Não existe número exato de supermercados atualmente em Campo Grande, mas a estimativa é que sejam em torno de 800, com um giro financeiro anual na ordem de R$ 2,2 bilhões, computado desde os maiores até os mais modestos estabelecimentos.
O que está claro, porém, é que o setor está vivendo uma espécie de boom em direção às periferias da cidade, a qual está completando 124 anos neste sábado.
Prova de que o setor está em pleno crescimento são as duas grandes novas lojas na saída de Campo Grande para Sidrolândia, na Av. Gunter Hans.
A unidade do Atacadão foi inaugurada nesta quinta-feira. A poucos metros dela, dezenas de operários trabalham na construção do prédio que vai abrigar mais uma loja da rede Assaí.
As recentes inaugurações das unidades do Fort Atacadista na Av. Guri Marques com a Av. dos Cafezais, na Av. Três Barras e na Av. Pref. Lúdio Martins Coelho são exemplos que também mostram que o setor está bombando.
Sem falar do megaempreendimento do mesmo grupo em loja da rede Comper, no Bairro Itanhangá, em região nobre da Capital.
E não são somente as marcas gigantescas que comprovam isso. Os proprietários da rede Pires, grupo que está com 22 lojas na cidade, incluindo a bandeira Frama, estão a todo vapor construindo sua primeira unidade do chamado atacarejo (junção entre atacado e varejo).
A obra na Av. Guaicurus, na região sul de Campo Grande, vai ocupar um terreno superior a 20 mil metros quadrados que já foi alvo, inclusive, de invasão de famílias que se diziam sem-teto, mas que foram retiradas pelo proprietário anterior do terreno, o qual estava prestes a fechar negócio com os atuais proprietários do imóvel.
O despejo ocorreu em novembro de 2017, e no local já havia em torno de 50 casas de alvenaria, as quais surgiram em menos de dois meses após as primeiras famílias entrarem no imóvel.
O curioso é que o primeiro atacarejo do grupo Pires em Campo Grande está surgindo a cerca de 500 metros de outra unidade do mesmo grupo.
A previsão é de que as duas unidades façam concorrência uma com a outra.
Na mesma avenida, a dois quilômetros adiante, está outro exemplo de que o setor está vivendo um boom. No começo do mês, foi inaugurada a nova unidade da rede Pag Poko, que até então estava praticamente “restrita” à região norte de Campo Grande, em bairros como Nova Lima, Anache e Novos Estados.
"A concorrência é muito dinâmica, muda todo dia, e quem não acompanha fica para trás”
- Denyson Prado, presidente da Amas
E não para aí. Na Av. Bom Pastor, uma unidade do Supermercado Guaicurus começou a ser implantada nesta mesma semana em a Capital comemora aniversário.
Um dos proprietários dessa unidade da rede Pag Poko é Denyson Prado, que também é o atual presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Supermercados (Amas). Para ele, o termo boom não é o mais adequado, como explica a seguir.
“Podemos dizer que o setor está em constante desenvolvimento. A concorrência é muito dinâmica, muda todo dia, e quem não acompanha fica para trás”, comenta. Ele concorda, porém, que o setor vive bons anos.
Ouvido pela reportagem sob a condição de não ter o nome revelado, o proprietário de um escritório de contabilidade que atende cerca de quatro dezenas de supermercados em Campo Grande e no interior do Estado percebeu que esse boom teve o ritmo acelerado em plena pandemia, quando milhões e milhões de reais chegavam todos os meses às mãos de famílias carentes.
“Tem um cliente meu que tem cinco lojas na cidade, uma delas em uma rua sem asfalto e com pouco movimento de carros no Jardim Noroeste, praticamente no fim da cidade. Durante a pandemia, para surpresa de todos, [essa unidade] passou a ser campeã de vendas das lojas da família”, exemplifica o contador.
De acordo com ele, os proprietários da rede chegaram à conclusão de que as vendas dispararam por conta do dinheiro proveniente do auxílio emergencial (R$ 600 por beneficiado), que era preferencialmente destinado às compras de subsistência das famílias carentes.
Posteriormente, após o fim da fase crítica da pandemia, ressalta ele, veio a disputa presidencial, que elevou o valor do agora Bolsa Família, o qual teve até pagamento de décimo terceiro.
Em agosto, o valor médio para as famílias sul-mato-grossenses chegou a R$ 700,24 para as 206,5 mil contempladas, que juntas receberam R$ 144 milhões.
Desse montante, R$ 38,8 milhões foram divididos entre 56,7 famílias campo-grandenses, praticamente todas vivendo nos bairros mais carentes da cidade.
Esse dinheiro, como acredita o contador, vai preferencialmente para os supermercados. Por conta disso, os comerciantes dos bairros estão crescendo bem mais que as grandes redes, conforme argumenta.
O setor supermercadista representa 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e faturou cerca de R$ 700 bilhões no ano passado.
A previsão da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) é que as vendas aumentem em torno de 2,5% ante crescimento de 3,9% de 2022. Segundo a Abras, a explicação para o bom resultado do ano passado foi justamente o aumento do antigo Auxílio Brasil.
Em 2020, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB de Campo Grande foi de R$ 30,12 bilhões. Como o segmento supermercadista corresponde a 7,3% do PIB, isso significa que cerca de R$ 2,2 bilhões tenham passado pelos estabelecimentos da cidade.