A pecuária de Mato Grosso do Sul enfrenta um cenário desafiador, principalmente em decorrência do clima quente e seco. Diante dessas condições, o setor registrou um aumento significativo na arroba do gado em um curto período de tempo, levando a cotação de MS a ser a maior do País.
Especialistas apontam que o cenário é impulsionado pela escassez de oferta de animais prevista no Estado, o que também deve elevar os valores da carne bovina ao consumidor final.
Conforme a Granos Corretora, a arroba do boi gordo era comercializada ontem (11) a R$ 248,22 no mercado físico de Mato Grosso do Sul. Quando comparada ao mesmo período do ano passado (R$ 197), é possível identificar um aumento porcentual de 26%.
Somente nos últimos três meses, a alta foi de 22,33%. Em 11 de junho, o boi gordo era negociado a R$ 202,91, chegando a R$ 248,22 na cotação desta quarta.
Para o economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo, os frigoríficos enfrentam dificuldades para avançar suas escalas de abate por conta da oferta limitada. “Essa situação resultou em um mercado inflacionado, no qual os preços elevados refletem a falta crítica”, explica.
O engenheiro agrônomo e analista de mercado da Scott Consultoria, Alcides Torres, reitera o panorama apontando que, nas últimas semanas, a arroba do boi gordo chegou a ser comercializada a R$ 248 na região de Campo Grande, a R$ 250 em Dourados e a R$ 245 em Três Lagoas.
“As ofertas de boiadas diminuíram, resultando em escalas de abate reduzidas e em um mercado mais firme”, pontua. Melo explica que, além da escassez de oferta de animais prontos para a venda, a disponibilidade de bois em confinamento é menor no Estado. “Enquanto o Mato Grosso concentra um total de 21% dos bovinos confinados, MS concentra apenas 11%”, aponta.
O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Guilherme Bumlai, complementa enfatizando que o momento de entressafra influencia na queda dos níveis de qualidade e na quantidade das pastagens, também influenciando na redução da oferta de animais terminados.
“Isso já está provocando aumento na cotação do gado gordo, com o preço da arroba subindo da média de R$ 240 para R$ 250 nos últimos 20 dias em MS”.
Bumlai salienta que os lotes de confinamento só devem chegar com intensidade ao mercado em meados de outubro e novembro. “Provavelmente nesse momento haverá uma pressão de queda para as cotações atuais”, analisa o presidente da Acrissul.
Em contrapartida, para o economista do SRCG Staney Melo, ainda assim, mesmo com a entrada do confinamento, a tendência é que o mercado entre em um período mais estendido de menor oferta.
“Isso considerando que ao longo dos últimos dois anos, muito por conta dos preços baixos pagos ao setor, tivemos um forte avanço no descarte de fêmeas, que deverá se traduzir em menor oferta e em provável encarecimento nos preços da carne no País. O que estamos vendo é uma transição de ciclo”, conclui Melo.
A arroba da vaca também apresentou valorização, saindo de R$ 186,35 em junho para R$ 230,33 na cotação de ontem, aumento de 23,60%, segundo a Granos Corretora.
REPOSIÇÃO
O analista de mercado Alcides Torres explica que o mercado de reposição enfrenta um cenário de baixa liquidez, com produtores aguardando melhores condições climáticas para investir na reposição de rebanho, o que pressionou para baixo as cotações de diversas categorias de bovinos.
“No mercado de reposição, as quedas mais expressivas foram observadas nas cotações do boi magro e do garrote, com retração de 24%, e do bezerro de ano, com queda de 15%”, detalha Torres.
Para as fêmeas, o engenheiro destaca que a novilha apresentou uma queda de 44%, enquanto a vaca boiadeira teve um recuo de 39%. “Essas variações refletem a cautela dos compradores, que esperam por chuvas antes de avançar nas compras”.
Para Torres, o cenário atual reafirma Mato Grosso do Sul como um dos principais polos pecuários do País, com preços que comprovam a força do mercado local, mesmo em meio aos desafios do setor.
Como já adiantado pelo Correio do Estado no início deste mês, a seca tem se mostrado um desafio crescente para a agropecuária de Mato Grosso do Sul, como observa o agrometeorologista Danilton Flumignan, da Embrapa Agropecuária Oeste.
De acordo com Flumignan, a imprevisibilidade climática tem afetado significativamente a prática agrícola e ainda a manutenção de pastagens na região, o que interfere diretamente nos custos da produção e, por consequência, nos preços de comercialização. (Colaborou Súzan Benites)