteção UV, principalmente se for praticar caminhadas e atividades físicas ao ar livre.  Quem costuma ficar muito tempo no sol tem que redobrar os cuidados e investir em roupas com proteção ultravioleta”, conclui o médico.  

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