O acordo entre Mercosul e União Europeia (UE), finalizado nesta sexta-feira, em Montevidéu, no Uruguai, promete transformar a economia de Mato Grosso do Sul, ao facilitar a exportação de carne e grãos, reduzir barreiras à importação de máquinas agrícolas e atrair investimentos.
A iniciativa, que reforça compromissos com a sustentabilidade e o desenvolvimento econômico, abre novas perspectivas para geração de empregos e ampliação de renda no Estado.
A conclusão das negociações de um dos maiores acordos bilaterais de livre comércio do mundo ocorre após 25 anos de tratativas. A parceria abrange cerca de 718 milhões de pessoas e um Produto Interno Bruto (PIB) combinado de US$ 22 trilhões, prometendo grandes impactos nas economias.
Para Mato Grosso do Sul, conhecido por sua força no agronegócio, o impacto será direto, por meio da eliminação de barreiras tarifárias e do fortalecimento do comércio exterior, com destaque para a carne bovina, os grãos e os investimentos em tecnologia.
O titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul (Semadesc), Jaime Verruck, explica que este acordo é discutido desde 1999 e tem como grande ganho para o Estado a criação de um novo marco de negociação com a Europa. Especialmente, considerando medidas recentes, como as questões ambientais e sanitárias da União Europeia, como o programa de desmatamento e a cobrança pela redução de carbono.
“A ideia é que os nossos produtos possam chegar sem restrições e com redução tarifária. A União Europeia é um grande mercado para qualquer produto. Quando a gente olha do agronegócio, aqui [temos produtos como] a celulose, a soja, a carne e o couro. Então, nós temos, na verdade, um grande potencial de venda de produtos para a União Europeia”, detalha.
Verruck ainda alerta para a necessidade de uma perspectiva de longo prazo, já que os benefícios não serão imediatos. “Estamos diante de um acordo que ainda precisa ser aprovado em várias fases. Mas eu acho que o grande ganho, a gente cria uma nova ambiência de relação comercial com a Europa a partir da assinatura, mas o benefício direto que esperamos é a ampliação de mercado”, explica o secretário.
“Lembrando que, obviamente, existe ampliação de mercado para os produtos europeus. Vamos mandar produtos agroindustrializados ou produtos in natura, e eles mandarão para cá produtos manufaturados. Por isso que a preocupação, muitas vezes, é muito mais da indústria”, finaliza o titular da Semadesc.
INDÚSTRIA
A Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul (Fiems) avalia que o tratado tem potencial para impulsionar a indústria sul-mato-grossense, considerando o perfil produtivo competitivo da região.
Dados do Observatório da Indústria da Fiems apontam que, somente no último ano, as exportações sul-mato-grossenses para a União Europeia ultrapassaram US$ 870 milhões, representando um crescimento de 50% nos últimos quatro anos. A indústria estadual respondeu por 98% de tudo o que Mato Grosso do Sul exportou para o bloco europeu, com destaque para farelos e pellets de soja, celulose, etanol, açúcar e carnes.
Para o presidente da Fiems, Sérgio Longen, a eliminação de tarifas representa uma oportunidade de ampliação significativa da presença da indústria sul-mato-grossense no mercado europeu.
“Esse cenário também contribuirá para a redução do custo de importação de insumos e bens de capital, o que fortalecerá ainda mais a eficiência e a competitividade de nossa produção”, diz Longen.
IMPACTO
De acordo com o doutor em Administração Leandro Tortosa, a abertura de mercados é um passo importante para o desenvolvimento econômico. “Com a eliminação de 100% das tarifas industriais pela União Europeia, em até 10 anos, e a redução de 91% das linhas tarifárias pelo Mercosul, em até 15 anos, nossos produtores terão mais facilidade para acessar o mercado europeu, especialmente a carne bovina e os grãos, como soja e milho, com os quais Mato Grosso do Sul é protagonista”, destaca.
A expectativa é de que o acordo também fomente investimentos no Estado, atraídos pelo potencial produtivo e pela redução de barreiras. “Com a eliminação de tarifas para mais de 90% dos bens ao longo de um período de transição, Mato Grosso do Sul tem tudo para atrair investidores e transferências ainda mais para sua economia. Isso significa mais geração de emprego e renda para a população local”, afirma Tortosa.
Ele reforça que a sustentabilidade será um elemento-chave para os produtores locais. “A UE tem critérios rigorosos em relação às práticas ambientais, especialmente países como a França, que são opositores de produtos que não seguem padrões de gestão sustentável. Por isso, os produtores de Mato Grosso do Sul devem se alinhar às melhores práticas de conservação e sustentabilidade”, ressalta.
O mestre em Economia Eugênio Pavão afirma que, atualmente, o Estado tem pouca relação comercial com a UE, com apenas 7,4% de suas exportações externas para o bloco, mas o impacto do acordo dependerá de estratégias regionais.
“Embora a União Europeia represente um mercado estratégico, os ganhos econômicos não se limitam às exportações. A grande oportunidade está na atração de investimentos em áreas homologadas aos prêmios ESG [ambiental, social e de governança], especialmente para a indústria sul-mato-grossense”, analisa.
Além disso, Pavão ressalta o potencial de longo prazo. “Com a entrada gradual em vigor do acordo entre 2025 e 2040, há espaço para acréscimos significativos no PIB do Estado, mas isso dependerá da capacidade de investimentos produtivos e da superação de barreiras protecionistas de alguns cidadãos europeus”, complementa.
ACORDO
A União Europeia consolidou-se como o segundo maior parceiro comercial do Brasil, movimentando cerca de US$ 92 bilhões em trocas comerciais em 2023. O novo acordo entre Mercosul e UE promete intensificar essa relação, ampliando o acesso a mercados europeus e incentivando a modernização do parque industrial brasileiro.
Além disso, a parceria deve atrair ainda mais investimentos, já que a UE responde por quase metade do estoque de investimento estrangeiro direto no Brasil.
No âmbito regional, o pacto fortalece a integração econômica do Mercosul, promovendo maior cooperação entre os países do bloco e aumentando sua atratividade para futuros parceiros comerciais.
Esse fortalecimento interno é complementado por compromissos inovadores em desenvolvimento sustentável, com foco na descarbonização e no incentivo ao comércio de produtos verdes. Mecanismos de reequilíbrio foram incluídos para proteger exportadores do Mercosul de medidas europeias que possam prejudicar os benefícios negociados, enquanto a UE se compromete a fornecer suporte técnico e financeiro para políticas ambientais e sociais.
Mais do que um acordo econômico, a parceria reflete um alinhamento político entre duas regiões que compartilham valores como democracia, multilateralismo e direitos humanos. Em um cenário global marcado por desafios geopolíticos e protecionismo, o pacto reafirma o papel do comércio internacional como alavanca para o crescimento sustentável e a cooperação global.
Para o Brasil, esse acordo representa um marco histórico em sua inserção econômica global, consolidando sua posição como líder em uma das maiores redes de integração comercial do planeta. Com as negociações concluídas, Mercosul e UE abrem um novo capítulo de colaboração mútua, oferecendo oportunidades inéditas para o desenvolvimento econômico e social.
